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Bolívia – Uma viagem de férias

La Paz
Salar de Uyuni
Sucre
Copacabana

Elias Dantas Teixeira


Março de 2011
Introdução
Quando pensei em minha viagem de férias para o ano de 2011, a Bolívia
não estava em meus planos. Na verdade sempre que penso nesta região, o
primeiro país de que me lembro é o Peru, no entanto desisti porque os preços
da visita a Machu Picchu foram elevados pelo governo. Não sei qual foi o
motivo do aumento de preços, se para restringir o número de turistas (que
talvez estivesse muito alto e colocasse em risco o patrimônio histórico) ou para
obter uma melhor rentabilidade, mas seja lá qual for o motivo, desisti porque
existem diversas opções para se divertir nas férias. Visitar o Peru e não ver a
jóia Inca, não é admissível, no entanto ao ler diversos relatos na internet,
verifiquei que poderia fazer uma boa viagem de férias exclusivamente pela
Bolívia e não me arrependi desta decisão.
Este relato é uma forma de agradecer a diversas outras pessoas, que
me precederam relatando suas viagens a todos os interessados. Isso é muito
importante porque assim podemos ter uma boa idéia do que iremos encontrar
pela frente, é uma oportunidade de viajar com estas pessoas e uma excelente
forma de fazermos um roteiro de nossa futura viagem. Assim contribuo com
esta fantástica fonte de informação, que é a internet e tenho certeza de que em
minha próxima viagem poderei contar com as informações que VOCÊ irá me
prestar. Assim é a vida.

