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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA PÁGINA 11

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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – FDUFBA
CONTEÚDO DO CADERNO DE DIREITO PENAL II – 2010.1

DIREITO PENAL II

Conteúdo Programático

1. Conceito de crime: formal, material e analítico.


2. Fato típico: elementos. A conduta. O nexo causal. A relação de causalidade. A
tipicidade;
3. O finalismo e a localização do dolo e culpa na conduta e não na culpabilidade.
4. Dolo, culpa e preterdolo.
5. Relação de causalidade material. Teoria da Equivalência das Condições.
Relevância da omissão;
6. Teoria da imputação objetiva do resultado. Considerações críticas;
7. Concurso de agentes. Requisitos. Concurso eventual e necessário. Teoria Monista.
Autoria. Participação. Autoria mediata. Autoria colateral. Autoria incerta. Teoria do
Domínio do Fato. Concurso em crimes culposos e omissivos. Participação por
omissão. Participação de menor importância. Desvio subjetivo de conduta. Momento
da participação. Comunicabilidade das circunstâncias, condições e elementares.
8. Iter criminis. Cogitação. Atos preparatórios e executórios. Consumação.
Exaurimento. Tentativa. Espécies. Arrependimento eficaz e desistência voluntária.
9. Arrependimento posterior. Crime impossível. Delito putativo. Crime provocado.
Flagrante preparado e flagrante esperado.
10. Antijuridicidade. Conceito. Requisitos. Justificantes legais. O consentimento do
ofendido em relação a bens jurídicos disponíveis;
10.1 Estado de necessidade. As teorias unitária e diferenciadora. Tratar do regramento
específico do Estado de Necessidade no Código Penal Militar;
10.2 Legítima defesa;
10.3 Estrito cumprimento do dever legal;
10.4 Exercício regular do direito;
10.5 Ofendículos;
10.6 Excesso doloso ou culposo nas causas de justificação. Consequências;
11. Culpabilidade. Teorias. Elementos. Dirimentes legais e dirimentes supra legais;
12. Teoria do erro. Erro de tipo essencial. Discriminantes putativas. Erro de proibição.
Ignorância da lei. Erro de tipo acidental: erro quanto à pessoa, aberratio ictus e
aberratio delicti. Consequências jurídicas diante da escusabilidade e inescusabilidade.
13. Concurso de crimes: material, formal e continuado.

RECOMENDAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

1. Tratado de Direito Penal, César Bitencourt, volume 1;


2. Curso de Direito Penal Brasileiro, Luis Regis Prado, volume 1;
3. Rogério Greco, volume 1.

CONCEITO DE CRIME

FORMAL – Toda conduta humana comissiva ou omissiva que contraria a lei penal. Crítica ao
conceito formal: o homicídio cometido em legítima defesa, segundo esse conceito, seria crime
quando, em verdade, não é.
MATERIAL – Toda conduta humana que lesa ou expõe a perigo um bem jurídico-penal;
ANALÍTICO – Linha antiga – Crime = fato típico + antijuridicidade;

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Linha moderna – Crime = fato típico + antijuridicidade + culpabilidade.


Tipicidade é a adequação do fato típico ao tipo penal.
FATO TÍPICO – Entende-se aquele revestido de tipicidade, ou seja, que se amolda, se
encaixa, à descrição legal de um tipo.

FATO TÍPICO

CONDUTA RESULTADO NEXO CAUSAL –


Ligação entre a conduta e
o resultado naturalístico

NATURALÍSTICO – NORMATIVO – Causa


Provoca modificação no lesão a bem jurídico
mundo exterior

CRIME MATERIAL – Resultado naturalístico e normativo;


CRIME FORMAL E DE MERA CONDUTA – Resultado normativo.

A CONDUTA DE ACORDO COM AS ESCOLAS PENAIS

CONDUTA – Humana, externa e voluntária.


ESCOLA CAUSALISTA (NATURALISTA) – Von Lisz, Beling, Radbruch. Influenciada pelo
pensamento científico-natural do século XIX. Conduta é o movimento corporal voluntário que
causa modificação no mundo exterior.
Não aplica as condutas omissivas.
ESCOLA FINALISTA – 1950 – Conduta é uma ação humana representando o exercício de
uma atividade conscientemente dirigida a uma finalidade.
CORRENTE FUNCIONALISTA – 1970 – Claus Roxin, Jakobs. Também chamada de
teleológica-racional.
A teoria personalista da ação, de Claus Roxin – A ação é manifestação da personalidade do
sujeito significando tudo aquilo que pode lhe ser atribuído no aspecto anímico-espiritual.
Consciência X Vontade. Para Roxin, o inimputável não realiza conduta.
A teoria da estabilidade individual de Günther-Jakobs – A conduta é a realização de um
resultado individualmente evitável. A ação comissiva constitui a causação evitável de um
resultado, a omissão ou não-evitamento de um resultado evitável. Para Jakobs, o inimputável
realiza a conduta, embora posteriormente possa não ser punido.

INFRAÇÃO PENAL
Crime ou delito – CP, Leis extravagantes. Reclusão, detenção, penas restritivas de direito,
multa.
Contravenção – Decreto-lei 3.688/46. Prisão simples, multa.

DICA DE PESQUISA – “A culpa temerária”, de Selma Pereira Santana –


www.cartaforense.com.br

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CRIME DOLOSO

DOLO – (Art. 18, I, do CP) A vontade de realizar o tipo objetivo, orientada pelo conhecimento
de seus elementares no caso concreto.

Art. 18 - Diz-se o crime:


Crime doloso
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco
de produzi-lo;
Crime culposo
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por
imprudência, negligência ou imperícia.
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém
pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o
pratica dolosamente.

Elementar – É um integrante da descrição do tipo. No caso do art. 121, por exemplo, há dois
elementares: “matar” e “alguém”.

TEORIAS DO DOLO

1. TEORIA DA VONTADE OU CLÁSSICA – O dolo é a vontade dirigida a um resultado. A


essência do dolo deve estar na vontade de realizar uma ação e obter um resultado, mas não
especificamente em violar a lei.
2. TEORIA DA REPRESENTAÇÃO OU PREVISÃO – Consiste na previsão de um resultado
como algo certo ou provável ou possível.
3. TEORIA DO CONSENTIMENTO OU DO ASSENTIMENTO – Existe o dolo quando o autor
consente em causar o resultado ou praticar uma conduta.
DOLO DIRETO – O Código Penal adotou a teoria da vontade;
DOLO EVENTUAL – O Código Penal adotou a teoria do consentimento.

ELEMENTOS DO DOLO

1. COGNITIVO OU INTELECTUAL (CONSCIÊNCIA) – Para a configuração do dolo exige-se


a consciência daquilo que se pretende realizar. Essa consciência deve acontecer no momento
da conduta. Deve abranger todas as elementares do tipo.
2. VOLITIVA O VONTADE – Deve abranger a conduta, o nexo causal e o resultado.
3. PREVISIBILIDADE – O resultado imprevisível não pode responsabilizar ninguém.

ESPÉCIES DE DOLO

DOLO DIRETO – O agente busca conscientemente a realização de um resultado ilícito.


DOLO EVENTUAL – O agente prevê o resultado ilícito como provável ou possível, mas
realiza a conduta aceitando o risco de produzi-la. A vontade do agente não é dirigida ao
resultado, mas à conduta. Estre desistir da conduta ou chegar ao resultado prefere o último.
DOLO ALTERNATIVO – Ocorre quando a vontade do agente se dirige a qualquer resultado
ilícito. Ex.: esfaqueia sem se preocupar se vai matar ou ferir.
DOLO DE DANO – O agente quer ou assume o risco de produzir um dano;
DOLO DE PERIGO – O agente quer ou assume o risco de expor a perigo um bem jurídico.
DOLO GENÉRICO – Vontade de realizar o fato descrito na lei, previsto em seu núcleo: matar,
subtrair.
DOLO ESPECÍFICO – Vontade de realizar o fato para alcançar um fim específico previsto no
tipo penal;

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DOLO NORMATIVO – Nessa espécie de dolo, o agente tem consciência da ilicitude da


conduta realizada. No dolo natural, em contrapartida, essa consciência só é avaliada na
aferição da culpabilidade. Prevaleceu no Brasil.
DOLO GERAL – A pessoa realiza uma conduta pensando que aquela conduta é suficiente
para alcançar um resultado almejado, mas não é. Desconhecendo isso, realiza uma segunda
conduta, para o autor sem importância, sendo, porém, essa a última que causará o resultado.

CRIME CULPOSO

- Cada autor tem uma visão diferente do crime culposo;


- A perspectiva lecionada é aquela que revela-se majoritária na doutrina: a culpa constitui a
inobservância de um dever objetivo de cuidado concretizadora de um tipo penal manifestada
numa conduta produtora de um resultado não-desejado, embora objetivamente previsível;
- Há um pensamento de que, para que ocorra um crime culposo, é necessário um resultado
naturalístico. Contudo, atualmente, essa noção vem sendo deixada de ser utilizada;
- Todo crime contra honra é doloso;
- Art. 18, inc. II – Culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência,
negligência ou imperícia;

TÓPICOS DE ESTUDO

1. Conceito dogmático;
2. Elementos do crime culposo:
a) inobservância do cuidado objetivamente devido;
b) produção de um resultado e nexo causal;
c) previsibilidade objetiva do resultado;
d) conexão interna entre o desvalor da ação e o desvalor do resultado;

Dica: Quem melhor trata desse assunto é César Bitencourt.


Correlacionar: Escola Funcionalista e Teoria da Imputação Objetiva do Resultado.
- O fato de viver em sociedade nos obriga a ter condutas cuidadosas para não atingir bens
jurídicos de terceiros;
- “O nosso direito termina onde começa o direito da outra pessoa”;
- As noções de que as pessoas devem agir de forma correta estão nas normas jurídicas ou
em razões de senso comum;
- “Viver em sociedade implica viver com cuidado”;
- Para analisar se houve conduta descuidada retire da cena o homem descuidado e insira um
“homem médio”, um elemento fictício;

ELEMENTOS PARA ACEPÇÃO “HOMEM MÉDIO”

- A experiência da sociedade;
- A conduta média exigida pela cultura;
- Valores específicos da profissão.
- Não é tarefa fácil a construção do conceito de “homem médio”;
- A estrutura do tipo penal é construída por meio do crime doloso. Para a lei penal o crime é
sempre praticado dolosamente. A previsão do tipo culposo constitui exceção, sempre existirá
a necessidade de normatividade.
- CONDUTA DESCUIDADA – NEXO CAUSAL – RESULTADO NATURALÍSTICO
- É absolutamente necessário um nexo causal entre a conduta descuidada e o resultado
naturalístico;

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- O tipo culposo será sempre normativo;


- A previsibilidade integra tanto o dolo quanto a culpa;
- Para haver crime culposo é necessário que o resultado seja previsível – alguns
doutrinadores indicam que seja sobre a ótica do homem médio e outros indicam que seja em
relação às qualificações do agente.
- Nos crimes culposos não interessa o fim – vontade – da conduta, mas suas consequências
antissociais.
- Pesquisar: Indenização pode ser unicamente na forma financeira?
- Nos crimes culposos a vontade do agente não está voltada à realização de uma conduta
ilícita, mas de uma ação descuidada.
- O desvalor da ação é superior ao desvalor do resultado;
- As penas dos crimes culposos são menores do que a dos crimes dolosos;
- A conduta não refletida que causa dano a terceiro acarretará a responsabilidade pela
inobservância do cuidado;
- Principais argumentos utilizados pelos advogados:
- Meu cliente é inimputável;
- Meu cliente estava numa situação em que não era possível ou exigível uma conduta
diversa;
- Meu cliente não previu a possibilidade.

MODALIDADES DA CULPA

- Não confundir com “espécies de culpa”;


- Modalidades da culpa são as três formas através das quais se manifesta a conduta
descuidada: negligência, imperícia e imprudência;
- Muitas legislações estrangeiras, como a espanhola e a norte-americana não distinguem as
modalidades culposas;
- Anote-se que os limites que diferem as modalidades são imprecisos;
- Numa peça processual é necessário indicar, obrigatoriamente, a modalidade da culpa;
- As modalidades da culpa podem coexistir.

