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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – FDUFBA
CONTEÚDO DO CADERNO DE SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES – 2009.1

Assuntos de Sociologia das Organizações

RECOMENDAÇÕES DE LEITURA:
- “Educar pela Pesquisa”, de Pedro Demo;
- “As Regras do Método Sociológico”, de Émile Durkheim;
- “A Sociedade Contra o Estado”, de Pierre Clastres, Capítulos I e XI.
- “O Príncipe”, de Maquiavel;
- “Dicionário de Sociologia”, de Allan Johnson J.Z.E.;
- “Introdução à Sociologia”, de Tom Bottomore e Jorge Zarated;
- “Dicionário de Política”, de Norberto Bobbio e parcerias;
- Obras que abordam o tema Introdução à Sociologia.

CIÊNCIAS SOCIAIS
1. CONDIÇÕES CONSTITUITIVAS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
- FILOSOFIA POLÍTICA
- FILOSOFIA DA HISTÓRIA
a) MODERNIDADE
b) PROBLEMAS SOCIAIS
c) PLANEJAMENTO
d) CIENTIFIZAÇÃO DO CONHECIMENTO

FATORES RELACIONADOS
 RUPTURA CIVILIZACIONAL
 REFORMA PROTESTANTE
 GRANDES NAVEGAÇÕES
 RENASCIMENTO
 PROTO-CIÊNCIA PRÉ-MODERNA (ALQUIMISMO)
 ILUMINISMO
 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL/CAPITALISMO
2. CARACTERÍSTICAS INICIAIS DA SOCIOLOGIA
a) ADOÇÃO DO MODELO DAS CIÊNCIAS NATURAIS
b) POSITIVISMO CIENTÍFICO
c) ETNOCENTRISMO
COMUNIDADE X SOCIEDADE DE MASSAS
ESTATUTO DE CIENTIFICIDADE PARA A SOCIOLOGIA

 AS DIVERSAS FORMAS DE SE ATINGIR A COMPREENSÃO DO COMPORTAMENTO


SOCIAL

- RECOMENDAÇÃO DE LEITURA: “Um discurso sobre as ciências”, de Boaventura de Sousa


Santos.

DELIMITAÇÕES EPISTÊMICAS

EPISTEMOLOGIA – Condições de sustentação, de embasamento de uma ciência. Segundo o


Aurélio: Estudo Crítico dos princípios, hipóteses e resultados das ciências já constituídas; teoria
da ciência.
 ONDE HÁ SOCIEDADE, HÁ DIREITO.
 ABORDAGEM DE DIVERSAS FORMAS, DE DIVERSOS CONTEÚDOS.
 FENÔMENO HISTÓRICO VINCULADO A INTERESSES ECONÔMICOS, CULTURAIS,
RELIGIOSOS, POLÍTICOS, SEXUAIS, RACIONAIS, GERACIONAIS, ENTRE OUTROS.

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 DIREITO É UM FENÔMENO MULTIDIMENSIONAL: FATO, VALOR E NORMA.


 PARA HANS KELSEN, CONTUDO, DIREITO CONSTITUI-SE UNICAMENTE DA
NORMA.

PROPOSTA POSITIVISTA PARA O ESTUDO DO DIREITO

PARA O POSITIVISMO – Segundo o Novo Aurélio: Conjunto de doutrinas de August Comte


(1798-1875), que atribuem à Constituição e ao processo da ciência positiva importância capital
para o progresso do conhecimento – o Direito deve ser dividido em três partes antes de ser
estudado.

DIREITO

FATO VALOR NORMA


Sociologia Jurídica Filosofia do Direito Teoria Geral do Direito

 O ESTUDO DO DIREITO REQUER CONHECIMENTO SOBRE A SOCIEDADE E O


SEU FUNCIONAMENTO.
 O DIREITO MANIFESTA-SE COMO FATO SOCIAL.
 É PRECISO COMPREENDER A GÊNESE SOCIAL DO DIREITO, SUAS CONEXÕES
ECONÔMICA, POLÍTICAS, RELIGIOSAS, SEXUAIS, RACIAIS, ETC, BEM COMO OS
PROCESSOS SOCIAIS QUE DETERMINAM A INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO
PELAS INSTITUIÇÕES.
 MODERNIDADE, CIÊNCIA E SOCIEDADE.
 ORIGENS DA FILOSOFIA POLÍTICA.

ÉMILE DURKHEIM
 “É FATO SOCIAL TODA MANEIRA DE AGIR, FIXA OU NÃO, SUSCETÍVEL DE
EXERCER SOBRE O INDIVÍDUO UMA COERÇÃO EXTERIOR”, DISSE DURKHEIM.
 “OS FATOS SOCIAIS DEVEM SER TRATADOS COMO COISAS”.
 “É PRECISO AFASTAR SISTEMATICAMENTE TODAS AS PRENOÇÕES”.

KARL MARX
 “A ESTRUTURA E O DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE POSSUEM BASE
ECONÔMICA”.
 “A INFRA-ESTRUTURA ECONÔMICA (MODO DE PRODUÇÃO) DETERMINA A
SUPERESTRUTURA INSTITUCIONAL (CULTURA, RELIGIÃO, ARTES, DIREITO).
 “AS FORMAS DE PRODUÇÃO DETERMINAM A FORMA DE CONSCIÊNCIA”.

MAX WEBER
 ESCREVEU “A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO”.

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OUTROS TÓPICOS ABORDADOS


 EMPIRISMO – BACON.
 CETICISMO – DAVID HUNK.
 RACIONALISMO – DESCARTES.

CIÊNCIA
PARADIGMÁTICA
POSITIVISTA

FÍSICA DE NEWTON BIOLOGIA DE DARWIN IDEIAIS DE KANT

 A BUSCA DO FATOR ÚLTIMO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS POR KARL MARX.