Documentos e informações iniciais


Os documentos mínimos necessários para ir à Bolívia são a carteira de
identidade (RG) com menos de 10 anos de sua expedição e um certificado
internacional de vacinação contra febre amarela. Deve-se tomar a vacina em
qualquer posto de vacinação, nesta oportunidade lhe será fornecido um
certificado de vacinação com validade nacional, após isso se dirija a um posto
da ANVISA em um aeroporto ou porto, para que seja feito o certificado
internacional. Faço duas observações com relação ao certificado, a primeira é
que antes de ir ao posto da ANVISA é necessário fazer um cadastro
antecipado no site da ANVISA e notei que pessoas que não o fizeram, tiveram
que acessar a internet em frente ao posto para que fossem atendidas, portanto
é melhor se informar antes. A segunda observação é que ninguém me solicitou
o certificado de vacinação em momento algum da viagem, no entanto, como
isso é necessário, eu não tentaria viajar sem ele.
Se você pretende viajar com sua maquina fotográfica cuja resolução seja
igual ou inferior a 10M, saiba que a partir do último trimestre de 2010 foi
adotada uma norma (ou algo assim) da Policia Federal Brasileira que dispensa
a apresentação da mesma no posto da policia antes da viagem, no entanto
leve a nota fiscal de compra da mesma ou então será necessário demonstrar
que ela não foi comprada durante a viagem em curso. Neste segundo caso tire
fotos do seu cartão de embarque e sua foto antes de embarcar, o objetivo é
fazer uma “prova de uso” da mesma. Eu tirei uma foto do cartão de embarque
em frente a um espelho, mas nada disso foi necessário porque minhas
bagagens não foram vistoriadas na chegada ao Brasil, já que a Bolívia não é
um destino de “sacoleiros”.
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Apesar do descrito no parágrafo anterior, lá existem bons preços para
materiais esportivos (tênis, agasalhos, calças, mochilas, barracas de camping,
casacos e artigos de couro, etc). Acredito que tudo estava mais barato que no
Brasil e existem produtos de boa qualidade, basta procurar. Li em um relato
antes de minha viagem no qual o autor dizia que “da próxima vez iria pelado
para a Bolívia e compraria tudo por lá”. Existem ocasiões em que uma frase
transmite um sentimento mais preciso do que muitos parágrafos.
Com relação à forma de transferir nosso dinheiro para a moeda local
(bolivianos) acredito que a melhor seja a de levar dólares em espécie. Cheques
de viagem possuem uma boa conversão lá (nosso dinheiro compra mais em
cheques de viagem e o valor de troca é bem vantajoso, já que é bem próximo
do valor pago pelo dólar), mas sua troca está restrita a poucos locais. Trocar
reais por bolivianos diretamente também é possível, mas geralmente
costumam pagar menos do que se você tivesse comprado dólares e os pontos
de troca também são mais restritos. Eu cheguei a fazer cambio de dólar para
bolivianos até em cidades muito pequenas, coisa que seria muito difícil para
cartões eletrônicos e cheques de viagem.
Outro ponto muito importante está ligado à segurança. Durante o vôo de
ida, ouvi o relato de uma moça que recomendava a outros brasileiros para ter
cuidado com os taxis, pois existem alguns que possuem apenas faixas
quadriculadas nas laterais, são “taxis coletivos” e em um deste tipo, ela foi
assaltada por um passageiro. Existem outros táxis que, além das faixas
laterais, possuem um luminoso na parte de cima (como os nossos) e estes são
mais seguros, pois atendem apenas a um passageiro por vez (ou a um mesmo
grupo). Utilizei táxis coletivos e tradicionais, que são muito baratos, nunca me
cobraram mais por ser turista e não tive nenhum problema de segurança
relacionado a eles ou de qualquer outro tipo durante a viagem, tenho que ser
sincero e dizer que em todas as ocasiões me senti mais seguro lá, que em
minha cidade (São Paulo). Mesmo assim sempre adotei os procedimentos de
segurança que utilizo aqui: levava apenas o dinheiro que pretendia gastar (se
bem que em La Paz, sempre é recomendável levar um pouco a mais, pois não
é difícil encontrar algo “irresistível” a ser comprado) e cópias em lugar dos
documentos originais.
Falando neste assunto, de utilizar cópias em lugar dos documentos
originais, isso é muito utilizado pelos mochileiros em geral. Não tive nenhum
problema com isso, exceto quando fui à cidade de Copacabana, pois como ela
fica próxima à fronteira, fomos parados pela polícia e não aceitaram as cópias.
Eu, assim como diversos mochileiros, tive que “retirar do esconderijo” meus
documentos originais. Vejo esta questão da fiscalização como algo positivo já
que em nosso país é possível viajar grandes distâncias sem nunca ser “parado
ou verificado” por nenhum agente de segurança, lá as estradas são fechadas
por correntes, os motoristas precisam descer dos carros para apresentarem
seus documentos. No caso dos coletivos eles apresentam também a lista de
passageiros (que podem ser verificados) e só depois seguem viajem.
Se gasta pouco na Bolívia, um hotel simples, mas com boa higiene,
aquecimento central, TV a cabo, banheiro privado facilmente será encontrado
na faixa dos US$11. Se retirarmos o aquecimento de água central e a TV a
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cabo, mantendo os outros requisitos, será possível pagar algo em torno de
US$7. Comer em um restaurante “a La carte” sairá em torno de uns US$7 por
pessoa, se for fast food ou um restaurante popular divida este valor pela
metade. Uma sopa no mercado popular custa B$3 (menos que US$0,50). Lá
um litro de gasolina custa um pouco mais que US$0,50 o que torna as
passagens de ônibus e o transporte em geral bastante baratos se comparados
aos nossos, para ter uma idéia as passagens para Copacabana ou Oruro, me
custaram algo em torno de US$3,60 cada. Uma excursão de quase um dia
inteiro para visitar Tihuanaco custou US$23 (excursão com guia + entrada no
parque + almoço).

