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Era Medieval: Trovadorismo

A lírica trovadoresca
Sobre o gênero lírico
lí.ri.co
adj. 1 (Liter.) Diz-se do gênero poético subjetivo;
emotivo. 2 (fig.) Sentimental. 3 (Mús.) Relativo a
óperas.
s.m. 4 Poeta que cultiva o gênero lírico; lirista.
li.ra
s.f. 1 (Mús.) Instrumento musical de cordas. 2 (Poét.)
Inspiração.
sá.ti.ra
s.f. Composição poética destinada a criticar ou
ridicularizar vícios e defeitos.
A poesia trovadoresca
• Língua: galego-português
• Tradição oral e coletiva
• Poesia cantada e acompanhada por instrumentos
musicais
• Colecionada em cancioneiros
• Autores: trovadores (nobres)
• Intérpretes: jograis, segréis e menestréis
• Gêneros: lírico (cantigas de amigo e de amor);
satírico (cantigas de escárnio e de maldizer)
Cancioneiro da Ajuda – Love Song

Pois nací nunca vi Amor, Desde que nasci, nunca conheci o amor
e ouço del sempre falar. e ouço sempre falar dele.
Pero sei que me quer matar, Porém eu sei que me quer matar,
mais rogarei a mia senhor por isso rogarei mais a minha senhora
     que me mostr'aquel matador,      que me mostre aquele matador,
     ou que m'ampare del melhor.      ou que me ampare de algo melhor.

Renato Russo – Trovador Solitário


Trovadores
Cantigas de amor
– Voz lírica masculina e autoria masculina
– Expressão da vida aristocrática
– Amor cortês
• Idealização da mulher: formosura, bondade,
lealdade, honra
• Vassalagem amorosa: amor impossível (a senhora e
seu o vassalo)
• Coita: sofrimento pelo amor não correspondido;
temática central
– Origem provençal: Provença, sul da França
Dizia la fremosinha: formosinha
“ai, Deus, val!
Com’estou d’amor ferida!
ai, Deus, val!”valha-me, valei-me

Dizia la bem talhada: bem-feita, elegante, bonita


“ai, Deus, val!
Com’estou d’amor coitada! infeliz, cheia de sofrimento
ai, Deus, val! amoroso

Com’estou d’amor ferida!


ai, Deus, val!
Nom vem o que bem queria!
ai, Deus, val!

Com’estou d’amor coitada!


ai, Deus, val!
Nom vem o que muit’amava!
ai, Deus, val!” D. Afonso Sanches
século XIV
Queixa – Caetano Veloso
Cantigas de amigo
– Voz lírica feminina (autoria masculina)
– Expressão da vida urbana e rural
– Personagens do povo
– Sentimento amoroso realista e cotidiano
(perspectiva associada a fatos corriqueiros)
– Simplicidade temática e formal: refrão e
estruturas paralelas
– Origem popular e autóctone: canto folclórico da
Península Ibérica
Sozinho - Peninha
Cantigas satíricas
• Cantigas de escárnio
– Indiretas: uso da ironia
– Escárnio: zombaria, menosprezo, desprezo, desdém
• Cantigas de maldizer
– Diretas: intenção difamatória
– Presença de xingamentos e palavrões
– Maldizer: praguejar contra, maledicência, difamação
Geni e o Zepelim – Chico Buarque
A prosa medieval
• Marco temporal: séculos XIII e XIV
• Textos mais importantes
– Hagiografias
– Nobiliários
– Cronicões
– Novelas de cavalaria
Era Medieval: Humanismo

Aspectos gerais do
Humanismo Português
Não são os meus olhos, senhora, mas os vossos,
Eles são que partem às terras que não sei,
Onde memória de mim nunca passou,
Onde é escondido meu nome de segredo.

Se de trevas se fazem as distâncias,


E com elas saudades e ausências,
Olhos cegos me fiquem, e não mais
Que esperar do regresso a luz que foi.

José Saramago. Lembrança de João Roiz de Castel’Branco. 1981.


Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

Tão tristes, tão saudosos,


tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.

