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FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA DA UFBA - FCHFUFBA
CONTEÚDO DO CADERNO DE CONTROLE SOCIAL E SEGURANÇA – 2009.2
Muito se discute hoje sobre o que pode ser feito em face da onda de criminalidade que vem
assolando o Brasil. O crime é um fenômeno complexo e plurifatorial. A Criminologia moderna
estendeu o foco inicial do estudo do fenômeno criminal (centrado inicialmente no crime e no
delinqüente) e hoje trabalha com quatro pilares básicos: crime, delinqüente, vítima e o controle
social. Chegou-se a conclusão que para conhecer melhor o fenômeno criminal seria
necessário, além de estudar o crime e a figura do delinqüente, trazer para as investigações
científicas a pessoa da vítima e os mecanismos que a sociedade utiliza para controlar a
criminalidade.
O controle informal é o do dia-a-dia das pessoas dentro de suas famílias, escola, profissão,
opinião pública etc. A imensa maioria da população não delinqüe, pois sucumbe ás barreiras
desse primeiro controle. O sistema informal vai socializando a pessoa desde a sua infância (ex:
âmbito familiar), e ele é, em geral, sutil e não possui uma pena, além de ser mais ágil na
resolução dos conflitos que os mecanismos públicos. O desprezo social (ex: a punição informal
com o afastamento das amizades ou de alguns membros da própria família) são sanções que
para a grande maioria são mais que suficientes para inibir a prática de um crime.
Como segundo obstáculo para a prática do delito temos os controles formais, exercidos pelos
diversos órgãos públicos que atuam na esfera criminal, como as polícias, Ministério Público,
sistema penitenciário etc. Aquelas pessoas que não respeitam as regras sociais e cometem
uma infração criminal passam a serem controladas por essas instâncias, bem mais agressivas
e repressoras que as instâncias informais.
O aumento da repressão do sistema formal não significa que automaticamente irá ocorrer a
redução dos índices de criminalidade. O sistema só funciona corretamente com uma melhor
distribuição de funções entre os mecanismos informais e formais no controle da criminalidade.
O que existe hoje é um excesso de atribuições para demover as pessoas à não cometerem
delitos sobrecarregando o sistema de controle formal. Isso fica patente quando se aprova uma
lei penal desproporcionalmente severa e o resultado prático é nulo, continuando a espécie de
delito tratado pela nova lei penal a ser praticado na mesma velocidade pelos infratores.
A família é uma peça fundamental nesse intricado problema. Uma família desestruturada pode
gerar adultos problemáticos para enfrentar a complexidade da convivência social,
aproximando-os das drogas e do alcoolismo desenfreado, o que possibilita o aparecimento de
oportunidades para a prática de delitos. Nesse contexto, a aplicação efetiva das normas de
proteção de crianças e adolescentes da Lei Federal 8069/90, com o acompanhamento de
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Enfim, com a integração dos controles sociais, informal (prévio) e formal (posterior-estatal),
com uma equilibrada divisão dessas missões, ocorrerá uma importante contribuição para se
reduzir os índices de criminalidade de forma mais eficiente.
- Dilemas de ordem judiciária, criminal e moral são postos a partir da figura do “monstro”;
- Critérios para que um comportamento seja instintivo – Deve ser igual a todos os indivíduos da
mesma espécie; É algo que não precisa ser ensinado e está intrínseco geneticamente;
- Esterótipo da criminalidade;
- “O Brasil não é para principiantes” – Roberto Mata.
- Recomendação de Leitura – “História das Prisões, coletânea de artigos”; “Os Anormais”, de
Michel Foucault; “Vigiar e Punir, de Michel Foucault”; “As regras do Método Sociológico” –
Émile Durkheim.
TIPOS PUROS DE
DOMINAÇÃO
LEGÍTIMA (WEBER)
Segundo Goffman, toda instituição absorve parte do tempo e do interesse dos seus membros,
lhes proporcionando, de certa forma, um mundo particular, tendo sempre uma tendência
absorvente. Quando essa tendência se exacerba nos encontramos diante das chamadas
instituições totais.
A tendência absorvente ou totalizadora está simbolizada pelos obstáculos que se opõem à
interação social com o exterior e ao êxodo de seus membros que, geralmente, adquirem forma
material: portas fechadas, muros armados, alambrados, rios, bosques, pântanos e outros.