Relato da minha viagem


Saí de Guarulhos em uma tarde de sábado num vôo da Aerosur com
destino a La Paz e escala em Santa Cruz de La Sierra. A duração da primeira
etapa foi de 2h30min. Não se esqueça de levar uma caneta esferográfica em
seu bolso para poder preencher os papeis de imigração bolivianos. Ao chegar
ao aeroporto você passará pela imigração, caso utilize o RG (que é muito bem
aceito em qualquer parte da Bolívia, ao contrário do que dizem relatos mais
antigos na internet) receberá um papel (na verdade você o preencheu durante
o vôo) que deverá ser conservado consigo durante toda a viagem e devolvido
em sua saída do país. No saguão deste aeroporto existe um guichê no qual se
pode fazer câmbio, caso queira utilizá-lo troque apenas o necessário para sua
chegada à cidade de destino, pois como sempre, os aeroportos não são bons
locais para isso. Eu troquei apenas US$50 e apesar de ter comprado um
pacote de turismo no dia seguinte, só precisei de mais bolivianos na segunda
feira.
De Santa Cruz de La Sierra são mais uma hora de vôo até La Paz. O
aeroporto está localizado na cidade de El Alto. Os bolivianos deveriam ser
reconhecidos internacionalmente por sua habilidade inigualável de nomear
cidades, pois nunca vi um nome tão acertado. Em Santa Cruz estava um calor
abafado, mas ao sair do avião em El Alto a temperatura era de 7 graus. Bem-
vindo ao altiplano, aqui quando há sol, há calor, mas é só ficar um momento à
sombra que o frio já aperta. Como cheguei à noite, o frio é normal.
Após pegar o táxi, na descida para La Paz, já estava me vangloriando de
meu excelente estado de saúde, pois apesar do ar ser "mais leve", por estar a
quatro mil metros de altitude, eu estava me sentindo muito bem. Como já era
tarde resolvi comer um lanche em frente ao hotel e já pedi um chá de coca
(afinal de contas é melhor prevenir que remediar). Ele é um pouquinho amargo,
porém está mais para chá de nada com coisa nenhuma. Como estava cansado
fui logo dormir e aí o “bicho começou a pegar”, porque acordei várias vezes
com falta de ar. Não que eu estivesse morrendo, mas acredito que alguma
parte em meu organismo pensava que sim. O mal estar decorrente da altitude
depende de pessoa para pessoa, está relacionado também com a idade (li
relatos de que crianças não sentem nada), mas demora algum tempo para se
manifestar, o contrário também é verdadeiro, de forma que mesmo que se
desça a uma altitude menor, seu desempenho físico não melhorará

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instantaneamente. No meu caso senti uma dor de cabeça bem fraca,
dificuldade para dormir e desempenho físico ridículo, mas que me permitia
caminhar sem nenhum problema.
Após levantar no domingo (pois acordar não seria um termo muito
adequado) fui tomar café e pedi mais um chá de coca. Era ruim como o
anterior, mas este era preparado com folhas e não com saquinho de chá.
Depois de tomá-lo masquei as folhas (teria comido também as raízes e
quaisquer outras partes da mesma planta, se elas estivessem disponíveis).
Bom não é, o gosto das folhas é um pouco amargo, mas adormece a boca e o
efeito é imediato. É por isso que não se vê os indígenas e seus descendentes
tomando chazinho (gente esperta).
Com esse “gás extra” resolvi fazer uma excursão a Tihuanaco (ou
Tiwanaco), que são ruínas de uma civilização pré Incaica. Antes estava em
dúvida, mas escolhi este porque era o passeio que iria a uma menor altitude.
No grupo, de umas quinze pessoas, eu era o único brasileiro. O guia, de nome
Fred, era boliviano e sem nenhuma classe, coçava a barriga e o saco a
qualquer momento, mesmo que estivesse falando ao grupo. Entre uma
apresentação e outra, quando estava em campo aberto, descansava na grama
como se fosse um cachorro velho, no entanto era muitíssimo simpático e não
se limitava a explicar, fazia demonstrações de como as coisas funcionavam.
Fez um trabalho excepcional, cativou a todos, uma figura carimbada com
certeza, eu o qualificaria como um verdadeiro ícone boliviano: sua aparência
nos faz pensar que nosso contato com ele não será bom, mas sua simpatia e
seus bons serviços nos convencem de que estávamos redondamente
enganados.