IMPRUDÊNCIA (culpa in faciendo ou culpa in commitendo)


- A imprudência é sempre comissiva;
- É a realização de uma conduta sem cautelas, com afoiteza, com precipitação. Exemplo:
manejar arma próximo a outras pessoas; dirigir muito cansado ou com sono;

NEGLIGÊNCIA (culpa in ommittendo)


Ausência de fazer algo que se tinha a obrigação de fazer.
A negligência se faz através de uma omissão. A negligência também se sucede nos casos de
indiferença em relação ao ato praticado. É o caso, por exemplo, do motorista que não
conserta os freios já gastos do seu automóvel.

IMPERÍCIA
Ocorre uma inaptidão, momentânea ou não, do agente para o exercício de arte, profissão ou
ofício.
É a falta de capacidade, despreparo ou conhecimento técnico para o exercício de arte,
profissão ou ofício. Havendo a imperícia, pressupõe sempre a ausência de habilitação para o
exercício profissional. Havendo imperícia fora do âmbito profissional, logo a culpa é atribuída
ao agente a título de imprudência ou negligência.
Atenção: nem tudo que se realiza com descuido na área profissional é imperícia.

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ESPÉCIES DE CULPA: CULPA CONSCIENTE E CULPA INCONSCIENTE.

A previsibilidade é um dos elementos que integram o crime culposo.


Nunca confundir modalidades de culpa com espécies de culpa.
PREVISIBILIDADE DO RESULTADO
Em comum nas duas espécies de culpa. Na culpa consciente o agente previu o resultado
previsível, mas não deixa de praticar a conduta acreditando, sinceramente, que esse
resultado não venha a ocorrer. Culpa com previsão.
Na culpa inconsciente o resultado era previsível, mas o agente não previu esse resultado. A
culpa inconsciente é a culpa sem previsão.
Não existe a seguinte situação: Se a culpa for consciente, pena y. Se for inconsciente, então
aplica-se a pena x.

DIFERENÇA ENTRE DOLO EVENTUAL E CULPA CONSCIENTE – Em ambos o resultado é


previsível, objetivamente. Em ambos o agente previu o resultado.
Mas somente no dolo eventual o agente consente com a ocorrência do resultado.
- “Em direito só existe o que é provável”;
- Na culpa consciente, o agente, embora prevendo o resultado, acredita sinceramente na sua
não-ocorrência. Já no dolo eventual, embora o agente não queira diretamente o resultado,
assume o risco de produzí-lo.

TEORIAS ALEMÃS QUE BUSCAM MENSURAR A CULPA CONSCIENTE E O DOLO


EVENTUAL, ALMEJANDO SABER SE HÁ UM OU O OUTRO.
Jorge Gredo Dias, Portugal.

TEORIA DA PROBABILIDADE – Segundo essas teorias, não é suficiente para diferenciação


entre o dolo eventual e a culpa consciente a mera representação do resultado ilícito como
algo possível, uma vez que essa representação constitui elemento comum tanto a um quanto
a outro. Para o dolo eventual não basta a exigência da mera possibilidade de realização, mas
requer-se ainda que a representação assuma a forma de probabilidade ou mesmo de uma
probabilidade relativamente alta.
A probabilidade seria como um desdobramento da possibilidade (a qual, esta última, se
restringe a sim ou ao não).
Quanto maior a probabilidade, mais tende para o dolo eventual.
TEORIAS DA ACEITAÇÃO – Propõem a diferenciação entre o Dolo Eventual e a Culpa
Consciente na análise da vontade do agente. Pergunta-se se o agente aceitou intimamente a
sua realização ou ao menos revelou a sua indiferença perante ela (dolo eventual); ou, se,
diferentemente, rejeitou intimamente a ocorrência do resultado, esperando que ele não se
verificasse (culpa consciente).
TEORIAS DA CONFORMAÇÃO – Essas teorias partem da ideia de que o Dolo Eventual
pressupõe algo a mais do que o conhecimento do perigo da realização típica. O agente pode,
apesar de um tal conhecimento, confiar, embora levianamente, que o resultado ilícito não
ocorrerá e age então somente com culpa consciente. Essencial para essas teorias é que o
agente leve a sério o risco da possível lesão do bem jurídico, que tenha esse risco em
consideração e, não obstante, se decida pela realização da conduta. O agente está
intimamente disposto a arcar com os riscos da sua conduta.

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Dica: requisitos para uma boa apresentação:


- Profundidade no assunto, sem ser chato;
- Boa oratória, desenvoltura que “toma a sala toda”;
- Voz com boa dicção.

EXCEPCIONALIDADE DO CRIME CULPOSO

Artigo 18, parágrafo único do Código Penal


- Quando o tipo penal não se referir nem a dolo nem a culpa ele só será punido a título de
dolo. Para que ele seja punido na forma culposa, é necessário que haja previsão expressa.
- Todo crime é doloso, em regra. Somente pode-se falar em crime culposo quando houver
previsão expressa na lei, nesse sentido.
Graus da Culpa: Lata ou grave; Leve; Levíssima.
- Ligados ao nível de descuido e ao nível da previsibilidade do que era objetivamente
previsível.

CONCORRÊNCIA E COMPENSAÇÃO DE CULPAS

- Há, no direito penal, a possibilidade de ocorrer concorrência de culpas.


- Em direito penal a culpa não pode ser compensada. Ela se transforma em culpa
concorrente, em culpa paralela.
- No Direito Privado pode haver compensação de culpas.

TENTATIVA DE CRIME CULPOSO – Crimes culposos não admitem tentativa em vista da


total incompatibilidade entre eles. São noções antiéticas. Não se pode tentar o que não se
previu, pois a previsibilidade do fato é um dos requisitos da existência da culpa e para a
tentativa de algum crime pressupõe-se que tenha existido previsão e vontade na sua
realização.

CRIME QUALIFICADO PELO RESULTADO

Artigo 19 do Código Penal (Preterdoloso ou preterintencional)

Agravação pelo resultado


Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só
responde o agente que o houver causado ao menos culposamente.

Espécies de Crime qualificado pelo resultado:


a) Dolo – Culpa (preterdolo);
b) Dolo – Dolo;
c) Culpa – Culpa.
PRETERDOLO – Por exemplo, lesão corporal seguida de morte (129, §3º do CP) ou Art. 5º,
§3º da Lei nº 9455/97 (Lei de Tortura). São as duas hipóteses previstas na legislação penal
que tratam do crime preterdoloso.
Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
[...]
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o
agente não quís o resultado, nem assumiu o risco de produzí-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Diminuição de pena

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§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de


relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta
emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz
pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

DOLO – DOLO – Dolo na conduta e dolo no resultado. Por exemplo, o indivíduo chuta a
barriga da mulher que está grávida querendo lesioná-la e, ainda mais, acarreta o aborto. (Art.
129, §1º - aceleração de parto – ou §2º – aborto);

Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Lesão corporal de natureza grave
§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de
trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável;
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

CULPA – CULPA – Ele agiu culposamente provocando uma conduta descuidada e


culposamente incorreu em resultado mais grave.

RELAÇÃO DE CAUSALIDADE

Refere, exclusivamente, aos delitos de resultado, cuja superveniência coincide com a


consumação. É um vínculo que liga uma conduta a um resultado naturalístico,
necessariamente. Só vamos falar em relação de causalidade em crimes materiais. O nexo
causal não tem sentido em relação aos delitos de simples atividade, bem como os omissivos
próprios.

TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DAS CONDIÇÕES OU TEORIA DA CONDITIO SINE QUA NON

Está prevista no artigo 13 do Código Penal. Para ela “causa” é todo fator, seja atividade
humana ou não, que contribuiu de alguma forma para a ocorrência do resultado.
Relação de causalidade
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime,
somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a
ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Tudo aquilo que contribuiu para o resultado tem a mesma importância. É atribuída a Julius
Glaser, sendo desenvolvida por Maximilian Von Buri. É a teoria do Código Penal Brasileiro em
vigor e de maior escolta na doutrina para determinar vinculação entre conduta e resultado.

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TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA DO RESULTADO

Surge com a finalidade de limitar o alcance da chamada teoria da equivalência dos


antecedentes causais sem, contudo, abrir mão desta última. Por intermédio dela, deixa-se de
lado a observação de uma relação de causalidade puramente material, para se valorar uma
outra, de natureza jurídica, normativa.
Não basta que o resultado tenha sido produzido pelo agente para que se possa afirmar sua
relação de causalidade. É preciso, também, que a ele possa ser imputado juridicamente. A
imputação objetiva é uma análise que antecede à imputação subjetiva; uma vez concluída
pela não-imputação objetiva, afasta-se o fato típico.

JUÍZO HIPOTÉTICO DE ELIMINAÇÃO

Temos que pensar no fato que entendemos como influenciador do resultado; devemos
suprimir mentalmente esse fato da cadeia causal; se a consequência da supressão, o
resultado vier a se modificar, é sinal de que o fato suprimido deve ser considerado como
causa.

LIMITAÇÕES QUE VIABILIZAM A APLICABILIDADE DA TEORIA DA EQUIVALÊNCIA

Se a conduta não criar modificações na produção do resultado, não será considerada como
causa deste resultado quando suprimida hipoteticamente. É a posição do Código Penal, em
seu artigo 13.

1. Limitações do alcance da teoria da conditio sine qua non;


1.1. Localização do dolo ou da culpa na conduta do agente;
1.2. Concausas (ou causas);
1.2.1. Causas absolutamente independentes
Preexistentes – Art. 13, caput.
Concomitantes – Art. 13, caput.
Supervenientes – Art. 13, caput.
1.2.2. Causas relativamente independentes
Preexistentes – Art. 13, caput.
Concomitantes – Art. 13, caput.
Supervenientes – Art. 13, caput.
Art. 13, §1º.
2. Relevância causal na omissão.
2.1. A figura do “garantidor” ou “garante”. O art. 13, §2º do Código Penal.

Relação de causalidade
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime,
somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a
ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Superveniência de causa independente
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente
exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos
anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
Relevância da omissão
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente
devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a
quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o
resultado;

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c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência


do resultado.

- Como averiguar a limitação do alcance da teoria?


- Identificar a existência de dolo ou culpa na conduta do agente;
- Não é qualquer causa que gera uma responsabilização criminal;
- Nem toda causa, por ser simplesmente causa, leva à responsabilização criminal do agente.
É preciso que haja dolo ou culpa.

CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES – São absolutamente independentes à


conduta referência. Elas sozinhas provocaram o resultado. O autor do delito será o indivíduo
que cometeu a causa absolutamente independente.
- Exemplo de causa absolutamente independente – Maria, casada com José, decide mata-lo e
o envenena com uma feijoada com chumbinho. Após isso, antes de José morrer, entra um
traficante que viera cobrar o pagamento de drogas e dá um tiro na barriga de José. Levado ao
IML, constata-se que José morreu devido ao envenenamento. Maria, no caso, será
condenada por homicídio doloso e o traficante por tentativa de homicídio. A conduta
referência é a do traficante.
- Exemplo de causa preexistente que se estende no decorrer do tempo – Maria decide matar
José colocando em sua comida, diariamente, no decorrer de anos, uma ínfima dose de
arsênico. [...]
A causa é absolutamente independente se, no curso causal, o resultado advém de situação
totalmente dispersa ao conteúdo volitivo do agente. Embora absolutamente alheia, de uma
forma qualquer, auxilia o resultado. Porém, nunca se esquecendo que em nada pertence ao
universo subjetivo do agente. Essa causa, por si só, produz o resultado.
Causa absolutamente independente superveniente – São causas que, sozinhas, provocam o
resultado. Zé comia uma feijoada envenenada por Maria e, neste momento, caiu o teto da
casa sobre sua cabeça. Levado ainda vivo ao Hospital, percebe-se que ele morreu por
traumatismo craniano.

