Entrevista

A Dental Press tem dado grande ênfase à Ortodontia e Ortopedia Facial brasileira através desta
seção Entrevista. Coube-nos a missão de entrevistar o Dr. Zachrisson durante o Congresso Internacional
de Ortodontia de Israel, em Eilat. Agora cabe-me a missão de apresentá-lo e o faço com enorme satisfação
e honra. Trata-se de uma tarefa até facil de ser cumprida, pois o Dr. Zachrisson é um dos “profissionais”
da Ortodontia mais conhecidos, respeitados e solicitados no mundo inteiro. Muito jovem iniciou os seus
estudos relativos à integração da ortodontia e a periodontia. Dedicou-se em seguida à colagem de braquetes
e tubos aos dentes, bem como às superfícies de restaurações metálicas e de porcelana.
Portador de um senso minucioso de perfeição desenvolveu técnicas de excelência de acabamento
e de retenção das correções ortodônticas. Esta procura constante o levou às pesquisas relacionadas a
estética facial, dentária e do sorriso. Atualmente se dedica ao atendimento multidisciplinar com a finalidade
de dar ao aparelho mastigatório o melhor desempenho relativo a função, estética e estabilidade. Apresenta
uma enorme produção científica de artigos, livros e cursos ministrados em todo o mundo.
Profundo conhecedor das bases biológicas, pesquisador dedicado, excelente profissional clínico e
conferencista diferenciado com uma capacidade ímpar de comunicação, este colega e amigo “norueguês”,
que já esteve duas vezes no nosso país ministrando cursos e que por certo se tornará ainda mais conhecido
e respeitado, enriquecendo a todos nós.

Kurt Faltin Junior

01 - Qual a sua opinião sobre para permitir a forma de arco padrão

os fios ortodônticos da nova
geração? Dr. Omar Gabriel da
Silva Filho
Os fios superelásticos são uma for-
ma excelente e conveniente, embora
cara, de se iniciar o tratamento orto-
dôntico. O primeiro fio, tanto na ma-
xila como na mandíbula, de todos os
meus casos com adolescentes e adul-
tos, é um fio pré-contornado Bioforce
Sentalloy .016” x .022” inferior. Estes
fios superelásticos são excelentes para
se iniciar a correção de rotações e pro-
duzir o alinhamento inicial dos bra-
quetes para que os fios de aço inoxi-
dável dobrados possam ser utilizados
para controlar a forma do arco e o mo-
vimento de corpo dos dentes. Os fios
superelásticos têm pouco valor no ni-
velamento vertical de curvas de Spee
severas e sobremordida anterior pro-
funda. Eles também são consideravel-
mente menos rígidos que os fios de aço
inoxidável para movimento em corpo
na mecânica de deslizamento e quan-
do utilizados com elásticos Classe II.
Por esta razão, continuo a utilizar o
aço inoxidável para esses movimentos
dentários. Os fios beta-titânio permi-
Björn Zachrisson e Kurt Faltin Jr.
tem designs mais simples que os fios
de aço inoxidável, mas não oferecem
muita melhora no sentido de obter
meus objetivos de tratamento. Como
discutido pelo Dr. Rubin no Editorial da
edição do mês de junho da revista The
Angle Orthodontist, a próxima geração
de fios ortodônticos terá índices de de-
flexão da carga semelhantes ao níquel
titânio, permitirá que o ortodontista
faça dobras de primeira e segunda or-
dens, será rígido, embora maleável,
e terá a coloração do dente.
02 - Qual a perspectiva do en-
xerto ósseo para a movimenta-
ção ortodôntica nas áreas de
grande perda periodontal? Dr.
Omar Gabriel da Silva Filho
A melhora da espessura vestibulo-
lingual e da altura vertical do osso
alveolar em áreas restituídas pode
ocorrer por meio de ROG (Regenera-
ção Óssea Guiada) e RTG (Regenera-
ção Tecidual Guiada) utilizando-se
membranas com e sem enxerto ósseo
ou o Emdogain. No entanto, vários
ortodontistas como os Drs. Stepovich,
Tuverson e Turley nos EUA e os Drs.
Fontanelle, Diedrich e Wehrbein na Eu-
ropa demonstraram que é possível mo-
vimentar molares de corpo para áreas
de osso alveolar de espessura reduzi-
da sem dano periodontal. Estas des-
cobertas foram verificadas histologi-
camente por LINDSKOG-STOKLAND et
al. Além disso, eu diria que no futuro
estaremos utilizando muito mais as
técnicas de ROG na Ortodontia e nos
implantes dentários individuais do que
estão sendo utilizadas hoje.

Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.5, n.2, p.1-6 - mar./abr. - 2000 1
03 - O senhor recomenda com
freqüência a fibrotomia gengi-
val para evitar a recidiva de ro-
tações dentárias bem como a
recidiva do diastema interinci-
sivos superiores? Dr. Adilson Luiz
Ramos
Desde os estudos originais realiza-
dos por Edwards mostrando que a fi-
brotomia circunferencial é eficaz para
evitar o apinhamento, o procedimen-
to tem sido de interesse para os orto-
dontistas. No entanto, com o uso dis-
seminado dos retentores linguais co-
lados, realizo menos fibrotomias atual-
mente do que fazia há alguns anos
atrás. Minha impressão hoje é que as A B
fibrotomias são indicadas para rota- FIGURA 1 - Dois pacientes Classe II, Divisão 1 com padrões esqueléticos diferentes. O
ções severas, e não para rotações me- paciente da FIG. 1A possui uma maxila prognática e mandíbula normal enquanto que o
paciente da FIG. 1B possui uma maxila normal e mandíbula retrognática. A diferença no
nores. Minha técnica, que é simples e padrão esquelético é evidente mesmo a partir de fotografias de perfil. Como conseqüên-
segura, é recomendada pelo Dr. cia, as abordagens de tratamento ortodôntico serão diferentes (ver texto).

Dragoo, um periodontista de São Fran-

cisco que utiliza cortes interdentários
verticais vestíbulo e lingualmente ao
invés de abordar ao redor dos dentes
na área dos sulcos. Com os cortes ver-
ticais não há risco de recessão gengi-
val vestibular ou lingual e perda de
aderência, mesmo nos tecidos finos.
As fibrotomias são realizadas depois
de corrigidas as posições dentárias e,
com freqüência, juntamente com ou-
tras formas de cirurgias menores tal
como as frenectomias (recolocação do
freio em uma direção gengival) e
gengivectomias simples com o objeti-
vo de alongar a coroa. Vejo mais indi-
cação para as fibrotomias na maxila
do que na mandíbula. O Dr. Boese re-
latou uma combinação de fibrotomia
e desgaste e afirma que tem alcança-
do resultados estáveis durante quatro
a nove anos sem a contenção no arco
inferior. No entanto, estou muito sa-
tisfeito com meus resultados a longo
prazo utilizando o retentor lingual co-
lado com adesivos de terceira geração
sem fibrotomia nas situações de roti-
na em adolescentes e muitos pacien-
tes adultos.
04 - O senhor utiliza o aparelho
de Herbst para correção da
Classe II por retrognatismo
mandibular e em qual idade? Dr.
Adilson Luiz Ramos
Não. Eu não utilizo o aparelho de
Herbst ou qualquer outro aparelho de
avanço da mordida em meu consultó-
rio para corrigir relações Classe II. A
razão é que não estou certo sobre o
potencial de efeitos colaterais, que
pode incluir a inclinação para frente
dos incisivos inferiores, possível ins-
tabilidade a longo prazo dos resulta-
dos alcançados com o tratamento no
plano sagital e potenciais problemas
com a ATM.
O invés disso, para as correções
da Classe II na maxila prognática com
perfis labiais protrusivos (FIG. 1A),
utilizo uma combinação de ancora-
gem extrabucal de tração alta e arco
transpalatino grande (FIG. 2A-B). A
ancoragem extrabucal é utilizada se-
gundo os princípios de Teuscher com
arcos externos curtos extras próximo
ao centro de resistência maxilar. A an-
coragem extrabucal é utilizada à noi-
te e durante 3 a 4 horas durante o
dia e, para assegurar a cooperação e
o estímulo, os pacientes são solicita-
dos a apresentar o quadro de uso da
ancoragem extrabucal em todas as
consultas.
Em casos mais difíceis com man-
díbulas retrognáticas (FIG. 1B), meu
objetivo seria influenciar o processo de
crescimento diferencial entre o cresci-
mento do côndilo, o crescimento do
processo alveolar e a erupção dos den-
tes superiores. Mantendo-se os mola-
res superiores verticalmente e liberan-
do-se a oclusão, alcança-se um efeito
máximo para frente com o crescimen-
to normal da mandíbula. Isto é seme-
lhante ao que acontece no final do
período do crescimento pós-puberal,
com o crescimento mandibular pros-
seguindo embora o crescimento da
maxila tenha finalizado. Portanto, mi-
nha técnica é tentar inibir o crescimen-
to para baixo da face média e evitar a
erupção dos molares superiores. Isto
é feito combinando-se barra transpa-
latina com um loop aumentado (FIG.
2B) e ancoragem extrabucal de tra-
ção alta com força baixa. Ram Nanda
demonstrou que ao se utilizar um apa-
relho de Nance de acrílico por mais
de um ano, a intrusão ativa dos mo-
lares superiores é realmente possível.
A barra transpalatina com loop au-
mentado age de maneira semelhante
a um aparelho de Nance, mas é mais
higiênica. Em casos em que os incisi-

Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.5, n.2, p.1-6 - mar./abr. - 2000 2
 A B
FIGURA 2 - Ancoragem extrabucal de tração alta (A) e barra transpalatina grande (B) FIGURA 3 - Elásticos curtos e pesados uti-
utilizadas para corrigir más-oclusões Classe II. lizados para correção da Classe II. Os elás-
ticos curtos, pesados, algumas vezes po-
dem atuar do primeiro pré-molar superior
ao primeiro molar inferior ou do canino su-
perior ao segundo pré-molar inferior.

vos inferiores precisam ser ou podem
ser inclinados para frente, eu faria isto
utilizando elásticos pesados e curtos
Classe II com forças de 10-12 onças
em cada lado ao invés de um arco in-
ferior completo (FIG. 3).
05 - Diante dos avanços técni-
cos dos materiais ortodônticos,
como o senhor vê o futuro da
Ortodontia? Dr. Hélio Terada
Devido aos muitos avanços técni-
cos ocorridos nos últimos anos, a
Odontologia em geral e a Ortodontia
em particular nunca foram tão agra-
dáveis de se trabalhar como hoje. O
futuro também parece ser extrema-
mente brilhante. Aparelhos estéticos e
fios melhorados serão indiscutivel-
mente desenvolvidos no futuro tornan-
do os aparelhos ortodônticos quase
invisíveis. No momento, nenhuma das
alternativas “estéticas” ou “dento-co-
loridas” são boas. Por essa razão, atu-
almente utilizo muitos braquetes re-
vestidos de ouro em meus pacientes
ortodônticos, particularmente na man-
díbula e nas partes posteriores da den-
tadura superior. A satisfação do pa-
ciente com tais acessórios é maior do
que o esperado. No entanto, no futu-
ro, os pacientes continuarão a exigir e
esperar aparelhos muito mais imper-
ceptíveis. Bob Kusy em Chapel Hill está
realizando uma pesquisa interessante
sobre fios dento-coloridos produzidos
por uma técnica chamada “poltrusão”,
embora seus experimentos ainda se
encontrem em estágio experimental.
Ainda não estou certo de que as técni-
cas linguais irão ou não cativar. Isto
basicamente porque a posição de tra-
balho para os ortodontistas na
Ortodontia lingual é desconfortável e
inconveniente. No entanto, as fixações
linguais também se tornaram marca-
damente melhores antes que a
Ortodontia lingual se mostrasse
significante na Ortodontia de rotina.
06 - O que o senhor poderia co-
mentar sobre as estabilidades
pós-intrusão unitária e múlti-
pla? Dr. Hélio Terada
Falando de maneira genérica, con-
sideraria-se que a movimentação den-
tária no plano vertical do espaço ti-
vesse a mesma tendência à recidiva
que qualquer outro tipo de movimen-
tação dentária. Isto implica que ela
tenha de ser completamente corrigida
e preferivelmente colocada em conten-
ção com retentores colados, se aplicá-
vel ao caso.
A intrusão seletiva de dentes indi-
viduais (à la Vince Kokich) apenas res-
taura uma posição ótima original dos
dentes que são supra-irrompidos sub-
seqüentemente a uma fratura de co-
roa ou tipo semelhante de dano. A in-
trusão seletiva de tais dentes será,
portanto, estável. Semelhantemente, a
intrusão de um segmento de incisivos
inferiores para nivelar uma curva
marcante de Spee em casos Classe II
com trespasses horizontais grandes
restaura a posição “normal” dos inci-
sivos após uma sobre-erupção prévia
dos dentes. Esta sobre-erupção acima
do plano oclusal funcional ocorre pela
ausência de contato com os incisivos
superiores e, conseqüentemente, a cor-
reção deve ser considerada estável.
Nesta conexão, gostaria de enfa-
tizar que, atualmente, não nos esfor-
çamos para intruir ativamente os in-
cisivos superiores na maioria das si-
tuações de sobremordida mais pro-
funda. Novas informações sobre a dis-
posição dos dentes em conversação
normal e com os lábios em repouso
deixaram claro que esconder os inci-
sivos superiores atrás do lábio su-

Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.5, n.2, p.1-6 - mar./abr. - 2000 3
perior não é o desejado, exceto nos
casos com sorrisos “gengivosos” mar-
cantes e em alguns casos periodon-
tais com migração dentária. O con-
ceito se aplica à cirurgia ortognática
e à protética, mas também à Ortodon-
tia, evidentemente. Isto significa que
a intrusão nas sobremordidas profun-
das são realizadas na mandíbula, uti-
lizando-se arcos-base para não se
“envelhecer” os pacientes desneces-
sariamente. Isto é discutido em mais
A C
detalhes em um artigo de minha au-
toria sobre os aspectos verticais da
disposição dentária e do sorriso, pu-
blicado na edição de julho de 1998
da revista Journal of Clinical Ortho-
dontics.

07 - Considerando-se que as
superfícies vestibulares dos
dentes são perfeitas, que os
braquetes utilizados também
são perfeitos e que a técnica
utilizada para colagem está
correta, quais são as indica-
ções para a introdução de do-
bras em fios retangulares? Dr.
Kurt Faltin Jr.
As razões da necessidade de se fa-
zer dobras no fio devem-se ao fato de
que os fios retos irão automaticamen-
te subcorrigir as relações dos pontos
de contato (a chamada Ortodontia 9/
10), subtratar as assimetrias dos la-
dos direito e esquerdo no torque de
coroa e raiz e, também, por causa da
variação biológica na resposta ao tra-
tamento. A variação individual no
torque de coroa de cada categoria de
dentes é considerável. Em um estudo
excelente publicado na edição de ju-
lho de 1997 da revista American
Journal of Orthodontics and Dentofa-
cial Orthopedics escrito pelos Drs.
Ugur e Yukay de Ankara – Turquia,
os desvios-padrões para todas as ca-
tegorias diferentes de dentes geral-
mente foram da ordem de 5º tornan-
do os valores “médios” para o torque
nos braquetes relativamente sem sig-
nificado.
Além disso, o torque da coroa dos
dentes deve ser individualizado e cor-
B D
FIGURA 4 - A maneira como a natureza compensa uma base apical superior es-
treita é inclinando as coroas dos dentes superiores vestibularmente como obser-
vado neste paciente Classe III com tendência a mordida aberta (A-B). C) mostra
a aparência extrabucal 4 anos após o tratamento e D) mostra a condição intrabu-
cal pós-tratamento. Observe os excelentes efeitos estéticos produzidos pelo torque
na coroa.
relacionado ao tamanho da base to ortodôntico. Tanto as avaliações ver-
apical dos pacientes. Por exemplo, um ticais como transversais bem como os
indivíduo com base apical superior es- julgamentos sobre a linha média de-
treita (FIG. 4A-B) deve ter torque reto vem ser realizados diretamente de
de coroa ou até mesmo vestibular nas frente (FIG. 6). Também quando é hora
áreas de canino e pré-molar (FIG. 4C- de serem feitas as verificações clíni-
D). Por um outro lado, um paciente cas para correção das relações dos
com maxila larga pode necessitar de pontos de contato entre dentes indivi-
torque lingual na coroa. O perigo de duais, um número considerável de
não se analisar este problema ade- ortodontistas parece não estar alerta
quadamente e, assim, não introduzir sobre como fazer uma correção e aná-
dobras nos fios, é ilustrado na FIG. lise crítica. Para os dentes inferiores
5A-D onde os efeitos de um aparelho será necessário comparar os resulta-
straight-wire pré-ajustado reduziram dos em direção ao final do tratamento
a aparência estética do sorriso em um com a aparência original nos modelos
paciente com base apical de tamanho pré-tratamento. Para os dentes supe-
normal na maxila. Em outras pala- riores, deve-se usar também um espe-
vras, o paciente nos pareceu melhor lho clínico para se “enxergar” melhor
antes (FIG. 5A-B) do que após o tra- quais correções são necessárias em
tamento ortodôntico (FIG. 5C-D)! cada caso individual.
Parece que esta informação é tão Em minha opinião, há somente a
nova que, no presente, muitos ortodon- necessidade de se ter braquetes pré-
tistas parecem não saber como fazer o torqueados para os incisivos centrais
exame clínico quanto às avaliações es- superiores, segundos molares supe-
téticas na cadeira durante o tratamen- riores e caninos inferiores. Para os

