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V ivemos uma época neste país onde há uma grande preocupação dos responsáveis pelo
funcionamento do sistema jurídico com sua maior credibilidade, maior eficiência, tendo
em vista o acúmulo de processos no Judiciário, o excessivo formalismo das regras
processuais e a quantidade às vezes abusiva de recursos e procedimentos protelatórios
ou impeditivos da prestação jurisdicional. As dificuldades no acesso à Justiça e a
lentidão nos julgamentos definitivos, têm sido objeto de críticas e preocupações não só
dos principais protagonistas dos processos – os juízes, os advogados e os membros do
Ministério Público – mas, também, e, principalmente, dos seus destinatários: as partes e
os cidadãos brasileiros.
Preconiza-se como uma das soluções a reforma constitucional do Judiciário e creio que
ela, como outras reformas da Constituição, são necessárias para permitir o
desenvolvimento econômico e social do País, já às vésperas do Século XXI, e para que
o Estado possa, efetivamente, exercer o seu papel de promover a segurança e o bem-
estar, num regime democrático participativo e estável.
Penso ainda que a igualdade perante a lei e o devido processo legal são princípios
constitucionais complementares entre si, pois os princípios da legalidade e da isonomia
– essenciais ao Estado Democrático de Direito – não fariam qualquer sentido sem um
poder capaz de fazer cumprir e pôr em prática, para todos, com a necessária presteza, a
Constituição e as leis do País. No direito Constitucional americano, onde se inspira o
princípio do devido processo legal, e introduzido no Brasil pela Constituição de 1988,
as cláusulas do due process of law e da equal protection of the laws (igual proteção das
leis) complementam-se reciprocamente, a partir da 14ª Emenda à Constituição de 1787
dos Estados Unidos, ratificada pelo Congresso em 1868.
Tão importante princípio – o do devido processo legal – teve sua origem histórica, como
se sabe, na Magna Carta de 1215 que se referia inicialmente ao processo by the lawful
judgement of his equals or by the law of the land, ou na expressão original em latim per
legale judicium parium suorum, vel per legem terrae, o que significa que ninguém pode
ser processado "senão mediante um julgamento regular pelos seus pares ou em
harmonia com a lei do País".
O princípio do devido processo legal nos Estados Unidos tem também sido aplicado, em
muitos casos, pela jurisprudência, especialmente da Suprema Corte, para limitar a ação
administrativa do Estado na esfera individual e o poder de polícia, garantindo aos
cidadãos a proteção contra os abusos e a violação de garantias procedimentais e de
direitos fundamentais. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 assegura aos litigantes,
em processo judicial ou administrativo, o contraditório e a ampla defesa.
Para concluir, devo enfatizar mais uma vez a necessidade de reformas a fim de tornar o
processo moderno e funcional, atendendo aos anseios da sociedade. É preciso também
modernizar a legislação para maior eficiência no combate à corrupção e à criminalidade,
especialmente em relação à ameaça de tráfico internacional de drogas, ao crime
organizado e aos crimes do colarinho branco (denominação usada pelos criminalistas
americanos já na década de 50, a partir da publicação do livro The White Collar Crime,
em 1949 por Edwin H. Sutherland).
Não se devem, porém, esquecer jamais as lições do passado para não cometer os
mesmos erros dos julgamentos sumários e tribunais de exceção nos regimes autoritários.
A história constitucional brasileira e de sua democracia, demonstram a necessidade de
superar as dificuldades tradicionais da cultura política, realizando mudanças para a
consolidação do regime democrático no País. E o Estado Democrático de Direito não
pode prescindir do respeito à Constituição, aos princípios da legalidade, da igualdade e
do devido processo legal.