CAUSA RELATIVAMENTE INDEPENDENTE – A causa


preexistente/concomitante/superveniente é relativamente independente à conduta referência.
Há uma soma de esforços, uma soma de energias que resultará num resultado ilícito. Toda a
análise das concausas as pessoas deve trabalhar com a noção de dolo e culpa.
Não se esqueça – sempre que for analisar as concausas deve-se analisar a localização
do dolo e da culpa.
Causa relativamente independente concomitante – “A” fornece a “C” meia dose de arsênico,
que seria fatal. Sem saber da conduta de “A”, “B” fornece a “C” a metade da dose que seria
letal. Com a ingestão de ambas totalizando a dose letal, “C” vem a óbito em decorrência de
ambas as condutas.
Causa relativamente independente superveniente (hipótese do artigo 13, caput):
O indivíduo mora em uma localidade que só tem o posto de saúde precário, o qual não tem
quase nada. “A”, caminhoneiro, vê “B” andando de bicicleta quando estava no asfalto e, por
raiva de “B”, joga o caminhão contra ele e faz “B” cair na ribanceira. Após conferir se “B” havia
morrido, “A” sai da cena. Mas, lá embaixo, um agricultor leva “B”, ainda vivo, ao posto de
saúde, onde “B” morre por infecção generalizada. “A” sabia que o posto era precário,
responde por homicídio doloso.
Assim, atropelo + condições sub-precárias do posto de saúde = infecção generalizada =
morte.
Hipótese do art. 13, §1º.

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- Causa referência inaugura nexo causal. Surge uma causa superveniente inusitada e
imprevisível que rompe o nexo causal iniciado e passa a inaugurar um novo nexo causal. É
essa causa inusitada e imprevisível que acarreta o resultado ilícito.
Novo nexo causal
Resultado ilícito

Causa referência
Nexo causal

Inusitado / Imprevisível/
Superveniente

- “A” dá uma facada em “B”. A caminho do hospital, ainda vivo, “B” tem a ambulância que o
carregava colidida pelo carro de “Y” que estava embriagado. “A” responde por tentativa de
homicídio e “Y” por homicídio culposo.
- O motorista de um ônibus anda em alta velocidade e bate em um poste. Ninguém se lesiona
com o choque. Porém os fios do poste caem. Uma pessoa sai do ônibus, afoita e morre
eletrocutada. O motorista não responde por nada, neste caso.

RELEVÂNCIA CAUSAL DA OMISSÃO

Segundo o Código Penal, a omissão é juridicamente relevante nos casos em que o agente
podia ou devia agir, sendo que tal dever incumbe a quem: tenha por lei a obrigação de
cuidado, proteção ou vigilância; de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o
resultado; com seu comportamento anterior, criou o risco de ocorrência do resultado.

Causa referência Resultado naturalístico


Nexo causal

Crimes Omissivos Próprios – Qualquer pessoa pode praticá-lo. Nos crimes puros a omissão é
determinada pelo próprio núcleo do tipo que indica um não-atuar.
Crimes Omissivos Impróprios (ou comissivos por omissão) – São os que interessam ao tema
“relevância causal da omissão” porque eles têm resultado naturalístico. Quem pratica crime
omissivo impróprio só pode ser um “garante” ou “garantidor”. Ver artigo 13, §2º “a” ou “c” do
Código Penal Brasileiro.
O entendimento dominante é que o nexo causal não passa de uma ficção jurídica, neste caso,
e a conduta omissiva é considerada causa porque ao não impedir o resultado aconteceu.

TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA

Essa teoria existe desde a época da Grécia. O mais adequado seria “teorias da imputação
objetiva”, pois cada doutrinador tem variações na visão. A mais predominante é a de Roxin.
Luiz Greco comenta a visão de Roxin. Tem por escopo modificar a relação causal
absolutamente física por uma relação de caráter valorativo, ou normativo.
Recomendação de Leitura: “Um panorama da teoria da imputação objetiva”, Luiz Greco,
Editora Lumen Iuris.

1. Notas introdutórias;
1.1. Conceito formal de crime;
1.2. Localização da Imputação;
2. A Imputação objetiva;
2.1. Definição;

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2.2. Fundamento;
2.3 A criação ou aumento do risco;
2.3.1. Prognose póstuma objetiva;
2.3.2. Risco juridicamente relevante;
2.3.3. Diminuição do risco.
2.4. O risco “proibido”;
2.4.1. Fundamento;
2.4.2. A existência de normas de segurança;
2.4.3. Princípio da segurança;
2.4.4. O homem prudente;
2.5. A realização do risco.

- Conceito formal de crime para o Direito Penal – É uma conduta típica, antijurídica e culpável;
- A causalidade está compreendida no rol da tipicidade;

TIPICIDADE

OBJETIVA SUBJETIVA – Aferir para


compreender se há a existência
de algum

Basicamente é causação do Dolo Culpa


resultado

Nexo de causalidade

- TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA – Visa aperfeiçoar a causalidade;


- Imputar é atribuir responsabilidade;
- Criação ou aumento do risco – Se o risco é proibido – se o resultado manifesta o risco.
- Prognose póstuma objetiva;
- “Homem prudente” é um conceito distinto de “homem médio”.
- Risco juridicamente relevante – O risco não deve ser remoto, deve ser relevante. Se o
resultado pretendido pelo agente não depender exclusivamente de sua vontade, caso este
aconteça deverá ser atribuído ao acaso. Não há domínio do resultado através da vontade.
- Diminuição do risco – A conduta que reduz a probabilidade de uma lesão não pode se
conceber como orientada de acordo com a finalidade de lesão da integridade corporal.
- Substituição de risco;
- Dirigir, trabalhar num pólo petroquímico, operar máquina pesada, militar fazer ronda no
bairro da Paz são riscos tolerados pelo Direito Penal, por exemplo.
- Critério para aferir a tolerabilidade ou não dos riscos.
- Normas de segurança jurídica – Por exemplo, o Código de Trânsito Brasileiro.
- Normas de segurança não-jurídicas – Por exemplo, manuais de instrução. Não têm a
legitimidade que as normas jurídicas têm.
- Princípio da confiança – É legítimo a você confiar que os outros agirão de acordo com o
direito. Não vale, por exemplo, para crianças.

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A tarefa primária da imputação ao tipo objetivo é fornecer as circunstâncias que fazem de


uma causação (como o limite máximo da possível imputação) uma ação típica. Para a Teoria
da Imputação Objetiva do Resultado, a causalidade somente é a condição mínima; a ela deve
agregar-se a relevância jurídica da relação causal entre o sujeito atuante e o resultado.

CONCURSO DE PESSOAS

Concurso de Agentes
1. Introdução;
2. Concurso Necessário e Concurso Eventual;
2.1. Crime monossubjetivo e plurissubjetivo;
3. Teorias sobre o concurso de agentes;
a) Pluralística;
b) Dualística;
c) Monista.
4. Causalidade física e psíquica;
5. Requisitos;
6. Autoria;
TEORIAS

RESTRITIVA EXTENSIVA TEORIA OBJETIVA


FINAL, OBJETIVA
SUBJETIVA OU
DOMÍNIO DO FATO

OBJETIVA-FORMAL OBJETIVO-
MATERIAL

1. Pessoas que agem em conjunto no mesmo crime. Por exemplo, o caso Isabela Nardoni;
Crime Monossubjetivo
2.1. Aquele que pode ser praticado por uma só pessoa e eventualmente por mais de uma
pessoa. Por exemplo, roubo e homicídio.
Crime Plurissubjetivo
O tipo penal descreve que necessariamente será cometido por mais de um agente. Exemplo:
art. 288 – Quadrilha – no mínimo, 04 pessoas. Art. 137 – Rixa – o concurso é necessário.

Rixa
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de
natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena
de detenção, de seis meses a dois anos.

[...]

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Quadrilha ou bando
Art. 288 - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha
ou bando, para o fim de cometer crimes:
Pena - reclusão, de um a três anos.
Parágrafo único - A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou
bando é armado.

3. A teoria do concurso de agentes só se aplica a crimes monossubjetivos, ou seja, a


concurso eventual – Lesão corporal praticada por sete pessoas.
a) Pluralística – Para esta teoria pode ocorrer tantos crimes diferenciados quanto for o número
de agentes que participem neste concurso de crimes.
b) Dualística – Para esta teoria só pode ocorrer duas situações:
Autor – Aquele que pratica a conduta típica do delito;
Partícipe – Aquele que, sem realizar a conduta típica, colaborou de alguma forma para o
crime;
Exemplo: Autor – Lesão; e Partícipe – Omissão de socorro.
c) Monista – Também denominada de Teoria Unitária – única aceita no Brasil – Qualquer
pessoa que concorre com outra para a prática do delito, não importa como, seja realizando a
conduta típica ou não, todas eles de reprodução do mesmo delito. A pena variava de acordo
com a culpabilidade.
Teoria consagrada no nosso Código Penal, no art. 29 (norma de extensão de punibilidade).

Regras comuns às penas privativas de liberdade


Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime
incide nas penas a este cominadas, na medida de sua
culpabilidade.
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode
ser diminuída de um sexto a um terço.
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime
menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será
aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o
resultado mais grave.

Exemplo: Autor e partícipe – Lesão corporal


4. Causalidade Física – Significa que a conduta do agente teve um nexo causal com o
resultado.
1º Exemplo: “A” sai para roubar; “B” empresta a arma a “A” – causalidade física;
2º Exemplo: “A” já possuía uma “pechera” e pede o revólver a “B”, mas no momento do roubo
só utiliza a “pechera”, então não há causalidade física entre a conduta de “B” e “A”;
Causalidade Psíquica – O pensamento majoritário é o de que há um acordo, uma combinação
entre as partes.
É necessário que a causalidade física e psíquica ocorram para a responsabilização.
Se a pessoa não sabe qual conduta será realizada pelo agente, não pode ser considerado
como partícipe.
Entendimento minoritário – Não é necessário o acordo ou ajuste, basta a vontade de
colaborar.
Art. 155, §4º - Indivíduo deixa a porta aberta para que o autor do delito entre sem que o
mesmo saiba do auxílio.
Furto
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
[...]
Furto qualificado
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se
o crime é cometido:

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I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da


coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou
destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

5. Requisitos
1) Pluralidade de participantes ou de condutas – Relevância de partícipe;
Participante – Gênero dos espécies – autor, co-autor e partícipe;
2) Vínculo subjetivo entre os participantes – Homogeneidade do elemento subjetivo – todos
agem dolosamente ou culposamente;
3) Identidade de infração para todos os participantes.

“É possível que a infração penal possa ser praticada por duas ou mais pessoas. Quando isso
ocorre, estamos diante do chamado concurso de pessoas, concurso de agentes, concurso de
delinquentes ou ainda co-autoria, co-delinquência ou participação. „Existe co-delinquência
quando mais de uma pessoa, ciente e voluntariamente, participa da mesma infração penal‟”;
Requisitos do concurso – Pluralidade de condutas; Relevância causal de cada uma das
ações; Liame subjetivo entre os agentes simultâneo e sucessivo; Identidade do fato.
Diversas teorias surgiram para explicar a natureza do concurso de agentes, que poderá ser
eventual ou necessário, sendo as principais:
I – Teoria Monista (Unitária ou Igualitária) – O crime, mesmo que cometido por várias pessoas
em concurso, é considerado único, permanecendo indivisível. Inexiste separação entre autor,
partícipe, cúmplice.
O Brasil adotou essa teoria (exceção dos arts. 124, 235, 317, 333, 342 e 343 do CP);

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento


Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que
outrem lho provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.
[...]
Bigamia
Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
§ 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com
pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido com
reclusão ou detenção, de um a três anos.
§ 2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o
outro por motivo que não a bigamia, considera-se inexistente o
crime.
[...]
Corrupção passiva
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas
em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal
vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
[...]
Corrupção ativa
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a
funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar
ato de ofício:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
[...]

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Falso testemunho ou falsa perícia


Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade
como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em
processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo
arbitral:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
[...]
Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra
vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete,
para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em
depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação:
Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa

II – Teoria dualista ou dualística – Existirá um crime para os autores e outro para os


partícipes;
III – Teoria Pluralista – A diversidade de agentes corresponde a um concurso de ações
distintas e, por isso, uma pluralidade de delitos, praticando cada uma das pessoas um crime
autônomo.