 KARL MARX (1818-1883) – Karl Marx, em parte influenciado por Feurbach e em parte
por Hegel, incrementa o materialismo, tornando-o dialético e histórico, sabendo entrever
na História Humana a sucessão de regimes econômicos de exploração e de alternância
de classes dominantes. Identifica estrutura e superestrutura. Sua leitura dos métodos
capitalistas de acumulação primitiva é apuradíssima. Juntamente com Engels, consegue
dar início, bem como acompanhar, os principais movimentos dos trabalhadores do
Século XIX, ideologia engatilhada sobretudo a partir do Manifesto Comunista. Sua
doutrina traz fortes influências sobre os movimentos sociais dos Séculos XIX e XX.

- RECOMENDAÇÃO DE LEITURA: “A tumultuosa saga do criminoso nato”, de Pierre Darmon;


“Cinco Desafios à Imaginação Sociológica”, de Boaventura de Sousa Santos.

 NATURWISSENSCHAFTEN – Ciência da Natureza;


 GEISTESWISSENSCHAFTEN – Ciência do Espírito;
 ESTUDO DOS OBJETOS:
- IDEAIS – Apreensíveis pela dedução, unicamente. Por exemplo, o triângulo equilátero;
- NATURAIS – Se dá a apreensão pela via da indução. Existência física, no mundo
concreto.
- CULTURAIS – Não podem ser apreendidos. Devem ser abordados por procedimento
dialético. Não cabe descrição, mas compreensão. Não cabe neutralidade axiológica.
- METAFÍSICOS – Não cognoscíveis. É preciso conhecer de forma sistemática. Por
exemplo, Deus, Alma, Espírito.
 DIREITO – Instrumento de controle social. É aquilo que é eficaz socialmente.
 A legitimidade, a ética e a justiça não existem na análise sociológica positivista, pois ela
se baseia unicamente em descrever os fatos.
 REALISMO JURÍDICO – Escola que diz que não adianta discutir a realidade da norma,
mas unicamente ver o que é eficaz.
 Fundamentos iniciais da Sociologia Positivista.
 Controle Social e Formas Estatais da Gênese do Direito.
 SOCIOLOGIA JURÍDICA (Positivista) – SOCIOLOGIA DO DIREITO (Pós-positivista).
 O DEBATE sobre a definição de sociologia jurídica enquanto campo autônomo do saber
científico ainda está em aberto;

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 FUNDADORES DA ATUAL SOCIOLOGIA DO DIREITO.

SEMINÁRIOS (Recortes temáticos dos grupos):

1. Criança e Adolescente: Medidas Sócio-Educativas no Estado da Bahia;


2. Reforma Agrária: Política Estadual de Reforma Agrária do Governo Wagner;
3. Desenvolvimento Urbano: PDDU de Salvador-BA e as políticas de transporte e habitação;
4. Acesso à Justiça: Poder Judiciário – O Poder Judiciário Baiano segundo o CNJ;
5. Bioética e Direito: A questão do abortamento no Brasil;
6. Desigualdades raciais: Racismo no mercado de trabalho em Salvador e RMS;
7. Intolerância: Criminação contra as religiões de matrizes africanas na Bahia;
8. Acesso à Justiça (MPE): Atuação na Proteção ao Meio Ambiente;
9. Relações de Gênero: Política do Governo Wagner para a promoção da igualdade de gênero;
10. Orientação Sexual: Crime de Homofobia na Bahia;
11. Segurança Pública: Homicídios em Salvador e RMS.

CAPÍTULO VI DO LIVRO “DARWIN E O DARWINISMO”, DE DENIS BUICAN, COLEÇÃO


CULTURA CONTEMPORÂNEA, JORGE ZAHAR EDITOR: DARWINISMO SOCIAL,
EUGENISMO E SOCIOBIOLOGIA

- Por darwinismo social deve-se entender a extensão à sociedade humana de certas noções do
darwinismo geral;
- Darwin é também um dos fundadores do darwinismo social. É necessário analisá-lo com a
necessária prudência e todo o rigor, sobretudo devido às implicações políticas e ideológicas;
- O darwinismo social implica uma doutrina seletiva, baseada sobre a luta pela existência,
característica para todas as espécies biológicas, inclusive o homem;
- O neolamarckismo social indica que, a partir da influência do meio sobre a hereditariedade,
há o desejo de melhorar a espécie e a sociedade humanas. Ele, quando defendido por
experiências falsificadas, conduziu às aberrações do “darwinismo criador soviético” que queria
obter um homem compatível com os dogmas do materialismo dialético e histórico;
- Em nosso século, o darwinismo social, com a eugenia e a sociobiologia, prevaleceu contra o
neolamarckismo social, que se tornou um simples vestígio histórico;
- A eugenia é uma teoria cujo fundador é Francis Galton (1822-1911), primo de Darwin; ela se
refere ao melhoramento da espécie humana a partir de bases biológicas, como acontece na
seleção artificial das plantas cultivadas e dos animais domésticos;
- O eugenismo é considerado como a parte filosófica e política, elaborada a partir da eugenia;
- O eugenismo, e através dele a eugenia, foi desconsiderado após a Segunda Guerra Mundial,
por causa das aplicações criminosas e abusivas que dele fez o nazismo, doutrina que militava
a favor de uma mitologia do “ariano”, desprovida de base científica;
- Do ponto de vista prático, a eugenia, tomando como ponto de partida a seleção artificial,
adota os dois métodos preconizados por esta: a eugenia negativa, que afasta da reprodução os
possuidores dos genes desfavoráveis e a eugenia positiva, que favorece a reprodução dos
indivíduos, cujo patrimônio genético é portador de genes vantajosos;
- Como exemplo de eugenia negativa, pode-se mencionar o aborto por razões médicas,
legítimo, no caso de mongolismo e outras doenças encontradas no feto humano, nos países
como a França;
- Quanto à eugenia positiva, o exemplo mais notável é o banco de esperma dos prêmios Nobel,
aberto nos Estados Unidos às mulheres desejosas de ter para seus filhos esses pais, graças à
inseminação artificial;
- A eugenia negativa, voluntariamente aplicada, poderia evitar sofrimentos suplementares aos
homens. Contudo, é preciso usar com prudência, para impedir eventuais abusos familiares ou

