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Instituto de Física da UFBA

Departamento de Física do Estado Sólido


Disciplina: Física Geral e Experimental II (FIS122)
Professor: Ossamu Nakamura

Oscilações Forçadas

Até o presente momento, analisamos o caso de solução particular da não homogênea. Para um sistema
oscilações livres, onde não havia nenhuma fonte amortecido o regime estacionário é descrito apenas
externa de energia atuando sobre o sistema. Esta fonte pela solução da equação inomogênea.
atuava somente no início do processo, quando sistema Neste regime é bastante razoável supor que o
era tirado de sua posição de equilíbrio e abandonado sistema vibre com a mesma freqüência da fonte, pois
logo em seguida. A oscilação era conseqüência de uma existe uma força externa forçando a isso. Por outro
força restauradora, proporcional ao deslocamento, e o lado o sistema não necessariamente responde com a
sistema oscilava com a freqüência mesma fase que a fonte. Poderá haver um
k b2
adiantamento ou atraso na resposta em relação à fonte.
ω= − (1) Desta forma, vamos escrever a solução estacionária na
m 4m 2 forma
No presente estudo, vamos supor a existência de x(t ) = A cos(ωt − δ) (3)
uma fonte de energia atuando ininterruptamente sobre
onde devemos encontrar os valores de A e δ de
o sistema. Mais ainda: vamos supor que esta fonte seja
maneira que (3) possa satisfazer a equação diferencial
periódica de freqüência ω a qual, em princípio, não tem
(2). Mais uma vez ressaltamos que o ângulo de fase δ
nenhuma relação com aquela dada por (1). Esta
não tem nada a ver com o ângulo de fase inicial. Ele
freqüência é produzida pela fonte externa, ao contrário
expressa simplesmente o atraso ou adiantamento de
de (1) que é definida a partir das constantes do sistema.
x(t) com relação à força externa. Colocamos o sinal
Seja então F(t) = Fo cos ωt a força externa que atua negativo por pura conveniência, como ficará evidente
sobre o sistema. A equação diferencial que rege o mais adiante. De qualquer sorte, seu valor, positivo ou
movimento será então: negativo, será definido a partir dos dados de cada
d2 x dx problema.
m 2
+b + k x = Fo cos ωt (2) De (3) obtemos:
dt dt
Esta é uma equação diferencial de 2a ordem dx
= −ω A sen(ωt − δ)
inomogênea. Não vamos, desta vez, tentar resolver esta dt
equação, mas, ao contrário, tentar dar alguns d2 x
argumentos físicos para acharmos a solução. 2
= −ω2 A cos(ωt − δ)
dt
Creio que todos já devem ter passado pela
Substituindo na equação diferencial (2), teremos
experiência de, ao empurrarmos um balanço, notar que
este não responde, de início, de forma satisfatória. ( −mω 2 + k ).A cos(ωt − δ) − b.ω.A sen(ωt − δ) = Fo cos ωt
Somente após um certo intervalo de tempo é que ele Para simplificar nossos cálculos, vamos definir:
balança da forma desejada. Com aparelhos elétricos C = k − m ω 2 = m (ω o2 − ω 2 ) e D = b..ω (4)
isto também ocorre, ou seja, decorre um certo tempo
(curto) para o aparelho operar de forma regular. pois k = m ωo2 , onde ωo é a freqüência natural do
Identificamos aí dois regimes de funcionamento: um, sistema. A equação acima fica:
chamado de regime transitório, onde o sistema não F
funciona de forma regular e outro, chamado de regime C cos(ωt − δ) − D sen(ωt − δ) = o cos ωt
A
estacionário, onde o sistema funciona com a resposta
esperada.
C (cos ωt cos δ + sen ωt sen δ) − ......
Em nosso sistema (uma massa submetida a uma
força restauradora e de amortecimento) o regime Fo
........D (sen ωt cos δ − sen δ cos ωt) = cos ωt
transitório deve-se à inércia bem como as forças de A
atrito que atuam sobre a massa as quais, em outras
palavras, exercem uma resistência para tirar o corpo do (C cos δ + D sen δ)cos ωt + (C sen δ − D cos δ)sen ωt...
equilíbrio inicial. Contudo, essa oposição leva um certo
Fo
tempo para se ajustar, e só então se passa ao regime ............ = cos ωt
estacionário. É justamente neste regime que A
centraremos nossa atenção. Em termos de equação de
movimento, solução consiste na superposição da Logo:
solução da parte homogênea de (2) adicionado de uma