AUTORIA

1. Autor; co-autor;
2. Autor intelectual;
3. Autoria mediata;
4. Autoria colateral;
5. Autoria incerta.

Observação: “Conjunção carnal – Relação heterossexual – pênis e vagina. Todo o restante é


ato libidinoso”.

TEORIA RESTRITIVA OU OBJETIVA-FORMAL – Adotada no Brasil. O autor é aquele que


realiza a conduta típica. O autor é a causa; o partícipe, a condição do evento típico. Essa
teoria confunde o autor mediato com partícipe.
TEORIA OBJETIVO-MATERIAL – Autor é quem pratica a conduta mais perigosa. Partícipe é
quem pratica a conduta menos perigosa. Teoria não aceita no Brasil. Também pode ser
denominada teoria do domínio do fato ou final-objetiva.
TEORIA EXTENSIVA – Decorrência da teoria da equivalência das condições. Para esta não
há diferença entre autor e partícipe. Autor é aquele que atua com vontade de autor (ele tem o
fato criminoso como algo próprio) e partícipe é aquele que atua com vontade de partícipe.
Também chamada de teoria unitária ou material-objetiva. Se não houver resultado
naturalístico não é possível falar-se em autor.
TEORIA OBJETIVA-FINAL OU TEORIA OBJETIVA-SUBJETIVA – Está em moda atualmente,
pois está passando por um processo de releitura, de readaptação. É usada em complemento
com a teoria restritiva ou objetivo-formal. Só se aplica aos delitos dolosos. Autor é a pessoa
que tem o domínio do fato (determinar a conduta final da ação, ter o controle final da ação e
decidir sobre o “se, como, quando, onde”). Nessa teoria, sendo o autor assim, ele é autor
independentemente dele realizar a conduta típica ou não. O co-autor é aquele que,
juntamente com outro, tem o controle final da ação e decide sobre o “se, como, quando,
onde”.

“RELEMBRAR diferença de injúria, difamação e calúnia”.

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- Caso Nardoni – Francisco Cerbranelli, promotor, colheu as provas o mais rapidamente


possível, antes que o local do crime fosse alterado. Isso foi importante para a vitória da
acusação.
AUTOR – É aquele que pratica a conduta típica descrita na lei: “Quem por si mesmo executa
uma ação cominada com pena e preenche em sua pessoa todos os elementos do tipo de
injusto e subjetivo é o „autor‟ sem maiores indagações”;
CO-AUTOR – É quem executa, juntamente com outras pessoas, a ação ou omissão que
configura o delito. Pressupõe-se não apenas uma execução conjunta, mas ainda que se
tenha, na conduta, um mútuo acordo de vontades.
AUTOR MEDIATO – Realiza a conduta típica por intermédio de outra pessoa não-culpável.
Ele faz com que o inimputável, criança, por exemplo, realize o crime. Ele faz uma coação ou
induz outrem a erro. Não haverá concurso de agentes entre os não-culpáveis e o autor
mediato, mas pode haver concurso de autores mediatos. Chama-se autoria mediata
(realização indireta do fato típico) aquele em que o autor de um crime não o executa
pessoalmente, mas por intermédio de terceiro não-culpável (chamado de instrumento),
detendo, pois, total domínio do fato.
AUTOR COLATERAL – Há autoria colateral quando duas ou mais pessoas, ignorando uma a
contribuição da outra, realizam condutas convergentes objetivando a execução da mesma
infração penal. Na autoria colateral há condições de saber quem produziu o resultado.
Por exemplo: Duas pessoas, “A” e “B”, fazem tocaia para matar “C”, sem um saber da
presença do outro. Assim, quando “C” passa por um caminho, eles se escondem e atiram. “A”
acerta a cabeça de “C” e “B” acerta a perna de “C”. Assim, devido à morte de “C”, “A”
responde por homicídio consumado e “B” responde por tentativa de homicídio.
AUTORIA INCERTA – Sabe-se quem praticou a conduta, sendo que somente não se
conhece, com precisão, o produtor do resultado. Já na autoria desconhecida, os autores é
que não são conhecidos, não se podendo imputar os fatos a qualquer pessoa.

PARTICIPAÇÃO

PARTICIPAÇÃO

AUTOR; CO-AUTOR PARTÍCIPE (PARTICIPAÇÃO


EM SENTIDO ESTRITO)

INSTIGAÇÃO EM CUMPLICIDADE
SENTIDO AMPLO

INSTIGAÇÃO OMISSIVO
PROPRIAMENTE DITA

INDUÇÃO/ COMISSIVO
DETERMINAÇÃO

- “Uma coisa é a dogmática, outra é a prova”;


- Participação em sentido estrito:
- O art. 29, caput. Norma de extensão de punibilidade;

Regras comuns às penas privativas de liberdade


Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime
incide nas penas a este cominadas, na medida de sua
culpabilidade.

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- Estudo do artigo 31;

Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo


disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime
não chega, pelo menos, a ser tentado.

- Momento da participação em sentido estrito no “iter criminis”;


- A figura do conivente;
- O partícipe só será punido se o crime for, ao menos, tentado.

Iter Criminis: Cogitação, Atos preparatórios, atos executórios, consumação.

INCITAÇÃO – Crime de Mera conduta. Seria uma ação de uma partícipe, mas pela sua
relevância passou a ser denominado crime de mera conduta.

INSTIGAÇÃO – O partícipe reforça uma ideia já existente na mente do futuro autor. A


influência tem que ser de tal forma que, sem ela, o autor não cometeria o crime. Deve haver
referência causal.
Essa forma de reforçar uma ideia existente pode se dar por qualquer meio.

INDUÇÃO/ DETERMINAÇÃO – O partícipe vai inocular, lançar na mente do autor uma ideia
nova, a qual não estava na mente. A instigação e a indução são consideradas espécies de
participação moral.

CUMPLICIDADE – É o auxílio material. É o partícipe que fornece o revólver, dá o chumbinho,


leva no carro, dá as informações.
A atuação do partícipe só pode aparecer na fase de preparação e de execução.
- Se a atuação do partícipe vier após a execução, há um crime autônomo. Pode ser o artigo
348 ou 349. Se houver combinação prévia, há crime.

Favorecimento pessoal
Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública
autor de crime a que é cominada pena de reclusão:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.

Favorecimento real
Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou
de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do
crime:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.

- A conivência não constitui uma forma de participação.


- O conivente é o indivíduo que tem uma conduta omissiva, mas que ele não era garantidor
(ele não tinha o dever jurídico específico de evitar o resultado). Se for um policial e não agir,
acontecerá cumplicidade, pois ele tem o dever legal de agir.

FUNDAMENTO DA PUNIBILIDADE NA PARTICIPAÇÃO

Defende que o partícipe deve ser punido porque ele corrompe o autor, tornando-o culpável.
Adotada no Brasil.

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TEORIA DO FAVORECIMENTO OU DA CAUSAÇÃO


O fundamento da punição do partícipe deve punido porque ele corrompe o autor, tornando-o
culpável. Adotada no Brasil.
O fundamento da punição do partícipe reside no fato dele ter favorecido ou induzido o autor a
praticar o crime. O agente é punível não porque colaborou na ação de outrem, mas porque,
com sua ação ou omissão, contribuiu para que o crime fosse cometido. Adotada na Alemanha
e na Espanha.

PRINCÍPIO DA ACESSORIEDADE DA PARTICIPAÇÃO

TEORIA DA ACESSORIEDADE EXTREMA


Se, por alguma razão, “B” não poder ser responsabilizado pelo crime, “A” também não será.
As circunstâncias que aconteceram com o autor, aplicar-se-ão ao partícipe. Não adotada no
Brasil.

TEORIA DA ACESSORIEDADE LIMITADA


O partícipe será punido mesmo que o autor não seja culpável, bastando para isso que o autor
tenha cometido uma conduta típica e anti-jurídica.

CONCURSO DE AGENTES EM CRIME CULPOSOS


Na Alemanha acredita-se que todos são autores em crimes individuais. No Brasil se admite a
co-autoria em concurso de agentes em crimes culposos, mas não se admite a participação
em sentido estrito.

Concorrência de fatos culposos.

CONCURSO EM CRIMES OMISSIVOS

1. Participação comissiva em crimes omissivos;


2. Participação omissiva em crimes comissivos;
3. Crimes omissivos próprios;
4. Crimes omissivos impróprios.

- Um candidato a prefeito solicita ao médico que não comunique que ele tem determinada
doença, à qual o médico tem obrigatoriedade de comunicar.
- A instigação e a determinação só podem ser de forma comissiva. Só o auxílio pode ser
omissivo.
- Participação Comissiva em Crimes Omissivos;
- Participação Omissiva em Crimes Comissivos.
- “Conivente” equivale a “não-garante”;
- A diferença entre o crime de autoria colateral e o crime de autoria incerta é porque naquele é
possível determinar quem foi responsável principal e neste não é possível. Porém, em ambos,
um não sabe a presença do outro.

CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS – Esse crime pode ser exemplificado como o art. 135 –
Omissão de Socorro. É possível tanto a autoria quanto à participação.

Omissão de socorro
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-
lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à
pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente
perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:

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Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.


Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da
omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se
resulta a morte.

GARANTE – Aquele que cria a situação de perigo também se torna garante.

CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS – Concurso por omissão – Dever jurídico de agir. Autor
= garante. Por exemplo: Salva-vidas vê pessoa se afogando, mas deixa de ir salvá-la por
instigação de mulher. Ele é autor e ela é partícipe.
O garante é sempre autor. Art. 135 do CP.

DISCUSSÃO DE QUESTÕES DE PROVAS ANTERIORES

1. Carlos, um jovem de 18 anos, apanhou por várias vezes, as chaves do automóvel de seu
pai para passear, embora não fosse devidamente habilitado. Foi sempre repreendido por este,
que não admitia tal atitude. Certo dia, na hora do jantar, Carlos apanhou as chaves do
automóvel sem que seu pai percebesse. Ele saiu dirigindo o veículo a 30 km/h, quando, uma
senhora muito idosa, querendo atravessar a rua, saiu de repente do meio de dois veículos
que estavam estacionados e surge diante do automóvel conduzido por Carlos. Ela, em razão
da colisão, foi atropelada, bateu com a cabeça no pára-choque de um carro que estava
estacionado, vindo a falecer. Analise a hipótese e fale de suas conseqüências jurídicas.

2. Ernandes, um jovem de 20 anos, sabendo dirigir com bastante destreza o automóvel, viu,
na manhã do dia 02 de outubro de 2009, seu pai sofrer uma queda em casa e quebrar uma
perna. Preocupado, colocou o seu pai no automóvel e, mesmo não possuindo carteira de
habilitação, levou-o ao hospital. Depois de seu pai ter recebido o tratamento devido, quando o
trazia para a casa, atravessou o semáforo que lhe estava favorável e, neste momento, surgiu
um caminhão pela sua direita que, desatendendo o dever objetivo de cuidado, desrespeitou a
sinalização, vindo a colidir com o veículo conduzido por Ernandes. Em razão a essa colisão, o
pai de Ernandes vem a falecer.

a) Analise a hipótese à luz da teoria “sine qua non”.


Causa superveniente independente que causou o resultado por parte do caminhoneiro que
cometeu homicídio culposo por imprudência. Essa hipótese se encaixa no parágrafo 1º do
artigo 13.

b) Quem e como deverá ser responsabilizado penalmente?


O caminhoneiro deve ser responsabilizado por homicídio culposo, pois agiu com imprudência
(modalidade de crime culposo).