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políticos. Ademais, a eugenia pode adquirir uma força excepcional no século do gênio e da
manipulação genética: cabe às leis do futuro, para evitar eventuais abusos, canalizá-la,
usando, se possível, para os interesses mais elevados do homem, da humanidade e da nossa
biosfera;
- A sociobiologia representa uma teoria de síntese que, partindo do darwinismo e do
neodarwinismo, leva em conta os conhecimentos da etologia e da genética atual;
- A sociobiologia é acusada, principalmente, desde a esquerda marxista até a direito clerical, de
um imperialismo biológico e de um reducionismo dos fenômenos da inteligência, da
consciência e das sociedades humanas às suas raízes genéticas. De qualquer forma, é preciso
considerar a sociobiologia, como qualquer outra teoria, com todo o rigor dos critérios
científicos, mas somente em função desses critérios, sem introduzir de modo algum uma
inquisição na ciência;
- A etologia, a ciência do comportamento, reúne uma série de fatos que parecem confirmar a
sociobiologia, assim, a evolução dos comportamentos no seio das relações intra e inter-
específicas poderiam explicar a vantagem seletiva de que gozam certas categorias que se
encontram na ética humana, como, por exemplo, o egoísmo, a agressividade e o altruísmo;
- Se, em certos casos, as hipóteses da sociobiologia parecem plausíveis, em outros, parecem
demasiadamente arraigadas num reducionismo biológico cientista;
- A “sociobiologia da relação”, segundo a qual “as imposições genéticas programadas, agindo
sobre o aprendizado e reveladas pela psicologia do desenvolvimento devem estar de acordo
com as principais tendências das práticas religiosas”, não parece ter fundamento científico.

CONTINUAÇÃO DOS ASSUNTOS DE SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

1. ETNOCENTRISMO MODERNO;
2. PREDESCRIÇÃO E CIÊNCIA: A IDEOLOGIA NOS ESTUDOS CIENTÍFICOS;
3. ECONOMIA DE SUBSISTÊNCIA;
4. PODER E POLÍTICA;
5. ESTADO COMO CONSTRUÇÃO HISTÓRICA;
6. KARL MARX E PIERRE CLASTRES;
7. A DEMOCRACIA: UM NOVO DETERMINISMO?!

OUTROS TÓPICOS ABORDADOS


 ESTRUTURALISMO – Lévi Strauss;
 ARQUEOLOGIA DA VIOLÊNCIA – Pierre Clastres;
 ANARQUISMO;
 MUTILAÇÃO DO CLÍTORIS EM ÁRABES;
 REPRESSÃO FEMININA DA SEXUALIDADE NAS SOCIEDADES OCIDENTAIS
CONTEMPORÂNEAS.

ANÁLISE DE DOIS TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA E DEBATE

1. USO DE CIÊNCIAS NATURAIS NA ABORDAGEM SÓCIO-HISTÓRICA;


2. REPERCUSSÃO JUNTO ÀS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS EM FORMAÇÃO DURANTE O
SÉCULO XIX;
3. ARTICULAÇÃO INTERTEXTUAL;
4. CAPACIDADE DE ARGUMENTAÇÃO PARA SUSTENTAÇÃO DE POSIÇÕES. DEVE SER
FUNDAMENTADA, MAS NÃO PRECISA SER DEFINIDA.

A TUMULTOSA SAGA DO CRIMINOSO NATO: DARMON, Pierre: médicos e assassinos na


belle époque. Tradução de Regina Grissi de Agostino. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.

