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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA PÁGINA 11

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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – FDUFBA
CONTEÚDO DO CADERNO DE ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL – 2010.1

Assuntos de Ética Geral e Profissional

Recomendações de leitura: José Renato Nalini; Carlos Eduardo Bittar; José Elias (para 2ª
parte do curso – Ética Profissional);
- “Ética Geral e Profissional”, de José Renato Nalini.

- Atitudes anti-éticas desvalorizam a profissão, que entra em descrédito, não simples ilícito e
penal;
- O conceito de Ética é inacabado, em constante discussão, já que quando se fala em Ética
fala-se em valores, que são mutáveis. Mudanças de valoração levam à mudança também da
própria ética. Os valores também não são universais;
- Sua origem etimológica vem do grego “ethos” = costume (vogal curto); a ética também está
ligada à ação habitual = caráter (vogal longo);
- Ainda é muito confundido com moral, porque moral vem do latim “mores” que quer dizer
costume (origens diferentes, mas mesma tradução). Substancialmente há diferença. Ética é a
reflexão sobre a filosofia moral, a moral é o objeto de estudo da Ética, algo que está arraigado
à sociedade, enquanto a ética vem refletir os conceitos morais, uma problematização da
moral;
- Quando problematica o aspecto moral passa a ser aplicada – Ética aplicada, ética
profissional – Orientando padrões mínimos a serem seguidos (Ética Média; Ética Empresarial,
etc);
- Outro problema seria em saber se a ética seria filosofia ou ciência: Como alguns autores
divergem, há um questionamento sobre a sua localização. Seria um misto de duas, a
depender do que se considera ciência (ou construção de princípios gerais ou algo que seria
uma “verdade universal”). Na 1ª opção ética poderia ser ciência, já que possui leis próprias,
mas não na 2ª opção, pois não há certeza universal quando se trabalha com valores. A
postura de estudo da Ética é filosófica, antes de tudo, na medida que busca problematizar
padrões (morais);
- É mais aceitável considerar a ética como um estudo do campo filosófico;
(Auxilia a ciência – Para Pedro Demo está acima da ciência);
COMO CIÊNCIA – Ética é a ciência do comportamento moral;
COMO FILOSOFIA – Ética é a filosofia da moral direcionada a auxiliar e orientar a ação
humana, criando e refletindo parâmetros morais;
Há alguns pontos de partida para a Ética:
AGENTE CONSCIENTE – Quem tinha capacidade de diferenciar bem x mal, virtuoso x
desvirtuoso... inimputáveis, por isso, têm tratamento diferenciado para o Direito;
CONSCIÊNCIA MORAL – Capacidade de deliberar entre alternativas possíveis, antes
da própria ação, e mais: saber porque agir dessa forma. Está-se diante de uma situação em
que pode agir de um modo ou outro, mas por discernimento sabe-se o que fazer. Cai-se na
ideia da responsabilidade;
VONTADE LIVRE – Conduta sem qualquer vício. É o deliberativo da conduta moral, e
só assim pode ser avaliada eticamente;
VALORES MORAIS OU VIRTUOSOS – Aqueles que devem compor o conteúdo das
condutas morais. Para alguém ser considerado ético, deve agir com virtude, de acordo com
certos autores. É um conceito intimamente ligado ao conceito de Ética. Assim, a ética parte de
dois pontos: Pessoa ou agente moral, valores morais ou virtuosos.

- Conceito e Ética;
- Classificação da Ética;
- Ética Empírica:
- Anarquista;
- Utilitarista;
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- Ceticista;
- Subjetivista;

ETHOS = costume;
MORES = costume;
- Filosofia x ciência;
- Pontos de partida para a reflexão do pensamento ético:
- Agente consciente;
- Consciência moral;
- Vontade livre;
- Valores morais ou virtudes.

CLASSIFICAÇÃO DA ÉTICA

Existem várias, mas a classificação que enfocaremos no curso é a que divide a Ética em geral
e aplicada
ÉTICA GERAL;
ÉTICA APLICADA – Normas éticas específicas aplicadas a um determinado grupo de
pessoas, a uma determinada atividade;

ÉTICA

 ÉTICA EMPÍRICA;
o ÉTICA EMPÍRICA ANARQUISTA;
o ÉTICA EMPÍRICA UTILITARISTA;
 ÉTICA EMPÍRICA UTILITARISTA SELETIVA;
o ÉTICA EMPÍRICA CETICISTA;
o ÉTICA EMPÍRICA SUBJETIVISTA;

 ÉTICA DE BENS;
o EUDEMONISMO;
o IDEALISMO ÉTICO;
o HEDONISMO;

 ÉTICA DE VALORES;
o MAX SCHELER;
 EXISTÊNCIA DE VALORES;
 CONHECIMENTO DE VALORES;
 REALIZAÇÃO DOS VALORES;

 ÉTICA FORMAL;
o IMMANUEL KANT;
 BOA VONTADE;
 IMPERATIVO CATEGÓRICO;
 AUTONOMIA E HETERONOMIA.

Ética

Empírica De Bens De Valores Formal

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Ética Empírica

Anarquista Utilitarista Ceticista Subjetivista

ÉTICA EMPÍRICA – Trabalha com a ideia de que os princípios éticos devem derivar da mera
observação dos fatos, da conduta humana, da experiência da vida. Aqui há uma crítica: se
uma pessoa observa de enfoque uma sociedade amoral e a vê como padrão poderá ferir a
própria ética. Outra crítica é que ela pode resvalar para o subjetivismo;

ÉTICA EMPÍRICA ANARQUISTA – Seria a ausência de regras, de um padrão de


conduta. Cada um criaria a sua própria regra ética. Repudiam toda norma e valor estabelecida
por pessoa que não seja o próprio indivíduo. As leis jurídicas são ilegítimas porque
desrespeitam a autonomia da vontade. Atualmente há o anarquismo individualista e o
anarquismo libertário;

ÉTICA EMPÍRICA UTILITARISTA – Eles consideram bom tudo o que é útil. Eles
consideram bom e desejam tudo o que seja bom à sociedade. Contudo, existem coisas que
têm utilidade, mas não são boas. Uma faca pode ser usada para cortar alimentos ou matar.
Ética empiríca utilitarista seletiva – Ocorreu no nazismo, por exemplo. Havia a
vontade de conseguir a raça ariana pura como padrão, dizimando judeus, ciganos e utilizando
deficientes em experiências científicas.
Nem sempre a eficácia técnica dos meios conduzem à verdadeira ética no final.

ÉTICA EMPÍRICA CETICISTA – Para os céticos, ser moral é duvidar de tudo. Vale
diferenciar dúvida metódica para dúvida sistemática. Dúvida metódica é a que impulsiona à
busca do conhecimento (salutar, atividade provisória). Já a dúvida sistemática (cética) é uma
dúvida já incorporada na moral deles, dos céticos (em algum momento cairiam em descrédito
ao duvidar de si próprios);

ÉTICA EMPÍRICA SUBJETIVISTA – Seria a ética que cada um adota para si e daí
então cria-se um padrão ético. Se diferencia do anarquismo. Há o subjetivismo individual e o
subjetivismo ético-social. Para aquela o homem é a medida do bem e do mal, cada um cria o
seu próprio parâmetro, para esta há a criação de uma conduta moral a partir do contexto
social em que determinado indivíduo convive. Ambos podem decair para o subjetivismo;

Ética de Bens

Eudemonismo Idealismo Ético Hedonismo

ÉTICA DE BENS – Toda ética deveria conter a receita da execução de algum bem. Existência
de um valor fundamental ao qual dá-se a denominação de bem supremo. Por exemplo, o
objetivo da vida de cada um (felicidade, realização profissional, ter um filho, passar num
concurso). Daqui surgem três campos de estudo:

ÉTICA DE BENS – EUDEMONISMO – Vem de eudemonia, que significa “felicidade”.


Todo homem nasce feliz ou com o desejo de ser feliz. A ideia de eudemonismo é a busca
pela felicidade;
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ÉTICA DE BENS – IDEALISMO ÉTICO – Dedicar a vida à busca do bem coletivo (por
exemplo, Zilda Arns). Toda a vida da pessoa é dedicada a uma causa de virtude, de um bem
próprio. Finalidade da vida;

ÉTICA DE BENS – HEDONISMO – Entendem a ética ligada à ideia de prazer. A


felicidade vem da busca do prazer (não só no sentido libidinoso, sensual, mas geral).

Ética de Valores

Existência dos Valores Conhecimento dos Valores Realização dos Valores

ÉTICA DE VALORES - A ética de valores sucede a ética kantiana e tem como principal nome
Max Scheler. A concepção de ética estaria na compreensão dos valores. O valor deve
anteceder a noção de dever. Para Kant havia o “imperativo categórico” (um conceito
kantiano). Para Scheler a noção de valor seria o conceito ético principal. A educação ética
seria exatamente para delinear os verdadeiros valores. Então, para a ética de valores só o
que tem valores é que deve-ser. Deve-se reconhecer os autênticos valores;

EXISTÊNCIA DE VALORES – O valor não é perceptível sensivelmente (tocando, por


ensejo). Está em nossa percepção. São reconhecidos através das relações humanas. Está
muito ligado ao neoconstitucionalismo (que diz que anteriormente à norma positivada existe
uma ordem de valores que alimenta a própria constituição). Outra ideia é uma hierarquia de
valores (valores constitucionalmente estabelecidos prevalecem abstratamente às situações
nas quais há juízo). Há uma ordem valorativa que alimenta a própria Constituição;

CONHECIMENTO DE VALORES – Conhecer um objeto implica estimar algo. O


conhecimento do valor depende de um juízo estimativo. Houve períodos da história no qual
ocorreram “cegueiras valorativas”;

REALIZAÇÃO DOS VALORES – Os valores existem independentemente de serem


realizados. Estão diretamente ligados a ideia de dever-ser. Para que o valor se realize, ele
depende de um dever-ser. O valor antecede o dever e o dever é requisito da moral.
Liberdade Moral – Seria requisito para a realização de valores. Seria como a não-
presença de obstáculos. A ideia de responsabilidade está muito atrelada à de autonomia.