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 não-tratada. Por razões funcionais, é
melhor ter pré-molares e molares in-
feriores verticalizados para que o ris-
co de indução a interferências de ba-
lanceio seja reduzido. Os caninos in-
feriores também podem apresentar
uma tendência de lingualização duran-
te o tratamento e, no momento, estou
experimentando braquetes com dife-
rentes graus de torque vestibular na
coroa destes dentes. Os aparelhos mais
pré-ajustados apresentam torque lin-
A C
gual na coroa definido para os cani-
nos inferiores, que algumas vezes pode
servir para aumentar a tendência de
lingualização destes dentes.

08 - Quais são os seus princípi-

os com respeito à harmonia fa-
cial e à estética? Dr. Kurt Faltin
Jr.
B D Para dar uma resposta curta a um
FIGURA 5 - Efeito indesejado do aparelho ortodôntico pré-ajustado. A utilização sem problema difícil e desafiante, vou me
controle do aparelho resultou no torque lingual dos caninos e dentes posteriores no limitar à análise estética frontal da face
paciente jovem do sexo masculino com largura normal pré-tratamento da base apical
superior. Observem a diferença no torque da coroa antes (A-B) e após (C-D) o trata- realizada na posição de repouso, em
mento. A aparência estética é melhor antes do tratamento! Este efeito ficará desaper- conversação normal e sorrindo.
cebido se o resultado do tratamento não for analisado de frente (ver Figura 6).
No plano vertical do espaço, dou
atenção e tento criar:
a) Uma curva dos incisivos supe-
primeiros e segundos molares inferio- Ugur e Yukay onde os resultados clí- riores paralela ao contorno interno do
res onde a maioria dos sistemas pré- nicos com a utilização de braquetes lábio inferior;
ajustados apresenta um torque lingual edgewise padrão e braquetes de Roth b) uma curva suave, gradual dos
marcante na coroa, eu utilizo braque- foram comparados, verificou-se que dentes anteriores aos posteriores;
tes com torque zero. A razão para esta nos dois grupos os primeiros molares c) uma apresentação ótima rela-
decisão é que os braquetes não-tor- inferiores foram inclinados mais cionada à idade dos incisivos supe-
queados na realidade irão agir como lingualmente após o tratamento orto- riores com os lábios relaxados e du-
um freio à inclinação lingual das co- dôntico do que os primeiros molares rante uma conversação normal.
roas dos molares. No estudo dos Drs. inferiores em uma amostra normal Como regra geral este conceito im-

FIGURA 6 - Posições preferidas paciente/médico para se fazer avaliações estéticas durante o tratamento ortodôntico. Quando a
cabeça do paciente é posicionada na lateral do apoio de cabeça da cadeira, é possível que o ortodontista estude a face do paciente
e a dentição diretamente de frente.

Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.5, n.2, p.1-6 - mar./abr. - 2000 5
plica em se ter uma exposição o
quanto menor possível dos incisivos
inferiores;
No plano transversal do espaço,
meus objetivos incluiriam:
d) simetria do torque entre os ca-
ninos e pré-molares nos lados direi-
to e esquerdo da boca de cada pa-
ciente;
e) um torque na coroa dos cani-
nos superiores, pré-molares e mola-
res relacionado ao tamanho da base
apical. Os dentes importantes para
obtenção de sorrisos completos sem
expansão são os dentes mais poste-
riores exibidos no sorriso, cujo
torque na coroa deve ser relativa-
mente reto na maioria dos casos;
f) evitar a inclinação lingual dos
caninos, pré-molares e primeiros e
segundos molares inferiores. Isto por
razões estéticas e funcionais.
Com respeito às linhas médias
quero ter as linhas médias dentárias
superior e inferior coincidindo com
a linha média superior centrada no
meio do arco do Cupido do lábio su-
perior.
09 - Depois de visitar o Brasil
duas vezes ministrando cur-
sos, qual a sua opinião sobre
a situação da Ortodontia em
nosso país? Dr. Kurt Faltin Jr.
Não há dúvidas de que o nível da
Ortodontia no Brasil é muito bom no
momento que a qualidade da Orto-
dontia no país, como no restante do
mundo, está sempre melhorando.
Durante meus cursos e palestras em
congressos internacionais no Brasil,
encontrei, ouvi e discuti questões da
Ortodontia com muitos profissionais
excelentes e interessados. Vocês pos-
suem líderes e professores de desta-
que como os Drs. Miguel Benvenga,
Carlos Vogel, Ana e Roberto Lima,
Roberto Trevisan, você e outros. Isto
é uma garantia a ações em cadeia
para a nova geração de jovens orto-
dontistas em seu país. Ao mesmo
tempo, diria que tenho a impressão
de que parece haver uma tendência
de alguns ortodontistas brasileiros
Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.5, n.2, p.1-6 - mar./abr. - 2000
de seguirem os ensinamentos de
seus gurus americanos muito literal-
mente. Isto pode criar um atrito des-
necessário entre as diferentes esco-
las de pensamento. Uma maior indi-
vidualização e variação das aborda-
gens de tratamento como estamos
habituados a ver na Europa prova-
Adilson Luis Ramos
- Conselho Editorial
Científico da Revista Denta
Press de Ortodontia e
Ortopedia Maxilar.
- Graduação pela Fac.
Odontologia de Bauru -
USP.
- Ex-Residente do Setor de Ortodontia do
Hospital de Reabilitação de Bauru - USP
- Professor de Ortodontia do Departamento de
Odontologia da Universidade Estadual de
Maringá - PR.
- Coordenador do I Curso de Aperfeiçoamento
em Ortodontia promovido pelo Instituto de
Pesquisas odontológicas, em convênio com
a Universidade Estadual de Maringá.
- Coordenador do II Curso de Especialização
de Ortodontia promovido pela Assoc.
Maringaense de Odontologia (regional ABO
- Maringá).
Kurt Faltin Jr.
- Pós-graduado em Ortopedia
Maxilar pela Universidade
de Bonn-Alemanha
- Doutorado (Dr. medicina
dentística) em Ortopedia
pela Universidade de Bonn-
Alemanha
- Professor titular da disciplina de Ortodontia
da UNIP
- Coordenador do curso de Especialização em
Ortodontia da UNIP
velmente reduzia os mal-entendidos
e levaria os adeptos de filosofias di-
ferentes mais próximos um do ou-
tro. Nenhuma filosofia da Ortodon-
tia possui todas as respostas e, cer-
tamente, precisamos ouvir uns aos
outros e trocar informações e expe-
riências.
Hélio Terada
- Mestrado pela Universidade
de Araraquara - SP.
- Doutorando pela mesma
instituição.
- Professor de Ortodontia da
UEM - Universidade
Estadual de Maringá - PR.
- Coordenador do I Curso de Especialização
em Ortodontia promovido pela AMO -
Associação Maringaense de Odontologia,
Regional ABO.
- Professor do II Curso de Especialização da
AMO.
Omar Gabriel da
Silva Filho
- Coordenador do Curso de
Atualização em Ortodontia
Preventiva e Interceptativa,
promovido pela PROFIS
(Sociedade de Promoção
Social do Fissurado Lábio-Palatal) - Bauru /
SP.
- Professor do Curso de Especialização em
Ortodontia promovido pela PROFIS
(Sociedade de Promoção Social do
Fissurado Lábio-Palatal) - Bauru / SP.
- Ortodontista do Hospital de Pesquisa e
Reabilitação de Lesões Lábio-Palatais da
Universidade de São Paulo, em Bauru.
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