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Visita a Tihuanaco

Na segunda-feira aproveitei para fazer câmbio e comprar roupas,


principalmente um agasalho de “goretex” que é perfeito para este clima de
montanha, pois não é muito quente (permite a transpiração da pele) e protege
muito bem contra o vento. Também aproveitei para conhecer melhor a cidade,
caminhando por várias de suas ruas. Durante o inicio da noite, entre 19 e 21h é

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o horário de pico de movimento de pedestres, há uma verdadeira multidão nas
ruas e nos restaurantes.
Na terça-feira de manhã viajei de ônibus até a cidade de Oruro. Minha
intenção era a de embarcar no “Expreso Del Sur” que parte neste dia da
semana às 15h30min de Oruro a Uyuni. Caso tenha a intenção de viajar nesta
linha de trem, consulte as diversas opções de horários e demais condições em
http://www.fca.com.bo/, ou então faça uma pesquisa com estes nomes e
encontrará diversas informações. Do “terminal de buses” de Oruro até a
estação ferroviária é necessário utilizar um táxi. Só para ter uma idéia de
valores, paguei o equivalente a US$3,60 na passagem de ônibus, cuja viagem
demorou 3h30min e US$1,44 no taxi, que demorou uns 8min em seu trajeto. O
táxi foi necessário por causa da distância e do tempo, pois comprei minha
passagem às 12h30min e só estavam disponíveis os assentos da classe
executiva. Depois de uma hora não existiam mais passagens disponíveis,
estavam todas esgotadas.
Quando comprei minha passagem pensei que o atendente estava de
sacanagem comigo e só me vendeu aquela passagem porque se tratava de um
turista, pois ao olhar aquele trem enorme parado na estação e procurar ao
redor, onde a vista alcançava, de que lugar viria uma multidão capaz de ocupá-
lo totalmente? É... eu estava enganado porque um pouco antes da partida, que
foi pontualmente às 15h30min, parecia uma invasão de baratas. Se não tivesse
visto, não imaginaria que havia tamanha quantidade de desocupados e
vagabundos neste mundo e todos escondidos em algum canto daquela cidade.
É certo que muitos bolivianos também estavam viajando, porém a maioria era
de estrangeiros, assim como eu, e março não é um mês de férias.
A largura das poltronas do trem era a mesma da encontrada em
qualquer ônibus de viagem, mas o espaço para as pernas era um pouco
restrito, pois para um homem alto como eu (de 1,70m) já estava um pouco
difícil, imagine para um de verdade. No entanto a paisagem é tão encantadora
que compensa todos os males da viajem, isso é tão verdadeiro que somente
quando escurece é que você se dá conta do quanto o trem é “muquifento”. Não
há como não relacioná-lo a cavalos, em alguns momentos pelo som, em outros
pela velocidade, mas principalmente pelos coices que eles costumam dar no
final do vagão. Além disso, sei que seria impossível, mas há uns trechos em
parece que ele estava utilizando rodas ovais. Foram 7 horas de viagem, ótima
antes e desconfortável depois do anoitecer.

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Expreso Del Sur, com o vagão da classe executiva em detalhe

Mesmo assim eu repetiria este mesmo roteiro. Só tomaria o cuidado de


utilizá-lo em um período majoritariamente diurno. Depois soube que a
companhia que administra a ferrovia é chilena e eles não fazem a manutenção
adequada dos trilhos, o que causa o enorme sacolejo e a baixa velocidade em
alguns trechos. O melhor de tudo é que, como não existe muito movimento
próximo aos trilhos, a vida selvagem está bem ali, a alguns metros, e quando o
trem passa os pássaros começam a voar. É muito bonito.
Para se chegar à cidade de Uyuni a maior parte dos turistas se utiliza de
linhas de ônibus que partem de várias cidades (La Paz, Sucre, Oruro, Tarija,
Potosi, etc) então, caso não faça questão de viajar de trem, escolha esta outra
opção. Como as estradas próximas à cidade são de terra, não espere algo
muito confortável, no entanto eu penso que esta viagem é melhor. Li relatos de
que o serviço de ônibus intermunicipal da Bolívia era ruim, mas não tive esta
impressão. Os melhores que já utilizei foram os da Argentina, depois disso
Chile, Brasil e Bolívia estão praticamente no mesmo nível, o que diferencia um
pouco são as estradas e a rede de apoio. Se estivermos em uma estrada de
terra o conforto não será bom, seja aqui ou em qualquer outro local.

