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Panico Parecer 2 2008
Panico Parecer 2 2008
CONSELHO DE ACOMPANHAMENTO DA
PROGRAMAÇÃO DE RÁDIO E TV (CAP)
CAMPANHA “QUEM FINANCIA A BAIXARIA É CONTRA
A CIDADANIA”
RELATÓRIO DE ANÁLISE DE PROGRAMAÇÃO
TELEVISIVA
Relator (a): Claudia Cardoso
2º Bloco:
Banco Real, Bombril, Brahma, CNA (curso de inglês), Espartalhões
(filme), MID (suco em pó), Nextel, Rexona Teens (desodorante)
Merchandising: Ford Cross Fox (automóvel)
3º Bloco:
Aquarius Fresh (refrigerante), Banco do Brasil, Clear anti-caspa (xampu),
Kayser (cerveja), Motel Botafogo (RS), QI cursos técnicos, Refresco
Freemax, Sergio Paris Cosméticos, Ughini (RS), Yamaha Festa, Yázigi
Merchandising: Aquarius Fresh (refrigerante), Marca Auditoria, Kayser
4º Bloco:
Merchandising: Automóvel Mercedes-Benz, Osmoze (moda jovem), Loja
do Pânico.
rádio. Com seu jeito descontraído, criativo e bem-humorado, a trupe do Pânico na TV faz a
programação mais divertida e engraçada aos domingos e sextas-feiras. Em edições ao vivo,
Emílio Surita, Bola, Sabrina, Ceará, Vesgo, Carioca mostram porque o Pânico na TV se
tornou o programa de maior sucesso e repercussão da televisão brasileira atualmente.
http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A2nico_na_TV
Pânico na TV é a versão televisiva do programa radiofônico Pânico. Transmitido pela
RedeTV!, estreou no dia 28 de setembro de 2003, aos domingos. Logo ao ser lançado, o
programa contou com o reflexo do sucesso da versão veiculada pela rádio Jovem Pan,
atingindo em pouco tempo uma grande popularidade, com uma audiência constituída
principalmente por jovens das classes A e B.[1](...) O projeto para a TV foi desenvolvido dois
anos antes da estréia, pelo dono da Jovem Pan, Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho
(também conhecido como Tutinha) e a diretora do programa na rádio, Renata Neves-
Molliet. Vários quadros da rádio foram adaptados para o vídeo. Inicialmente com duração
de 60 minutos, o sucesso de público e a busca por espaços comerciais expandiu a atração
para até duas horas, além de uma reprise dos melhores momentos da atração às sextas
feiras. (...) Desde o seu início o programa coleciona polêmicas, ora por piadas consideradas
de mau gosto, ora pelo fato de dar ênfase a mulheres seminuas -- as "assistentes de palco".
Por esse último, o programa sofreu uma ação judicial que o proibiu de retornar ao horário
habitual (18 horas, passando a ser exibido às 20 horas).
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Conteúdo do parecer
O programa Pânico na TV teve quase duas horas de duração e se dividiu em quatro blocos,
sendo o terceiro o mais longo e o que apresentou três dos quatro quadros problemáticos da
noite: “Táxi do Gluglu”, “Os Nelsons” e a “Prova do Elástico”. O quadro “Meda” foi
apresentado no segundo bloco, mas será a minha última análise.
Táxi do Gluglu: consistiu na sátira do quadro Táxi do Gugu (SBT), na qual um “artista” - o
Gluglu - e a personagem “Mulher Samambaia” submeteram-se a provas de acrobacias
automobilísticas com o piloto chamado João Paulo. A “atriz” não sabia do que se tratava o
quadro em si, ficou nítida a sua surpresa e a sua desesperação. O piloto, durante a sua
“performance”, era o único que utilizava cinto de segurança. O “Gluglu” e a “Mulher
Samambaia” estavam sentados na parte de trás e seus corpos eram jogados de um lado para
o outro.
As provas consistiram em: cavalinho de pau; andar só com as duas rodas laterais; travar e
levantar apenas a traseira do automóvel; saltar sobre automóveis parados; saltar sobre
automóveis parados com o “Gluglu” sentado no meio deles; saltar sobre os automóveis
parados, cruzando uma barreira de fogo; por fim, o “Gluglu” foi amarrado no pára-choque
de um carro para girar em cavalinho de pau, em alta velocidade, e frear na frente do outro
carro que vinha em direção contrária, também em alta velocidade.
