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CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO

Profa. Lidia Medeiros

CONTEXTO HISTÓRICO:

Inglaterra – século XVII;

Crise político-religiosa, com componente econômico:

 Dinastia Stuart (monopólio mercantilista) X Burguesia ascendente


(advogava a liberdade de comércio e produção);
 Culmina com a Revolução Puritana (finalizada em 1649) – execução
do rei Carlos I e a implantação da república na Inglaterra.
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO

Como conseqüência da guerra civil:


 Thommas Hobbes, refugiado na França, publica, em 1651, o Leviatã – livro que é
uma apologia ao Estado todo-poderoso que, monopolizando a força concentrada na
comunidade, torna-se fiador da vida, da paz e da segurança dos súditos.
 Instauração do Protetorado de Cromwell:
 Em 1653, Cromwell impôs uma ditadura dissolvendo o Parlamento;
 Durante seu governo promulgou os “Atos de Navegação” (decretos que fortaleciam os
ingleses); isto levou a uma guerra com a Holanda.
 Após a morte de Cromwell é restaurada a dinastia Stuart.
 Durante a Restauração (1660-1688), período de acirramento do conflito religioso na
Inglaterra, reativou-se o conflito entre a Coroa e o Parlamento, que se opunha à política
pró-católica e pró-francesa dos Stuart.
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HOBBES

Noção-chave para compreensão do seu pensamento: Estado de Natureza –


“homens viveriam naturalmente sem poder e sem organização, que somente
surgiriam depois de um pacto firmado por eles, estabelecendo regras de convívio
social e de subordinação política”.
 Hobbes é um contratualista, muito criticado por esta posição. Natureza das críticas
(Maine):
 Selvagens, que nunca tiveram contato social, não seriam capazes de dominar a tal ponto a
linguagem, conhecerem uma noção jurídica tão abstrata quanto a de contrato;
 O contrato só é possível quando há noções que nascem de uma longa experiência da vida
em sociedade.
 Argumentos de Hobbes:
 Homem natural de Hobbes não é um selvagem;
 Não existe a história entendida como transformando os homens, eles são absolutamente
iguais;
 Os homens vivem em estado latente e generalizado de guerra uns contra os outros: “O
homem é o lobo do homem”.
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HOBBES

 Três causas principais de discórdia entre os homens:


 Competição, desconfiança e glória.
 A primeira leva os homens a atacar os outros tendo em vista o lucro; a
segunda, segurança; e a terceira, a reputação.
 O homem almeja a honra, não os bens materiais. O mais importante para
ele é ter os sinais de honra.
 Hobbes evidencia a tensão latente entre os homens em oposição à
definição aristotélica do homem como animal social que naturalmente
vive em sociedade, e só desenvolve todas as suas potencialidades
dentro do Estado (visão harmônica do social).
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HOBBES

JUS E LEX
• DIREITO DE NATUREZA: liberdade que cada homem possui de usar seu próprio
poder, da maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, ou seja,
de sua vida; e, consequentemente de fazer tudo aquilo que seu próprio
julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados a esse fim.

• LEI DE NATUREZA: preceito ou regra geral, estabelecido pela razão, mediante o


qual se proíbe a um homem fazer tudo o que possa destruir sua vida ou privá-lo
dos meios necessários para preservá-la, ou omitir aquilo que pense poder
contribuir melhor para preservá-la.
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HOBBES

– Fundamento jurídico não é suficiente. É preciso existir um Estado dotado


da espada, armado, para forçar os homens ao respeito.
– Para Hobbes, a sociedade nasce com o Estado; ela é condição para a
existência da sociedade – através do pacto.
– Hobbes – funde o contrato de associação (pelo qual se forma a
sociedade) e o contrato de submissão ( que institui o poder político); os
dois são fundados juntos.
– O poder é absoluto ou continuamos na condição de guerra entre poderes
que se enfrentam.
– Este poder absoluto, no entanto, é concebido sem a participação do
soberano, que não assina o contrato, este é firmado apenas entre aqueles
que vão se tornar súditos, porque ainda não existe o soberano, que só
surge devido ao contrato.
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HOBBES

• IGUALDADE E LIBERDADE EM HOBBES

– Retira estes dois conceitos do campo valorativo;


– A igualdade é o fator que leva à competição, à guerra de todos: dois ou
mais homens podem querer a mesma coisa, e por isso todos vivemos em
tensa competição;
– Liberdade: ausência de oposição, de impedimentos externos do
movimento. Um homem livre é aquele que, naquelas coisas que graças a
sua força e engenho é capaz de fazer, não é impedido de fazer o que tem
vontade de fazer;
– Resta uma liberdade ao homem: quando o indivíduo firmou o contrato
social, renunciou ao seu direito de natureza, isto é ao fundamento
jurídico da guerra de todos.
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HOBBES

• ESTADO, MEDO E PROPRIEDADE


– O soberano governa pelo temor que aflige
seus súditos – de contraria-lo e de retornar
ao estado de guerra.
– Estado – representa a esperança de uma
vida melhor e mais confortável.
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JOHN LOCKE

 Em 1680, no reinado de Carlos II, o Parlamento cindiu-se em dois


partidos, os Tories e os Whigs, representando, respectivamente, os
conservadores e os liberais.
 Revolução Gloriosa – triunfo do liberalismo político sobre o
absolutismo* e, com a aprovação do Bill of Rights em 1689, assegurou a
supremacia legal do Parlamento sobre a realeza e instituiu na Inglaterra
uma monarquia limitada.