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Paisagem vista da janela do trem

A chegada à cidade de Uyuni ocorreu às 22h30min. Não gosto de


chegar a um local desconhecido durante a noite, mas é sempre emocionante,
pois não tenho idéia do que irei encontrar. Ao descer de meu vagão sabia que
teria que retirar a minha mochila, que havia despachado na estação de
embarque, mas não fazia idéia de como isso seria feito. Bem, com certeza eu
não era o único e resolvi seguir a maior parte das pessoas que estavam
apenas com bagagens de mão. Descobri que era em uma sala, no final da
estação, onde estavam sendo descarregadas todas as mochilas e bagagens.
Os movimentos dos funcionários eram seguidos com atenção por uma multidão
que se adensava minuto a minuto. “Isso vai demorar”, pensei, e resolvi ir ao
banheiro. Quando retornei, a plataforma estava vazia (e fui só fazer um
xixizinho). Entrei na sala e só encontrei minha mochila, abandonada em um
canto qualquer. Eles colocaram todas as mochilas na sala, depois permitiram
que todas as pessoas entrassem e pegassem suas bagagens, ao sair eles
conferiram os canhotos com as bagagens. Esse procedimento foi muito
eficiente e rápido.

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Cidade de Uyuni

Uyuni é uma cidade voltada ao turismo, não é necessário se preocupar


com hospedagem e alimentação, tenho certeza que você encontrará locais
para isso. Esta cidade é porta de entrada ao Salar de Uyuni que pode ser
conhecido em excursões de um ou três dias, em carros SUV 4x4.
Diferentemente de locais de difícil acesso no Brasil, aqui os carros são
relativamente novos e bons, o que é igual é a precariedade dos pontos de
hospedagem, mesmo assim havia banho quente em todos os locais em que
estive hospedado e os pontos ruins são ofuscados pela simpatia e boa comida
caseira.
Contratei uma excursão de três dias (e duas noites) por US$108, saindo
e voltando a Uyuni, que incluía hospedagem, refeições e o valor da entrada
para o parque. Pode-se também contratar uma excursão de três dias, cujo
destino final seja São Pedro de Atacama, no Chile. Ou uma excursão de
apenas um dia, visitando somente o Salar de Uyuni.

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Salar de Uyuni, com montes de sal que serão recolhidos para beneficiamento

Na verdade basta um dia para visitar o Salar, no restante do tempo são


visitados os arredores da cidade com picos nevados, vulcões, lagoas de
diversas tonalidades, gêiseres e diversos animais. Como março está no final da
época chuvosa e o Salar é como uma espécie de bacia, toda a água das
chuvas dos últimos meses estavam represadas nele. Os carros tiveram que
trafegar sobre uma lâmina d’água de uns 30cm de profundidade por uma
distância de uns 4km. É estranho, parecia que estávamos no mar, mas a bordo
de um carro. Lá visitamos o Hotel de Sal, que está em um nível um pouco mais
alto que os arredores (acima da água) e pode-se “andar sobre as águas”
porque o local é quase plano, fazendo com que a profundidade aumente muito
suavemente. Em tempos de seca deve ser possível visitar outros locais, que
estão inacessíveis aos veículos durante este período de cheia.
O SUV em que viajei, assim como a maioria dos outros, possuía o
motorista e lugares para mais seis turistas. Existem outros em que há o
motorista e uma cozinheira. No nosso caso o motorista era quem
disponibilizava as comidas prontas na porta traseira do automóvel e nós nos
servíamos, com direito a uma garrafa de coca-cola (sem gelo) por refeição. Um
dos cuidados que se deve tomar é verificar se já estão vendidas todas as
passagens, pois a partida pode ser atrasada se ainda estiverem faltando
pessoas. Apesar de saber disso, quando comprei minha passagem eu era o
terceiro passageiro e deu tudo certo (afinal de contas não é possível que todos
sejam o sexto).