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- Cesare Lombroso era um grande professor de Turin, fundador e mestre da Escola Italiana e
Antropologia Criminal, que acabara de demonstrar ao mundo atônito que todo delinqüente é
um indivíduo que carrega os estigmas atávicos de suas tendências criminosas;
- A documentação da Exposição Universal, em Paris, tinha por objetivo demonstrar a existência
de um tipo humano destinado ao crime e estigmatizado por sua formação morfológica
defeituosa;
- Na exposição os cientistas haviam trazido crânios, encéfalos, rostos de cera, cérebros,
“cerâmicas criminais”. Até mesmo um antopômetro destinado a medir as dimensões do
pavilhão da orelha e o cateterômetro, pequena obra-prima da tecnologia que permitia efetuar
nos crânios de assassinos as medições mais precisas e mais variadas em condições de luxo e
de conforto incomparáveis;
- Disciplinas voltadas para o estudo da delinqüência: antropologia criminal, biologia e etiologia
criminais, sociologia e psiquiatria criminais, medicina legal e direito penal;
- O mestre Turim construiu a teoria do criminoso nato que revolucionou a criminologia, suscitou
paixões e deu origem a um dos maiores debates de idéias do final do século. O que estava em
jogo era saber se o homem criminoso, repentinamente visto sob uma nova luz através da
ciência de Lombroso, estava desde o nascimento predestinado ou não ao crime. Para além
dessa questão era novamente colocado o antigo problema do livre arbítrio e do determinismo.
A sociologia criminal demonstrava assim os seus limites, e a jurisprudência, bem como o
sistema penal clássico eram atacados em seus fundamentos através da negação da
responsabilidade criminal. O juiz perdia em parte a sua razão de existir e até corria o risco de
ver-se despojado de suas prerrogativas em favor do médico;
- Naquela época os crânios e a craniologia já estavam há muito tempo em voga. Camper e Gall
haviam rompido com as doutrinas espiritualistas e sondado a inteligência e os sentimentos
através da configuração da caixa craniana. Cedo ou tarde, era inevitável que os crânios de
assassinos ganhassem forma;
- Camper adquire a certeza de que existe uma relação íntima entre a inteligência e o volume da
massa cerebral. Nos indivíduos de fronte alta, o cérebro pode desenvolver-se amplamente,
mas, quando a fronte é projetada para trás, a massa cervical comprimida tem a sua expansão
prejudicada;
- A partir de uma intersecção entre duas linhas da face, Camper constatou que, com um ângulo
facial de 70º, o negro encontra-se a meio caminho entre o homem e o macaco. Essa teoria foi
banida pela teoria do orifício occipital de Cuvier. Posteriormente o alemão Blumenbach propõe
o estudo dos crânios pela sua parte superior. Owen, por sua vez, decide que é preciso
examinar os crânios pela parte inferior. Mas também aqui surgem críticas de todas as partes;
- De vicissitudes em vicissitudes, os craniologistas põem-se a medir a capacidade da caixa
craniana das diferentes raças;
- A craniologia pretende estabelecer uma ligação entre o desenvolvimento intelectual e a
estrutura da caixa craniana. Desta ciência, que caiu em desuso com o passar dos anos, não
resta nada hoje a não ser uma pseudociência, a morfopsicologia. Alguns vestígios da
frenologia também encontraram refúgio na linguagem corrente, na qual não é raro ouvir-se
dizer que tal indivíduo tem “a bossa da matemática” e outro tem “a bossa do comércio”;
- A craniologia marcou um progresso no sentido de supor que o cérebro é a sede dos
pensamentos e sentimentos;
- A fisiognomonia pretende descobrir os segredos da alma e da inteligência fundamentando-se
não no exame dos crânios, mas no estudo da fisionomia;
- O aspecto mais original do pensamento criminológico de Gall repousa sobre a singular
novidade de suas idéias em matéria de sanção penal. Em sua opinião, a pena deveria ser
estabelecida não em função do delito, mas do criminoso. As prisões deveriam ser concebidas

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como casas de educação para todos aqueles que são educáveis e como locais de internação
para os criminosos destinados ao crime em razão de sua organização fisiológica defeituosa;
- Houve o apelo dos cientistas que almejavam a doação de cérebros para estudos.
Principalmente cérebros, crânios e esqueletos de homens ilustres. Da imensa coleta de
cérebros realizada no mundo inteiro foi extraída uma grande quantidade de observações;
- De uma maneira geral, associou-se à inteligência a complexidade das circunvoluções
cerebrais e o peso do encéfalo. Em 1903, o Prof. Marthiega, de Praga, estabelece a escala dos
pesos do encéfalo em função da categoria sócio-profissional;
- No decurso do Sexto Congresso de Antropologia Criminal que teve lugar em Turim no ano de
1906, Cesare Lombroso relatou, com ênfase teatral, a origem da descoberta que iria abalar a
criminologia: Lombroso asseverou que, após várias pesquisas em prisões e hospícios,
constatou que os caracteres dos homens primitivos e dos animais inferiores deviam reproduzir-
se em nosso tempo.
- A documentação de Lombroso tinha por objetivo demonstrar a existência de um tipo humano
destinado ao crime e estigmatizado por sua organização morfológica defeituosa;
No decênio que se segue à publicação de “O homem criminoso”, surgem revistas de
antropologia criminal por toda parte e os especialistas do gênero adquirem o hábito de
reunirem-se em congressos cujos trabalhos encontram ego no grande público. Através dessas
revistas ou desses congressos, manifesta-se o sonho de uma grande antropologia criminal de
essência pluridisciplinar;
- Filme “Minority Report”, de Steven Spielberg. Aborda um futuro no qual os crimes são
investigados antes mesmo de serem cometidos pelos criminosos;
- O Prof. Topinard e o Prof. Alexander teceram críticas às teorias de Lombroso. Alexander se
insurge contra o lado místico da teoria de Lombroso. O meio social é o caldo de cultura do que
o faz fermentar. Topinard contestou dizendo que o tipo criminalóde não passaria de um
conjunto artificial de caracteres reunidos de qualquer maneira pelo criminologista italiano;
- Questionamento proposto: Discorrer sobre as abordagens científicas acerca do crime e da
criminalidade desenvolvidas pela antropologia positivista do século XIX. Localize nesse âmbito
a teoria do criminoso nato, elaborada por Césare Lombroso, indicando suas principais
características;
- Fundada por volta da metade do século XVIII, a craniologia pretende estabelecer uma ligação
entre o desenvolvimento intelectual e a estrutura da caixa craniana;
- “O julgamento é feito antecipadamente”, nota Topinard, “depois procuram-se as provas,
defende-se a tese, como um advogado que acaba persuadindo a si próprio”.

“ESPETÁCULO DAS RAÇAS: CIENTISTAS, INSTITUIÇÕES E QUESTÃO SOCIAL NO


BRASIL (1870-1930)”, LÍLIA MORITZ SCHWARCZ. SÃO PAULO: COMPANHIA DAS LETRAS,
1993.