 Absolutismo – caracterizou um longo período da história. Iniciou-se com o


fim do feudalismo, crescendo conforme a centralização de poderes
aumentava. O seu ápice deu-se durante a Idade Moderna, quando a
vontade do rei era a lei e o rei era ele mesmo o Estado.
 Conceito: é a centralização do poder nas mãos de um rei. Surge da
necessidade de adequar-se às transformações exigidas pela
burguesia.
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JOHN LOCKE

Locke – o individualista liberal

• John Locke (1632-1704) – opositor dos Stuart, estava refugiado na Holanda. Retornou à
Inglaterra após o triunfo da Revolução Gloriosa.
– Na publicação “Segundo Tratado”, oferece uma justificação ex post facto da Revolução
Gloriosa, fundamentando a legitimidade da deposição de Jaime II por Guilherme de
Orange e pelo Parlamento com base na doutrina do direito de resistência (a essência do
direito de resistência do povo contra o abuso de poder dos governantes pode ser
encontrada no fato de que os homens têm certos direitos naturais existentes antes mesmo
da instituição do governo civil, que surge justamente para melhor garanti-los. O direito de
resistência dos homens, em geral, aparece quando o governo mostra-se incapaz de
atender ao direito de propriedade (entendida em lato sensu) do povo. Nesse caso, a
rebelião torna-se necessária e coloca os indivíduos de novo em estado de natureza).
– Além de defensor da liberdade e da tolerância religiosas, Locke é considerado o fundador
do empirismo, doutrina segundo a qual todo o conhecimento deriva da experiência.
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JONH LOCKE

– Defensor da teoria da tábula rasa do conhecimento: todos os materiais da razão e


do conhecimento provêm da experiência (crítica à doutrina das idéias inatas
formulada por Platão e retomada por Descartes).
• Os Dois Tratados sobre o Governo Civil
– Primeiro Tratado: refuta a teoria que Robert Filme defende em Patriarca, de que o
direito divino dos reis tem por base o princípio da autoridade paterna que Adão
legará à sua descendência. De acordo com essa doutrina os monarcas modernos
eram descendentes da linhagem de Adão e herdeiros legítimos da autoridade
paterna dessa personagem bíblica, a quem Deus outorgara o poder real.
– Segundo Tratado: primeira e mais completa formulação do Estado liberal; ensaio
sobre a origem, extensão e objetivo do governo civil;
• Tese do livro: nem a tradição, nem a força, mas apenas o consentimento
expresso dos governados é a única fonte do poder político legítimo.
• Este tratado exerceu enorme influência sobre as revoluções liberais da época
moderna.
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JOHN LOCKE

• O ESTADO DE NATUREZA
– Defensor, como Hobbes, da teoria dos direitos naturais, ou
jusnaturalismo;
– Estado de natureza (situação real e historicamente determinada pela
qual passou, em épocas diversas, a maior parte da humanidade): pela
mediação do contrato social é realizada a passagem para o estado civil;
– Afirma ser a existência do indivíduo anterior ao surgimento da sociedade
e do Estado;
– Concepção individualista do estado de natureza: os homens viviam
originalmente num estágio pré-social e pré-político, caracterizado pela
mais perfeita liberdade e igualdade;
– Neste estado pacífico, o homem já era dotado de razão e desfrutava da
propriedade que designava a vida, a liberdade e os bens como direitos
naturais do homem.
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JOHN LOCKE

• TEORIA DA PROPRIEDADE
– Para ele a propriedade já existe no estado de
natureza e, sendo uma instituição anterior à
sociedade, é um direito natural do indivíduo que
não pode ser violado pelo Estado.
– O homem era naturalmente livre e proprietário de
sua pessoa e de seu trabalho. Ao incorporar seu
trabalho à matéria bruta que se encontrava em
estado natural o homem tornava-se sua
propriedade privada. O trabalho era, pois, o
fundamento originário da propriedade.
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JOHN LOCKE

• CONTRATO SOCIAL:
– O estado de natureza apresenta alguns inconvenientes,
como a violação da propriedade (vida, liberdade e bens),
que coloca os indivíduos singulares em estado de guerra uns
contra os outros.
– A necessidade de superar esses inconvenientes leva os
homens a se unirem e estabelecerem livremente entre si o
contrato social, que realiza a passagem do estado de
natureza para a sociedade política ou civil.
– O contrato social é um pacto de consentimento em que os
homens concordam livremente em formar a sociedade civil
para preservar e consolidar ainda mais os direitos que
possuíam originalmente no estado de natureza.
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• SOCIEDADE POLÍTICA OU CIVIL:

– Após a passagem do estado de natureza à sociedade política


ou civil, segue-se a escolha, pela comunidade, de uma
determinada forma de governo, através do princípio da
maioria – prevalece a decisão majoritária e são respeitados
os direitos da minoria;
– Na concepção de Locke, porém, qualquer que seja a sua
forma “todo o governo não possui outra finalidade além da
conservação da propriedade”.
– A maioria escolhe, também, o poder supremo, o poder
legislativo.
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JOHN LOCKE

• O DIREITO DE RESISTÊNCIA
• A doutrina da legitimidade da resistência ao exercício ilegal do
poder reconhece ao povo, quando este não tem outro recurso
ou a quem apelar para sua proteção, o direito de recorrer a
força para a deposição do governo rebelde.
• O direito do povo à resistência é legítimo tanto para defender-
se da opressão de um governo tirânico (aquele que exerce o
poder para além do direito, visando interesse próprio, e não o
bem público ou comum) como para libertar-se do domínio de
uma nação estrangeira.
• A violação deliberada e sistemática da propriedade (vida,
liberdade e bens) e o uso contínuo da força sem amparo legal
conferem ao povo o legítimo direito de resistência à opressão e
à tirania.
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• Características do Estado Liberal em


Locke:direitos do indivíduo à vida, à
liberdade e à propriedade.
• Locke: considerado pai do
individualismo liberal.

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