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Câmara dos Deputados

Comissão de Direitos Humanos e Minorias

CONSELHO DE ACOMPANHAMENTO DA
PROGRAMAÇÃO DE RÁDIO E TV (CAP)
CAMPANHA “QUEM FINANCIA A BAIXARIA É CONTRA
A CIDADANIA”
RELATÓRIO DE ANÁLISE DE PROGRAMAÇÃO
TELEVISIVA
Relator (a): Claudia Cardoso

Data da apresentação do relatório: 29/09/08

Dados do Programa Analisado:

Nome: Emissora: Horário:


Pânico na TV RedeTV! 20h30min às 22h40min

Classificação etária: Anunciantes:


12 anos 1º Bloco:
Aquarius Fresh (refrigerante), Caixa Econômica Federal (loteria), Casa
das Casas (RS), Casas Bahia, Kayser (cerveja), Manlec (RS), Motel
Botafogo (RS), Motoryama, QI cursos técnicos, Seda Teens (xampu),
Sergio Paris Cosméticos, Suco Dubone, Suzuki, TIM celulares, Ughini
(RS)
Merchandising: Osmoze (moda jovem), Yázigi e TIM estúdio

2º Bloco:
Banco Real, Bombril, Brahma, CNA (curso de inglês), Espartalhões
(filme), MID (suco em pó), Nextel, Rexona Teens (desodorante)
Merchandising: Ford Cross Fox (automóvel)

3º Bloco:
Aquarius Fresh (refrigerante), Banco do Brasil, Clear anti-caspa (xampu),
Kayser (cerveja), Motel Botafogo (RS), QI cursos técnicos, Refresco
Freemax, Sergio Paris Cosméticos, Ughini (RS), Yamaha Festa, Yázigi
Merchandising: Aquarius Fresh (refrigerante), Marca Auditoria, Kayser

4º Bloco:
Merchandising: Automóvel Mercedes-Benz, Osmoze (moda jovem), Loja
do Pânico.

Histórico do programa (se disponível):


http://www.redetv.com.br/siteredetv/grupos/programas/paniconatv/index.aspx
ARedeTV! traz para as telas de TV o programa que é considerado o melhor humorístico do
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rádio. Com seu jeito descontraído, criativo e bem-humorado, a trupe do Pânico na TV faz a
programação mais divertida e engraçada aos domingos e sextas-feiras. Em edições ao vivo,
Emílio Surita, Bola, Sabrina, Ceará, Vesgo, Carioca mostram porque o Pânico na TV se
tornou o programa de maior sucesso e repercussão da televisão brasileira atualmente.

http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A2nico_na_TV
Pânico na TV é a versão televisiva do programa radiofônico Pânico. Transmitido pela
RedeTV!, estreou no dia 28 de setembro de 2003, aos domingos. Logo ao ser lançado, o
programa contou com o reflexo do sucesso da versão veiculada pela rádio Jovem Pan,
atingindo em pouco tempo uma grande popularidade, com uma audiência constituída
principalmente por jovens das classes A e B.[1](...) O projeto para a TV foi desenvolvido dois
anos antes da estréia, pelo dono da Jovem Pan, Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho
(também conhecido como Tutinha) e a diretora do programa na rádio, Renata Neves-
Molliet. Vários quadros da rádio foram adaptados para o vídeo. Inicialmente com duração
de 60 minutos, o sucesso de público e a busca por espaços comerciais expandiu a atração
para até duas horas, além de uma reprise dos melhores momentos da atração às sextas
feiras. (...) Desde o seu início o programa coleciona polêmicas, ora por piadas consideradas
de mau gosto, ora pelo fato de dar ênfase a mulheres seminuas -- as "assistentes de palco".
Por esse último, o programa sofreu uma ação judicial que o proibiu de retornar ao horário
habitual (18 horas, passando a ser exibido às 20 horas).