3. João, funcionário público, é inimigo de Pedro, colega seu de trabalho. Resolvido a


assassiná-lo, adquire uma quantidade de arsênico e a deixa guardada em seu armário, na
repartição. Certa tarde, percebendo que Pedro levantara-se, de súbito, de sua mesa, para dar
encaminhamento a um expediente, e antes que ingerisse o suco que havia comprado, pede
João a um outro colega de trabalho que coloque algumas colheres de arsênico no seu suco.
Esse último funcionário colocou, então, as colheres de arsênico, identificando, contudo, a
verdadeira substância, pois já a conhecia anteriormente. Pedro terminou falecendo. Pergunta-
se: Houve autoria mediata? Fale da responsabilidade penal de cada um dos envolvidos.
Teoria objetiva restritiva formal. O colega era culpável a partir do momento que identificou que
a substância era arsênico. Não houve concurso de pessoas porque não houve combinação.

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4. João, pretendendo matar Pedro, arremessa contra ele o veículo que conduzia. Pedro,
gravemente ferido, é socorrido e levado para o hospital privado, aonde vem a ser internado na
Unidade de Tratamento Intensivo. Ocorreu, porém, que na segunda noite em que Pedro
estava internado na UTI, ele veio falecer em razão de um incêndio decorrente de um curto-
circuito em uma das máquinas.
Analise a situação pela perspectiva da Teoria da conditio sine qua non e pela teoria da
imputação objetiva do resultado, na ótica de Claus Roxin. É necessário fundamentar e
justificar a resposta.

5. Durante teste para obtenção de carteira de motorista, o examinador, unicamente com o


propósito de testar os conhecimentos do candidato, determinou que ele fizesse uma
conversão à direita, entrando em uma rua onde se estampava a placa “contra-mão”. O
candidato sentiu o problema, mas com receio de ser reprovado no exame, atendeu à
determinação. O carro foi de encontro a uma bicicleta, que circulava “na mão”, matando o
ciclista. Analise a situação e fale de suas conseqüências jurídicas.

ANOTAÇÕES – TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA

- “Para a teoria da imputação objetiva, o resultado de uma conduta humana somente pode ser
objetivamente imputado ao seu autor quando tinha criado a um bem jurídico uma situação de
risco juridicamente proibido (não permitido) e tal risco tenha se concretizado em um resultado
típico. Em outros termos, somente é admissível a imputação objetiva do fato se o resultado
tiver sido causado pelo risco não-permitido criado pelo autor. Em síntese, determinado
resultado somente pode ser imputado a alguém como obra sua e não como mero produto do
azar. A teoria objetiva estrutura-se, basicamente, sobre um conceito fundamental: o risco
permitido. Permitindo o risco, isto é, sendo socialmente tolerado, não cabe a imputação; se
porém, o risco for proibido caberá, em princípio, a imputação objetiva do resultado”.
(BITENCOURT, p. 298);
- “Na verdade, a teoria da imputação objetiva surge com a finalidade de limitar o alcance da
chamada teoria da equivalência dos antecedentes causais, sem, contudo, abrir mão desta
última. Por intermédio dela, deixa-se de lado a observação de uma relação de causalidade
puramente material, para se valorar uma outra, de natureza jurídica, normativa”. (GRECO, p.
239);
- “Na verdade, a teoria da imputação objetiva, embora muito independente, encontra
resistências, visto que algumas de suas soluções podem e continuam a ser dadas por outros
segmentos teóricos. Contudo, de acordo com o que foi exposto, podemos fazer algumas
conclusões, a saber:
a) A imputação objetiva é uma análise que antecede à imputação subjetiva;
b) A imputação objetiva pode dizer respeito ao resultado ou ao comportamento do agente;
c) O termo mais apropriado seria o de teoria da não-imputação, uma vez que a teoria visa,
com as suas vertentes, evitar a imputação objetiva (do resultado ou do comportamento) do
tipo penal a alguém;
d) A teoria da imputação foi criada, inicialmente, para se contrapor aos dogmas da teoria da
equivalência, erigindo uma relação de causalidade jurídica ou normativa, ao lado daquela
outra de natureza material;
e) Uma vez concluída pela não-imputação objetiva, afasta-se o fato típico.” (GRECO, p. 248);

- “Se não se conseguir vislumbrar o liame subjetivo, isto é, o vínculo psicológico que une os
agentes para a prática da mesma infração penal, então cada qual responderá, isoladamente,
por sua conduta”.

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- “Somente quando duas ou mais pessoas, unidas pelo liame subjetivo, levarem a efeito
condutas relevantes dirigidas ao cometimento de uma mesma infração penal é que
poderemos falar em concurso de pessoas”;
- “A teoria monista, também conhecida como unitária, adotada pelo nosso Código Penal, aduz
que todos aqueles que concorrem para o crime incidem nas penas a este cominadas na
medida de sua culpabilidade. Para a teoria monista existe um crime único, atribuído a todos
aqueles que para ele concorreram, autores ou partícipes. Embora o crime seja praticado por
diversas pessoas, permanece único e indivisível”;
- “A co-autoria é autoria; sua particularidade consiste em que o domínio do fato unitário é
comum a várias pessoas. Co-autor é quem possuindo as qualidades pessoais de autor é
portador da decisão comum a respeito do fato e em virtude disso toma parte na execução do
delito”;
- “Alguns autores afirmam que a co-autoria se baseia no princípio da divisão de trabalho”;
- “Autor direto é aquele que tem o domínio do fato, na forma do domínio da ação, pela pessoal
ou dolosa realização da conduta típica. Por realização pessoal se deve entender a execução
de própria mão da ação típica; por realização dolosa se exprimem consciência e vontade a
respeito dos elementos objetivos do tipo”;
- “Autor mediato é o que comete o fato punível „por meio de outra pessoa‟, ou seja, realiza o
tipo legal de um delito comissivo doloso de modo tal que, ao levar a cabo a ação típica, faz
om que atue para ele um “intermediário” na forma de um instrumento”. “[...] para que se possa
falar em autoria indireta ou mediata, será preciso que o agente detenha o controle da
situação, isto é, que tenha o domínio do fato. Nosso Código Penal prevê expressamente
quatro casos de autoria mediata, a saber:
a) erro determinado por terceiro (art. 20, §2º do CP);
b) coação moral irresistível (art. 22, primeira parte do CP);
c) obediência hierárquica (art. 22, segunda parte do CP);
d) caso de instrumento impunível em virtude de condição ou qualidade pessoal (art. 62, III,
segunda parte do CP)”;
- “Crime próprio é aquele que só pode ser praticado por um grupo determinado de pessoas
que gozem de condição especial exigida pelo tipo penal”;
- “Há dois tipos penais que, embora também exigindo certas qualidades ou condições
especiais, vão mais adiante. Para a sua caracterização é preciso que o sujeito ativo, expresso
no tipo penal, pratique a conduta pessoalmente. Em razão desse fato é que tais infrações
penais são conhecidas como de mão própria ou de atuação pessoal, visto possuírem essa
natureza personalíssima”;
- “Como regra, não se admite autoria mediata nos crimes de mão própria. No entanto, como
toda regra, poderá sofrer exceções, como no caso apontado por Greco, em que será possível
a autoria mediata em um crime de falso testemunho praticado mediante coação irresistível”;
- “Da autoria colateral surge uma outra. Sabe-se quais são os possíveis autores, mas não se
consegue concluir, com a certeza exigida pelo Direito Penal, quem foi o produtor do resultado.
Daí se dizer que a autoria é incerta”;
- “Quando não se conhece a autoria, ou seja, quando não se faz ideia de quem teria causado
ou mesmo tentado praticar a infração penal, surge uma outra espécie de autoria, chamada
agora de desconhecida”;
- “O artigo 31 do Código Penal afirma que o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio,
salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis se o crime não chega, pelo menos,
a ser tentado. Isso quer dizer que a conduta do partícipe somente será objeto de apreciação
se autor, que exerce o papel principal, ingressar, no iter criminis, na fase dos atos de
execução. Caso não dê início à execução à execução do crime para o qual foi induzido,
instigado ou auxiliado pelo partícipe, este último por nada poderá ser responsabilizado,
ressalvadas as disposições expressas em contrário, contidas na lei”.

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PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA

Artigo 29, §1º do CP


- Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de 1/6 a 1/3;
- É a participação em sentido estrito (está se referindo ao partícipe);

Regras comuns às penas privativas de liberdade


Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime
incide nas penas a este cominadas, na medida de sua
culpabilidade.
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode
ser diminuída de um sexto a um terço.
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime
menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será
aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o
resultado mais grave.

COOPERAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA (ou desvio subjetivo de conduta, prevista no


artigo 29, §2º):
“Se um dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena
deste. Essa pena será aumentada até a metade na hipótese de ter sido previsível o resultado
mais grave”. Seria uma exceção da teoria monista.

COMUNICABILIDADE DAS CIRCUNSTÂNCIAS, CONDIÇÕES E ELEMENTARES (art. 30)

Circunstâncias incomunicáveis
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições
de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.

Assunto melhor tratado pelo doutrinador César Bitencourt.


CIRCUNSTÂNCIAS são dados acessórios que circundam o fato principal e, portanto, não
integram a figura típica, podendo elas aumentar ou diminuir a pena. Podem ser objetivas
(também chamadas de pessoais).
Circunstâncias Objetivas – Dizem respeito ao fato criminoso objetivamente considerado, à
qualidade e condições da vítima, ao tempo, lugar, modo e meio de execução.
Circunstâncias Subjetivas ou Pessoais – São aquelas que só dizem respeito à pessoa do
delinquente. Os motivos do crime, suas características, sua relação com a vítima, etc.
CONDIÇÕES DE CARÁTER PESSOAL são as relações do delinquente com o mundo
exterior, seu estado civil, parentesco, profissão, emprego.
ELEMENTARES são partes integrantes da descrição típica.

1ª Regra – As circunstâncias e condições de caráter pessoal não se comunicam entre co-


autores e partícipes, por expressa determinação legal, ainda que elas ingressem na esfera do
conhecimento do outro.
2ª Regra – As circunstâncias objetivas do tipo (sejam elas objetivas ou subjetivas) só se
comunicam se ingressarem na esfera de conhecimento do outro participante.

“A”, caminhoneiro, casado em Sergipe, apaixona-se por Joana, em Ibotirama. Nesse


momento o seu amigo “B”, convence-o a se casas com ela.

“A”, funcionário público (atualmente usa-se o termo “servidor público”) entra em acordo com B
(não-funcionário público) para furtar computadores. “A” abre a porta à noite e “B” recolhe os
produtos do roubo, colocando-os no carro.

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ITER CRIMINIS

a) COGITAÇÃO – Se passa na mente do agente. Ela é impunível.


b) ATOS PREPARATÓRIOS – A pessoa já está decidida que cometerá o crime e tomará
providências para o cometimento – a execução do crime (compra arma, veneno). Esta fase é
impunível.
Porém o legislador transformou em crime alguns atos preparatórios, já que são muito graves.
Por exemplo, o art. 291 (petrechos para falsificação de moeda); o art. 288 (quadrilha ou
bando); porte de arma.

Quadrilha ou bando
Art. 288 - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha
ou bando, para o fim de cometer crimes:
Pena - reclusão, de um a três anos.
Parágrafo único - A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou
bando é armado.
[...]
Petrechos para falsificação de moeda
Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou
gratuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou
qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

Normalmente o ato preparatório é não-punível, fora os casos expressos em lei.


c) ATOS EXECUTÓRIOS – Atos dirigidos diretamente à prática do crime. A “tentativa” se dá a
partir dos atos executórios.
Critérios de distinção entre atos preparatórios e atos executórios:
CRITÉRIO MATERIAL – O ato que não constitui uma ameaça direta a um bem jurídico é um
ato preparatório;
CRITÉRIO FORMAL – Mais adotado. O começo da execução é marcado pelo início da
realização do tipo. Quando se inicia a realização do verbo-núcleo do tipo penal.

“A” entra em acordo com o pistoleiro “B” para matar “C”. Então, “B” fica de tocaia esperando o
carro de “C” passar, já com a arma apontada. Porém, assim que “C” passa, “B” não o mata
por ver uma imagem de sua devoção no carro da vítima.

“A” e “B” decidem incendiar a casa de C (a qual tem dois andares) para mata-lo. “A” e “B”
começam a espalhar o combustível no primeiro andar e “C” vê o ato, chamando a polícia que
chega a tempo de prender “A” e “B” antes de riscarem o fósforo para iniciar o fogo.

