Esta pesquisa examina as versões literárias de Estorvo, Benjamim, Budapeste e os modos de organização do discurso utilizados por Chico Buarque, a fim de entender o seu papel na construção do mapa afetivo e imaginário do intelectual brasileiro dos últimos 20 anos. Michel Foucault (1996) não entende o presente como espaço privilegiado no tempo. Interpreta-o apenas como o lugar de onde se produz o conhecimento, do qual decorrem os discursos e as várias formas de poder de uma época.
O sujeito que narra desempenha
essencialmente o papel de uma testemunha que está em contato direto com o vivido (mesmo que seja de uma maneira fictícia), isto é, com a experiência na qual se assiste a como os seres se transformam sob o efeito de seus atos. (CHARAUDEAU, p. 157) Estorvo
“O empregado não sabe que porta
da casa eu mereço, pois não vim fazer entrega nem tenho aspecto de visita. Pára, torce a flanela para ecoar a dúvida, e decide-se pela porta da garagem, que não é aqui nem lá.” (BUARQUE, p.13)
“E ter um filho, no meu cérebro,
era notícia que entrava, mexia lá dentro, e não conseguia formar uma idéia. (BUARQUE, p. 39)” Benjamim “e naquele instante Benjamim assistiu ao que já esperava: sua existência projetou-se do início ao fim, tal qual um filme, na venda dos olhos. Mais rápido que uma bala, o filme poderia projetar-se uma outra vez por dentro das suas pálpebras, em marcha a ré, quando a sucessão dos fatos talvez resultasse mais aceitável. E ainda sobraria um fiapo de tempo para Benjamim rever-se aqui e acolá em situações que preferiria esquecer, as imagens ricocheteando no bojo do seu crânio (…) Aprenderia também a penetrar em espaços que não conhecera, em tempos que não eram o seu, como o senso de outras pessoas. E súbito se supreenderia a caminhar simultaneamente em todas as direções, e tudo alcançaria de um só olhar , e tudo o que ele percebesse jamais cessaria, e mesmo a infinitude caberia numa bolha no interior do sonho de um homem como Benjamim Zambraia, que não se lembra de alguma vez ter morrido em sonho.” (BUARQUE, p. 6)” Budapeste
Houve um tempo em que, se tivesse de optar entre duas
cegueiras, esctlheria ser cego ao esplendor do mar, às montanhas, ao pôr-do-sol no Rio de Janeiro, para ter olhos de ler o que há de belo, em letras negras sobre fundo branco. Ia ao cinema, mulheres extraordinárias se exibiam na tela, o filme era falado em língua conhecia, e eu não conseguia desprezar os olhos das legendas. Mas agora, ainda que encontrasse os óculos de leitura, eu não me animaria a abrir meu próprio livro, de cujo conteúdo mal me lembrava (…) Se antes dos trintas eu já tinha a vista cansada, não surpreenderia que chegasse aos quarenta com a mente saturada da palavra escrita. (BUARQUE, p. 96) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2001.
FOUCAULT, Michel de. A ordem do discurso. Tradução de Laura
Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo: Edições Loyola, 1996.
PATRICK, Charaudeau. Linguagem e discurso: modos de
O Corpo e Os Fatores Psicomotores Como Agentes Intervenientes Nas Dificuldades de Aprendizagem de Leitura e Escrita de Escolares As Contribuicoes Da Psicomotricidade