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Apesar de morna, a comida sempre esteve muito boa

Para fazer esta viagem a agência de turismo irá lhe obrigar a levar
apenas uma mochila pequena com o que for necessário para estes três dias, o
restante das bagagens ficará guardado no escritório da empresa até o seu
retorno. Eu optei por levar meu saco de dormir, pois o havia utilizado até este
momento em todos os hotéis nesta viagem e não seria neste momento que iria
desistir dele. Ele foi produzido no Brasil, de forma que, não está preparado
para baixas temperaturas, mas para minha surpresa, as temperaturas
enfrentadas foram as mesmas que havia encontrado em La Paz. Mesmo quem
não levou saco de dormir conseguiu dormir bem, somente com o fornecido
pelas hospedagens.

As paisagens são tão bonitas que você não se cansa de fotografar

Um dos pontos que me preocupava era ter que dividir um espaço tão
restrito, como o carro e alojamentos coletivos, com pessoas desconhecidas,
mas essa na verdade foi a melhor parte do passeio, pois todos foram muito

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atenciosos e gentis uns com os outros, o que faz com que sinceramente eu
ainda sinta saudades de cada um deles. O idioma principal desta viagem,
assim como na maioria dos outros automóveis, é o inglês, então se você
pretende praticar este idioma, está aí uma excelente oportunidade.
De Uyuni fui de ônibus a Sucre, saí às 9h e cheguei às 19h. Um ponto
interessante da viagem é que não existe uma rede de apoio nas estradas para
os passageiros de forma que em determinado momento o motorista parou o
ônibus e disse que era “parada para ir al bano”. Já havia ouvido falar sobre
isso, mas esta era a primeira vez que presenciava. Os homens vão para um
lado (não muito longe) e as mulheres vão para o outro (um pouco mais longe),
mas como acima de 3.000m de altitude não existem árvores, apenas pedras,
não dá para se ocultar totalmente. Mas sabe como é... quem está interessado
nisso? Só observo este detalhe como algo curioso, peculiar. Outro ponto
interessante é que em momento algum, após qualquer parada em que os
passageiros desçam, o motorista confere se estão todos a bordo, no máximo
ele dá uma perguntada se voltaram todos. Como eu estava viajando sozinho,
esta sempre foi uma grande preocupação.
Ao chegar a Sucre, não gostei da cidade, embora seja um lugar bonito.
Talvez seja por estar sentindo falta de meus amigos da excursão anterior. Após
sentir como é bom viajar em grupo, se sentir parte de um grupo, a volta à
solidão não é muito boa. Ou talvez seja porque o tempo não estava muito bom,
parecendo que a chuva cairia nos próximos dias. Escolhi ficar próximo à
rodoviária, já que não necessitaria de transporte algum para me hospedar. No
dia seguinte tomei conhecimento de que o centro da cidade estava distante e
teria que me utilizar de táxis para chegar lá. O preço do táxi era de B$4 (o
equivalente à US$0,58) e perdi o medo deste tipo de transporte, porque antes
tive problemas para sinalizar que desejava utilizá-lo, ocorre que se deve
gesticular com mais vigor do que fazemos aqui e, as vezes, é necessário gritar
“táxi” também. Nada que não se possa aprender.
Na praça mais importante da cidade a primeira coisa que fiz foi tomar um
excelente café em uma loja especializada nisso. Para compensar a falta do
prazer da companhia de amigos, desfrutei do prazer do paladar. Em uma das
laterais da praça existia um grupo de turistas e acabei por comprar aquele
pacote turístico de um pouco mais de meio dia para um local que eu não fazia
a menor idéia do que seria. Na verdade o que me interessava nesta viagem era
o Salar de Uyuni e um passeio de bicicleta à estrada da morte, o restante era
tudo “lucro”, então não estava me importando com os detalhes, afinal de
contas, se gostasse do país, a Bolívia sempre “estaria à mão” assim como já
considero outros países da América do Sul.