Moral Cristã

Noção de dever Noção de Intenção

MORAL CRISTÃ – A moral cristã revoluciona toda a noção de ética existente até então. A fé é
que coloca como pertencente ao sistema cristão e agindo conforme a lei divina.
Conceito de Virtude – O conceito de virtuoso sai da noção em relação com a sociedade e
muda para a relação com Deus. Para virtude deve haver fé, caridade e esperança. Além
disso, a moral cristã afirma que somos dotados de livre arbítrio (sendo que a visão anterior
era que quem é livre é aquele que vivia na polis). O Direito Penal tem substrato, fundamento,
na moral cristã.
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Noção de Dever – Para sermos éticos temos que cumprir a lei divina que alimenta a noção de
cumprimento para alcance da virtude. Uma conduta ética seria aquela que está de acordo
com a lei divina. A anti-ética seria descumprindo-a. A aética seria aquelas que não seriam
nem do bem nem do mal;

- Noção de intenção – Avaliar a intenção da pessoa, aquilo que não é visível ao olho humano,
mas visível a Deus. Dentro do cristianismo tem-se dois principais pensadores: Santo
Agostinho e São Tomaz de Aquino.

AGOSTINHO é considerado um dos primeiros filósofos existenciais. Ele faz uma


adaptação do pensamento de Platão para o cristianismo. Santo Agostinho imaginava que
corpo e alma seriam coisas diversas. Para ele existiria um mundo espiritual e um mundo do
sensível. Para ser verdadeiramente ético deve-se buscar a verdade de Deus, que está no
mundo espiritual. Também é importante em São Agostinho a noção de justiça: “Justiça é dar a
cada um o que é seu”. Para ele a igualdade é a força motriz do amor.

SÃO TOMAZ DE AQUINO desde jovem era educado para ser padre. Todo pensamento
do Direito Natural encontra respaldo no pensamento de São Tomaz de Aquino. Para ele
existiriam quatro tipos de lei: Eterna (promulgada por Deus e que rege universalmente); Divina
(lei de Deus revelada, escritura, dez mandamentos); Natural (justiça divina estabelecida
universalmente aos homens, ele acredita que a lei natural é algo que pode mudar de acordo
com a natureza humana); Humana (seria a lei natural estabelecida pelo homem para
possibilitar a vida em sociedade). Ele tem como base de seu pensamento Aristóteles. Ele
coloca a virtude como um meio. Ele associa a fé à razão, dando a ela uma dimensão empírica
(o ser era ético quando sabia distinguir o bem do mal e age de acordo com o bem comum). A
ética incide sobre a dimensão prática. Suas principais obras são Suma Teológica e Suma
Communis.

PLATÃO

Principais obras: República e Fédon;

Ele entendia que a alma se orienta de acordo com um padrão de condutas e uma noção de
bem. É o principal responsável pela tradução do pensamento de Sócrates. Era seu seguidor.
A partir desse núcleo ético do pensamento de Platão, surgiu a questão se a virtude seria inata
de produto de atividade pedagógicas. Se a virtude fosse inata, seria intransmissível e, assim,
todo o pensamento filosófico como por tema.
Platão parte para um pensamento intermediário: o homem ter virtudes inatas, mas estas
precisam ser disputadas. Portanto, ele faz um somatório.
Para ele, toda forma de conhecimento realiza um ideal ético. O ideal ético seria a justiça, que
seria o bem Supremo da sociedade. Tanto o Estado, como o ser humano, precisam de uma
relação de harmonia, que ele chama de justiça (para se unirem como um todo).
Platão diferencia o mundo sensível do mundo das ideias. O das ideias é aquele que é do
intelecto (imutável, ininteligível). O sensível seria o mundo terreno, da vivência humana.
Para o homem alcançar a virtude, teria que contemplar. Deveria se desprender do mundo do
sensível e incluir-se, em sua plenitude, no mundo das ideias. Para que o homem fosse capaz
de se desligar do mundo terreno e alcançar o das ideias, a alma precisava de educação, que
era um dever do Estado.

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ARISTÓTELES

Foi discípulo de Platão, mas deste divergiu em alguns aspectos. Dá uma dimensão empírica
sobre a ética no que diz respeito à sua reflexão. Ao contrário de Platão, acredita que é a partir
da experiência que se atinge o bem Supremo.
Foi o primeiro a diferenciar ética (reflexão do indivíduo como tal) e política (reflexão do
indivíduo como membro da sociedade). Fez também a seguinte distinção:
SABER TEORÉTICO – Conhecimento dos fatos independente da vontade – fatos da
natureza;
SABER PRÁTICO – Conhecimento dos fatos que dependem da vontade – pensamento
ético, político. Práxis é distinta de técnica. A primeira tem o agente e a finalidade de sua ação
como uma coisa só. É uma prática que só se confunde com a própria ação. A segunda
distingue o agente da sua ação.
Um pensamento central de Aristóteles é a ideia de que toda racionalidade é teleológica – toda
ação humana tem um fim. Para a ação ser ética, deve-se buscar um bem Supremo, o qual
seria a felicidade. Para tal, é necessário praticar a virtude (virtude como algo equilibrado entre
dois extremos, um “justo meio”). A justiça seria a síntese de todas as virtudes. Fala da
alteridade, pensa no bem coletivo.

Virtude = Justo meio

Justiça

O livro de Aristóteles mais ligado à Ética é “Ética e Nicômaco”.

1. Ética na Grécia:
- Ética Epicurista;
- Ética Estóica;
2. Ética Formal:
- Conceitos kantianos.

Ética na Grécia

Ética Epicurista Ética Estóica

ÉTICA EPICURISTA

EPICURO – Ser ético é sentir prazer (relação com o hedonismo). Falava das sensações. Para
ele, o prazer é a ausência de dor. Essa é a ética individual concebeu o coletivo, social.
Quando se sente a dor, evita-se a dor do próximo. É a sua ideia central.
Trabalha a idéia de que o ato de filosofar não se restringe à juventude. É algo que acompanha
o homem por toda a vida. A busca do prazer dá-se ao longo de toda a vida.
Resolve classificar os prazeres, hierarquizando-os. Por exemplo, luxúria – prazer espiritual
(aos que fazem bem à alma, à convivência em sociedade, como a amizade).
Conclui com duas finalidades para a Ética, uma crítica e outra construtiva, ligadas à sua ideia.
A primeira fala de aniquilar tudo aquilo que o prende a outro. A segunda reúne aquilo que faz
o indivíduo feliz.
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ÉTICA ESTÓICA

ZENÃO DE CITIUM – Em torno do Século IV a. C. Prolonga-se por quase cinco séculos e se


divide em três fases: estoicismo antigo, estoicismo médio e estoicismo novo (ético lógico e
religioso, respectivamente). Influenciou Kant, dentro de outros contemporâneos.
O núcleo é oposto à anterior. Trabalha com a idéia de razão. “Vive de acordo contigo mesmo”
e “Vive de acordo com a natureza humana”. A natureza humana se submete à razão: Alguns
se suicidaram. Contradisseram a própria ciência. O estoicismo inaugura o racionalismo ético,
suprerando-o da metafísica.
Fizeram divisão clássica das virtudes;

Virtudes

Material Racional Moral

Físico Lógica Ética

Por outro lado, procuram desclassificar as sensações. Queriam o império da razão. A paixão
seria uma doença da alma. O homem deveria ser apático. Só assim alcançaria o ideal ético.
A terceira fase tem influência da moral cristã, deve-se aceitar a dor, tal qual fez o Cristo.

ÉTICA FORMAL

KANT – Ela marca o tempo. Há os chamados neo-kantianos. É muito importante para a base
filosófica do Direito.
A ética está na vontade anterior, naquilo que move a ação. É algo subjetivo. É sua principal
contribuição. O homem precisamente “não tem” que exteriorizar como falava-se antes. Age-se
pelo cumprimento do dever. É pelo dever e não por dever. É algo que está dentro da pessoa e
não algo que vem de fora e determina a conduta. A razão tem papel fundamental. Não são
ainda conceitos kantianos. É a ética formal.
Razão pura: Teórica é distinta de prática. A primeira tem conteúdo externo a nós. Não
depende de nós para existir. Na segunda, a existência depende da razão humana. Depende
da movimentação e intuição humana. É aqui que se encontra a ética para Kant.
Diferencia também necessidade e liberdade. Se conecta com o exposto anterior. A
necessidade independe da razão humana. Só a liberdade é fruto de escolhas voluntárias do
homem. A associação é respectiva. Ações necessárias de causa e efeito (a necessidade).
Desenvolveram-se três principais conceitos:
- Boa vontade;
- Imperativo categórico;
- Autonomia e heteronomia.

BOA VONTADE – O primeiro fala da pureza da intenção humana. Antes da ação há


essa vontade, que já deve ser moral. Parece com a boa-fé que se vê no direito. É algo que
não está exteriorizado, subentende-a.
Repete-se, a boa vontade não seria para cumprirem o dever. É algo que independe disso.
Atos humanos: conforme o dever, mas não por dever; conforme o dever e por dever; e
contrário ao dever.

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IMPERATIVO CATEGÓRICO – O segundo é mais difundido. Seria a lei moral interior.