- Montagem de uma rede de instituições de saber estável no Brasil: Ensino elementar dos
jesuítas – Colônia dotada de estabelecimentos de ensino por D. João VI – Imprensa Régia, a
Biblioteca, o Real Horto e o Museu Real – Processo continuado por D. Pedro, como escolas de
Direito criadas cinco anos após o rompimento com Portugal – a fundação, no Rio de Janeiro,
do Primeiro Instituto Histórico e Geográfico;
- Faculdade de Direito de São Paulo – adotava, majoritariamente, modelos liberais de análise;
- Faculdade de Direito do Recife – predominava o social-darwinismo de Haeckel e Spencer;;
- Também há destaque no campo da medicina, o Instituto Manguinhos, liderado por Oswaldo
Cruz; atuação dos Institutos Históricos, que começaram a escrever a história oficial deste
jovem país;

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- Se a elite ilustrada não era, em sua maioria, originária das camadas mais pobres, também
não pode ser entendida como totalmente oriunda ou até mesmo porta-voz exclusiva dos
interesses das classes dominantes;
- O período dos anos 70 coincide com a emergência de uma nova elite profissional que já
incorporara os princípios liberais à sua retórica e passava a adotar um discurso científico
evolucionista como modelo de análise social. Adotando uma espécie de “imperialismo interno”,
o país passava de objeto a sujeito das explicações, ao mesmo tempo que se faziam das
diferenças sociais variações raciais;
- Era a partir da ciência que se reconheciam diferenças e se determinavam inferioridades;
- Segundo a tendência da época, a ciência era vista como sacerdócio;
- Guardadas as especificidades de cada disciplina, o que se pode afirmar é que em todos os
lados reformulavam-se concepções científicas arraigadas e faziam-se das pesquisas e
experimentações procedimentos de contestação às antigas concepções;
- D. Pedro II também ficou conhecido como assíduo freqüentador de exposições, expedições e
reuniões de cunho científico nacionais e internacionais;
- Também os romances naturalistas da época fariam larga utilização e divulgação dos modelos
científicos deterministas. Com efeito, a moda cientificista entra no país por meio da literatura e
não da ciência mais diretamente;
- A entrada do ideário cientificista difuso, nas grandes cidades, se faz sentir diretamente a partir
da adoção de grandes programas de higienização e saneamento. Por exemplo, uma campanha
de vacinação que acarretou a “Revolta da Vacina”;
- A introdução de um novo ideário científico expõe, também, as fragilidades e especificidades
de um país já tão miscigenado;
- Em meados do Século XIX a vertente pessimista de interpretação vê o Brasil como “exemplo
de nação degenerada de raças mistas”. Thomas Buckle, fiel à teoria do determinismo climático,
mesmo sem ter passado pelo país, condenava o homem brasileiro à decadência em função da
pujança de sua vegetação;
- Os pesquisadores europeus viam as tristes implicações das teorias raciais européias quando
aplicadas ao contexto local: a inviabilidade de uma nação composta por raças mistas. O Brasil
era visto como um “modelo da falta e atraso” em função de sua composição étnica e racial;
- Os profissionais intelectuais não formavam um grupo homogêneo. Divididos em funções de
diversos interesses profissionais, econômicos e regionais;
- Os intelectuais tenderam a adotar os modelos evolucionistas e em especial social-darwinistas,
já bastante desacreditados no contexto europeu, que tinham como objeto central o estudo das
raças e a verificação de sua contribuição singular.

“MULTICULTURALISMO”: “O NÓ GÓRDIO EPISTEMOLÓGICO”, DE ANDREA SAMPAINI

- MULTICULTURALISMO – Um poderoso movimento de idéias. Segundo o Houaiss, trata-se


da coexistência de várias culturas num mesmo território, país, etc.
- EPISTEMOLOGIA – Reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do conhecimento
humano, especialmente nas relações que se estabelecem entre o sujeito indagativo e o objeto
inerte, as duas polaridades tradicionais do processo cognitivo; teoria do conhecimento; Ou o
estudo dos postulados, conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber científico, ou das
teorias e práticas em geral, avaliadas em sua validade cognitiva, ou descritas em suas
trajetórias evolutivas, seus paradigmas estruturais ou suas relações com a sociedade e a
história; teoria da ciência;
- DUALISMO – Padrão recorrente de pensamento desde os primórdios da filosofia, que busca
compreender a realidade e a condição humana, dividindo-as em dois princípios básicos,
antagônicos e dessemelhantes (por exemplo, forma e matéria, essência e existência, bem e
mal, aparência e realidade, etc.);

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- Os quatro aspectos principais da epistemologia multicultural: A realidade é uma construção;


as interpretações são subjetivas; os valores são relativos e o conhecimento é um fato político.
Para a discussão da epistemologia monocultural, John Searle resume o essencial da herança
intelectual ocidental:
- A realidade existe independentemente das representações humanas. Este é o princípio
constituitivo de toda a tradição racionalista ocidental;
- A realidade existe independentemente da linguagem;
- A verdade é uma questão de precisão de representação;
- O conhecimento é objetivo;
- Uma redução do sujeito às suas funções intelectuais e cognitivas;
- Uma desvalorização dos fatores culturais e simbólicos da vida coletiva;
- A crença numa base biológica de comportamento;
- Orgulho pelas conquistas do pensamento ocidental.