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Festa em Tarabuco

A excursão era para a cidade de Tarabuco, onde acontece uma feira


semanalmente aos domingos (creio) com artesanato e demais atrativos. Este
dia era especial, pois haveria apresentação de grupos folclóricos e o presidente
Evo Morales estaria presente. A cidade estava lotada e o ônibus foi obrigado a
nos deixar longe do centro, de outra forma seria impossível que ele
conseguisse sair, pois outros veículos estacionados “travariam” sua saída.
Depois do Salar de Uyuni fiquei destemido e resolvi provar umas
comidas populares. Logicamente tomo o cuidado de saber onde está o
banheiro mais próximo, pois sempre é melhor prevenir do que remediar. Nos
mercados populares existe algo como “barracas de comida” que servem vários
pratos, dentre os quais resolvi provar as sopas, principalmente por serem mais
confiáveis, afinal de contas tudo que ferve tem menor probabilidade de
contaminação. Não me arrependi, pois elas são deliciosas, não me deram
nenhum problema e ainda me diverti com a reação dos locais ao me verem
comer entre eles. Tudo só não foi perfeito porque as cozinheiras costumam
segurar o prato fundo pelas bordas e enchê-lo até que a ponta de um, ou de
vários dedos, fiquem submersos na sopa. Deve ser uma simpatia, ou algo
tradicional, mas como já me considero bem simpático, tomo o cuidado de ficar
de olho e pedir para que ela pare de encher antes do “nível crítico”.

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Feira em Tarabuco

De Sucre fui a Copacabana, uma cidade que fica nas margens do lago
Titicaca. Na verdade eu peguei um ônibus leito de Sucre a La Paz e de lá, um
microônibus até o destino final. Sempre preferi viajar durante o dia para ver a
bela paisagem, mas como em viagens noturnas eu poderia contar com este
“luxo”, não dispensei. Mesmo porque tive um pouco de azar nas duas últimas
viagens, pois o assento ao lado do meu foi ocupado por mulheres com bebês
de colo. Minha sorte é que eles são do tipo “ninja”, não vomitam (pelo menos
nestas oportunidades nada ocorreu) e em uma das vezes dormiu o bebe e a
mãe e, por incrível que pareça, ninguém caiu de seu lugar. Desta vez preferi
não arriscar, afinal de contas quando certas coisas acontecem, todo mundo
dorme, menos eu.
O ônibus leito possuía apenas três assentos em cada fila (e não quatro
como era o comum) e reclinava um pouco mais. As estradas bolivianas não
possuem muito movimento durante o dia e acredito que à noite deve ser mais
tranqüilo. Acredito que seja assim, não posso garantir porque dormi bem
durante toda a viagem.

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Copacabana vista do morro do Calvário

Logo após descer do microônibus e caminhar pela primeira rua, já vi


várias lojas de câmbio, de lembrancinhas, restaurantes e hotéis. Tudo de que
necessita um turista. Entrei em um hostal pequeno, que possuía um
restaurante na frente, perguntei por um quarto com banheiro e ducha quente. O
atendente me informou o preço de B$30 (que são US$4,32). Eu ia agradecer e
nem queria ver o quarto, mas ele foi tão simpático que lhe acompanhei. Ao
subir notei que tudo no caminho estava bem limpo e o quarto era muito bom
(bem simples, mas bom). Fiquei por ali mesmo e este foi o meu recorde de
preço baixo em hotéis na Bolívia.
Copacabana e o lago Titicaca valem uma visita. Além dos belos visuais,
ainda se pode fazer uma caminhada de 9km na ilha do Sol, que é muito linda.
As altitudes ficam entre 3.600 e 4.000m, o que exige bastante esforço e, no
meu caso, umas boas folhas de coca, mas como já estava bem adaptado à
altitude, consegui fazer o trajeto sem muitos problemas (melhorei bastante).