Age conforme uma máxima que pode querer que se torne universal. Não pode ser aquilo que
vale somente individualmente. Questiona-se a universalidade, há sociedades distintas.
Voltando, cria um princípio objetivo para a razão. Sendo imperativo categórico, há o
hipotético. O hipotético coordena o comportamento para ser meio para atingir uma finalidade.
O categórico põe o dever por si mesmo, não para atingir algo. A ideia de dignidade da pessoa
humana é de que “a pessoa tem um fim em si mesma”. Seu direito deve ser respeitado
independente de qualquer coisa. O valor absoluto que Kant propõe é a pessoa humana. Age-
se universalmente com isso, respeitando-se os demais. É uma razoabilidade. Do categórico
Kant extrai três máximas morais: o primeiro é a frase já citada. A segunda é “age de forma
que trate a humanidade, tanto na sua pessoa como na de outrem, sempre como um fim, e
não como um meio”. A terceira: “age como se a máxima da tua ação devesse servir de lei
para todos os seus racionais”.

AUTONOMIA E HETERONOMIA – O terceiro conceito é a diferenciação entre


autonomia e heteronomia. Para Kant, só deveria ter valor ético a conduta que fosse feita pela
própria vontade do agente, a conduta autônoma. A fruto da vontade alheia ou heterônoma
não se aplica, não tendo valor moral, isto porque ela trabalha com a ideia de razão. Diferindo,
assim, Direito e Moral. A Moral é autônoma e o Direito é heterônomo. O foco está no
motivação. Podem haver pontos que coincidem (ou deve haver) – motivação interna e
externa, respectivamente.

TRECHOS DA OBRA “ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL”, DE JOSÉ RENATO NALINI, 7ª


ED. EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS:

- Quanto mais uma noção simboliza o valor, quanto mais numerosos são os sentidos
conceituais que tentam definí-lo, mais confusa ela parece (p. 16);
- O jurista, a cada passo, deve determinar e criar significados, reconhecer, construir ou
reconstruir relações semânticas, sintáticas e pragmáticas (p. 16);
- Deve-se dizer “moral” ou “ética”, e que diferença existe entre os dois termos? Resposta
simples e clara: a priori, nenhuma, e você pode utilizá-los indiferentemente. A palavra “moral”
vem da palavra latina que significa “costumes”, e a palavra “ética”, da palavra grega que
também significa “costumes” (p.18);
- Ética é a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. O objeto da ética é a
moral (p. 19);
- Com exatidão maior, o objeto da ética é a moralidade positiva, ou seja, “o conjunto de regras
de comportamento e formas de vida através das quais tende o homem a realizar o valor do
bem” (p. 19);
- Toda norma pressupõe uma valoração e, ao apreciá-la, surge o conceito de bom –
correspondente a valioso – e do mau – no sentido do desvalioso. E norma é regra de conduta
que postula dever (p. 21);
- Classificar, enfatiza-se, é apenas compartimentar o conhecimento para que ele seja
facilmente encontrado nos escaminhos da memória, quando se mostrar necessária a sua
recuperação [...] Ao classificar, reitera-se, a pretensão do classificador é delimitar as áreas do
conhecimento e sistematizá-las de maneira a tornar mais facilitada a sua localização. As
subdivisões atendem ainda a uma finalidade pedagógica: o treino da capacidade de
memorização e da estratégia de ordenamento das informações com vistas à sua utilização
futura e permanente (p. 27);
- O que é filosofia cristã? É cristã toda filosofia que, criada por cristãos convictos, distingue
entre os domínios da ciência e da fé, demonstra suas proposiçoes com razões naturais, e não
obstante vê na relação cristã um auxílio valioso, e até certo ponto mesmo moralmente
necessário para a razão (p. 79);

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- Pensadores da ética cristã: Santo Agostinho; Santo Tomás de Aquino; Teilhard de Chardin;
Jacques Maritain; Karol Woytila; Joseph Ratzinger. No Brasil: Gustavo Corção; Alceu
Amoroso Lima; D. Hélder Câmara; Frei Beto (p.79);
- “Tudo aquilo que quereis que os homens vos façam, fazei-o também por eles”. É
exatamente o que Perelman considera a regra de ouro. Essa norma, se cumprida, salvaria o
mundo (p.80);
- Para animar cristãmente a ordem temporal, no sentido já afirmado de servir a pessoa e a
sociedade, os fiéis leigos não podem abdicar de participar na política, ou seja, da múltiplice e
variada ação econômica, social, legislativa, administrativa e cultural, destinada a promover
organicamente o bem comum. Como repetidamente afirmaram os padres sinodais, todos têm
o direito e o dever de participar na política, ainda que com diversidade e complementaridade
de formas, níveis, funções e responsabilidades (p.81);
- Descobrimos mais sobre Deus a partir da lei moral do que a partir do Universo em geral, da
mesma forma que conhecemos melhor uma pessoa prestando atenção ao que ela diz do que
observando uma casa que ela tenha construído (p.83);
- A concreta realidade da lei moral é confiável parâmetro para avaliar a conduta. Cumpre
advertir que a lei moral é exterior ao homem, ao passo que a consciência é elemento interior
do ser humano. Por isso é que a conformidade ou desconformidade de um ato com a lei moral
representa a bondade ou malícia material e, em relação à consciência, constituirá bondade ou
malícia formal (p.84);
- Síntese do pensamento de Karl Marx: “A estrutura econômica da sociedade – forças
produtivas, relações de produção e sua interação dialética – forma a base real de todo o
processo social. Sobre essa base emerge uma superestrutura e, em primeiro lugar, uma
superestrutura político-jurídica que vive numa dependência imediata em relação à base
(assim, estado e direito não são outra coisa senão instrumentos da classe economicamente
dominante) e, em segundo lugar, uma „superestrutura ideológica‟ sob forma de filosofia,
ciência, arte, moral e religião” (p.84);
- A moral serve para cuidar desses três aspectos da natureza humana: “Primeiro, da justiça e
da harmonia entre os indivíduos. Segundo, daquilo que poderíamos chamar a limpeza ou
arrumação interior de cada indivíduo. Terceiro, da finalidade central da vida humana como um
todo: aquilo para que fomos criados”;
- Para uma concepção singela da moral cristã, ela se poderia resumir em sete virtudes.
Quatro delas são as virtudes cardeais – a prudência, a temperança, a justiça e a fortaleza –, e
três são chamadas virtudes teologais – fé, esperança e caridade (p.89):

PRUDÊNCIA – É a capacidade prática de analisar as consequências de um ato antes


de sua prática;

TEMPERANÇA – Tem o sentido de moderação, frugalidade. Assim, a vida humana


deve evitar os excessos. A ideia aproximada é o justo meio aristotélico;

JUSTIÇA – Implica em correção, transparência, imparcialidade, honestidade,


reciprocidade, veracidade, lealdade;

FORTALEZA – É a qualidade do destemido, do valoroso, do ser humano


excepcionalmente provido de coragem;

FÉ – É sinônimo de crença. No sentido cristão, a fé como virtude representa mais o


conteúdo de crença inabalável;

ESPERANÇA – É ter confiança no futuro e nas promessas que a redenção propiciou


aos crentes. Esperança é a certeza no porvir;

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CARIDADE – Caridade, no sentido cristão, é amor. Tanto assim que a regra de ouro do
cristianismo – e que serve como regra de ouro para a humanidade – é amai-vos uns aos
outros.

SEGUE SÍNTESE DOS FILÓSOFOS E PENSADORES DA ÉTICA CRISTÃ:

SANTO AGOSTINHO – Teve o mérito de integrar o cristianismo a teoria platônica das


ideias. Para Agostinho, todo homem quer a felicidade e sai à sua procura. Se não chega a
alcançá-la, não é feliz. O homem foi feito para Deus e só Nele encontrará a verdadeira
alegria.
As noções centrais da moral agostiniana são o amor e a vontade. Sua fórmula célebre diz:
“Ama e faz o que quiser”. A caminhada dos homens pelo Planeta é a busca do verdadeiro
amor.
Em sua obra “A cidade de Deus”, Agostinho formula a concepção de que a sociedade se
baseia sobre um desejo comum, ideia de que a generalização de uma definição de amizade
atribuída a Cícero.
O que interessa, a partir do Cristianismo, é a humildade do simples.
O exemplo de Agostinho deve servir de inspiração a todos aqueles que almejam atingir a
verdade.
Outra lição agostiniana imperecível é que nunca divorciou a teoria da prática.
Enfim, para Agostinho o amor é a alegria ontológica mais profunda: o ser humano é incapaz
de viver sem amor.

SÃO TOMÁS DE AQUINO – Coube a Tomás de Aquino redescobrir o pensamento


Aristotélico e Neoplatônico, adaptando-o à doutrina cristã.
Foi Tomás de Aquino quem definiu a virtude como hábito operativo bom.
O homem, para Tomás de Aquino, “é o ponto de convergência de toda a criação”. Já em
relação a Aristóteles, Santo Tomás se utiliza de seu pensamento, de sua terminologia,
inclusive das mesmas frases, mas com interpretação própria. Limita-se a imprimir direção
cristã quando isso lhe parece necessário.
Em Tomás de Aquino, o imperativo moral consiste em que o homem se obrigue livremente a
voltar-se para Deus.
Santo Tomás de Aquino admite que o homem tende, espontaneamente, ao bem, na
concepção tradicional da sabedoria grega. Existe para Tomás de Aquino uma verdade moral,
que elimina a pluralidade de regras. Todas as concepções não cristãs são inaceitas, pois a
noção de bem e de verdade se identificam. Santo Tomás identifica a verdade, dada a
conhecer por Deus aos homens, com essa espécie de luz natural que lhes permite conhecer
os princípios fundamentais da ação que ele chama de syndérese.
As relações entre a religião e a moral são postas por Tomás de Aquino da seguinte maneira:
1 – Deus e legislador e os padres são intérpretes da lei;
2 – Deus é o juiz Supremo, que tudo vê e controla todos os nossos atos;
3 – Deus nos serve de modelo. Um Deus personificado;
A ética tomista estrutura-se na excelência da humanidade. A vida moral é viável porque a
vontade é o princípio ativo que move as diversas potências da alma.