Informações sobre público / audiência do programa (se disponível):


http://fama.uniblog.com.br/302904/audiencia-panico-na-tv-continua-baixa-e-marcou-neste-
domingo-13-01-apenas-5-pontos.html
“Audiencia panico na tv continua baixa e marcou neste domingo 13/01 apenas 5 pontos – 14/01/08.”
Dados preliminares
O programa Pânico na TV (RedeTV!) já aparece no ranking de denúncias desde o início da
Campanha Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania.
A(s) denúncia(s) é (são): Denúncias a respeito do quadro “Lingerie em Perigo”,
- Genérica (s) sobre a máapresentada por Sabrina Sato, bem como genéricas sobre a
qualidade do programa. má qualidade do programa.
- Sobre fato específico
relacionado ao programa.

Programa assistido em: Emissora comunicada em:


24/02/2008, domingo

Teor resumido da manifestação da emissora, se houver:

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Conteúdo do parecer
O programa Pânico na TV teve quase duas horas de duração e se dividiu em quatro blocos,
sendo o terceiro o mais longo e o que apresentou três dos quatro quadros problemáticos da
noite: “Táxi do Gluglu”, “Os Nelsons” e a “Prova do Elástico”. O quadro “Meda” foi
apresentado no segundo bloco, mas será a minha última análise.

Táxi do Gluglu: consistiu na sátira do quadro Táxi do Gugu (SBT), na qual um “artista” - o
Gluglu - e a personagem “Mulher Samambaia” submeteram-se a provas de acrobacias
automobilísticas com o piloto chamado João Paulo. A “atriz” não sabia do que se tratava o
quadro em si, ficou nítida a sua surpresa e a sua desesperação. O piloto, durante a sua
“performance”, era o único que utilizava cinto de segurança. O “Gluglu” e a “Mulher
Samambaia” estavam sentados na parte de trás e seus corpos eram jogados de um lado para
o outro.

As provas consistiram em: cavalinho de pau; andar só com as duas rodas laterais; travar e
levantar apenas a traseira do automóvel; saltar sobre automóveis parados; saltar sobre
automóveis parados com o “Gluglu” sentado no meio deles; saltar sobre os automóveis
parados, cruzando uma barreira de fogo; por fim, o “Gluglu” foi amarrado no pára-choque
de um carro para girar em cavalinho de pau, em alta velocidade, e frear na frente do outro
carro que vinha em direção contrária, também em alta velocidade.

A “Mulher Samambaia” chorou muito e se recusou a participar de algumas das “provas”, à


exceção do salto por cima dos carros, com o “Gluglu” entre eles, mais a do cavalinho de
pau com o mesmo amarrado.

Impressiona a falta de responsabilidade social de uma empresa de comunicação, que


permite tal “roteiro”. Todos os dias, os jornais trazem os números dos acidentes
automobilísticos e as mortes provocadas por estes. Em que pese se tratar de um piloto de
provas, a associação entre carro, velocidade e vale-tudo na direção foi imediata. Além do
mais, não houve preocupação com a segurança dos “artistas”. Assim como tudo deu certo
ao final, poderia ter ocorrido morte!

Quanto à pressão psicológica a que se submeteu a “atriz”, impressiona que a mesma


continue trabalhando para a empresa! Além de fazê-la passar pelas provas sem saber do
que se tratava, sem equipamento de segurança, sem treinamento para tal atividade, devido à
sua “personagem”, estava de biquíni e salto alto!

Tal quadro foi uma aula: de desrespeito à vida, à dignidade; de mistificação do “poder” do
piloto; de “fetichização” do automóvel. A última prova, com o “Gluglu” amarrado, com a

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cabeça pendurada, então, foi de um tremendo mau gosto e de temeridade. Fez-me lembrar
das palavras de B. C. Cohen (1963)1: se a televisão não mostra o que fazer, mostra o que
pensar (no popular “dá idéia do que se pode fazer”).

Os Nelsons: seguindo a lógica do “sem-noção”2 do “Táxi do Gluglu”, durante o quadro que


traz uma sátira de Nelson Rubens (RedeTV!), o artista de codinome “Vesgo” queimou a
perna com “bombinhas” guardadas no bolso. Tais artefatos serviam para, lá pelas tantas,
serem jogadas ao chão e provocarem susto às pessoas presentes. O quadro foi gravado em
frente ao local, onde se realizava uma festa da nova novela da Rede Globo “Beleza Pura”.
A produção teve o cuidado de “pixelizar” os rostos dos seguranças, guardas e de alguns
transeuntes, provavelmente, a fim de se salvaguardar de futuros desenlaces judiciais.

