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KAFKA, Franz. A metamorfose. Tradução de Marcelo Backes. Porto Alegre: L&PM, 2001.

144p. (L&PM Pocket)

RESENHA

Novela de ficção, escrita por Franz Kafka, grande escritor austro-húngaro, datada
de 1915, relata eventos da vida da personagem de Gregor Samsa, jovem caixeiro-viajante, e
de sua família. Inicia-se com o evento da metamorfose de Gregor, ao assumir misteriosamente
a forma de um inseto, o que produziu um efeito consequente de mutabilidade em todas as
relações do jovem, com sua família, com a empresa em que trabalhava, com o mundo e
existencialmente consigo mesmo. As relações com a família tornaram-se penosas, em função
de sua nova forma execrável, que provocava asco e rejeição por parte dos entes. Sua
concepção de mundo foi sendo gradativamente adaptada sob aspectos espaciotemporais no
plano da vida de inseto. Os sentimentos, memórias e condicionamentos existenciais foram
postos em conflito com os novos eventos psico-afetivos que eclodiam a partir de sua nova
experiência de mundo. Momentos de interação com a família foram catastróficos e
contribuíram para o total distanciamento de ambas as partes. Uma morte no vazio da
existência, no vazio da memória e no vazio afetivo, culmina a obra.
Em uma perspectiva sócio-política a obra aponta uma crítica às estruturas
capitalistas que interferem radicalmente na esfera dos relacionamentos, tornando os
indivíduos frios e apáticos, conduzindo a relações mediadas pelo materialismo e utilitarismo,
as pessoas só podem ser avaliadas em função do que produzem ou de sua função social
material, não em sua integridade. Tal perfil de sociedade, competitiva, corporativista, não
comporta fracos [a força, obviamente é sinônimo de capacidade de controle da alteridade] ou
anomalias, como o caso de Gregor Samsa, tais eventos devem ser eliminados.
Em níveis literários, a obra é um vislumbre de uma linguagem sóbria e
enigmática, que transmite na pureza linguística a essência, quase que ontológica, da situação
desesperadora da humanidade do século XX, em sua angústia existencial e em seu gradativo
vazio de relações, apontando a tácita alomorfia social, que fere as antigas instituições
medievais e humanistas.
Como um clássico universal da ficção, Franz Kafka, consegue ultrapassar os
limites de sua sociedade judia, austro-húngara e tornar-se um dos expoentes da ficção alemã
do século XX, abordando uma temática singular que aponta para as crises de princípios no
seio da cultura moderna ocidental.
O efeito possível da obra, no leitor que alcance o centro da problemática, é uma
espécie de contrametamorfose, que não o enfraquece, mas produz uma consciência crítico-
reflexiva a respeito da sociedade na qual está inserido, o que contribui diretamente para sua
maturidade intelectual.

Aluno: Allancastro Silva Vieira

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