“AS RAÇAS HUMANAS”, DE NINA RODRIGUES

- Nina Rodrigues recebeu influências poderosas das ciências experimentais que abalavam o
mundo no século XIX. Tinha muita fé nos novos postulados e conhecimentos em medicina,
sociologia, história e etnografia. Ademais, demonstrava um notável senso crítico,
caracterizando o seu trabalho ao investigar as teorias à luz da realidade brasileira, sem ser
jamais um reles “papel-carbono”. Ele se dedicava à pesquisa de assuntos nacionais ou do
modo de ser comportar entre nós, meio, raça e momentos diferentes de civilização, os
conhecidos fatores biológicos ou sociológicos que determinam os fenômenos da vida. Era
como um “apóstolo da Antropologia Criminal no Novo-Mundo”;
- “... a cada fase da evolução social de um povo, e ainda melhor, a cada fase da evolução da
humanidade, se se comparam raças antropologicamente distintas, corresponde uma
criminalidade própria, em harmonia e de acordo com o grau do seu desenvolvimento intelectual
e moral”;
- No final da obra é abordado que a conceituação da mestiçagem dentro de certos grupos
étnicos acarreta a fatalidade de anomalias físicas, intelectuais e morais. Mas nem sempre ele
dava ênfase necessárias aos fatores sociais, como também não aceitava em definitivo o
antropologismo puro;
- “A civilização ariana está representada no Brasil por uma fraca minoria da raça branca a
quem ficou o encargo de defendê-la, não só contra os atos anti-sociais – os crimes – dos seus
próprios representantes, como ainda contra os atos anti-sociais das raças inferiores;
- “Eu não pretendo seguramente que cada Estado Brasileiro deva ter seu código penal à parte.
Nem há necessidade disso. Queria que, desde que se lhe concede que tenha organização
judiciária própria, fossem igualmente habilitados a possuir a codificação criminal que mais de
acordo estivesse com as suas condições étnicas e climatológicas”;
- “Há, [...] entre nós extrema facilidade na adoção de todas as novidades, porque, povo novo
como somos, todas as instituições são novas para nós e só temos a dificuldade da escolha;
- “As condições existenciais das sociedades, em que vivem as raças inferiores, impõe-lhes
também uma consciência do direito e do dever, especial, muito diversa e às vezes mesmo
antagônica daquela que possuem os povos cultos”;
- “A concepção espiritualista de uma alma da mesma natureza em todos os povos, tendo como
conseqüência uma inteligência da mesma capacidade em todas as raças, apenas variável no
grau de cultura e passível, portanto, de atingir mesmo num representante das raças inferiores,
o elevado grau a que chegaram as raças superiores, é uma concepção irremessivelmente
condenada em face dos conhecimentos científicos modernos”;
- Pioneiro nos estudos sobre cultura negra no Brasil. Também defendeu uma reformulação no
conceito de responsabilidade penal;

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- Nina Rodrigues desenvolveu profundas pesquisas sobre origens étnicas da população e a


influência das condições sociais e psicológicas sobre a conduta do indivíduo. Sugeriu, com os
resultados dos seus estudos, a reforma dos exames médicos-legais e foi pioneiro da
assistência médico-legal a doentes mentais, além de defender a aplicação da perícia
psiquiátrica não apenas em manicômios, mas também em tribunais.

“A SOCIOLOGIA DOS TRIBUNAIS E A DEMOCRATIZAÇÃO DA JUSTIÇA”, DE


BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS.

- Boaventura de Sousa Santos é doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale e


professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. É, atualmente,
um dos primeiros intelectuais da área de ciência sociais com mérito internacionalmente
reconhecido, tendo ganho especial popularidade no Brasil, principalmente, depois de ter
participado nas três edições do Fórum Social Mundial em Porto Alegre. Seus escritos dedicam-
se ao desenvolvimento de uma Sociologia das Emergências, que segundo ele procuraria
valorizar as mais variadas gamas de experiências humanas, contrapondo-se a uma “Sociologia
das Ausências”, responsável pelo desperdício da experiência. Uma de suas preocupações é
aproximar a ciência do “senso comum” com vista a ampliar o acesso ao conhecimento.
Defensor da idéia de que movimentos sociais e cívicos são essenciais ao controle democrático
da sociedade e ao estabelecimento de formas de democracia participativa;
- Ao contrário doutros ramos da sociologia, a sociologia do Direito se ocupa de um fenômeno
social, o Direito, sobre o qual incidem séculos de produção intelectual cristalizada na idade
moderna em disciplinas como a filosofia do Direito, a dogmática jurídica e a história do Direito;
- No primeiro quartel do nosso século a visão normativista substantivista do direito continuou a
dominar, ainda com nuances, o pensamento sociológico sobre o Direito;
- No que diz respeito ao Direito Vivo, é central a contraposição entre o Direito oficialmente
estatuído e formalmente vigente e a normatividade emergente das relações sociais pela qual
se regem os comportamentos e se previne e resolve a esmagadora maioria dos conflitos;
- No que diz respeito à criação judiciária do Direito, é ainda a mesma visão fundante que dá
sentido à distinção entre a normatividade abstracta da lei e a normatividade concreta e
conformadora da decisão do juiz;
- A preocupação de Weber em definir a especificidade e o lugar privilegiado do Direito entre as
demais fontes da normatividade em circulação nas relações sociais no seio das sociedades
capitalistas levou-o a centrar a sua análise no pessoal especializado encarregado da aplicação
das normas jurídicas, as profissões jurídicas, a burocracia estatal. Segundo ele, o que
caracterizava o Direito nas sociedades capitalistas e o distinguia do Direito nas sociedades
anteriores era o construir um monopólio estatal administrado por funcionários especializados
segundo critérios dotados de racionalidade formal, assente em normas gerais e abstractas
aplicadas a casos concretos por via de processos lógicos controláveis, uma administração em
tudo integrável no tipo ideal de burocracia por ele elaborado;
- Esta tradição intelectual diversificada, mas que domina a visão normativista e substantivista
do Direito teve uma influência decisiva na constituição do objecto da sociologia do Direito no
pós-guerra. Dois temas de exemplo: a discrepância entre o Direito e o desenvolvimento sócio-
econômico e mais especificamente o papel do Direito na transformação modernizadora das
sociedades tradicionais;
- No entanto, esta conjuntura intelectual em breve se alterou. Entre as condições teóricas: o
desenvolvimento da sociologia das organizações, em ramo da sociologia que tem em Weber
um dos principais inspiradores, dedicado em geral ao estudo dos agrupamentos sociais criados
de modo mais ou menos deliberado para a obtenção de um fim específico, com enfoques
diversos sobre a estrutura e a forma das organizações, sobre o conjunto das interações sociais
no seu seio ou no impacto delas no comportamento dos indivíduos;