JACQUES MARITAIN – É um tomista moderno, seu pensamento evidencia que as


lições de Tomás de Aquino permitem uma experiência pessoal e inventiva.
Maritain estabelece, como as grandes categorias dos sistemas éticos, a ética cósmico-realista
da tradição clássica, a ética acósmica e idealista de Kant e a filosofia moral pós-kantiana.
Para estabelecer os fundamentos de uma filosofia moral autêntica, é necessário estudar os
conceitos fundamentais da ética. Também são três as suas categorias: conceitos

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fundamentais sistemáticos, conceitos fundamentais práticos e conceitos fundamentais pré-


requeridos.
Os conceitos fundamentais sistemáticos são os mais próximos da metafísica, e o primeiro de
todos é o conceito do bem. O segundo é o de valor moral. Também sistemático é o conceito
de fim, no sentido de fim último da vida humana. Finalmente, é sistemático e fundamental o
conceito de norma.
Os conceitos fundamentais práticos são os de direito e dever, de falta moral, de mérito, de
sanção, de punição e de recompensa.
Por último, os conceitos fundamentais pré-requeridos são os pressupostos a quem se
propunham estudar ética, filosofia especulativa e metafísica: a existência de Deus, a alma
humana, a pessoa, a liberdade. E principalmente o conceito de verdade.
O estudo atento e meditado, com verdadeiro interesse, provido da certeza de que ele tornará
o interessado um ser humano melhor, fará com que a pessoa compreenda o sentido da
obrigação moral que o presente está cobrando de todos.
A primeira expressão da obrigação moral é o primeiro princípio: o bem deve ser feito, o mal
deve ser evitado, mas sob a forma de um preceito, o preceito fundamental: faze o bem e evita
o mal.
Jacques Maritain transmite uma lição de otimismo. Para ele, a obrigação moral deveria surgir
como coação exterior, imposta pela razão.

PIERRE TEILHARD DE CHARDIN – O ver teilherdiano vai muito além da aparência.


“Ver. Poderíamos dizer que a vida inteira está ali... Ver ou perecer. Se, realmente, ver é ser
mais, olhemos o homem e viveremos mais”.
Ele era extremamente lúcido em relação ao futuro do homem.
Para Teilhard de Chardin, por moral se entendera sempre um sistema definido de direitos e
deveres, com vistas a estabelecer entre indivíduos um equilíbrio estático, resultante da
limitação das energias.
Três princípios definem o valor dos atos humanos: a) em última instância, só é bom o que
concorre para o incremento do Espírito na Terra; b) é bom, ao menos parcialmente, o que
proporciona um incremento espiritual na Terra; c) o melhor é o que garante às potências
espirituais da Terra o seu mais alto desenvolvimento.
Coube a Pierre Teilhard de Chardin conciliar a visão evolutiva do Universo (creio que o
Universo seja uma evolução) com uma concepção espiritualista (creio que a Evolução vá
rumo ao Espírito, creio que o Espírito encontra o seu termo em algo de Pessoal, creio que o
Pessoal Supremo seja o Cristo-Universal).

QUESTÕES PROPOSTAS:

- O que se entende por ética cristã?


- Aponte, no âmbito da ética cristã, a distinção entre o pensamento de São Tomás de Aquino
e Santo Agostinho;
- Expresse as críticas de Karl Marx à religião;
- Discorra sobre as virtudes cardeais e teologais, descrevendo cada uma;
- Qual é o enfoque do pensamento de Santo Agostinho?
- Qual é o enfoque do pensamento de Santo Tomás de Aquino?

QUESTÕES IDEALIZADAS A PARTIR DO TEXTO CAPÍTULO 5: EXISTÊNCIA ÉTICA;

1. O que é senso moral?


É a maneira como avaliamos nossa situação e a de nossos semelhantes segundo ideias
como as de justiça e injustiça. A avaliação de nosso comportamento segundo ideias como as

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de certo e errado também exprimem nosso senso moral. Também a maneira como avaliamos
a conduta e a ação de outras pessoas segundo ideias como as de mérito e grandeza de alma;

2. A que se refere o senso moral e a consciência moral?


Referem-se a valores (justiça, honradez, espírito de sacrifício, integridade, generosidade), a
sentimentos provocados pelos valores (admiração, vergonha, culpa, remorso, contentamento,
cólera, amor, dúvida, medo) e a decisões que conduzem a ações com consequências para
nós e para os outros;

3. Diferencie juízo de fato de juízo de valor.


Enunciar um acontecimento constatado por nós, emitindo um juízo, denota-o como juízo de
fato (está chovendo). Ao interpretar e avaliar o acontecimento proferimos um juízo de valor (a
chuva é bela). É a diferença entre a natureza e a cultura. Juízos de fato são aqueles que
dizem que algo é ou existe, e que dizem o que as coisas são, como são e porque são. Juízos
de valor, por sua vez, são avaliações sobre coisas, pessoas, situações e são proferidas na
moral, nas artes, na política, na religião.

4. Por que se diz que os juízos de valor são normativos?


Juízos de valor não se contentam em dizer que algo é ou como algo é, mas se referem ao
que algo deve ser. Dessa perspectiva, os juízos morais de valor são normativos, isto é,
enunciam normas que dizem como devem ser as decisões e ações livres.

5. Como “nasce” a cultura?


Da maneira como os seres humanos interpretam a si mesmo e as suas relações com a
natureza, acrescentando-lhe sentidos novos, intervindo nela, alterando-a por meio do trabalho
e da técnica, dando-lhe significados simbólicos e valores.

6. O que significa a palavra “Moral”?


A palavra “moral” vem de uma palavra latina, mos, moris, que quer dizer “o costume”, e no
plural, “mores”, significa os hábitos de conduta ou de comportamento instituídos por uma
sociedade em condições históricas determinadas.

7. O que significa a palavra “Ética”?


A palavra “ética” vem de duas palavras gregas: éthos, que significa “o caráter de alguém”, e
êthos, que significa “o conjunto de costumes instituídos por uma sociedade para formar,
regular e controlar a conduta de seus membros”.

8. O que é violência?
Fundamentalmente, a violência é percebida como exercício da força e do constrangimento
psíquico para obrigar alguém a agir de modo contrário à sua natureza e ao seu ser ou contra
sua própria vontade.

9. Como a violência é entendida em nossa cultura?


Como a violação da integridade física e psíquica de alguém , da sua dignidade humana.
Também consideramos violência a profanação das coisas sagradas. Da mesma maneira, é
violência a discriminação social e política de pesoas por suas condições étnicas, crenças
religiosas, convicções políticas e preferências sexuais, seja por meio de prisão, tortura e
morte.

10. Quais são as condições para que haja conduta ética?


É preciso que exista o agente consciente e responsável.

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11. Como se manifesta a consciência moral?


Manifesta-se, antes de tudo, na capacidade para deliberar diante de alternativas possíveis,
avaliando cada uma delas segundo os valores éticos, e para decidir e escolher uma delas
antes de lançar-se na ação.

12. Como é constituído o campo ético?


É constituído pelo agente livre, que é o sujeito moral ou a pessoa moral, e pelos valores e
obrigações que formam o conteúdo das condutas morais, ou seja, as virtudes ou as condutas
e ações conforme ao bem.

13. Quais são as condições necessárias para que o agente moral, isto é, o sujeito moral ou a
pessoa moral, possa existir?
Ser consciente de si e dos outros; ser dotado de vontade; ser responsável e ser livre.

14. O que é liberdade?


A liberdade, entendida como a capacidade de se autodeterminar faz com que, do ponto de
vista do agente ou sujeito/pessoa moral, a ética parta de uma distinção essencial. Passivo é
aquele que se deixa governar e arrastar por seus impulsos, inclinações e paixões. Ao
contrário, é ativo ou virtuoso aquele que controla interiormente seus impulsos, suas
inclinações e suas paixões.

15. É ético que o fim – a lealdade – justificar os meios – o uso do medo e da mentira?
A resposta ética é não, porque esses meios desrespeitam a consciência e a liberdade da
pessoa moral, que agiria por coação externa e não por reconhecimento interior e verdadeiro
do fim ético.

ÉTICA E VIDA

“O homem é capaz de manipular a vida. Haverá limites para esse poder”?

QUESTÕES PERSISTENTES: Aborto, clonagem, etc.


QUESTÕES EMERGENTES: Que surgem agora
MICROBIOÉTICA: Ética em Medicina
MACROBIOÉTICA: Ética em biologia mais ampla, inclusive quanto ao meio ambiente.

A bioética trabalha com a ideia de que nem tudo que a ciência é capaz de fazer é admissível
pela ética. Quer pôr limites. À medida que a ciência controla a vida, deve-se buscar controlar
a ciência (controle de controle).

BIODIREITO

Surge com o pressuposto da inviolabilidade da vida humana, protegida constitucionalmente e


pela declaração dos direitos humanos. Surge todo um campo que busca estudar essas
questões, criando limites jurídicos para os mesmos. O progresso científico não pode oferecer
riscos às pessoas, à dignidade humana.

ABORTO

Interrupção espontânea ou provocada da gravidez. É proibida, exceto nos casos de aborto


necessário e aborto consentimental (art. 128, I e II, CP).

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:

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Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante
ou, quando incapaz, de seu representante legal.