A dupla “Silvio” e “Vesgo” implicavam com os artistas globais, mote do quadro Os


Nelsons, quando aconteceu o acidente. O câmera continuou acompanhando e gravando o
desenlace. Quando o “Vesgo” iniciou seu atendimento numa ambulância, que estava no
local (e deveria estar escalada para a festa), este pediu para encerrarem as gravações. Ou
seja, empurrar as câmeras para registrar tal tipo de cena e angariar audiência ao programa,
só quando ocorrer com outras pessoas, não com a equipe do Pânico na TV, hipótese bem
provável de acontecer, em vista do histórico do programa. Imagens bizarras e
desrespeitosas, só se forem das pessoas que não pertençam ao programa. De resto, estará
tudo permitido e uns pontinhos a mais no IBOPE.

“Prova do elástico”: seis “atrizes” do Pânico na TV (Panicats), capitaneadas por Sabrina


Sato e a “Mulher Samambaia” e coordenadas pelo “Bola”, submeteram-se à prova de
revezamento, na qual as duas equipes deveriam correr até pedaços de queijo suspensos por
uma corda, espaçados entre si. Cada mulher, na sua vez, puxando um elástico preso pelo
nariz, cuja força provinha da cabeça e sem auxílio das mãos, deveria morder o queijo e
retornar ao ponto inicial, para que a sua colega de equipe prendesse o elástico na cabeça
(nariz) e reiniciasse a “atividade”, aproximando-se do queijo pendurado, desta vez, mais
distante que o primeiro.

As mulheres sentiram dor e angústia para dar cabo ao “jogo”. A equipe que concluiu a
tarefa no menor tempo foi a vencedora e coube, às moças que perderam, serem exibidas
com uma meia de seda enfiada na cabeça, pelo “Bola”, que deixou suas faces disformes à
mercê das risadas e gozações das demais. Ou seja, a humilhação daquelas mulheres serviu
de chacota, piada, inclusive, para suas colegas da equipe vencedora. Não há solidariedade e
“respeito” parece ser uma palavra riscada do vocabulário da equipe do Pânico na TV.

Cabe ressaltar, três coisas sobre esse quadro:


1
LIMA, Venício A. Mídia: teoria e política. SP: Ed. Fund. Perseu Abramo, 2001, p.221.
2
Indivíduo sem senso médio de convivência social; pessoa que não tem noção das coisas que faz; expressão
usada quando alguém faz algo sem graça, sem sentido ou ridículo.
(http://www.dicionarioinformal.com.br/definicao.php?palavra=sem%20noção&id=3445)
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1. As Panicats de maiô (Sabrina Sato) e biquínis (as demais).


2. O “Bola”, ao apresentar o quadro, fez referência às “choronas” para justificar essa
nova programação. Pode-se inferir que se tratava do quadro “Lingerie em Perigo”,
mote das denúncias, e que a produção preferiu não repetir, quiçá temerosa da reação
ou ações judiciais cabíveis.
3. Para o “trote” à equipe perdedora, o “Bola”, olhando para a câmera, com a meia na
mão, usou da palavra “tortura”, antes de apresentar o que viria a seguir para as
mulheres.

Algumas considerações sobre estes três quadros:


1. Os três apresentaram situações de risco à integridade física dos “artistas” da casa.
2. Os “artistas” executam o roteiro, aparentemente, concordando com os termos
propostos.
3. Os “artistas” permanecem na empresa, cujo trabalho os expõe ao risco, ao ridículo,
à humilhação, à degradação e aos maus tratos.

Meda: com Robaldo e Christian Pior, apresentado num local bem popular e freqüentado
pela classe trabalhadora do Rio de Janeiro, o Piscinão de Ramos. Os “artistas” apresentam-
se como repórteres “gays”. São reconhecidos por muitos e muitas, achando-os engraçados e
até acolhidos com simpatia.

A caracterização de “gay” se dá de forma estereotipada e ridicularizada. Isso, pos si só, já


caracterizaria desrespeito e discriminação ao homossexual homem. E, para apresentar o
quadro “Meda”, não foram poucas as vezes que os “apresentadores” demonstraram a sua
repugnância pela areia, água e comida do Piscinão de Ramos. Se o local não é salubre – o
que cabe outras considerações que não vem ao caso, então, que nem entre em pauta como
provável “roteiro” para o programa. Ou seja, desrespeito total às pessoas que ali
freqüentam.