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- Outra condição teórica é constituída pelo desenvolvimento da ciência política e pelo interesse
que esta revelou pelos tribunais enquanto instância de decisão e de poderes políticos.
- A terceira condição teórica é constituída pelo desenvolvimento da antropologia do Direito ou
da etnologia jurídica, ao libertar-se progressivamente do seu objeto privilegiado, as sociedades
coloniais, virando-se para os novos países africanos e asiáticos e para os países em
desenvolvimento na América Latina, até finalmente descobrir o seu objecto duplamente
primitivo dentro de casa, nas sociedades capitalistas desenvolvidas;
- Condições sociais que, juntamente com as condições teóricas, possibilitaram a orientação do
interesse sociológico para as dimensões processuais, institucionais e organizacionais do
Direito: 1ª) Lutas sociais protagonizadas por grupos sociais até então em tradição histórica de
ação coletiva de confrontação. A igualdade dos cidadãos perante a lei passou a ser
confrontada com a desigualdade da lei perante os cidadãos; 2ª) A eclosão, na década de 60,
da chamada crise da administração da justiça, uma crise de cuja persistência somos hoje
testemunhas. Esta condição está em parte relacionada com a anterior.
- A consolidação do Estado-providência significou a expansão dos direitos sociais e, através
deles, a integração das classes trabalhadoras nos circuitos de consumo anteriormente fora do
seu alcance. Essa integração, por sua vez, implicou que os conflitos emergentes dos novos
direitos sociais fossem constitutivamente conflitos jurídicos cuja dirimição caberia em princípios
aos tribunais, litígios sobre a relação de trabalho, sobre a segurança social, sobre a habilitação,
sobre os bens de consumo duradouros, etc.
- De tudo isto resultou uma explosão de litigiosidade, à qual a administração da justiça
dificilmente poderia dar resposta. Acresce que esta explosão veio a agravar-se no início da
década de 70, ou seja, num período em que a expansão econômica terminava e se iniciava
uma recessão, para mais uma recessão com caráter estrutural. Daí resultou a redução
progressiva dos recursos financeiros do Estado e a sua crescente incapacidade para dar
cumprimento aos compromissos assistenciais e providenciais assumidos para com as classes
populares da década anterior;
- O autor passa, a partir da página 166, a analisar de modo sistemático o âmbito diversificado
dessa contribuição com vista a apontar, no final da obra, as linhas de investigação mais
promissoras e o perfil de uma nova política judiciária. Assim, ele indica que irá distinguir três
grandes grupos temáticos: o acesso à justiça; a administração da justiça enquanto instituição
política e organização profissional, dirigida à produção de serviços especializados; a
litigiosidade social e os mecanismos da sua resolução existentes na sociedade;
- ACESSO À JUSTIÇA – Esse tema é o que mais diretamente equaciona as relações entre o
processo civil e a justiça social, entre igualdade jurídico-formal e desigualdade sócio-
econômica. Não se trata de um problema novo. Neste domínio a contribuição da sociologia
consistiu em investigar sistemática e empiricamente os obstáculos ao acesso efetivo à justiça
por parte das classes populares com vista a propor as soluções que melhor os pudessem
superar. Muito em geral pode dizer-se que os resultados desta investigação permitiram concluir
que eram de três tipos esses obstáculos: econômicos, sociais e culturais. Certos estudos
citados na obra revelam que a justiça civil é cara para os cidadãos em geral, mas revelam
sobretudo que a justiça civil é proporcionalmente mais para os cidadãos economicamente mais
débeis. É que são eles fundamentalmente os protagonistas e os interessados nas ações de
menor valor e é nessas ações que a justiça é proporcionalmente mais cara, o que configura um
fenômeno da dupla vitimização das classes populares face à administração da justiça. De fato,
verificou-se que essa vitimização é tripla na medida em que um dos outros obstáculos
investigados, a lentidão dos processos, pode ser facilmente convertido num custo econômico
adicional e este é proporcionalmente mais gravoso para os cidadãos de menos recursos;
- As reformas do processo, embora importantes para fazer baixar os custos econômicos
decorrentes da lentidão da justiça, não são de modo nenhum uma panacéia. É preciso tomar
em conta e submeter à análise sistemática outros fatores quiçá mais importantes. Por outro