“A” e “B”, casados, saem de casa. Ao retornar, veem “C”, desconhecido, dentro do quarto
prestes a abrir o armário.

Frank vincula alguns atos preparatórios como executórios devido à sua correlação na
adequação típica.

“No crime culposo não existem cogitação e atos preparatórios”.

d) CONSUMAÇÃO – Artigo 14, I, do Código Penal. É aquele crime no qual o autor realiza
todos os elementos da descrição típica.
Por exemplo, extorsão mediante sequestro. Se o indivíduo sequestrar a vítima o crime foi
consumado. Se ele chegar a receber a quantia será o exaurimento do crime.

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Art. 14 - Diz-se o crime:


Crime consumado
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de
sua definição legal;
Tentativa
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente.
Pena de tentativa
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a
tentativa com a pena correspondente ao crime consumado,
diminuída de um a dois terços

“O exaurimento são desdobramentos que acontecem depois da consumação que podem


redundar ou não em aumento de pena”.
- Nos crimes materiais em que momento se dá a consumação? Com a ocorrência dos
resultados naturalísticos.

Crime permanente – Se a pessoa (agente) mantém a pessoa (vítima) em cativeiro por 03


anos, diz-se que a consumação do crime de sequestro durou 03 anos.

Crime habitual – Por exemplo, curandeirismo.

TENTATIVA

É a execução iniciada de um crime, que não se consuma por circunstâncias alheias à vontade
do agente; seus elementos são o início da execução e a não-consumação por circunstâncias
alheias à vontade do agente. A tentativa situa-se no iter criminis a partir da prática de um ato
de execução.

Um rapaz empurra a namorada do 5º andar com o intuito de matá-la. Porém ela cai em cima
de uma árvore, se machuca, mas não morre. O ato não se consuma por circunstâncias
alheias à vontade do agente.

“A” atira 6 vezes em sua mulher, “B”, mas erra todos os tiros. “A” imagina que houve
consumação, mas “B” sai ilesa (tentativa branca, no caso). Então “A” foge com seu carro em
alta velocidade e bate num outro carro com 5 pessoas. Ele e as 5 pessoas do carro morrem.

“A” dá 24 facadas em sua mulher, “B”, a qual não morre.

A tentativa sempre é dolosa. O crime se diz tentado quando o agente não o consuma por
circunstância alheias à sua vontade. A vontade do agente era consumar a infração, atingir o
bem jurídico protegido na extensão pretendida, todavia, é interrompido, mas não por vontade
própria. Essa vontade qualifica-se como dolosa, porque a intenção do agente era consumar a
infração penal ou produzir o resultado criminoso, situação verificada somente nos crimes
dolosos. A vontade, nos crimes dolosos, está direcionada ao resultado criminoso. A punição
dos crimes dolosos justifica-se pelo desvalor da conduta, tanto que a tentativa é punível.

PESQUISA DE DIREITO PENAL

- Nos atos preparatórios o agente não pode começar o crime, enquanto na fase de execução
o agente deve parar se quiser desistir.
- Elementos da tentativa:

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Conduta (ato de execução);


Não-consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente;
Dolo (elemento subjetivo) – Vontade do delito consumado (não existe dolo de
tentativa).
- Acerca das espécies de tentativa. Doutrinariamente fala-se de duas:
TENTATIVA PERFEITA, ACABADA, OU CRIME FALHO – A consumação não ocorre, apesar
de ter o agente praticado os atos executórios necessários à produção do evento. O agente
esgota o potencial da arma escolhida, faz tudo o que pode, mas ainda assim o tipo não se
completa por circunstâncias alheias à sua vontade.
TENTATIVA IMPERFEITA OU INACABADA – O agente não consegue praticar todos os atos
executórios necessários à execução, também por circunstâncias externas, o agente não
chega a realizar toda a fase de execução antes de ser interrompido.

TENTATIVA BRANCA OU INCRUENTA – O agente dispara todos os tiros de sua arma de


fogo, mas não acerta nenhum, por erro na pontaria, não é um bom atirador.

- Há tentativas que são punidas com pena igual à do delito consumado, por exemplo, o artigo
352 do Código Penal, evasão mediante violência contra a pessoa; ou disposição do Código
Eleitoral que indica pena igual à ação de votar ou tentar votar duas vezes.
E se a interrupção do crime, antes da consumação, se verificar por circunstâncias ditadas
pela vontade do agente? Nessa hipótese estaremos diante da desistência voluntária ou do
arrependimento eficaz, institutos previstos no art. 15 do CP.

Desistência voluntária e arrependimento eficaz


Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir
na execução ou impede que o resultado se produza, só responde
pelos atos já praticados.

DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA – Se o agente, na fase de execução, pode prosseguir, mas não


quer, desiste de continuar executando o crime, que somente não se consuma por
circunstâncias ditadas pela sua vontade, não importando os motivos que levaram o agente a
desistir da execução, basta que o ato seja voluntário, não havendo necessidade que o ato
seja espontâneo.

ARREPENDIMENTO EFICAZ – Se o agente, tendo esgotado a fase executória, ou seja,


tendo lançado mão de todos os meios para alcançar o resultado pretendido, arrepende-se e
atua no sentido de impedir, eficazmente, que a consumação se concretize. Portanto, no
arrependimento eficaz o agente percorre completamente o iter criminis, esgotando o potencial
ofensivo, mas, antes de atingir a consumação, arrepende-se e impede que o resultado ocorra.
Nas palavras de Aníbal Bruno: “Levada a fim a execução do crime, o agente para evitar o
resultado”. Há o ato reversivo do agente no sentido de que o resultado ocorra.
Exemplo: O agente ministra ao seu desafeto uma dose letal de veneno e, arrependendo-se,
promove o imediato socorro para a vítima, salvando-lhe a vida.

ARREPENDIMENTO POSTERIOR – É uma causa de diminuição de pena – causa geral, pois


se encontra na Parte Geral do Código Penal – entre determinados limites fixados pelo próprio
legislador. Preenchidos os requisitos, é obrigatória a redução da pena.
Artigo 16: Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano
ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do
agente, a pena será reduzida de um a dois terços.

Arrependimento posterior

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Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça


à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento
da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será
reduzida de um a dois terços.

O arrependimento posterior pode ser reconhecido tanto nos delitos consumados quanto nos
delitos tentados, desde que sobrevenha um dano à vítima.
O arrependimento posterior cabe nos crimes culposos também.
Atenção que, no arrependimento EFICAZ, só tem cabimento antes da consumação do crime.

CRIME IMPOSSÍVEL OU TENTATIVA IMPOSSÍVEL OU QUASE-CRIME – O artigo 17 traz


duas hipóteses em que o agente, apesar de atuar dirigindo a sua vontade e conduta para a
prática de um crime, jamais poderia alcançar o resultado almejado e, por isso, não será
punido. Trata-se da hipótese de exclusão da tipicidade.
Crime impossível
Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia
absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é
impossível consumar-se o crime.

Pode ocorrer por ineficácia absoluta do meio ou do objeto. O agente emprega meios
absolutamente inadequados e ineficazes para a prática do crime. Se o meio for relativamente
ineficaz não se afasta a punição pela tentativa.
Nas palavras de Magalhães Noronha, “o meio é relativamente ineficaz quando, normalmente
apto para o resultado, falha no caso concreto...”.
Na segunda hipótese, o objeto material – pessoa ou coisa – que sofre a conduta é que é
impróprio, como no caso de atirar para matar contra a pessoa que já estava morta.
Atenção: Se o agente dispara, para matar, visando atingir a vítima que se encontraria na
cama, dormindo, mas naquele momento a vítima ali não se encontrava, estaremos diante de
uma tentativa branca.
Nas palavras de Magalhães Noronha: “há impropriedade relativa do objeto quando o bem
jurídico existe, mas por circunstâncias fortuitas não é lesado”.
Situação que deve ser também considerada: É o caso do denominado “flagrante provocado”
ou “flagrante preparado”. Não haverá crime, reconhecendo-se o artigo 17, quando a
preparação tornar impossível a consumação do crime. Nesse sentido, a Súmula 145 do STF:
“Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua
consumação”.
Diferentemente é a hipótese do flagrante esperado, em regra não se reconhece o crime
impossível, posto que o delito pode consumar-se de forma diversa a esperada pela polícia.
Somente se reconhecerá o crime impossível na hipótese de flagrante esperado se a ação
policial tornar absolutamente inviável a consumação.

- O pensamento majoritário é que a tentativa é um delito incompleto, mas há autores que


afirmam que ele seja completo.

ELEMENTOS DA TENTATIVA

- 1º ELEMENTO – Prática de atos executórios. O Código adotou a teoria objetiva – formal –


exigindo o início da execução de um fato típico (que penetre na fase executória do crime).
- 2º ELEMENTO – Não consumação do delito por fatores alheios à vontade do agente. Pode
ser qualquer causa interruptiva da execução, desde que estranha à vontade do agente.
- 3º ELEMENTO – Dolo em relação ao crime total.
- O dolo do crime tentado é o mesmo dolo do crime consumado.

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ESPÉCIES DE TENTATIVA

- NA TENTATIVA IMPERFEITA o agente não esgota todos os atos executórios de que


dispunha;
Exemplo: O agente tem 06 balas de revólver e atira 02 na vítima, já imaginando que ela
morreu. Contudo, mesmo assim a vítima não morre.
- NA TENTATIVA PERFEITA o indivíduo esgota doso os atos executórios que poderia
executar. Exemplo: O agente tem 06 balas de revólver e atira todos. E ainda dá pauladas na
vítima.
Atenção: Se estiver bem próximo do máximo também poder-se-á considerar como tentativa
perfeita.
O artigo 59 do Código Penal viabiliza que o indivíduo que cometa tentativa perfeita receba
pena maior do que aquele que cometeu tentativa imperfeita.
- NA TENTATIVA BRANCA – que poderá ser perfeita ou imperfeita – ocorre que a vítima sai
ilesa. A tentativa branca é punível.

Fixação da pena
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à
conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às
circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao
comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e
suficiente para reprovação e prevenção do crime:
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de
liberdade;
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por
outra espécie de pena, se cabível.

PUNIBILIDADE DA TENTATIVA

A tentativa é sempre punível, ainda que seja uma tentativa branca. Há, nesse sentido, duas
teorias, a teoria subjetiva e a teoria objetiva.
TEORIA SUBJETIVA – A pena da tentativa deve ser a mesma pena do crime consumado
porque o dolo de ambos é o mesmo. Não é aceita no Brasil. Somente no Código Penal Militar
há uma aplicação dessa teoria. O exemplo é a tentativa que causa resultado tão grave que o
agente não pode mais viver uma vida comum, como em tiros dados na vítima e ela fica
tetraplégica, sendo estes tiros disparados por um militar. (Art. 30, Parágrafo Único do CPM,
conforme indicado abaixo):

Art. 30. Diz-se o crime:


Art. 14 do CP.
Crime consumado
I – consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua
definição legal;
Tentativa
II – tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente.
Pena de tentativa
Parágrafo único. Pune-se a tentativa com a pena correspondente ao
crime, diminuída de um a dois terços, podendo o juiz, no caso de
excepcional gravidade, aplicar a pena do crime consumado.

TEORIA OBJETIVA – A tentativa deve ter pena diferente – e menor – do que o crime
consumado. Está expresso na parágrafo único do artigo 14.
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Houve uma lesão menor ao bem jurídico.


Atenção para a equiparação em abstrato mencionada no artigo 352 do Código Penal –
Evasão mediante violência contra a pessoa.

Evasão mediante violência contra a pessoa


Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo
submetido a medida de segurança detentiva, usando de violência
contra a pessoa:
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena
correspondente à violência.

- Diferencie culposamente de culpavelmente.