O consentimento nos casos de estupro, pelas situações em que decorra, é necessário como
tentativa de salvar a vida da mãe. Alguns hoje contestam por haver tecnologia suficiente para
salvar ambos em também por considerarem bens jurídicos equivalentes, não podendo salvar
a vida sacrificando outra.
Sobre esse tema levantam-se algumas questões, como a legalização do aborto e o aborto de
feto anencéfalo.

ADPF 54-6 DF (Marco Aurélio) – Decidiu pela liberação do aborto de forma terapêutica. Leva-
se ao Supremo, mas não foi aprovado, pois houve um caso em que teve sobrevida de um
bebê por 6 ou mais meses.
Sobre o aborto de anencéfalo, sabe-se que a criança vai morrer após nascer.
No capítulo sobre vida na Constituição Federal de 1988 prevê-se o planejamento familiar
(política pública visando conscientizar a população a não procriar indiscriminadamente) e
paternidade responsável (o pai deve assumir a criança e cria-la, sustentando-a), art. 226, §7º,
Constituição Federal de 1988.

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.


[...]
§ 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade
responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado
propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada
qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.

EUTANÁSIA

O homem não pode dispor de sua própria vida e do próximo. É proibido em todas as formas
no direito brasileiro.
OBS: O médico não pode utilizar métodos de cura se sabe que não há solução (manter a
sobrevida sem nenhuma melhora).

Existe autonomia:
ATIVA: Recebe também o nome de “morte com dignidade”, usando meios para desviar a
morte do paciente em estado terminal de coma irreversível.
PASSIVA: Retiram-se os meios que prolongariam a vida. Por exemplo, retira-se os
medicamentos, desliga-se os aparelhos – ortotanásia.
Admitem-se quatro posições em relação à eutanásia:
SAGRAÇÃO DA VIDA EM SENTIDO ESTRITO: Proíbe a eutanásia em qualquer modalidade.
SAGRAÇÃO DA VIDA EM SENTIDO MODERADO: Permite a eutanásia passiva, proibindo a
ativa.
POSIÇÃO UBERAL-MODERADA: Admite-se a eutanásia passiva e o auxílio do suicídio sem
qualquer colaboração (não se faz modo de impedir).
POSIÇÃO FORTEMENTE LIBERAL: Admite todas as hipóteses, inclusive o auxílio ao
suicídio.
Obs.: Em alguns países a pessoa assina antes um documento optando por permitir ou não
que o ressuscitem.

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TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS

Amputação de um órgão com função própria de um organismo para ser instalado em outro.
Até pouco tempo podia-se optar por ser doador de órgãos (solidariedade legal), no
documento, depois da morte. Em razão dos críticos, com a lei 10.211/01, foi retirado. Agora
são seus familiares que escolhem (cônjuge ou parente consanguíneo até 4º grau), assinando
o termo. As manifestações em documento anteriores ficam invalidadas.
Em vida pode doar um órgão para fim terapêutico e transplante. No Brasil não se remunera.
Por exemplo, doação de sangue.

ENGENHARIA GENÉTICA

Tem duas fases, antes e depois do mapeamento do DNA. Surgem questões éticas, por
exemplo, organismo geneticamente modificado, eugenia, etc.
A Lei 11.105/05 admite a produção de organismos geneticamente modificados.
Responde pela possibilidade de manipulação dos genes. Surgem questões sobre a dignidade
humana.

ÉTICA E VIDA

FECUNDAÇÃO ARTIFICIAL

Engloba a natural também. A fecundação em si acontece naturalmente. Tem intervenção do


médico, contudo (introduz o espermatozoide). A artificial em si, a fecundação é externa. Só se
introduz o óvulo fecundado.
FECUNDAÇÃO HOMÓLOGA – Sémen do próprio marido.
FECUNDAÇÃO HETERÓLOGA – Sémen de pessoa diversa, terceiro ou desconhecido. Pode
envolver problemas éticos (reclame de paternidade, por exemplo, o que não pode ser
negado).

PROGRAMAÇÃO EUGÊNICA

Processo sugerido por um francês. Influência de Darwin. Visa criar uma pureza de raça.
“Eugenia” vem disto. A programação eugênica, hoje em dia, é a possibilidade de programar
as características do filho. Visão utilitarista dos progressos científicos. Foca no limite ético. É
prática condenada.
O uso do embrião é outra questão debatida. Nesses processos não é fecundado só um óvulo
(média de 6 a oito embriões) o que se faz com que os que não são utilizados? Clínicas têm a
obrigação de mantê-los congelados por até três anos, podendo ser descartados depois disso
(embriões excedentários). Discute-se a utilização das células-tronco. A princípio, não podem
ser usadas para fim diverso da procriação.
Atende-se o conceito de maternidade também. Fala-se da “barriga de aluguel”. Mais ainda o
de paternidade. Ex.: pai afetivo, pai legal, pai biológico. O sangue só não prevalece mais, mas
sim os laços afetivos. O conhecimento da herança hereditário, contudo, é direito
imprescritível. Envolve-se a ética aqui também.
Voltando às células-tronco, respondem pode células diferenciadas. O ponto positivo são as
diversas curas realizadas, em animais, inclusive. Reestabelece células degenerativas. São
obtidas em embriões de até 5 dias ou nos excedentes já citados. Tem lei que permite a
utilização de células-tronco embrionárias “in vitro” (aqueles descartados após os 3 anos).
Discute-se a questão utilitária também. O princípio da inviolabilidade da vida humana leva à
pergunta: quando começa a vida? O contraponto é a Igreja Católica. Essa questão passa por
ela.

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ÉTICA PROFISSIONAL – INTRODUÇÃO

NORMA ÉTICA X NORMA TÉCNICA – Diferenciação.


NORMAS TÉCNICAS – Regulam de forma neutra o comportamento humano.
NORMAS ÉTICAS – Procuram tutelar a dignidade da pessoa humana, priorizando a busca de
meios socialmente legítimos para a realização de determinadas finalidades.
NORMAS DE ETIQUETA SOCIAL OU DE CORTESIA OU FOLKSWAIS – São aquelas
que disciplinam certos hábitos de educação e polidez no trato com as pessoas e as coisas. A
sua inobservância não fere a estrutura social. Sua sanção é difusa.
NORMAS MORAIS – Regulam os padrões de comportamento e valores mais
relevantes para a vida social. Apresenta sanção de natureza difusa.
NORMAS JURÍDICAS – São aquelas de maior relevância para a vida social, visto que
tutelam o chamado “mínimo ético”. Seu descumprimento configura uma ilicitude, punida
através de sanções idealizadas.

Quanto aos aspectos: Objetivo, Axiológico e Temporal.

Na antiguidade não havia diferenciação entre as normas. É fruto de maior organização da


sociedade.

Norma ética – Conduz ao agir social. Tem um fim, um resultado específico.


Há punição por descumprimento da norma ética. Quando surge em conformidade, contudo, já
se é considerada ética. A norma técnica não é uma obrigação.
Só norma ética expressa juízo de valor. O cumprimento é valorado pelo conjunto de normas.
As técnicas são neutras. Não expressam nenhum tipo de valor. Poderão ser valoradas,
contudo, se dependerem do fim que querem alcançar. Se o fim é positivo, a valoração é
positiva. Se é negativo, a valoração também será.

A norma técnica é atemporal. Se muda-la, muda-se o fim. É outra norma. Só as normas éticas
são, justamente, por seu aspecto axiológico, passíveis a modificação no tempo. Ligam-se a
aspectos culturais, sofrendo influência na sua mudança no tempo.
As normas éticas regulam as técnicas. Exemplo: para o advogado agir, há normas que lhe
regulam a conduta, dando-lhe limites.
No caso do Direito, as normas técnicas são indispensáveis ao seu funcionamento. São
usadas na elaboração, aplicação e interpretação. São indispensáveis para a efetividade.

ÉTICA DAS PROFISSÕES JURÍDICAS

PRINCÍPIO FUNDAMENTAL

“Agir segundo a ciência e a consciência”

PRINCÍPIOS GERAIS:

TERMOS GERAIS: Fala da relevância social das profissões jurídicas. Se estabelece por uma
relação de confiança (seja com o Estado, seja com o contratado). Atende à coletividade
mesmo quando o foco são as relações particulares. A base é um bem-estar coletivo.
Há órgãos que cuidam apenas do aspecto ético. Designam sanções. Exemplo: Tribunal de
Ética da OAB.

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Ética das Profissões Jurídicas – Deontologia Forense – “Deontologia é a „teoria dos deveres‟”.
Fala do conjunto de normas éticas de observância obrigatória.

PRINCÍPIO FUNDAMENTAL – No que toca à ciência, fala da necessidade de aprimoramento.


O conhecimento técnico é algo exigido para o exercício da profissão. Fala ainda da
necessidade de conhecimento das regras (conhecimento prático, processual) para que não se
caia em equívoco. Adquirir experiência também. No que tange à consciência, fala da
continuidade do aperfeiçoamento. Exemplo: mestrado, pós-gradução, etc. “Dúvida Científica
Saudável” (João Maurício, Ética e Retórica), que fala da busca pelo conhecimento, não
estacionar.

PRINCÍPIOS GERAIS:

CONDUTA ILIBADA – O profissional deve agir de forma incorruptível.

DIGNIDADE E DECORO PROFISSIONAL – Analisa-se diante do caso concreto. Analisa tudo.


Exemplo: vestimenta, publicidade (solene e não-extravagante), vida privada. Algum problema
pode quebrar a relação de confiança.

INCOMPATIBILIDADE – Fala da incompatibilidade com outras atividades. Exemplo: juiz não


pode advogar. Para o advogado não há restrição específica.