1
Neste caso, dizemos que há uma ressonância de
(C cos δ + D sen δ) = Fo (5) amplitude. O gráfico da figura abaixo, mostra os
A
C sen δ − D cos δ = 0 (6) valores de A(ω) para diversos valores da razão α ωo .
Esta última relação nos leva a:
D b ω 2αω A(ω)
tgδ = = = (7)
C m (ωo2 − ω2 ) (ωo2 − ω2 )
b
onde α =
2m
C α/ω = 0.35
De (6) obtemos ainda cos δ = sen δ , que α/ω = 0.25
D α/ω = 0.10
substituindo em (5) nos leva a: α/ω = 0.05
 C2  F
 + D  sen δ = o ⇒
 D  A
 
2
 C2 + D2 
2
 sen 2 δ =  o 
F ω
 ⇒ 0 ω0
 D  A
 
2 Uma inspeção nesta figura nos revela, quando a
F  D2
sen δ =  o 
2
(8) razão α/ωo decresce, dois fatos interessantes:
 A (C 2
+ D2 ) 2
- A freqüência que torna máxima a amplitude A(ω)
D se aproxima cada vez mais de ωo
Ainda de (6) obtemos sen δ = cos δ , que
C - a curva torna-se mais estreita, ou seja, os valores
substituindo em (5) nos leva a: de A(ω) só se tornam relevantes (comparado com
 2  o máximo) nas proximidades de ωo.
F
 C + D  cos δ = o ⇒
 C  A Podemos usar estas observações para estudar o

caso de amortecimento fraco, isto é, o caso quando
2
 C2 + D2 
2
α/ωo<<1. Para este caso, podemos tomar apenas os
 cos 2 δ =  o 
F
 ⇒ ω ωo
   A valores de nas redondezas de
 C   
 
2  ω − ωo << ω o  de sorte que podemos fazer as
F  C2  
cos 2 δ =  o  (9)
 A + D2 (C
2 2
) seguintes aproximações nas expressões da fase (7) e da
amplitude (10):
Somando-se (8) e (9), chegamos a:
F2
A2 = 2 o 2 ou A 2 = 2 2
Fo2 [
(ωo2 − ω 2 ) 2 ≈ (ωo + ω) (ωo − ω)]2 = 4 ω2o (ωo − ω)
2

C +D b ω + m 2 ( ωo2 − ω 2 ) 2 4α 2 ω2 ≈ 4α 2 ωo2
Fo2 Assim, a expressão para a amplitude e da fase
A2 = ficarão:
 b
2 
m 2 ( ωo2 − ω 2 ) 2 +   ω 2  Fo
 m  A(ω) =
2m ωo ( ωo − ω ) 2 + α 2
b
Como α = , então: α
2m tgδ = (11)
( ωo − ω )
Fo
A(ω) = (10) Nestas expressões, verifica-se facilmente que A(ω)
m (ωo2 − ω 2 ) 2 + 4α 2 ω2 torna-se máximo quando ω = ωo, isto é, quando a
Pode se observar da expressão acima que a freqüência da fonte é igual à freqüência natural do
amplitude de oscilação irá depender da freqüência de sistema. O valor máximo da amplitude será então
oscilação da fonte. Ela será máxima quando Fo π
A max = A(ωo ) = e a fase será δ=
ω = ωm = ωo2 − 2α 2 . (Esse valor foi encontrado, 2mω o α 2
utilizando-se as técnicas de cálculo, ou seja, se a Esta condição é chamada de ressonância (ou
função é máxima em ωm sua derivada neste ponto é ressonância de energia) e representa, como veremos, a
nula). Para esta freqüência a amplitude será: transferência máxima da energia da fonte ao oscilador.
O gráfico abaixo mostra o comportamento da
Fo
A ( ωm ) = amplitude A com a freqüência da fonte. Nesta figura
2mα ωo2 − α 2 procuramos ressaltar a semilargura de linha ∆ω. Ela é
definida como a distância entre os pontos onde o
2
quadrado da amplitude, A2, cai para metade de A max .