CRIMES QUE NÃO ADMITEM TENTATIVA

CULPOSO – Na tentativa, há intenção sem resultado (pelo menos aquele desejado); no crime
culposo, ao contrário, há resultado sem intenção.
PRETERDOLOSO – Costuma-se afirmar que nos crimes preterintencionais há dolo no
antecedente e culpa no consequente. Logo, como a tentativa fica aquém do resultado
desejado, é impossível haver.
OMISSIVO PRÓPRIO – É um crime de mera conduta. Unissubsistente (ele não pode ser
fracionado). Não cabe tentativa.
Atenção que no omissivo impróprio cabe tentativa. Por exemplo, o policial vê o assalto e não
exerce sua função, mas um transeunte age e evita o resultado.
As contravenções penais, embora tecnicamente admitam a tentativa, a lei da contravenção
penal, no art. 4, impede que a tentativa de contravenção seja punida.

CABE TENTATIVA EM DOLO EVENTUAL? Sustenta-se na doutrina que há possibilidade de


se falar em tentativa com dolo eventual, já que a lei o equiparou ao dolo direto. O dolo da
tentativa é o mesmo do crime consumado. Quem mata age com o mesmo dolo de quem tenta
matar.

Tentativa – QUIS, MAS NÃO CONSEGUI.


Desistência Voluntária – PODERIA CONSEGUIR, MAS NÃO QUIS.

QUESTÕES DE DIREITO PENAL

1. Diz-se que na cooperação dolosamente distinta ocorre o chamado desvio subjetivo de


condutas. O que isso evidencia?
Isso acontece quando a conduta executada difere daquela idealizada a que aderira o
partícipe, isto é, o conteúdo do elemento subjetivo do partícipe é diferente do crime praticado
pelo autor.
2. O que são circunstâncias?
São dados, fatos, elementos ou peculiaridades que apenas “circundam” o fato principal. Não
integram a figura típica, podendo contribuir, contudo, para aumentar ou diminuir a gravidade.
As circunstâncias podem ser objetivas ou subjetivas.
3. Diferencie as circunstâncias objetivas das circunstâncias subjetivas:
Objetivas são as que dizem respeito ao fato objetivamente considerado, à qualidade e
condições da vítima, ao tempo, lugar, modo e meios de execução do crime. E subjetivas são
as que se referem ao agente, às suas qualidades, estado, parentesco, motivos do crime, etc.
4. O que são condições de caráter pessoal?
São as relações do agente com o mundo exterior, com outros seres, com estado de pessoa,
de parentesco, etc.
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5. O que são elementares do crime?


São dados, fatos, elementos e condições que integram determinadas figuras típicas.
6. Discorra sobre a comunicabilidade das circunstancias, condições e elementares:
As circunstâncias e condições de caráter pessoal não se comunicam entre co-autores e
partícipes, por expressa determinação legal. Já as circunstâncias objetivas e as elementares
do tipo (sejam elas objetivas ou subjetivas) só se comunicam se entrarem na esfera de
conhecimento dos participantes.
A comunicabilidade das circunstâncias objetivas e das elementares do crime deve ser
examinada nos termos do artigo 29, caput, na medida de culpabilidade de cada participante. É
imperioso que o participante tenha agido ao menos culposamente em relação à circunstância
objetiva ou em relação à elementar do crime para que possa haver comunicabilidade.
7. Defina o que é tentativa.
É a manifestação da resolução para o cometimento de um fato punível através de ações que
se põem em relação direta com a realização do tipo legal, mas que não tenham conduzido à
sua consumação.
8. O que é iter criminis? Quais são as suas divisões?
É o caminho do crime. São quatro as etapas que deve percorrer: cogitação, preparação,
execução e consumação.
9. Discorra sobre a fase do iter criminis denominada cogitatio e indique a sua relevância
penal.
O agente apenas mentaliza, idealiza, prevê, antevê, planeja, deseja, representa mentalmente
a prática do crime. Nessa fase o crime é impunível, pois cada um pode pensar o que bem
quiser.
10. Quais são as duas fases do iter criminis?
O iter criminis compõe-se de uma fase interna (cogitação) e de uma fase externa (atos
preparatórios, executórios e consumação), ficando fora dele o exaurimento, quando se
apresenta destacado da consumação.
11. Quais são os dois critérios que visam distinguir os atos preparatórios dos atos
executórios?
O critério material vê o elemento diferencial no momento em que o bem juridicamente
protegido é posto realmente em perigo pelo atuar do agente. No critério formal, o começo a
execução é marcado pelo início da realização do tipo.
12. Diferencie crime consumado do crime exaurido.
Não se confunde a consumação – quando o tipo está inteiramente realizado – com o crime
exaurido, pois neste, após a consumação, outros resultados lesivos ocorrem. Em alguns
crimes o exaurimento não ocorre simultaneamente com a consumação.
13. Quais são os elementos da tentativa? Especifique-os.
A tentativa deve possuir tudo o que caracteriza o crime, ou seja, deve conter todas as fases
do iter criminis, menos a consumação. A tentativa é constituída dos seguintes elementos:
Início da execução – a qual o Código adotou a teoria objetiva (formal), exigindo o início da
execução de um fato típico; a não-consumação do crime por circunstâncias independentes da
vontade do agente ou por circunstâncias estranhas a ele; e o dolo em relação ao crime total,
sendo que o dolo da tentativa é o mesmo do crime consumado.
14. Quais são as espécies ou formas de tentativas?
Dependendo do momento em que a atividade criminosa cessar, ocorrerá uma das três
figuras, doutrinariamente denominadas tentativa imperfeita, tentativa perfeita e crime
consumado.
15. Quais as distinções entre tentativa perfeita e tentativa imperfeita?
Na tentativa imperfeita o agente não exaure toda a sua potencialidade lesiva, ou seja, não
chega a realizar todos os atos executórios necessários à produção de um resultado
inicialmente pretendido, por circunstâncias estranhas à sua vontade. Já na tentativa perfeita a
fase executória realiza-se integralmente, mas o resultado visado não ocorre.

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16. Quais são as duas teorias que procuram explicar a punibilidade da tentativa?
A teoria SUBJETIVA fundamenta a punibilidade da tentativa na vontade do autor contrária ao
Direito. Para essa teoria o elemento moral, a vontade do agente é decisiva, porque esta é
completa, perfeita. Na teoria OBJETIVA, a punibilidade da tentativa fundamenta-se no perigo
a que é exposto o bem jurídico, a repressão se justifica uma vez iniciado o crime.
17. Por que os crimes culposos não admitem tentativa?
Na tentativa há intenção sem resultado (pelo menos aquele desejado); no crime culposo, ao
contrário, há resultado sem intenção.
18. Explique porque os crimes preterdolosos não admitem tentativa.
Costuma-se afirmar que o resultado preterdoloso vai além do pretendido pelo agente. Logo,
como a tentativa fica aquém do resultado desejado, conclui-se ser ela impossível nos delitos
preterintencionais.
19. Por que os crimes omissivos próprios admitem tentativa e os omissivos impróprios –
comissivos por omissão – admitem?
O crime omissivo próprio não admite tentativa, pois não exige um resultado naturalístico
produzido pela omissão. Já os omissivos impróprios ou comissivos por omissão, que
produzem resultado naturalístico, admitem tentativa, naturalmente.
20. Diferencie crimes unissubsistentes dos plurissubsistentes e explique o porquê daquele
admitir a impossibilidade de tentativa e este, por sua vez, admití-la.
O crime unissubsistente constitui-se um ato único. O processo executivo unitário, que não
admite fracionamento, coincide temporalmente com a consumação, sendo impossível,
consequentemente, a tentativa (injúria verbal). Contrariamente, no crime plurissubsistente sua
execução pode desdobrar-se em vários atos sucessivos, podem ter fase executória
fracionada, admitem conatus.
21. Por que o crime habitual não admite tentativa?
Porque ele caracteriza a prática reiterada de certos atos que, isoladamente, constituem um
indiferente penal (v. g. charlatanismo, curandeirismo, etc.). Conclusão: ou há reiteração e o
crime consumou-se ou não há reiteração e não se pode falar em crime.
22. Qual a consequência (pena) do flagrante provocado?
Segundo a Súmula nº 145 do STF: “Não há crime quando a preparação do flagrante pela
polícia torna impossível sua consumação”.
23. Quando ocorre a desistência voluntária?
Na desistência voluntária o agente breca a sua atitude delituosa. Por voluntária se entende
aquela que não à força, moral ou material, ou melhor, que seja intrínseca e não alheia à sua
vontade. Se ecige a suficiência da não obstação por causas exteriores ou independentes do
agente.
24. Quando ocorre o arrependimento posterior?
É uma derivação do arrependimento eficaz, que, porém, aparece após a consumação típica.
O leque de abrangência típica é bem amplo, pois apenas se excluem os delitos em que haja
elementos de violência ou grave ameaça.
25. O que é crime putativo?
Crime putativo ou imaginário ou erroneamente suposto é aquele em que o agente pressupõe
por erro que está realizando conduta típica quando, na verdade, o fato não constitui crime
algum.
26. O que é crime impossível?
Crime putativo ou imaginário difere do crime impossível. Acerca deste, pode-se dizer que
ocorre por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto. O Código
Penal, neste caso, acolheu a teoria objetiva pura, que prega a inexistência da tentativa e,
portanto, não existe punição.
27. Quando ocorre o crime provocado (ou flagrante provocado)? Diferencie-o do flagrante
forjado.

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No flagrante provocado o delinquente é impelido à prática do delito por um agente provocador


(normalmente um agente policial ou alguém ao seu serviço). O flagrante forjado é um dos
casos mais tristes da rotina policial e que, infelizmente, ocorre com muito mais frequência do
que se imagina. No flagrante forjado é evidente a inexistência do crime.
28. Qual a relação da Súmula 145 com os crimes de flagrante preparado?
No flagrante preparado a ação da polícia consiste em incitar o agente à prática do delito por
um agente provocador (normalmente um agente policial ou alguém a seu serviço). O flagrante
forjado é um dos casos mais tristes da rotina policial e que, infelizmente, ocorre com muito
mais frequência do que se imagina. No flagrante forjado é evidente a inexistência do crime.
29. Cite uma situação na qual haja:
a) Desistência Voluntária – Um gatuno ingressa numa residência para a prática de furto, mas
desiste e abandona a casa sem nada subtrair.
b) Arrependimento Eficaz – “A”prepara veneno para “B”, e após arrepende-se, derrubando o
produto maléfico, impedindo “B” de consumí-lo (desistência voluntária). A ministra o veneno à
vítima, mas arrepende-se, aplicando o antídoto, salvando-a (arrependimento eficaz).
c) Arrependimento posterior – João furta, à calada da noite, um relógio de Roberval. Contudo,
antes de Roberval prestar queixa, ele devolve-o totalmente íntegro por ato de sua própria
vontade.
d) Crime putativo – A mulher que comete aborto sem estar grávida. O boxeador que, após
nocautear o seu oponente, pensa ter cometido algo ilícito.
e) Crime impossível – A pessoa contra quem o agente, com animus necandi, dispara as balas
de seu revólver tinha antes falecido, era apenas um cadáver. A mulher em quem se quer
provocar um aborto não está grávida. O ladrão que arromba um cofre, mas no momento
aquele se encontra vazio.
f) Flagrante provocado – A autoridade policial, pretendendo prender alguém contra quem não
tem provas, mas sabe ser autor de vários crimes, provoca-o para cometer um, com a
finalidade de prendê-lo em flagrante.
g) Flagrante forjado – Agentes policiais enxertam no bolso (ou no automóvel) de quem estão
revistando substâncias entorpecentes (ou até mesmo armas).
30. O que é “ponte de ouro”?
É uma tentativa abandonada. Isso porque provoca uma readequação típica mais benéfica
para o autor. Por questão de política criminal, o legislador houve por bem não punir a tentativa
nos casos de desistência voluntária, erigindo em benefício do agente uma “ponte de ouro”
(Von Liszt) caracterizada por uma causa subjetiva de isenção de pena. De tal sorte que esta
medida promovesse a retirada do autor desistente do mundo do crime.
31. O que é erro de tipo?
É aquele que recai sobre circunstância que constitui elemento essencial do tipo. É a falsa
percepção da realidade sobre um elemento do crime.
32. João imputa falsamente a Pedro a autoria de um homicídio que, sinceramente, ele – João
– acredita que Pedro tenha praticado. Comete ele calúnia?
Falta-lhe o conhecimento da elementar típica “falsamente”, uma condição do tipo. Se o agente
não sabia que a imputação era falsa, não há dolo, excluindo-se a tipicidade, caracterizando o
erro de tipo.
33. Diferencie injúria, calúnia e difamação.
A calúnia consiste em atribuir, falsamente, a alguém a responsabilidade pela prática de um
furto definido como crime. Assim, se Carlos dizer que George roubou a moto de Alexandre,
sendo tal imputação falsa, constitui crime de calúnia.
A difamação, por sua vez, consiste em atribuir a alguém fato determinado ofensivo à sua
reputação. Assim, se Ananias diz que André foi trabalhar embriagado semana passada,
constitui crime de difamação (não importa se o fato é verdadeiro ou não).
A injúria, de outro lado, consiste em atribuir a alguém qualidade negativa, que ofenda sua
dignidade ou decoro. Assim, se Adamastor chama Miguel de ladrão, imbecil, etc., constitui

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crime de injúria. Mesmo que estejam sozinhos dentro de uma sala, não há necessidade de
que alguém tenha escusado e consequentemente tomado conhecimento do fato para se
constituir crime de injúria.

