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18ª aula

Sumário:
Força electromotriz. Leis de Kirchhoff

Força electromotriz

Quando uma bateria é ligada a resistências, estabelece-se uma corrente


estacionária no circuito, ou seja uma corrente que não varia no tempo. A Fig. 18.1
representa um circuito com uma bateria e uma resistência. A bateria impõe a entrada no
circuito (ponto A, pólo positivo da bateria) de uma determinada carga, ∆Q , num certo
intervalo de tempo. Messe mesmo intervalo de tempo a mesma carga “desaparece” na
outra extremidade do circuito1 (ponto B, pólo negativo da bateria). Assim, o fio
condutor tem sempre carga líquida nula.

Figura 18.1

O potencial do ponto A é maior do que o do ponto B. Os processos (reacções


químicas) que têm lugar na bateria têm como consequência o armazenamento de cargas
positivas a um potencial mais elevado. O papel da bateria é semelhante ao de uma
bomba de água no circuito de água fechado representado na Fig. 18.2.

Bomba
de água

Figura 18.2

1
Recordamos que o sentido convencional da corrente é o do movimento das cargas positivas.

1
Por acção da bomba, a água vai de um ponto onde a energia potencial é mais baixa para
um ponto onde a energia potencial é mais elevada. Também a bateria “leva” as cargas
positivas (as que convencionalmente circulam num circuito) de um ponto a um
potencial electrostático mais baixo (pólo negativo) para um ponto onde o potencial
electrostático é mais elevado (pólo positivo).
Entre os terminais de uma bateria ideal existe uma diferença de potencial
constante − tradicionalmente designada por “força electromotriz” (f.e.m.) − que se
mantém constante e permite manter, num circuito como o da Fig. 18.1, uma corrente
estacionária. A unidade de força electromotriz, que vamos representar por ε (não
confundir com permitividade) é, portanto, o volt. A f.e.m. é o trabalho por unidade de
carga realizado por forças não eléctricas. A Fig. 18.3 é de novo a Fig. 18.1, agora com a
indicação da f.e.m. da bateria, da resistência e da corrente I, que se considera, como
habitualmente, no sentido convencional, ou seja, do pólo positivo para o pólo negativo
da bateria. Assinalam-se também mais alguns pontos ao longo do circuito.

C
A
ε R
B

Figura 18.3

A diferença de potencial entre os terminais da bateria é VB − VA = −ε ou, o que é o


mesmo, VA − VB = ε (o potencial do ponto A é maior do que o do ponto B, o qual,
muitas vezes é considerado nulo, pois o pólo negativo da bateria é tomado para ponto de
referência do potencial). A diferença de potencial entre C e A é nula tal como é nula a
diferença de potencial entre D e B. Por definição de resistência, a diferença de potencial
entre C e D é VC − VD = R I . A seguinte igualdade trivial,

VA − VC + VC − VD + VD − VB + VB − VA = 0 (18.1)

pode escrever-se, agrupando os termos convenientemente,

(VA − VC ) + (VC − VD ) + (VD − VB ) + (VB − VA ) = 0 + RI + 0 − ε = 0 . (18.2)

e portanto

ε = RI (18.3)

A diferença de potencial entre os terminais da resistência é a força electromotriz da


bateria. Mas isto só acontece se a bateria for ideal. Uma bateria real tem uma certa
resistência interna, e a tensão nos terminais da bateria é a sua força electromotriz menos
a diferença de potencial na resistência interna.

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Se designarmos por ri a resistência interna da bateria, os terminais desta são os
pontos A e B no esquema da Fig. 8.4.

ε ri
I
A B

Figura 18.4

A diferença de potencial entre A e B é

VA − VB = ε − I ri . (18.4)

Leis de Kirchhoff

Não é preciso desmontarmos um computador, um telefone ou uma televisão para


nos apercebermos que os circuitos eléctricos podem ser muito complexos. Contudo, a
análise desses circuitos pode fazer-se mediante a consideração de leis muito simples.
São as chamadas leis de Kirchhoff que assim se enunciam:

− Lei dos nodos (ou dos nós): a soma das correntes que entram num ponto de um
circuito é igual à soma das correntes que de lá saem.
− Lei da malhas: a soma de todas as diferenças de potencial ao longo de um percurso
fechado qualquer que se considere num circuito é nulo.

