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COMO CHICO BUARQUE CONTRIBUIU NA CONSTRUÇÃO

DO MAPA AFETIVO E IMAGINÁRIO DO INTELECTUAL


BRASILEIRO

Autora : Danielle Ferreira Costa


Esta pesquisa examina as versões literárias de Estorvo,
Benjamim, Budapeste e os modos de organização do
discurso utilizados por Chico Buarque, a fim de entender o
seu papel na construção do mapa afetivo e imaginário do
intelectual brasileiro dos últimos 20 anos.
Michel Foucault (1996) não
entende o presente como espaço
privilegiado no tempo.
Interpreta-o apenas como o
lugar de onde se produz o
conhecimento, do qual
decorrem os discursos e as
várias formas de poder de uma
época.

O sujeito que narra desempenha


essencialmente o papel de uma
testemunha que está em contato
direto com o vivido (mesmo que
seja de uma maneira fictícia),
isto é, com a experiência na qual
se assiste a como os seres se
transformam sob o efeito de
seus atos. (CHARAUDEAU, p.
157)
Estorvo

“O empregado não sabe que porta


da casa eu mereço, pois não vim
fazer entrega nem tenho aspecto de
visita. Pára, torce a flanela para
ecoar a dúvida, e decide-se pela
porta da garagem, que não é aqui
nem lá.” (BUARQUE, p.13)

“E ter um filho, no meu cérebro,


era notícia que entrava, mexia
lá dentro, e não conseguia
formar uma idéia. (BUARQUE,
p. 39)”
Benjamim
“e naquele instante Benjamim assistiu ao que já esperava:
sua existência projetou-se do início ao fim, tal qual um
filme, na venda dos olhos. Mais rápido que uma bala, o
filme poderia projetar-se uma outra vez por dentro das
suas pálpebras, em marcha a ré, quando a sucessão dos
fatos talvez resultasse mais aceitável. E ainda sobraria um
fiapo de tempo para Benjamim rever-se aqui e acolá em
situações que preferiria esquecer, as imagens
ricocheteando no bojo do seu crânio (…) Aprenderia
também a penetrar em espaços que não conhecera, em
tempos que não eram o seu, como o senso de outras
pessoas. E súbito se supreenderia a caminhar
simultaneamente em todas as direções, e tudo alcançaria
de um só olhar , e tudo o que ele percebesse jamais
cessaria, e mesmo a infinitude caberia numa bolha no
interior do sonho de um homem como Benjamim
Zambraia, que não se lembra de alguma vez ter morrido
em sonho.” (BUARQUE, p. 6)”
Budapeste

Houve um tempo em que, se tivesse de optar entre duas


cegueiras, esctlheria ser cego ao esplendor do mar, às
montanhas, ao pôr-do-sol no Rio de Janeiro, para ter
olhos de ler o que há de belo, em letras negras sobre fundo
branco. Ia ao cinema, mulheres extraordinárias se
exibiam na tela, o filme era falado em língua conhecia, e
eu não conseguia desprezar os olhos das legendas. Mas
agora, ainda que encontrasse os óculos de leitura, eu não
me animaria a abrir meu próprio livro, de cujo conteúdo
mal me lembrava (…) Se antes dos trintas eu já tinha a
vista cansada, não surpreenderia que chegasse aos
quarenta com a mente saturada da palavra escrita.
(BUARQUE, p. 96)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge


Zahar, 2001.

FOUCAULT, Michel de. A ordem do discurso. Tradução de Laura


Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo: Edições Loyola, 1996.

PATRICK, Charaudeau. Linguagem e discurso: modos de


organização. São Paulo: Contexto, 2009.

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