E o desrespeito segue. Os “artistas”:


1. tocaram em algumas bundas de mulheres, sem a menor cerimônia;
2. demonstraram sua repugnância em relação à areia e à água, bem como à comida das
pessoas;
3. implicaram com homens jovens (um deles deu as costas e se retirou para não ser
filmado), ridicularizaram homens idosos e mulheres gordas.

Desta forma, inequivocamente, o quadro “Meda” serviu para ridicularizar a pobreza e seus
costumes num momento de lazer.

3
CHAUÍ, Marilena. Simulacro e Poder: uma análise da Mídia. SP: Ed. Fund. Perseu Abramo, 2006, p. 28.
4
Ib idem.
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Conclusão:
A rádio e a televisão, no Brasil, operam sob a forma de concessão pública, ou seja, o
Estado autoriza, às empresas de comunicação, a utilização do espectro eletromagnético, um
bem público e finito, para transmitirem a sua programação. Por isso, a preocupação com a
qualidade da programação deveria ser o principal objetivo da empresa de comunicação
concessionária, pois a sua função social, por excelência, é a promoção da cultura, o resgate
dos valores simbólicos da sociedade e a educação do povo brasileiro.

Mas como a população não tem conhecimento de como opera a mídia eletrônica e qual é a
legislação reguladora, muito menos tem a compreensão que a mídia eletrônica é um bem
público, as empresas de comunicação fazem da sua concessão um bem privado e aí está o
programa Pânico na TV:

1. submetendo seus funcionários e suas funcionárias a condições de trabalho


insalubres;
2. expondo, ao ridículo, mulheres, homens, homossexuais e a classe popular;
3. produzindo o humor do senso comum, com suas saídas fáceis, sempre em cima da
parte fragilizada da população.

Ora, tal prática está contextualizada na lógica da produção capitalista. Como o lazer e o
entretenimento são direitos da população, as empresas de comunicação aproveitam-se disso
para produzir o que bem entendem, em nome da “domesticação” da mente e do corpo, tão
ao gosto da elite dominante. Chauí (2006) aponta3:

Como escrevem Adorno e Horkheimer, a obra de arte (...) não transcende o


mundo dado, é “arte sem sonho”, é sono em que adormecem a criatividade, a
consciência, a sensibilidade, a imaginação, o pensamento e a crítica tando do
artista como o do público. Os produtos da indústria cultural buscam meios para
ser alegremente consumidos em estado de distração. Todavia, cada um desses
meios “é um modelo do gigantesco mecanismo econômico que, desde o início,
mantém tudo sob pressão tanto no trabalho, quanto no lazer que lhe é
semelhante.” Em outras palavras, além do controle do trabalho, a classe passou a
controlar também o descanso, pois ambos são mercadorias – “o amusement é o
prolongamento do trabalho sob o capitalismo avançado. É procurado por aqueles
que querem subtrair-se aos processos de traablho mecanizados, para que estejam
de novo em condições de afrontá-lo”.

Desta forma, sedimentou-se o conceito de que a diversão, o “espairecer a cabeça”, é não ter
o que pensar, ou melhor, ver as maiores aberrações contra os direitos humanos em forma de
humor e acreditar que isso é “natural”, ou “normal”. Forjou-se um sujeito passivo frente à
programação televisiva. Segue Chauí (2006)4:

Qual o efeito do entretenimento como descanso? A hostilidade diante de tudo que


possa ser mais do que simples divertimento, que peça atividade em vez de
passividade. Desta maneira, sob o poderio do capital, as obras de arte críticas e
radicais foram esvaziadas para se tornar entretenimento; e outras passaram para
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celebrar o existente, em lugar de compreendê-lo, criticá-lo e propor outro futuro


para a humanidade.

Mas não só o público foi afetado pelo poder da empresa de comunicação, concessionária de
um serviço público, através de sua programação, mas seus funcionários e suas funcionárias.
Em nome da audiência, em outras palavras, do patrocínio para se produzir televisão, essas
pessoas preferem “atuar” neste tipo de programação, em nome de seu emprego, bem como
angariar prestígio frente à população, tornar-se uma “celebridade”, aparecer na TV e ser
reconhecidas pelo público.