Desta definição extraímos os seguintes elementos que constituem uma instituição total:
a) Um local de residência e trabalho;
b) A presença de um grande número de indivíduos em situação semelhante;
c) A separação desses indivíduos, por um considerável período de tempo, da sociedade mais
ampla;
d) O confinamento a uma vida formalmente administrada.
As principais características da instituição total são as seguintes:
1 – Todos os aspectos da vida desenvolvem-se no mesmo local e sob o comando de uma
única autoridade;
2 – Todas as atividades diárias são realizadas na companhia imediata de outras pessoas, a
quem se dispensa o mesmo tratamento e de quem se exige que façam juntas as mesmas
coisas;
3 – Todas as atividades diárias encontram-se estritamente programadas, de maneira que a
realização de uma conduz diretamente à realização de outra, impondo uma seqüência rotineira
de atividades através de normas formais explícitas e de um corpo de funcionários;
4 – As diversas atividades obrigatórias encontram-se integradas em um só plano racional,
cujos propósitos são conseguir os objetivos próprios da instituição.
Segundo Goffman, as instituições podem ser enumeradas das seguintes maneiras: Instituições
criadas para cuidar de pessoas incapazes e inofensivas (casas para cegos, velhos, órfãos e
indigentes); Locais estabelecidos para cuidar de pessoas consideradas incapazes de cuidar de
si mesmas; Instituições estabelecidas com a intenção de realizar de modo mais adequado
alguma tarefa de trabalho, e que se justificam apenas através de tais fundamentos (quartéis,
navios, escolas internas, campos de trabalho, colônias e grandes mansões); Estabelecimentos
destinados a servir de refúgio do mundo, embora muitas vezes sirvam também como locais de
instrução para os religiosos (abadias, mosteiros, conventos, entre outros).
O Mundo do Internado
- “Mortificação do Eu”;
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- Quando o internado chega ao Hospital, ele sofre um processo de “mortificação do eu” que
suprime a “concepção de si mesmo” e a “cultura aparente” que traz consigo, formados na vida
familiar e civil. Tal mortificação decorre:
1 – Do “despojamento” de seu papel na vida civil pela imposição de barreiras no contrato com o
mundo externo;
2 – Do “enquadramento” pela imposição das regras de conduta;
3 – Do “despojamento de bens” que o faz perder seu conjunto de identidade e segurança
pessoal;
4 – Da “exposição contaminadora” através da elaboração de um dossiê que viola a reserva de
informação sobre o seu eu. Esse mecanismo causa o “desequilíbrio do eu”, uma vez que
profana as ações, a autonomia e a liberdade de ação do internado;
- “Reorganização do Eu” – Concomitantemente ao processo de mortificação do eu, ocorrem os
mecanismos de reorganização pessoal que representam instruções formais e informais de
reestruturação do eu.
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- As pessoas estão mais preocupadas com os riscos do que com as soluções para a
criminalidade;
- “Ideologia, eu quero uma pra viver” – Cazuza;
- Ontologia de “o que significa segurança”;
- “Segurança é uma sensação intersubjetiva” – L. Cláudio L.;
- O mundo contemporâneo contribui para a sensação de insegurança;
- Problemas no Pelourinho, mesmo com a implantação de câmeras de segurança;
- Mundo contemporâneo comparado com a perspectiva européia;
- Mudanças constantes na sociedade moderna que sem sempre correspondem às perspectivas
dos indivíduos;
- É politicamente incorreto se manifestar contra as crenças e atitudes culturais das demais
pessoas, no contexto da sociedade atual moderna;
- “Até aqueles que optam pela prática da „suspensão corporal‟ devem ser convenientemente
respeitados”;
- Conceito de “cimento social”, de Émile Durkheim;
- LGBTT – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais. Intolerância entre eles – e elas
– próprios (as);
- Veículos de comunicação de massas e a grande quantidade de notícias acerca da
criminalidade;
- Caso do “RPG” – Rolling Player Games – e a morte de uma menina: comentários. A partir
desse exemplo houve uma estigmatização dos jogadores desse game;
- Conflitos por igualdade, respeito, tolerância, aceitação;