2
É fácil mostrar que estes pontos se localizam em A integral acima é nula, o que nos leva ao resultado
ω = ωo ± α , o que resulta em ∆ω = 2α . dE
= 0 , ou seja, a potência (média) fornecida é igual à
2
A (ω ) dt
2 potência (média) dissipada pelo amortecimento. Vamos
A max
calcular o valor desta potência. De (15) tem-se que:

P( t) = −Pa = −Fa v = bv 2 ⇒ b = 2mα ⇒


∆ω = 2α to + T

∫ (2.m.α.ω A )
A
2
1
max P( t) = P(ω) = 2 2
sen 2 (ωt − δ) dt
2 T
to

P(ω) = m.α.ω A 2 2
(16)
t o +T

∫ (sen (ωt − δ))dt = 2 .


1 2 1
onde usamos a integral:
ω0 ω T
to
Usando (10) obtemos:
1. Considerações sobre a energia α.ω 2 .Fo2
P(ω) =
A energia mecânica do sistema é a soma das
energias cinética e potencial, isto é:
(
m (ω o2 − ω 2 ) 2 + 4α 2 ω 2 )
1 1 Nesta expressão, é simples mostrar que o valor
E( t) = mv 2 + kx 2 , onde máximo da potência ocorre quando ω = ωo . Esta é
2 2
justamente a condição de ressonância que, em outras
x = x( t) = A cos(ωt − δ)
palavras, significa que, quando a freqüência da fonte
dx( t) (12)
v = v( t ) = = −ωA sen(ωt − δ) externa é igual à freqüência natural do sistema, a taxa
dt de transferência de energia é máxima. O valor desta
Vamos observar o que ocorre com a taxa de potência será:
variação da energia com o tempo: Fo2
 d2 x  Pmax = P(ωo ) =
dE( t)
= mv
dv
+ kx
dx
= v. m 2 + kx  (13) 4.m.α
dt dt dt  dt  Para o amortecimento fraco, podemos utilizar a
 
amplitude dada por (11) para expressarmos a potência
onde usamos
média (16). Assim
dv d 2 x
= 2 = −ω2 A cos(ωt − δ) = − ω2 x( t) (14) Fo2 α
P(ω) =
dt dt
Da equação (2) observamos que
(
4m (ωo − ω ) 2 + α 2 )
 d2 x  Observe que nesta expressão, também a potência é
dx
m + kx  = Fo cos ωt − b = F(t) + Fa máxima quando ω = ωo .
 dt 2  dt
  Existe uma outra maneira de expressar a potência
onde F(t) é a força externa aplicada ao sistema e Fa é a fornecida pela fonte externa. Voltemos à equação (15)
força de amortecimento. Assim (13) pode ser escrita onde encontramos:
como
dE( t) P(t) = F( t).v = −ω.A.Fo cos ωt sen(ωt − δ) = ...
= F( t).v + Fa .v = P( t) + Pa ( t) (15)
dt = −ω.A.Fo cos ωt.(sen ωt cos δ − sen δ cos ωt)
P(t) representa a potência fornecida pela fonte ao

( )
sistema, enquanto que Pa(t) é a potência dissipada
devido ao amortecimento. P(t) = ω.A.Fo sen δ. cos 2 ωt − cos δ. sen ωt. cos ωt
Voltemos à equação (13), mas utilizando (12), (14) O valor médio da potência será então:
e k = m ω o2 :
ω.A.Fo
dE
dt
(
= v − mω 2 x + mωo2 x = ... ) P(ω) =
2
sen δ (17)

onde usamos neste cálculo as integrais:


= mω(ω 2 − ωo2 ) A 2 sen(ωt − δ) cos(ωt − δ)
t o +T

dt
= m(ω 2 − ωo2 )A 2 sen[2(ωt − δ)]
dE 1
2
1
T ∫ (cos ωt ).dt =
2 1
2
e
Calculando o valor médio da taxa de variação da to
energia neste regime estacionário e obtemos: t o +T

∫ (sen ωt.cos ωt).dt = 0


to+ T  to +T  1
dt = m(ω2 − ωo2 )A 2  sen[2(ωt − δ)]dt 
∫ ∫
dE 1 dE(t) 1 1
= T
dt T dt 2 T 
to  t o  to

3
π BIBLIOGRAFIA
Na ressonância, A = Amax e δ = (veja equações
2
(7) ou (11)). Isto implica que a força e a velocidade 1. Nussenzveig,H.M; Física Básica; vol.2, Ed. Edgard
estão em fase, o que explica a razão da potência ser Blucher Ltda,São Paulo, 1997
máxima.
2. Alonso, M.; Finn, J.; Física, vol. 1; Ed. Edgard
Blucher Ltda; São Paulo, 1977

3. McKelvey, J.; Grotch, H; Física, vol.2; Harper &


Row, São Paulo, 1978

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