Na Fig. 18.5, representa-se um nó de um circuito para onde convergem e de


onde divergem correntes. De acordo com a lei dos nodos, I 1 + I 4 = I 2 + I 3 .

I2
I4
I1
I3

Figura 18.5

De uma maneira geral, a lei dos nodos pode exprimir-se através da expressão

N
I j = 0, (18.5)
j =1

3
onde I j são correntes que confluem no nó. Se essas correntes divergirem, tomam-se
com um sinal; se convergirem, tomam-se com o sinal contrário.
A lei das malhas pode exprimir-se matematicamente na forma seguinte:

∆Vi = 0 . (18.6)
i
percursofe chado

Um exemplo de aplicação da lei das malhas é a expressão (18.2).


O circuito da Fig. 18.6 pode ser analisado usando as leis de Kirchhoff.

ε2
I1 Α I2
I3
R1

R3 R2
ε1 Malha 1 Malha 2

R4

Figura 18.6

Começamos por marcar, em cada ramo do circuito a corrente que aí passa. É normal
escolher o sentido convencional da corrente. Mas tal não é obrigatório: podemos indicar
a corrente num sentido qualquer; se, depois de efectuados os cálculos, a corrente vier
com sinal positivo, essa corrente é no sentido arbitrado; mas se vier negativa, a corrente
é no sentido oposto ao arbitrado. O ponto A na Fig. 18.6 é um nodo do circuito, e, de
acordo com a lei dos nodos,

I1 = I 2 + I 3 . (18.7)

As três correntes indicadas são as incógnitas do problema, mas a Eq. (18.7) representa
apenas uma condição para as determinar. As outras duas condições necessárias à
obtenção das correntes vêm da lei das malhas. Consideremos então duas malhas
independentes, por exemplo as duas malhas indicadas na Fig. 18.6. A circulação pela
malha 1 começando no ponto A (pode começar-se num ponto qualquer!) permite obter:

I 3 R3 − ε 1 + I1 R1 = 0 . (18.8)

Para a malha 2, ainda a começar no ponto A,

+ ε 2 + I 2 R2 + I 2 R4 − I 3 R3 = 0 . (18.9)

Há duas notas importantes que importa sublinhar:


− A queda de tensão num gerador toma-se com o sinal positivo se, ao circular pela
malha, encontramos primeiro o pólo positivo (e vice-versa);

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− A queda de tensão numa resistência toma-se com o sinal positivo se o sentido da
circulação ao longo da malha for o sentido arbitrado para a corrente nesse troço do
circuito.
As eqs. (18.7-9) são um sistema de equações lineares cujas variáveis são as
correntes:

I1 − I 2 − I 3 = 0
R1 I 1 + R3 I 3 = ε 1 (18.10)
( R2 + R4 ) I 2 − R3 I 3 = −ε 2 .

O nodo e as malhas consideradas não são os únicos que se podem considerar. Podíamos,
por exemplo ter aplicado a lei dos nodos ao ponto de união do gerador 1 e das
resistências 3 e 4, mas iríamos obter a condição (18.7). Também há outra malha que se
podia considerar − circulação ao longo da parte externa do circuito (geradores 1 e 2 e
resistências 1, 2 e 4). A condição assim obtida substituía uma das duas últimas
expressões do sistema (18.10). Em conclusão: há muito por onde escolher! Mas é
conveniente escolher as condições que conduzam aos cálculos mais simples.
A título de concretização numérica vamos resolver o sistema (18.10) para
ε 1 = 10 V, ε 2 = 2 V, R1 = R2 = R3 = R4 = 2 Ω :

I1 − I 2 − I 3 = 0
I1 + I 3 = 5 (18.11)
2 I 2 − I 3 = −1.

cuja solução é I 1 = 14 / 5 A, I 2 = 3 / 5 A, I 3 = 11 / 5 A (o facto de todas as correntes


serem positivas indica que são nos sentidos indicados na Fig. 18.6).

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