CORREÇÃO PROFISSIONAL – Cumprimento da ritualística. Devem ser cumpridas para o


alcance da justiça. O que hoje se critica é até onde essas penalidades são necessárias ou
importam ao processo. Exemplo: juizados especiais são uma forma mais simplificada de
procedimento. Buscam-se excluir as meras burocracias, que formam o sistema anacrônico X
Segurança Jurídica e dimensão do tempo do processo. Há alguns deveres: agir com
transparência na relação com o cliente, agir no interesse do trabalho e da justiça, não se
vangloriar do cargo ou ter condolência com quem necessita (aspecto humanitário).

COLEGUISMO – Diminui mais com o aumento do número de faculdades. Deve haver


independente das carreiras, das profissões.

DILIGÊNCIA – Prestar serviço com todo o cuidado, pois lida com direitos. Exemplo: a questão
dos prazos.

DESINTERESSE – Em primeiro plano deve vir o interesse da justiça e não o pessoal.


Relação com o mínimo ético. Exemplo: optar por uma conciliação e não por um processo
judicial que lhe traria dinheiro.

CONFIANÇA – É a base da relação. Exemplo: imagem do escritório de advocacia. Com o


advogado isso é mais pessoal, mas pode se dar com o Estado também, na figura do juiz e do
promotor.

FIDELIDADE – Do advogado com relação ao cliente, no sentido de buscar fazer o melhor,


com consciência tranquila.

INDEPENDENCIA PROFISSIONAL – Ausência de vínculos que possam influenciar no


exercício da profissão. Questões que não se restringem à advocacia.

RESERVA – Vai além do segredo profissional, que é concedido ao processo. Diz respeito a
informações do processo.
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LEALDADE E VERDADE – Relação com a ideia de boa-fé. A lealdade é um valor


costumeiramente estabelecido. Há cobrança social apenas. Daí decorre o dever de verdade.
É uma questão tormentosa no processo. Vai até o limite de obrigação na defesa da parte. Não
se fala em mentir, mas em omitir.

DISCRICIONARIEDADE – Possibilidade de agir com oportunidade, conveniência e liberdade,


nos limites da lei, contudo.

ÉTICA DAS PROFISSÕES JURÍDICAS

1. Ética das profissões jurídicas


- Princípio fundamental:
“Agir segundo a ciência e a consciência”.
- Princípios gerais.

O direito é uma profissão voltada ao bem coletivo.


Deontologia forense – Deontologia é a teoria dos deveres. É o conjunto de normas éticas e
comportamentais obrigatórias àqueles de carreira jurídica.
Agir segundo a ciência é buscar o aprimoramento. O conhecimento técnico é exigível para a
profissão jurídica.
É a necessidade de conhecer as regras do direito para o exercício da profissão. Buscar ao
máximo adquirir experiência, além da teoria e prática. Necessidade de permanente
aperfeiçoamento.
No aspecto da consciência, é fundamental entender que lidamos diariamente com o valor
justiça, trabalhamos com a coletividade. Não estacionar diante de um entendimento, pois o
Direito se renova a todo o momento.
Princípios gerais da deontologia forense:
1. Conduta ilibada – Conceito indeterminado. Pode se alterar no tempo e no espaço em
virtude de cultura. O que não se altera é a ideia de que o profissional deve agir de forma reta,
proba, e incorruptível.
2. Dignidade e decoro profissional – Em todas as profissões jurídicas deve agir com decoro
profissional (vestimenta, publicidade). Reflete-se até na vida privada.
3. Incompatibilidades – O magistrado e o Membro do Ministério Público não pode ter outra
função, salvo o magistério.
Não é cabível atividades ilícitas com o exercício da advocacia, não existe previsão explícita
como na magistratura e no MP.
4. Correição profissional – Cumprimento da ritualística. Existem rituais a serem cumpridos no
exercício das profissões jurídicas para se alcançar a justiça.
Para tornar mais célere o processo existem algumas situações em que há a possibilidade de
diminuir esses rituais, essas formalidades. Mas são necessários para a manutenção de um
mínimo de segurança jurídica.
Deveres:
- Atuar com transparência na relação com o cliente;
- Agir no interesse do trabalho e da justiça;
- Não se vangloriar do cargo;
- Ter condolência com quem necessita (aspecto comunitário).
5. Coleguismo – Não perder a ideia de que todos se originam de um mesmo curso
independente da carreira que seguiu e da posição que esteja.
6. Diligência – Ter todo o cuidado com a forma que exercita a profissão, porque lidamos com
direitos. Observar os prazos.

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7. Desinteresse – Deve-se trabalhar no interesse da justiça. Não colocar em primeiro plano o


interesse pessoal. Buscar a melhor solução para o cliente e não para si próprio.
8. Confiança – A relação profissional se estabelece com confiança. No caso dos juízes,
promotores a confiança é do Estado.
9. Fidelidade – Está relacionada ao princípio da confiança. O advogado deve fidelidade ao
seu cliente no sentido de fazer o melhor que poderia ser feito. A fidelidade e a própria causa
da justiça.
10. Independência profissional - Ausência de vínculos que possam influenciar no exercício da
profissão.
11. Reserva – Vai além do segredo profissional. Este estaria restrito ao processo. O princípio
da reserva vai além do âmbito processual, envolve informações pessoais e outras que não
irão para o processo, mas contribuirão para a defesa do cliente. Essas informações não
devem ser divulgadas, mesmo depois do fim da relação.
12. Lealdade e verdade – Relacionada com a ideia de boa-fé. Na atuação profissional deve-se
agir com boa-fé (lealdade). Desse dever decorre o dever de verdade, o profissional deve dizer
a verdade até o limite da defesa da parte, onde há omissão de informações.
13. Discricionariedade – Diz respeito a possibilidade que o profissional jurídico tem de agir
conforme oportunidade, conveniência e liberdade, nos limites da lei.
Atualmente, o juiz possui liberdade enorme para outras medidas no exercício da profissão.
Não deve confundir a discricionariedade com a arbitrariedade.

ÉTICA DO ADVOGADO

O termo advogado vem de “ad” para junto; “vocatus”, chamar.


“Patrono”, “causídico”, são outras palavras para se referir ao advogado.
É em Roma que se torna autônoma a profissão do advogado, a técnica toma conta da
profissão, ganha um contorno mais técnico, mais parecido com o que temos hoje.
No Brasil, os primeiros advogados vieram da Europa.
Em 1827, surge a primeira Faculdade de Direito do Brasil, em Olinda, depois no mesmo ano
surge a de São Paulo.
Em 1843 cria-se o Instituto dos Advogados do Brasil. O que seria um “embrião” da OAB.
Em 1930 cria-se a OAB, com essa denominação.
Em 1931 cria-se o 1º regulamento. Em 1933 é publicado o primeiro estatuto da OAB e o
primeiro código de Ética.
Lei 8.906/1994 é o atual estatuto da OAB.
O código de Ética é como se fosse um apêndice do Estatuto da OAB.
Requisitos para participar na OAB: Capacidade civil, certidão ou diploma de instituição
credenciada pelo MEC; título de eleitor e quitação com o Serviço Militar, idoneidade moral,
prestar o compromisso, prestar o exame da Ordem.
O cancelamento pode ser por requerimento (exclusão), caso de falecimento, passar a exercer
em definitivo atividades incompatíveis, perder qualquer dos requisitos necessários para a
inscrição.
Antes da função técnica a advocacia exerce uma função social.
Três são os fins da advocacia:
1. Descobrir o direito do cliente e promover a sua eficácia e concreção;
2. Colaborar com o Poder Judiciário na composição dos litígios e na aplicação do Direito;
3. Cooperar com a efetividade da ordem jurídica na comunidade.

Código de Ética da OAB

É um conjunto de normas éticas referentes ao advogado. Disciplina o aspecto jurídico da


profissão.

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Divide-se em:
1. Regras deontológicas;
2. Relações com o cliente;
3. Sigilo profissional;
4. Honorários.
Para a ideia do exercício da advocacia na busca da igualdade.
Prioriza muito a ideia de independência do advogado, não só técnica, mas também
econômica, para não haver a mercantilização da profissão.
Exercer a advocacia com dignidade e independência do poder político e econômico.
Independência: Incompatibilidades, Impedimentos e Imunidades.
As incompatibilidades são aquelas hipóteses em que o advogado está impedido de exercer a
advocacia por exercer outra função jurídica. Juízes, promotores, chefes do Poder Executivo,
membros das mesas do Poder Legislativo, Secretários de Estado e do município, Ministros,
carreiras militares da ativa, função de fisco/tributos, servidores notariais, policiais.
Os impedimentos são aquelas atividades que não trazem uma incompatibilidade total para
advogar e sem algumas restrições. Não há um impedimento total e sim parcial.
As imunidades dizem que o advogado é inviolável nos seus atos e manifestações no exercício
da profissão. Se restringem ao exercício da profissão. O advogado só pode ser preso no
exercício da profissão em flagrante de crime inafiançável.
Independência técnica, não obstante hoje a independência financeira. Deve agir de acordo
com a técnica independente do salário.

DEVERES DO ADVOGADO

Podem ser de natureza institucional ou de natureza ético-profissional.


Os deveres de natureza institucional são os deveres de cumprir os fins da instituição OAB.
1. Defender a Constituição Federal de 1988;
2. Defender a ordem jurídica e o Estado Democrático de Direito;
3. Defender os Direitos Humanos e a Justiça Social;
4. Prestar assistência judiciária (advogado dativo);
5. Advogado dativo é aquele denominado pelo juiz para representar uma parte com
hipossuficiência financeira;
6. Pugnar pela rápida aplicação da justiça;
7. Contribuir para o desenvolvimento da justiça.