Não bastasse isso, convivemos com a total falta de fiscalização do Poder Público, a
ausência de regulamentação específica no que diz respeito à concessão das outorgas, a
ausência do controle público da mídia pelos movimentos sociais que deixaram a televisão
comercial apropriar-se de um bem público, tornando-a um “privilegiado” espaço privado.
Assim, um programa pode apresentar funcionários e funcionárias em situação de maus
tratos e de risco, sofrendo humilhações, seus corpos tratados como objetos. Pode-se inferir,
que falta formação política, falta pensamento crítico e resta submissão a uma visão de
mundo que desrespeita a formação cidadã do povo brasileiro.

O programa Pânico na TV do dia 24/02/2008 foi uma “aula” de desrespeito aos


trabalhadores e às trabalhadoras da Rede TV!, ao público adulto e, principalmente, ao
público infanto-juvenil, um frontal ataque ao direito humano da comunicação com
qualidade. Pior, provavelmente, sem que tais pessoas tenham percebido isso.

O programa fere dispositivos legais ou princípios da Campanha?


Quais?
O programa fere o primeiro príncipio da campanha:
01. Não será considerada legítima a divulgação de imagens que exponham pessoas ao
ridículo ou que lhes ocasione algum tipo de constrangimento moral, exceto se o resultado
dessa divulgação, comprovadamente, contribuir para a identificação de autoria ou
prevenção de conduta tipificada pelo Código Penal
Quanto aos dispositivos legais:

CF/88:
Título I – Dos Princípios Fundamentais
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana;
Título III – Da Ordem Social
Capítulo V – Da Comunicação Social
Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos
seguintes princípios:

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I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;


IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

Estatuto da Criança e do Adolescente:


Capítulo II - Da Prevenção Especial
Seção I - Da informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões e Espetáculos
Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão, no horário recomendado para
o público infanto-juvenil, programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e
informativas.

Convenção Americana sobre Direitos Humanos:


PARTE I - DEVERES DOS ESTADOS E DIREITOS PROTEGIDOS
Capítulo II - DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS
Artigo 5º - Direito à integridade pessoal
1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral.
2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou
degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com o respeito devido à
dignidade inerente ao ser humano.
Artigo 11 - Proteção da honra e da dignidade
1. Toda pessoa tem direito ao respeito da sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade.

Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a


Mulher
Capítulo I - Definição e âmbito de Aplicação
Artigo 1º. Para os efeitos desta Convenção deve-se entender por violência contra a mulher
qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico,
sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado.
Capítulo II - Direitos Protegidos
Artigo 4º. Toda mulher tem direito ao reconhecimento, gozo, exercícios e proteção de
todos os direitos humanos e às liberdades consagradas pelos instrumentos regionais e
internacionais sobre direitos humanos. Estes direitos compreendem , entre outros:
1. o direito a que se respeite sua vida;
2. o direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral;
3. o direito à liberdade e à segurança pessoais;
4. o direito a não ser submetida a torturas;
Artigo 8º. Os Estados-partes concordam em adotar, em forma progressiva, medidas
específicas, inclusive programas para:
1. fomentar o conhecimento e a observância do direito da mulher a uma vida livre de
violência o direito da mulher a que se respeitem para protejam seus direitos humanos;
7. estimular os meios de comunicação e elaborar diretrizes adequadas de difusão que
contribuam para a erradicação da violência contra a mulher em todas suas formas e a
realçar o respeito à dignidade da mulher;

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O programa contribui para a efetivação dos princípios da Campanha?


Não.
O programa discrimina grupo social específico?
Sim.
Qual?
Pessoas pobres e as mulheres trabalhadoras do programa.

Foram ouvidas entidades de defesa do(s) grupo (s) discriminado(s)?


Qual? Síntese da opinião da(s) entidade(s):
O parecer final deve ser encaminhado a algum órgão/instituição?
Sim.
Qual?
Ministério das Comunicações, Ministério Público, Ministério da Justiça (?)
Recomendações:

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