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Caminhada na Ilha do Sol

De Copacabana voltei à minha cidade do coração na Bolívia, que é La


Paz. Sim, gostei muito de La Paz, porque lá havia tudo de que necessitava em
termos de hotéis, compras, comida e passeios. Dentre os vários passeios
disponíveis, optei por um que já havia visto na internet durante o planejamento
da viagem: descer de bicicleta a estrada da morte, que interliga La Paz à
cidade de Coroico. São 65km de descida que começam em 4.600 e terminam
em 1.700m de altitude, praticamente não é necessário pedalar, o que é
fundamental nesta altitude, pois essa distância eu não garanto nem em São
Paulo, imagine em um local de altitude.
Até 2006 só existia a estrada antiga, que é linda e é a utilizada pelos
vários grupos de ciclistas, mas ela não está fechada aos carros, nós cruzamos
com dois automóveis e um caminhão, não é muito, mas basta uma bobeada
para transformar o passeio em uma tragédia. Com a abertura da nova estrada,
esta passou a ser utilizada pela população em geral, pois é asfaltada e mais
segura. Uma coisa muito interessante na estrada velha é que como o precipício
está do lado esquerdo de quem desce, utiliza-se a mão inglesa para que o
motorista que desce possa colocar a cabeça para fora do vidro e ver
exatamente onde está o pneu de seu veículo quando tiver que dividir a estrada
com algum carro que esteja subindo. Ultrapassagem é algo que não existe por
lá, a não ser que seja de bicicleta (ainda assim é muito difícil) e, dependendo
de onde e como ocorrer, o turista pode perder imediatamente o direito ao
passeio.

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Meu grupo momentos antes do inicio da descida

Uma coisa boa para os católicos é que os precipícios são tão íngremes e
profundos que se cair, pelo menos terá a chance de rezar uma ave-maria antes
de morrer com o impacto. Quando comprei o pacote me foi recomendado
fortemente que não levasse minha câmera fotográfica, já que eles tiram as
fotos do grupo e depois fornecem um CD. Nesta “gentileza” está embutida uma
boa dose de segurança, porque alguns turistas já morreram ao tentarem tirar
fotos enquanto pedalavam, aliás, nem mesmo trocar de marchas é permitido,
pois uma olhadinha para verificar se a corrente respondeu ao comando, pode
ser o fim.
Falando em corrente, eu protagonizei a única “beijada de chão” do
passeio, já que a corrente da minha bicicleta saltou, travou a roda traseira e,
como estava um pouco acima da velocidade, o chão foi ficando cada vez mais
próximo até ficarmos juntinhos. No inicio do passeio achei que era um
preciosismo ter que vestir uma roupa inteira sobre a de cada um e ter que usar
capacete, luvas, joelheiras e cotoveleiras, mas foi isso que me livrou de uns
bons arranhões. O câmbio da minha bicicleta teve “perda total” e recebi outra
para continuar o passeio. Outras duas foram trocadas em nosso grupo, por
motivos diferentes. Pensando bem, essa estrada da morte, com seus buracos,
mata muito mais as bicicletas que as pessoas.

Bolívia – Março de 2011 Página 18


O morro é tão íngreme que a água da cachoeira cai quase no abismo e não na direita, onde seria “normal”

Meu acidente foi uma imprudência, já que eu não precisava estar tão
rápido naquele momento, mas estava em um trecho sem abismos e sabe como
é... o grande filósofo Max diz: “se você está no inferno, o que custa dar um
abraço no Capeta?” Então, por que não acrescentar um pouco de emoção ao
passeio? As vezes passa um pouco da conta, mas isso faz parte do jogo.
Foi muito bom visitar a Bolívia e pretendo voltar outras vezes. É um
destino relativamente pouco comentado e utilizado, mas isso tende a mudar
com as facilidades criadas para facilitar o trânsito de brasileiros e bolivianos
entre nossos países e esta é uma das chaves para a integração necessária e
desejável entre nossos povos.

Caso queira ver mais fotos desta viagem, por favor acesse o site
http://www.flickr.com/photos/cazuza1234/

Um abraço,

Elias D. Teixeira

Bolívia – Março de 2011 Página 19

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