Partem tão tristes os tristes,


tão fora d’esperar bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
João Roiz de Castel’Branco. Cantiga sua partindo-se. Século XV.
Humanismo: aspectos históricos
• Século XV: 1434 a 1527
• Fatos antecedentes
– Implantação da dinastia de Avis (1383-1385)
– Fim das guerras de independência
– Declínio da organização feudal
– Ascensão da burguesia e desenvolvimento do comércio
– Expansão ultramarina e formação do império colonial
português
Humanismo: cultura e literatura
• Surgimento da língua portuguesa (separada
do galego)
• Diferenciação entre língua literária escrita e
língua falada
• Florescimento da prosa e declínio da poesia
• A corte torna-se o centro da produção
cultural
O que passou, passou. E não pode ser
restaurado senão em versões.

O que é, então, a verdade histórica?


Humanismo: manifestações
literárias
• Historiografia
– Fernão Lopes: fundador da historiografia portuguesa
• guarda-mor da Torre do Tombo em 1418
• cronista-mor do Reino (Crônica de D. Pedro, Crônica de D.
Fernando e Crônica de D. João I)
– Investigação crítica das fontes
• desenvolveu método rigoroso para confrontar relatos e
testemunhos aos documentos oficiais a que tinha acesso
– Concepção da História ainda regiocêntrica, mas já se
aproxima de uma concepção moderna da História
– Presença de qualidades artísticas nas crônicas
A sociedade produz a arte, ou a arte produz
a sociedade?

Ao lado (ou abaixo) dos castelos, existe


empobrecimento cultural?
Humanismo: manifestações
literárias
• Poesia palaciana
– Reunida no Cancioneiro Geral (1516), organizado por Garcia de
Resende
– A poesia separa-se da música e exige o desenvolvimento de novas
técnicas para organizar o material sonoro
– Ainda é declamada nos salões dos palácios, mas destina-se à
leitura individual e solitária
– A invenção da impressa no final do séc. XV apenas acentuará essa
diferença
– A temática é variada, mas explora as contradições do amor
João Grilo é um herói ou um safado?

O que é a personagem povo?


Humanismo: manifestações
literárias
• Teatro: Gil Vicente
• Mentalidade ainda medieval: moral religiosa e concepção
teocêntrica do mundo
• Teatro popular
– Alegórico: idéias abstratas representadas por cenas
concretas
– De tipos: ausência de traços psicológicos complexos.
Quando há exageros, fala-se em caricatura
– De quadros: sucessão relativamente independente de cenas
– Ruptura da linearidade temporal e despreocupação com a
verossimilhança
– Cômico e satírico: comédia de costumes
A farsa de Inês Pereira
“Mais vale asno que me leve que cavalo que me derrube”

Uma jovem sonhadora procura, por meio do


casamento com um homem que saiba tanger
viola, fugir à rotina doméstica. Despreza a
proposta de Pero Marques, filho de um camponês
rico, homem tolo e ingênuo, e aceita se casar com "Não queiras ser tão senhora: 
Brás da Mata, escudeiro pelintra e pobretão. No casa, filha, e aproveite;
entanto, os sonhos da heroína são logo desfeitos, não percas a ocasião.
porque o marido revela sua verdadeira
personalidade, maltratando-a e explorando-a. Brás
Queres casar por prazer 
da Mata vai para a África e lá vem a falecer. Inês, No tempo de agora, Inês?
ensinada pela dura experiência, toma consciência [...] 
da realidade e aceita se casar com Pero Marques,
seu primeiro pretendente. Depressa também a
sempre eu ouvi dizer: 
jovem aceita a corte de um falso ermitão. A farsa Ou seja sapo ou sapinho, 
termina com o marido (cantado por ela como ou marido ou maridinho, 
cuco, gamo e cervo, tradicionalmente concebidos
tenha o que houver posses 
como símbolos do homem traído) levando-a às
costas (asno que me carregue) até a gruta em que Este é o certo caminho."
vive o ermitão, para um encontro nada ingênuo.

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