DEVERES ÉTICO-PROFISSIONAIS:

Referem-se mais aos aspectos éticos dos advogados com os colegas, o judiciário e os
clientes.
 Dever do sigilo profissional é tanto uma imposição legal quanto ética.
 Exercer a profissão com zelo e probidade (ética e honestidade).
 Sinceramente e veracidade no exercício da profissão.
 Respeito para com a pessoa do cliente.
 Administração do cliente. É a ideia de assumir a direção técnica dos interesses do
cliente.
 Lealdade processual. Ideia de boa-fé durante o processo.
 Prudência no exercício da profissão e da publicidade.
 Coragem e firmeza.

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ÉTICA DO ADVOGADO (continuação)

Ética do Advogado
Sigilo profissional
Publicidade
Honorários profissionais
Relações com o cliente

Existem hipóteses em que o sigilo profissional pode ser quebrado pelo advogado.
1. Quando estiver em jogo direito à vida, a honra ou defesa da pátria.
2. Quando estiver em jogo o dano à coletividade.
3. Quando o advogado for atacado pelo próprio cliente e para constituir sua defesa tenha
de quebrar o sigilo.
4. Quando autorizado pelo cliente mediante prévio acordo.

Publicidade

1. Deve ser meramente informativo. Deve ser discreto e moderado.


2. É vedado a divulgação do escritório em conjunto com qualquer outro serviço.
3. A propaganda do escritório deve ser restrita a algumas informações:
4. Deve constar apenas nome e não da OAB e títulos que detenha.
5. Não podem ter mencionadas funções públicas que ele tenha exercido.
6. Não pode utilizar símbolos oficiais.
7. A propaganda só pode ser em mídia impressa e internet, não podendo ser em rádio e
em televisão.
8. É vedado o uso de propaganda em outdoor.
9. A aparição de advogados em televisão e rádio deve ser apenas para informar a
população. Deve evitar comentar ações em que ele seja advogado, para que não haja
a promoção pessoal.
10. O uso da mala direta só pode ser utilizado para a informação de mudança de endereço.
11. Mala direta – os e-mails são enviados para uma série de pessoas, como se fosse
spam.

Honorários profissionais

Podem ser convencionais ou sucumbenciais.


Serão convencionais quando houver acordo prévio com o cliente. Sucumbenciais são os que
dependem do valor da causa no final da ação.
Os encargos durante o processo devem estar disciplinados no contrato.
Deve-se delimitar o valor dos honorários no contrato.

Critérios para a fixação dos honorários:

1. Relevância, vulto, complexidade e dificuldades das questões.


2. Condição econômica do cliente e o proveito que ele vai ter com aquela causa.
3. O caráter da intervenção. Se é avulso (para uma ação só) ou se é contrato permanente
(para possíveis e várias ações).
4. Se o lugar da prestação é fora ou não do domicílio.

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Condutas reprováveis referentes aos honorários:

1. Não se admite o estabelecimento de valores abusivos nem ínfimos.


2. Só se admite por contrato que seja acrescido uma para de sucumbência ou convencional.
3. Recebimento de pagamento em bens.
4. Cessão de direito entre cliente e advogado (compra de causa);
5. Celebração de convênio para patrocínio de causas. É patrocinar um grande número de
causas para reduzir o valor. Isso é concorrência desleal.

Observações que estão no Estatuto e não no Código de Ética:

1. A cobrança dos honorários será feita 1/3 na proposição da ação, 1/3 quando da sentença
de primeiro grau e 1/3 no final da ação, salvo disposição em contrário.
2. Os honorários, quando fixados em sentença, podem se executados autonomamente pelo
advogado.
3. Tanto o contrato de honorário quanto o própria sentença se constituem crédito privilegiado
(título de crédito judicial e extrajudicial).

Súmula STJ 201 – Os honorários advocatícios não podem ser fixados em salários mínimos.
Aos honorários sucumbenciais o Código de Processo Civil estabelece que deve ser uma valor
entre 10 a 20% do valor da condenação.
Exceções do artigo do CPC: causas de pequeno valor, causas de valor inestimável, causas
em que for vencida a fazenda pública.
A prescrição da ação de honorários é de cinco anos.

Relação com os clientes

1. Dever de informação. O advogado deve dar todas as informações ao cliente.


2. A procuração e o direito que dela decorre cessarão ou com a conclusão da causa ou com o
arquivamento.
3. Se o cliente já tiver advogado e pede para outro assumir a causa esse deve conversar com
o advogado que já está constituído.
4. A revogação da procuração não isenta o cliente do pagamento dos honorários.
5. Se um cliente contrata uma sociedade de advogados a procuração deve vir em nome de
cada um dos sócios que vão patrocinar sua causa.
Advogados que sejam da mesma sociedade não podem patrocinar interesses de partes
contrárias. Não pode patrocinar interesses de autor e réu ao mesmo tempo.
6. O advogado não pode ser patrono e preposto na mesma ação.
7. Se o estabelecimento for com reserva de poderes, deve ser previamente estabelecida a
questão dos honorários.
O substabelecimento, se for reserva de poderes, deve ser previamente estabelecido a
questão dos honorários.
O substabelecimento com reserva de poderes deve ser previamente informado pelo cliente.

ÉTICA DO ADVOGADO (continuação)

Tribunal de Ética e Disciplina (procedimento);


Ética do advogado: consigo mesmo, com os colegas, com o juiz, com o Ministério Público e
com os auxiliares da Justiça.

Se essas regras do Código de Ética forem descumpridas serão aplicadas penalidades aos
advogados.

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O Tribunal de Ética da Bahia é composto por duas câmaras. As competências dos Tribunais
de Ética é processar e julgar os processos; responder as consultas, a forma de proceder no
exercício da profissão, mediar e conciliar.
Questões que envolvam: dúvidas e pendências com outro, partilha de honorários; e
diferenças que surjam numa dissolução de sociedade; tem responsabilidade para organizar
cursos.
(O procedimento todos os prazos são em 15 dias).

A Instauração do processo disciplinar

Se a infração for pequena, o tribunal pode suspender a penalidade, sendo que o advogado
deve frequentar um curso de Ética.
Do processo disciplinar cabe revisão.
Há um foro privilegiado.
Lei 8.906/1994
Referente a este. O procedimento é o mesmo do Código do Processo Penal.
Pena de exclusão do advogado da Ordem é por infrações graves ou 3 vezes de reincidência.
Além da pena máxima que é a exclusão, há a pena de multa cumulando com a censura ou
advertência.
Admite-se a reabilitação se durante um ano o advogado tiver um bom comportamento.
Pelo estatuto da Ordem
Prescrição: Simples (5 anos) e Intercorrente (3 anos).
O advogado pode ser preventivamente suspenso, quando suas ações causarem grande
“comoção” social. Essa suspensão não pode ultrapassar 90 dias.
O processo disciplinar é todo sigiloso.

Relações éticas do advogado

1. Consigo mesmo – cuidando na preservação de sua função. Cumprimento das exigências


legais. Uso do português correto. Evitar expressões informais, salvo quando necessário.
2. Com os colegas – Deve manter respeito, discrição e independência.
3. Com os juízes – Não há uma relação de subordinação.
4. Com o Ministério Público “Ministério Público: Advogado assistente, advogado parte
adversa, fiscal” – Não há uma relação de subordinação.
5. Com os auxiliares da justiça – Manutenção do respeito e humanidade. Não oferecer
vantagens pessoais para a realização de um serviço.
6. Com a polícia – Guardar e respeitar o caráter sigiloso do inquérito policial. Não deixar de
patrocinar o interesse dos clientes.

Ética do Procurador Público

Art. 132 Constituição Federal de 1988 – Representação e assessoramento do Estado.


- Municípios;
- Estado;
- União.

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Advogado-Geral da
União

Advogado da União Procuradoria Geral


Federal

Procuradores Federais Procuradores da


Fazenda Nacional

Representam as Execução Fiscal da


autarquias Federais União

ÉTICA DO DEFENSOR PÚBLICO

Uma vez que haja pouca possibilidade de ganho para uma entidade estatal, o procurador
público deve supervisionar e tentar acordo.
Essas empresas públicas estabelecem parâmetros para o acordo.
A questão da suspeição: O Poder Público tem a obrigação de se declarar suspeito se tiver
interesse imediato naquela causa. Essa declaração tem que ser feita por escrito e deve-se
aguardar a substituição por outro profissional.
Os honorários profissionais – A regra é que o Procurador Público receba sua remuneração
por meio dos vencimentos diante do Estado, não tendo direito aos honorários e sucumbências
provenientes da causa que ganhou, vai para os cofres do Estado. Só que existem exceções.
No caso dos procuradores dos municípios (como Salvador-BA) de todas as ações em que o
município é vencedor é somado o valor e dividido entre os procuradores.
Se o procurador público causar algum prejuízo, dano, no exercício da profissão ao erário
público, à entidade para a qual trabalha, se houver negligência, erro dele, então há aí o dever
de indenizar.
Os Procuradores Públicos são funcionários públicos e estão sujeitos a todo o regulamento da
administração pública.

ÉTICA DOS DEFENSORES PÚBLICOS

A defensoria pública está prevista no artigo 134 da CF:

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do


Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos
necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV.)

§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito


Federal e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos
Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso
público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da
inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições
institucionais. (Renumerado pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

§ 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e


administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites
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estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação ao disposto no art.


99, § 2º. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Está como instituição essencial à justiça e tem como objetivo principal participar como
defensor, assistente, patrocina judicialmente as causas de quem não tem condição financeira.
A defensoria pública ainda está em expansão. Com a EC/45 a Defensoria pública ganhou
autonomia funcional, administrativa e a possibilidade de preparar seu próprio orçamento. À
medida que se foram organizando as funções da justiça, viu-se que haveria de desenvolver
esse órgão.
É um instituto que está em expansão. Com a EC/45, a Defensoria pública ganhou autonomia.
Há a promessa de se equipar em vencimento aos promotores e juízes.
No que se refere à questão ética, deve-se partir do pressuposto de que não pode se recusar a
patrocinar a causa de ninguém, claro que priorizando o atendimento dos necessitados.
O defensor deve ter consciência de que as demandas que chegam até a defensoria pública
não são só judiciais, mas também sociais, de apoio.
O defensor público não deve perder a noção de celeridade, eficiência.
A legislação dos defensores federais é a LC 80/94. Depois dessa lei complementar 80/94, os
defensores ficaram proibidos de advogar privativamente.