- Ingenuidade causada pelo materialismo: as pessoas, em São Paulo, ao serem questionadas
o que desejariam, poderiam dizer que o sonho é uma TV de plasma, cruzeiro, carro importado,
e não o de encontrar a paz interior;
- Situação dos jovens nos guetos norte-americanos;
- “American way of life” – Poucas pessoas conseguem conquistar esse sonho;
- Recomendações de leitura: “Prisões da Miséria”, de Löic Wacquant; “Sociedade dos Cativos”;
“Cemitério dos Vivos”, de Julita Lemgruber;
- “Laissez Faire” moral – “tudo pode”;
- Grupos inteiros são estigmatizados quando um integrante único faz algo em contrário à lei;
- O mundo contemporâneo é aquele da criminalização e da culpabilização do outro;
- “Torcidas organizadas” e crimes de torcidas;
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- PREFÁCIO;
- 1976 X 1997: Mudanças conjunturais;
- Em 1976, 53 % da população da Talavera Bruce estava detida pela prática de furtos e roubos;
- Redução do índice de homicídios sugere redução no nível de violência doméstica;
- Discrepância entre número de homens (29%) e de mulheres condenadas por tráfico de
drogas deve-se à posição que as mulheres ocupam na estrutura do tráfico de drogas;
- PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO;
- Número de Estrangeiros passa de 1% para 11%, devido ao crescimento do tráfico
internacional de drogas;
- Já não temos mais presos políticos;
- Alterações na estrutura do Departamento do Sistema Penitenciário: novos presídios femininos
e alas em hospitais psiquiátricos;
- Recomendação de Obra Fílmica: Reportagem no “Profissão Repórter” sobre presídios;
- Em 1976 o Estado do Rio de Janeiro tinha dentro de sua população carcerária 96,5% de
homens e 3,5% de mulheres;
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- CAPÍTULO 1 DA OBRA:
- A autora se propõe a interpretar o universo prisional e sua organização social a partir do
discurso dos presos;
- Discrepância entre o que é relatado e o que é observado: os “segredos dos bastidores
(Goffman)”;
- CAPÍTULO 2 DA OBRA:
- “... Este é um forte destinado a manter o inimigo dentro, e não fora”;
- “... ao observar a cela, pode-se predizer se é ocupada por uma recém-chegada ou por uma
interna antiga”;
- As crianças: “transposição do estigma” e “extensão da pena”;
- CAPÍTULO 3 DA OBRA:
- Representação negativa dos guardas;
- Influências do ambiente prisional sobre o comportamento dos guardas: experiência realizada
por Philip Zimbardo;
- “Conflito de papéis” (vigiar, punir, reeducar);
- Tratamento diferenciado para com algumas internas;
- “A gente tem que lembrar que muitas caíram aqui por circunstâncias da vida, há, no entanto,
outras que são irrecuperáveis”. (p. 88);
- Lealdade entre guarda e interna: a “madrinha” e a “afilhada”;
- CAPÍTULO 4 DA OBRA:
- Da privação à adaptação;
- “Preso é inimigo de preso”;
- Modos de adaptação: Afastamento psicológico, rebelião, colonização, envolvimento
homossexual;
- CAPÍTULO 5 DA OBRA:
- O “homossexualismo” na visão do corpo de guardas e das presas;
- Número de presas envolvidas na prática homossexual: 50% (dessas, 25% mantêm relações
duradouras);
- Distintos níveis de repressão ao “homossexualismo” em prisões masculinas e femininas;
- Os papéis que organizam a prática homossexual: “guria”, “fanchona” e “meeira”;
- Locais de encontro e a “cobertura”;
- O temor de ser acusada de homossexual impede que a presa desenvolva verdadeiras
relações de amizade;
- CAPÍTULO 6 DA OBRA:
- O trabalho;
- “... As normas legais são claras mas, na verdade, pouco respeitadas”;
- O trabalho como pílula do tempo;
- CONCLUSÕES
- História da pena de prisão;
- Os objetivos formais da prisão e seu fracasso;
- A ressocialização / ação pedagógica;
- Evitar a reincidência;
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“[...] Pode-se dizer que no caso dos internos do Talavera Bruce estamos diante do não-cidadão
por excelência: são criminosas, mulheres, em sua grande maioria de cor de provenientes dos
estratos mais baixos da população (p. 162)”.
Balada do Cárcere
Com barras turvam a graciosa lua, e cegam o prazeroso sol,
E procedem bem em ocultar seu Inferno, porque neles fazem coisas,
Que o Filho de Deus e o filho do homem jamais deveriam ver.
Oscar Wilde