Tal quadro foi uma aula: de desrespeito à vida, à dignidade; de mistificação do “poder” do
piloto; de “fetichização” do automóvel. A última prova, com o “Gluglu” amarrado, com a
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cabeça pendurada, então, foi de um tremendo mau gosto e de temeridade. Fez-me lembrar
das palavras de B. C. Cohen (1963)1: se a televisão não mostra o que fazer, mostra o que
pensar (no popular “dá idéia do que se pode fazer”).
As mulheres sentiram dor e angústia para dar cabo ao “jogo”. A equipe que concluiu a
tarefa no menor tempo foi a vencedora e coube, às moças que perderam, serem exibidas
com uma meia de seda enfiada na cabeça, pelo “Bola”, que deixou suas faces disformes à
mercê das risadas e gozações das demais. Ou seja, a humilhação daquelas mulheres serviu
de chacota, piada, inclusive, para suas colegas da equipe vencedora. Não há solidariedade e
“respeito” parece ser uma palavra riscada do vocabulário da equipe do Pânico na TV.
Meda: com Robaldo e Christian Pior, apresentado num local bem popular e freqüentado
pela classe trabalhadora do Rio de Janeiro, o Piscinão de Ramos. Os “artistas” apresentam-
se como repórteres “gays”. São reconhecidos por muitos e muitas, achando-os engraçados e
até acolhidos com simpatia.
Desta forma, inequivocamente, o quadro “Meda” serviu para ridicularizar a pobreza e seus
costumes num momento de lazer.
3
CHAUÍ, Marilena. Simulacro e Poder: uma análise da Mídia. SP: Ed. Fund. Perseu Abramo, 2006, p. 28.
4
Ib idem.
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Conclusão:
A rádio e a televisão, no Brasil, operam sob a forma de concessão pública, ou seja, o
Estado autoriza, às empresas de comunicação, a utilização do espectro eletromagnético, um
bem público e finito, para transmitirem a sua programação. Por isso, a preocupação com a
qualidade da programação deveria ser o principal objetivo da empresa de comunicação
concessionária, pois a sua função social, por excelência, é a promoção da cultura, o resgate
dos valores simbólicos da sociedade e a educação do povo brasileiro.
Mas como a população não tem conhecimento de como opera a mídia eletrônica e qual é a
legislação reguladora, muito menos tem a compreensão que a mídia eletrônica é um bem
público, as empresas de comunicação fazem da sua concessão um bem privado e aí está o
programa Pânico na TV:
Ora, tal prática está contextualizada na lógica da produção capitalista. Como o lazer e o
entretenimento são direitos da população, as empresas de comunicação aproveitam-se disso
para produzir o que bem entendem, em nome da “domesticação” da mente e do corpo, tão
ao gosto da elite dominante. Chauí (2006) aponta3:
Desta forma, sedimentou-se o conceito de que a diversão, o “espairecer a cabeça”, é não ter
o que pensar, ou melhor, ver as maiores aberrações contra os direitos humanos em forma de
humor e acreditar que isso é “natural”, ou “normal”. Forjou-se um sujeito passivo frente à
programação televisiva. Segue Chauí (2006)4:
Mas não só o público foi afetado pelo poder da empresa de comunicação, concessionária de
um serviço público, através de sua programação, mas seus funcionários e suas funcionárias.
Em nome da audiência, em outras palavras, do patrocínio para se produzir televisão, essas
pessoas preferem “atuar” neste tipo de programação, em nome de seu emprego, bem como
angariar prestígio frente à população, tornar-se uma “celebridade”, aparecer na TV e ser
reconhecidas pelo público.
Não bastasse isso, convivemos com a total falta de fiscalização do Poder Público, a
ausência de regulamentação específica no que diz respeito à concessão das outorgas, a
ausência do controle público da mídia pelos movimentos sociais que deixaram a televisão
comercial apropriar-se de um bem público, tornando-a um “privilegiado” espaço privado.
Assim, um programa pode apresentar funcionários e funcionárias em situação de maus
tratos e de risco, sofrendo humilhações, seus corpos tratados como objetos. Pode-se inferir,
que falta formação política, falta pensamento crítico e resta submissão a uma visão de
mundo que desrespeita a formação cidadã do povo brasileiro.
CF/88:
Título I – Dos Princípios Fundamentais
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana;
Título III – Da Ordem Social
Capítulo V – Da Comunicação Social
Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos
seguintes princípios:
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