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lado, a distribuição dos recursos e custos mas também dos benefícios decorrentes da lentidão
da justiça;
- A sociologia da administração da justiça tem-se ocupado também dos obstáculos sociais e
culturais ao efectivo acesso à justiça por parte das classes populares, e este constitui talvez um
dos campos de estudo mais inovadores;
- Os cidadãos de menores recursos tendem a conhecer pior os seus direitos e, portanto, a ter
mais dificuldades em reconhecer um problema que os afeta como sendo problema jurídico;
- Os dados mostram que os indivíduos de classes baixas hesitam muito mais que os outros em
recorrer aos tribunais, mesmo quando reconhecem estar perante um problema legal;
- O conjunto destes estudos revelou que a discriminação social no acesso à justiça é um
fenômeno muito mais complexo do que à primeira vista pode parecer, há que, para além das
condicionantes econômicas, sempre mais óbvias, envolve condicionantes sociais e culturais
resultantes de processos de socialização e de interiorização de valores dominantes muito
difíceis de transformar;
- A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA ENQUANTO INSTITUIÇÃO POLÍTICA E PROFISSIONAL
– Foi inicialmente propugnada pelos cientistas políticos que viram nos tribunais um subsistema
do sistema político global, partilhando com este a característica de processarem uma série de
inputs externos constituídos por estímulos, pressões, exigências sociais e políticas e de,
através de mecanismos de conversão, produziram outputs – as decisões – portadoras elas
próprias de um impacto social e políticos nos restantes subsistemas;
- Uma tal concepção dos tribunais teve duas conseqüências muito importantes. Por um lado,
colocou os juízes no centro do campo analítico. A segunda conseqüência consistiu em
desmentir por completo a idéia convencional da administração da justiça como uma função
neutra protagonizada por um juiz apostado apenas em fazer justiça acima e eqüidistante dos
interesses das partes;
- Ainda no âmbito da administração da justiça como organização profissional, são de salientar
os estudos sobre o recrutamento dos magistrados e a sua distribuição territorial;
- Os estudos têm vindo a chamar a atenção para um ponto tradicionalmente negligenciado: a
importância crucial dos sistemas de formação e de recrutamento dos magistrados e a
necessidade urgente de os dotar de conhecimentos culturais, sociológicos e econômicos que
os esclareçam sobre as suas próprias opções pessoais e sobre o significado político do corpo
profissional a que pertencem, com vista a possibilitar-lhes um certo distanciamento crítico e
uma atitude de prudente vigilância pessoal no exercício das suas funções numa sociedade
cada vez mais complexa e dinâmica;
- OS CONFLITOS SOCIAIS E OS MECANISMOS DA SUA RESOLUÇÃO – Este tema constitui
a terceira contribuição da sociologia para a administração da justiça. Os estudos de diversos
pesquisadores na África Oriental, na África Central/Austral e na África Ocidental tiveram um
impacto decisivo no desenvolvimento da sociologia do Direito. Deram a conhecer formas de
Direito e padrões de vida jurídica totalmente diferentes dos existentes nas sociedades ditas
civilizadas; direitos com baixo grau de abstração, discerníveis apenas na solução concreta de
litígios particulares; direitos com pouca ou nula especialização em relação às restantes
atividades sociais; mecanismos de resolução dos litígios caracterizados pela informalidade,
rapidez, participação ativa da comunidade, conciliação ou mediação entre as partes através de
um discurso jurídico retórico, persuasivo, assente na linguagem comum. Acima de tudo, estes
estudos revelaram a existência na mesma sociedade de uma pluralidade de direitos
convivendo e interagindo de diferentes formas;
- Em primeiro lugar, de um ponto de vista sociológico, o Estado contemporâneo não tem o
monopólio da produção e distribuição do direito. Sendo embora o direito estatal o modo de
juridicidade dominante, ele coexiste na sociedade com outros modos de juridicidade, outros
direitos que com ele se articulam de modos diversos. Este conjunto de articulações e

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interrelações entre vários modos de produção do direito constitui o que designo por formação
jurídica;
- Em segundo lugar, o relativo declínio da litigiosidade civil, longe de ser início da diminuição da
conflitualidade para outros mecanismos de resolução, informais, mais baratos e expeditos,
existentes na sociedade;
- Estas conclusões não deixaram de influenciar algumas das reformas da administração da
justiça nos últimos anos. Distinguirei dois tipos de reformas: as reformas no interior da justiça
civil tradicional e a criação de alternativas. Ainda assim, as reformas que visam a criação de
alternativas constituem hoje uma das áreas de maior inovação política e judiciária;
- Hoje, o florescimento internacional da arbitragem e dos mecanismos conhecidos, em geral,
por Alternative Dispute Resolution (ADR) são a manifestação mais concludente das
transformações em curso nos processos convencionais de resolução de conflitos;
- PARA UMA NOVA POLÍTICA JUDICIÁRIA – Seria uma política judiciária comprometida com
o processo de democratização do Direito e da Sociedade.
1 – A democratização da administração da justiça é uma dimensão fundamental da
democratização da vida social, econômica e política. Essa democratização tem duas vertentes.
A primeira diz respeito à constituição interna do processo e a segunda diz respeito à
democratização do acesso à justiça;
2 – Estas medidas de democratização, apesar de amplas, têm limites óbvios. A desigualdade
da proteção dos interesses sociais e dos diferentes grupos sociais está cristalizada no próprio
substantivo, pelo que a democratização da administração da justiça, mesmo que plenamente
realizada, não conseguirá mais do que igualizar os mecanismos de reprodução da
desigualdade. “Quanto mais caracterizadamente uma lei protege os interesses populares e
emergentes maior é a probabilidade de que ela não seja aplicada”. Sendo assim, a luta
democrática pelo Direito deve ser, no nosso país, uma luta pela aplicação do Direito vigente,
tanto quanto uma luta pela mudança do Direito;
3 – Se é certo que as classes de menores recursos tendem a não utilizar a justiça pelas razões
que expusemos, a verdade é que as classes de maiores recursos tendem igualmente a
resolver os seus litígios fora do campo judiciário. É certo que muitas das reformas recentes da
administração da justiça visam reduzir a sua marginalidade ou residualidade;
4 – A contribuição maior da sociologia para a democratização da administração da justiça
consiste em mostrar empiricamente que as reformas do processo ou mesmo do Direito
substantivo não terão muito significado se não forem complementadas com outros dois tipos de
reformas;
- As novas gerações de juízes e magistrados deverão ser equipadas com conhecimentos
vastos e diversificados (econômicos, sociológicos, políticos) sobre a sociedade em geral e
sobre a administração da justiça em particular. Ademais, é deveras necessário aceitar os riscos
de uma magistratura culturalmente esclarecida.

- Ação Social;
- Paradigma liberal-individualista-normativista;
- Elite e Classe Média;
- E. Husserl;
- Horizonte contemporâneo da Sociologia Jurídica;
- Sociologia do Direito (Instituições, Práticas e Formação Jurídica);
- Justiça;
- Recomendação de leitura: “As Raças Humanas”, de Nina Rodrigues; “Vigiar e Punir”, de
Michel Foucault.

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