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Mulheres HIV/AIDS: silenciamento, dor moral e saúde coletiva

BASTOS (2002) apud SELLI & CECHIM (2006) afirma que a síndrome de
imunodeficiência adquirida (AIDS) cada vez mais constitui sério problema de saúde
pública em todo o mundo.

Ela além de interferir na saúde propriamente dita a AIDS faz com que seus
portadores se comportem de maneira diferente, da mesma forma que as outras pessoas
quando sabem que existe um portador ao seu lado se compartam de uma maneira
preconceituosa, afetando assim o ambiente social.

A síndrome desafia a revisão dos conceitos de saúde e a busca de estratégias para o


controle das taxas de incidência e melhoria da qualidade de vida dos portadores do vírus
HIV e doentes de AIDS, quer individual ou coletivamente (SELLI & CECHIM, 2006).

Apesar da AIDS ter algumas maneiras de transmissão a principal é pela exposição


sexual, atingindo pessoas na fase reprodutiva e na maioria das vezes com baixa
escolaridade, com um crescente número de mulheres infectadas.

SELLI & CECHIM (2006) afirma que:


No Brasil, a AIDS tem-se caracterizado pela interiorização,
heterossexualização, pauperização e feminização. A feminização da
epidemia do HIV/AIDS está relacionada à vulnerabilidade da
mulher, por suas características biológicas, sociais e culturais
favoráveis à contaminação – como conseqüência há significativo
número de crianças contaminadas pela transmissão vertical.

Para SELLI & CECHIM (2006) a única maneira dos profissionais de saúde aderir às
ações e alcance das propostas do Ministério da Saúde, é esta epidemia sendo encarada
como fenômeno social, com seus mitos e estereótipos. Essa premissa auxilia a quebra do
silêncio e o enfrentamento dos medos que envolvem as mulheres que, atualmente,
constituem o segmento populacional mais vulnerável ao vírus.

A disseminação do HIV/AIDS e os conflitos vivenciados pelas pessoas que se


sabem portadoras devem constituir uma das preocupações centrais dos profissionais de
saúde (SELLI & CECHIM, 2006). Sendo assim, com essa preocupação a relação entre
profissionais e clientes melhora, tornando-se uma relação de confiança.

É percebido que ainda hoje há um grande preconceito em relação a AIDS, e é


justamente este preconceito que leva os portadores desta infecção a se calar diante da
sociedade, este silêncio torna a doença ainda mais sofrida, desde a dúvida até o diagnóstico
concreto.

Segundo SELLI & CECHIM (2006):


O silêncio das mulheres é forçado e reforçado pelos
estereótipos construídos em torno da AIDS, tida, ainda hoje, como
“doença imoral” que, por sua vez, produz a “dor moral”. Dos
primeiros sintomas ao diagnóstico se interpõe uma questão crucial
para as portadoras do HIV/AIDS, relacionada à interpretação social
sobre a doença.

SELLI & CECHIM (2006) ainda afirmam que:


Como a doença é considerada mortal, incurável e ainda
associada a comportamento sexual promíscuo, estar submetida a
tratamento medicamentoso não aplaca a dor moral inerente a todos
esses significados, não respondendo na dimensão simbólica à
necessidade de fazerem frente ao problema. Se diagnóstico e
tratamento compreendem uma parcela do processo de representar a
doença, a “dor moral” suscitada por suas múltiplas faces e
significados socialmente atribuídos, forçados e reforçados pelo
“estigma da imoralidade”, pertence ao campo existencial.
Aceitar silenciosamente a contaminação significa aceitar valores e padrões morais e
culturais que perpetuam as desigualdades sociais, especialmente os relacionados às
questões de gênero, nas mais diferentes esferas das experiências cotidianas (GUILHEM,
2001, apud SELLI & CECHIM, 2006)

A disseminação da infecção entre as mulheres acontece basicamente pela via sexual,


por seus parceiros, sejam ou não usuários de drogas. A doença é transmitida
silenciosamente, e muitas vezes é uma prova concreta da traição (o que as muitas mulheres
ainda têm medo, além da traição a prova desta), esta é vista pelas mulheres como falta de
respeito e como vergonha, motivo pelo qual o silêncio das portadoras é comum.