ÉTICA DOS MAGISTRADOS

O Juiz deve trabalhar com imparcialidade. Claro que o juiz não é neutro, o que ele carrega de
suas vivências, de alguma forma, será levado para o exercício da profissão, mas a ideia é a
de se buscar ao máximo tentar ser imparcial.
ATO HUMANISTA – O juiz não pode perder a noção de que se auto-direciona para a
sociedade. Deve ser humano, pois o patrimônio de alguém vai ser.
IDÉIA DA PERSONIFICAÇÃO DA JUSTIÇA – Criou-se o código de Ética da Magistratura
Nacional, que é de 2008 e só veio com o CNJ (órgão regulador do ato judicial).
A LOMAN - Lei Orgânica da Magistratura Nacional - traz uma série de infrações, mas não
tinha normas de caráter ético e o CNJ tentou suprir essa lacuna com o Código de Ética.
- Comportamento compatível com o ato;
- Proceder com dignidade;
- Atender aos princípios positivados.
O Código de Ética não traz previsão de punição em razão da infração ética, aí terá de se
recorrer à LOMAN. Ela é de 1976, ainda da época da ditadura, então tem alguns dispositivos
totalmente descabidos. Há uma necessidade de se renovar a Lei Orgânica da Magistratura
Nacional.
Da ética dos juízes podemos estabelecer duas linhas de fundamentação ética. Uma linha
constitucional e a outra legal.
A Constituição Federal, no art. 93 traz uma série de exigências a serem cumpridas pelo juiz.
Ele também tem fundamento ético.

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto
da Magistratura, observados os seguintes princípios:
I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, mediante concurso público de
provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases,
exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se,
nas nomeações, à ordem de classificação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de
2004)
II - promoção de entrância para entrância, alternadamente, por antigüidade e merecimento,
atendidas as seguintes normas:
a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes consecutivas ou cinco alternadas
em lista de merecimento;

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b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício na respectiva entrância e


integrar o juiz a primeira quinta parte da lista de antigüidade desta, salvo se não houver com tais
requisitos quem aceite o lugar vago;
c) aferição do merecimento conforme o desempenho e pelos critérios objetivos de produtividade
e presteza no exercício da jurisdição e pela freqüência e aproveitamento em cursos oficiais ou
reconhecidos de aperfeiçoamento; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
d) na apuração de antigüidade, o tribunal somente poderá recusar o juiz mais antigo pelo voto
fundamentado de dois terços de seus membros, conforme procedimento próprio, e assegurada
ampla defesa, repetindo-se a votação até fixar-se a indicação; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder além do prazo
legal, não podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho ou decisão; (Incluída pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
III o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por antigüidade e merecimento,
alternadamente, apurados na última ou única entrância; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
IV previsão de cursos oficiais de preparação, aperfeiçoamento e promoção de magistrados,
constituindo etapa obrigatória do processo de vitaliciamento a participação em curso oficial ou
reconhecido por escola nacional de formação e aperfeiçoamento de magistrados; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
V - os vencimentos dos magistrados serão fixados com diferença não superior a dez por cento
de uma para outra das categorias da carreira, não podendo, a título nenhum, exceder os dos
Ministros do Supremo Tribunal Federal;
V - o subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores corresponderá a noventa e cinco por cento
do subsídio mensal fixado para os Ministros do Supremo Tribunal Federal e os subsídios dos
demais magistrados serão fixados em lei e escalonados, em nível federal e estadual, conforme
as respectivas categorias da estrutura judiciária nacional, não podendo a diferença entre uma e
outra ser superior a dez por cento ou inferior a cinco por cento, nem exceder a noventa e cinco
por cento do subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais Superiores, obedecido, em qualquer
caso, o disposto nos arts. 37, XI, e 39, § 4º;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998)
VI - a aposentadoria dos magistrados e a pensão de seus dependentes observarão o disposto no
art. 40; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
VII o juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo autorização do tribunal; (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
VIII o ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do magistrado, por interesse público,
fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho
Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
45, de 2004)
VIIIA a remoção a pedido ou a permuta de magistrados de comarca de igual entrância atenderá,
no que couber, ao disposto nas alíneas a , b , c e e do inciso II; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas
as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às
próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
X as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em sessão pública, sendo as
disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
XI nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores, poderá ser constituído órgão
especial, com o mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco membros, para o exercício das
atribuições administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno,
provendo-se metade das vagas por antigüidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

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XII a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado férias coletivas nos juízos e tribunais
de segundo grau, funcionando, nos dias em que não houver expediente forense normal, juízes
em plantão permanente; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
XIII o número de juízes na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva demanda judicial e à
respectiva população; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
XIV os servidores receberão delegação para a prática de atos de administração e atos de mero
expediente sem caráter decisório; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
XV a distribuição de processos será imediata, em todos os graus de jurisdição. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Vamos ver alguns que decorrem do artigo 93 e outros que não:


- Exigência de 3 anos para o ingresso na magistratura. Veio com a EC/45.
- Não é que o juiz tenha que ter passado por tudo, mas tem que ter alguma maturidade
(mínima) para o exercício da profissão.
- Ascensão na carreira por merecimento e antiguidade: sofreu algumas modificações com a
EC/45.
- MERECIMENTO – Presteza, produtividade, frequência e aproveitamento.
- O dever de residir na comarca – se justifica não só pela ideia de ter o juiz sempre ao acesso,
como também de o juiz viver a realidade social que estará direcionado, designado, a julgar.
Agora já se pode por autorização conseguir morar em uma cidade vizinha.
- Dever de dedicação exclusiva – A ele é proibido exercer qualquer outro ato, exceto o de
magistério.
O juiz tem que se dedicar unicamente à realização da justiça.
- Dever de desinteresse – É o juiz quem deve procurar manter a igualdade na apreciação das
causas.
- Dever de abstenção política – O político se legitima por voto, o juiz não, ele ingressa por
mérito e só no exercício da magistratura adquire legitimidade. O próprio juiz é um agente
político.
- Dever de abstenção profissional – É uma previsão recente. Refere-se à questão da
quarentena. Deve o juiz permanecer por 3 anos sem advogar no juízo onde era magistrado. E
ele pedir exoneração também.

- Ética e Filosofia;
- Ética e Psicologia;
- Psicologismo Ético;
- Ética e Sociologia;
- Ética e Antropologia;
- Ética e História;
- Ética e Economia.

RELAÇÃO DA ÉTICA COM A FILOSOFIA – A ética é parte da filosofia e estaria na parte que
reflete o que o homem deve fazer e o que ele deve ser. Reflexão sobre a forma de ser.
A ética é um campo de estudo de permanente reflexão, estaria acima da ciência porque
reflete sobre a ciência. A ética é, então, uma parte da filosofia. Construção do comportamento
moral do homem.

RELAÇÃO DA ÉTICA COM A PSICOLOGIA – Para uma compreensão moral do homem é


também necessário ter uma compreensão do que o motiva. A psicologia auxilia a ética a
conhecer a personalidade e o caráter do agente.

“Criminologia – Interface entre o Direito Penal e a Psicologia”;

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PSICOLOGISMO ÉTICO – Imaginar que a psicologia pode responder todas as


questões éticas. A ética não se reduz à psicologia (sem o contrário). O campo moral passa
pelo psíquico, mas não se reduz ao psíquico, somente.

RELAÇÃO DA ÉTICA COM A SOCIOLOGIA – Conhecer a relação do homem na sociedade.


Embora a ética seja individual, é preciso ver o homem inserido na sociedade para constatar
se é ou não um ser ético.
Se a opção moral de uma pessoa é exclusivamente individual? Claro que não. A opção moral
se coaduna com as convenções que são socialmente aceitas e conduzidas.
As regras de convivência na sociedade são determinantes para se convencionar os padrões
morais que possibilitam a vida na sociedade.

RELAÇÃO DA ÉTICA COM A ANTROPOLOGIA – A antropologia auxilia a compreender o elo


de desenvolvimento do homem. Melhorar e reavaliar o perfil de conduta ética. Uma das
perguntas da antropologia é saber o que é o homem. A noção de cultura é, também, algo que
se estuda na antropologia e é necessário para a Ética.
A antropologia estuda sociedades primitivas ou sociedades antigas.
Ideia de normas morais atemporais. A partir do estudo antropológico há o estudo de normas
que sejam morais e universais.

RELAÇÃO DA ÉTICA COM A HISTÓRIA – A história trabalha com a sucessão dos fatos no
tempo. Entender a moral de hoje não é só entender o hoje. A história auxilia para que a ética
não tenha uma visão absolutista. A história possibilita o progresso moral. Os registros
históricos fazem com que entendamos o patrimonialismo, a ideia do “jeitinho brasileiro”, a
divisão entre o público e o privado, etc.

RELAÇÃO DA ÉTICA COM A ECONOMIA – “O dinheiro como fundamento pelo mundo” é


uma ideia não aceita pela ética. A necessidade de ganhar dinheiro não pode comandar as
ações morais do ser humano.
Não aceita a ideia do consumismo.
Da relação da ética com a economia, vê-se a ideia de humanização da economia. Uma
economia que não esteja voltada unicamente para a obtenção de riqueza, mas também para
a satisfação das necessidades da sociedade.

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