Conforme SELLI & CECHIM (2006):


A falsa idéia, propalada inicialmente, de que a transmissão
estaria restrita a determinados grupos de pessoas, caracterizadas
como grupos de risco, criou e fomentou uma perspectiva moral
distorcida, que ficou fortemente associada à doença. O
aparecimento dos primeiros casos relacionados às mulheres donas-
de-casa, parceiras fiéis, esposas de maridos trabalhadores,
influenciou no desmascaramento da perspectiva de grupos de riscos
e fez vislumbrar a vulnerabilidade feminina.

Ainda conforme SELLI & CECHIM (2006):


Além de sentirem-se amedrontadas pelo olhar do outro,
família, companheiro, amigos,sociedade, as mulheres carregam uma
outra dor que vem do “olhar de si para si”. A atuação dos
profissionais de saúde junto às mulheres, desde o diagnóstico ao
tratamento do HIV/AIDS, precisa pautar-se em uma atenção
também ao não-verbalizado, que remete à subjetividade da mulher
soropositiva. O profissional de saúde pode não ter o medicamento
ou a terapêutica para curar o HIV/AIDS, mas dispõe, além da
tecnologia e medicações, de habilidades pessoais para auxiliar as
mulheres no enfrentamento das dores existenciais, silenciadas por
uma miríade de razões estigmatizantes que forçam/reforçam a
clandestinidade para além do sofrimento que a doença impõe.

Sabendo mais sobre Aids e HIV


A sigla AIDS significa Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. O vírus  da AIDS
é conhecido como HIV e encontra-se no sangue, no esperma, na secreção vaginal e no leite
materno das pessoas infectadas pelo vírus. Objetos contaminados pelas substâncias citadas,
também podem transmitir o HIV, caso haja contato direto com o sangue de uma pessoa.
Após o contágio, a doença pode demorar até 10 anos para se manifestar. Por isso, a
pessoa pode ter o vírus HIV em seu corpo, mas ainda não ter AIDS. Ao desenvolver a
AIDS, o HIV começa um processo de destruição dos glóbulos brancos do organismo da
pessoa doente. Como esses glóbulos brancos fazem parte do sistema imunológico dos seres
humanos, sem eles, o doente fica desprotegido e várias doenças oportunistas podem
aparecer e complicar a saúde da pessoa. A pessoa portadora do vírus HIV, mesmo não
tendo desenvolvido a doença, pode transmiti-la. 
A AIDS é transmitida de diversas formas, as principais formas detectadas até hoje
são: transfusão de sangue, relações sexuais sem preservativo, compartilhamento de
seringas ou objetos cortantes que possuam resíduos de sangue. A AIDS também pode ser
transmitida da mão para o filho durante a gestação ou amamentação.
Quando o sistema imunológico começa ser atacado pelo vírus de forma mais
intensa, começam a surgir os primeiros sintomas. Os principais são: febre alta, diarréia
constante, crescimento dos gânglios linfáticos, perda de peso e erupções na pele. Quando a
resistência começa a cair ainda mais, várias doenças oportunistas começam a aparecer:
pneumonia, alguns tipos de câncer, problemas neurológicos, perda de memória,
dificuldades de coordenação motora, sarcoma de Kaposi (tipo de câncer que causa lesões
na pele, intestino e estômago). Caso não tratadas de forma rápida e correta, estas doenças
podem levar o soropositivo a morte rapidamente.
A prevenção é feita evitando-se todas as formas de contágio citadas acima. Com
relação a transmissão via contato sexual, a maneira mais indicada é a utilização correta de
preservativos durante as relações sexuais. Atualmente, existem dois tipos de preservativos,
também conhecidos como camisinhas: a masculina e a feminina. Outra maneira é a
utilização de agulhas e seringas descartáveis em todos os procedimentos médicos.
Instrumentos cortantes, que entram em contato com o sangue, devem ser esterilizados de
forma correta antes do seu uso. Nas transfusões de sangue, deve haver um rigoroso sistema
de testes para detectar a presença do HIV, para que este não passe de uma pessoa
contaminada para uma saudável.
Infelizmente a medicina ainda não encontrou a cura para a AIDS. O que temos hoje
são medicamentos que fazem o controle do vírus na pessoa com a doença. Estes
medicamentos melhoram a qualidade de vida do paciente, aumentando a sobrevida.
Embora eficientes no controle do vírus, estes medicamentos provocam efeitos colaterais
significativos nos rins, fígado e sistema imunológico dos pacientes.
Cientistas do mundo todo estão trabalhando no desenvolvimento de
uma vacina contra a AIDS. Porém, existe uma grande dificuldade, pois o HIV possui uma
capacidade de mutação muito grande, dificultando o trabalho dos cientistas no
desenvolvimento de vacinas.

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