ANTIJURIDICIDADE

- Diz-se que uma conduta é antijurídica quando ela é contrária ao ordenamento jurídico.
- A antijuridicidade está inserida está inserida em todos os âmbitos do direito: p. ex. civil,
administrativo, penal, etc.
- Uma conduta é antijurídica enquanto não ocorrer uma causa de justificação.
- Tanto se pode usar a expressão antijuricidade quanto ilicitude. Só não as confunda com
“injusto penal” (pois esta é típica e antijurídica).
- Cuidado com a atecnia de alguns autores no uso da expressão “injusto”. Na Espanha,
“injusto” é sinônimo de ilicitude, então alguns doutrinadores acabam por fazer uma tradução
errônea.
- As causas de justificação trazem em si um preceito permissivo e autorizativo.
- O Estado reconhece que não é onipresente. Por isso, confere aos cidadãos a prerrogativa
de ação de legítima defesa.

ANTIJURIDICIDADE – Seria uma teoria das


autorizações para a realização de um
comportamento típico.

FORMAL – Contradição entre o fato MATERIAL – É aquela existente na conduta


praticado pelo sujeito e a norma de humana e que fere o interesse tutelado pela
proibição. norma, não correspondendo a uma das
causas de exclusão da ilicitude.

CAUSAS EXCLUDENTES DE ILICITUDE (ou causas excludentes de antijuridicidade; causas


justificantes; discriminante; justificantes)

Atenção: não confunda discriminante com dirimente.


As justificantes legais são aquelas previstas em lei. As supralegais são objeto de construção
da analogia, dos princípios legais do Direito e dos costumes.

1. Justificantes legais (artigo 23, CP).


I – Estado de Necessidade; (muito usado por advogados).
II – Legítima Defesa;
III – Estrito cumprimento do dever legal;
IV – Exercício regular do direito.

Exclusão de ilicitude
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício
regular de direito.
Excesso punível

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Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste


artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.

Manifestações dessas justificantes:


Art. 150, §3º, inc. I e II;
Art. 128, inc. I;
Art. 146, §3º, inc. I.
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
[...]

Constrangimento ilegal
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave
ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio,
a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a
fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. [...]
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do
paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente
perigo de vida;

Violação de domicílio
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou
astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de
direito, em casa alheia ou em suas dependências:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. [...]
§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia
ou em suas dependências:
I - durante o dia, com observância das formalidades legais,
para efetuar prisão ou outra diligência;
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime
está sendo ali praticado ou na iminência de o ser.
[...]

Supralegal – Consentimento do ofendido em se tratando de bens jurídicos disponíveis.


Artigos 24 e 25 estabelecem os requisitos objetivos do Estado de Necessidade e da Legítima
Defesa, respectivamente. Mas a lei não estabeleceu requisitos objetivos para o estrito
cumprimento do dever legal e para o exercício regular do direito, cabendo tal tarefa à doutrina.
Estado de necessidade
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica
o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua
vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio,
cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o
dever legal de enfrentar o perigo.
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito
ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.
Legítima defesa
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando
moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão,
atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

O indivíduo entra numa farmácia e, aproveitando o descuido dos funcionários, percebe um


remédio caro e furta-o, levando-o para casa. Assim que chegou percebeu que a mãe estava
doente e precisava justamente daquele remédio. Deverá haver punição para ele?

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Dois vizinhos moram num prédio popular, ambos “pirracentos”. Um deles, policial militar,
aprecia música clássica e o outro, cidadão comum, pagode baiano. Cansado com o barulho
ensurdecedor do vizinho pagodeiro ouvindo o “rebolation”, o vizinho policial invade a casa
dele, algema-o e leva-o à força até a Delegacia, alegando estrito cumprimento do dever legal.
Está correta a atitude do policial?

“A” e “B”, dois traficantes, disputam determinada área numa mesma favela. “A”, no fim de
semana, sai em passeio pelo matagal que há por trás da favela. Ao longe, atrás de uma moita
vê a cabeça de “B” e decide mata-lo, atirando de longe. Ao atirar percebe que “B” caiu morto e
aproxima-se para conferir. Aí vê que o corpo dele estava estendido no chão devido ao tiro que
transpassou o cérebro e vê uma garota deitada, apavorada e nua, a qual estava prestes a ser
estuprada por “B”. Poderá “A” alegar legítima defesa de terceiro?

ESTUDO DOS JUSTIFICANTES

ESTADO DE NECESSIDADE

Elencado no artigo 23, explicado no art. 24 e exemplificado no art. 146, §3º, I.


Exemplo Clássico – Náufragos – Dois náufragos disputam a posse de um único colete salva-
vidas e um deles acaba matando o outro.
Cuidado: Em concursos públicos, devido à grande popularidade deste exemplo dos
náufragos, é comum que o examinador faça questões do tipo “pegadinha”.
No Estado de Necessidade tem-se uma colisão de bens jurídicos. E por trás deles há também
interesses legítimos colidindo.
Bem Jurídico (interesses legítimos) X Bem jurídico (interesses legítimos);
Na Legítima Defesa, por sua vez, tem-se também uma colisão de bens jurídicos. Contudo, há
uma colisão de um interesse legítimo com um interesse ilegítimo.
Bem Jurídico (interesses legítimos) X Bem jurídico (interesses ilegítimos).

Questões de Direito Penal II

1. João e Renato estavam passando ao lado da casa de Elias. Percebem que esta está em
chamas e ouvem o grito de Elias suplicante por socorro. João logo se mobiliza para salvá-lo,
arrombando a porta da casa, adentrando e salvando o amigo.

a) Pode se dizer que houve o crime de invasão de domicílio por parte de João?
b) E Renato, que nada fez para impedir o resultado provável – morte de Elias nas chamas –
deverá se penalizado?

2. Caio entra em acordo com Gilmar para que, juntos, assassinem Aurélio (primo de Caio).
Gilmar não consente com Caio, então, se esquece do seu intuito maléfico. No entanto, dias
depois Gilmar briga com Aurélio e acaba por mata-lo. Caio deve responder criminalmente?

3. Distinga Estado de Necessidade de Legítima Defesa.


Na legítima defesa, a ação realiza-se contra bem jurídico pertencendo ao autor da agressão
injusta, enquanto naquela a ação dirige-se, de regra, contra um bem jurídico pertencente a
terceiro inocente. No estado de necessidade há AÇÃO, na legítima defesa, REAÇÃO; em
ambas há a necessidade de salvar um bem ameaçado. Alguém atingido por uma ação
realizada em estado de necessidade não pode reagir em legítima defesa, ante a legitimidade
daquela ação, mas pode, igualmente, agir em estado de necessidade.

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4. César vê um ladrão no interior de seu veículo, prestes a subtrair seu aparelho de som.
Logo, tenta fazer com que o ladrão saia de seu carro, atingindo-o com socos. O ladrão revida
os golpes e, já cansado com o embate, César saca seu revólver e dispara cinco tiros no tórax
do ladrão. Houve um caso de legítima defesa por parte de César?

5. Hugo, com o intuito de subtrair os computadores de um colégio estadual, entra em acordo


com Alisson, funcionário público, para que este forneça as chaves do prédio para que ele
possa adentrar. Alisson consente e cede as chaves a Hugo. Como deve ser a
responsabilização criminal deles?

6. Nelson e Itamar, dois garimpeiros, acabam presos no subsolo por um desmoronamento na


mina. Com o passar dos dias e falta de perspectiva de chegada de socorro, Nelson dá a
Itamar o seu cantil d‟água, para que ele beba e deixe o restante para depois. Itamar, no
entanto, temendo que a água estivesse contaminada para provocar sua morte, joga todo o
conteúdo fora. Só que a água não estava contaminada e Nelson, desidratado, acaba
morrendo. Itamar deverá responder criminalmente?

7. Judith, irmã de Andressa, sugere a Cláudia que esta sequestre Andressa para a cobrança
de extorsão. Cláudia pratica o ato auxiliada por Catarina, funcionária pública que mantém
Andressa presa no subsolo da repartição pública. Discorra sobre a responsabilidade penal de
cada um dos envolvidos.

8. Amanda, casada com Anderson, funcionário público, percebe que o marido está trazendo
para casa os computadores da repartição da qual trabalha. Assim, ela solicita ao marido que
não fizesse mais aquilo, mas também não conta nada à polícia. Assim que a polícia descobre
os atos de Anderson, Amanda diz que não tem nenhum envolvimento com a história. Deverá
ela ser penalizada?

9. Alex esfaqueia sua esposa, mas sua irmã, Alessandra, impede que ele a mate.
Aconselhado por sua irmã, ele leva a esposa ao Hospital, demonstrando desespero e
arrependimento pelos atos praticados. Sua esposa, no entanto, falece em virtude dos
ferimentos. Qual deverá ser a punição de Alex?

10. O sargento Afrânio, sob determinação expressa de seu superior hierárquico, o Cel. Cintra,
coloca no automóvel de seu primo uma quantidade considerável de cocaína para que ele seja
pego em flagrante por tráfico de drogas. Deverá Afrônio ser penalizado criminalmente?

11. Soraia, mãe de Michael, incita o filho a furtar produtos cosméticos numa loja. O pai, que
almejava a guarda do menor, conta tal fato à polícia, que efetua prisão em flagrante de
Soraia. Deverá ela denunciar o marido por ele não estar cumprindo o dever legal de protege-
la ao denunciá-lo à autoridade policial?

12. Renato pretende matar o seu sobrinho, Adalberto. Vê o garoto e segue-o até a escola.
Após o jovem sair do Colégio, mira e atira, derrubando o corpo da vítima. Contudo, logo
descobre que, na verdade, se tratava de um anãozinho, funcionário público daquele colégio
estadual. Como deve ser a penalização de Renato?

13. Quais são os seis requisitos para a configuração do excludente de ilicitude denominado
“Estado de Necessidade”?

14. Num parque de diversões há um problema nas engrenagens de uma montanha-russa e


ela desaba, sendo que as pessoas ficam presas em meio às ferragens. Para se salvar

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algumas destas pisam sobre as ferragens e acabam por machucar as outras. Aclare a
situação à luz do direito penal.

15. Teodoro é flagrado por policiais cometendo um assalto à mão armada. Logo, os policiais
vão prendê-lo em flagrante, mas Teodoro reage com socos e pauladas. Há, na oportunidade,
legítima defesa por parte de Teodoro?

16. A filha de Ananias é estuprada pelo maníaco Charles. Este é preso por policiais e, após o
trânsito em julgado da sentença criminal, Ananias, que era policial, mata Charles a
coronhadas na cadeia. Pode Ananias alegar Legítima Defesa ou Estrito Cumprimento do
Dever Legal?

17. João, culposamente, atinge o carro de Adamastor ao efetuar um cruzamento. Contudo,


antes da denúncia por parte de Adamastor, ele faz os devidos reparos, ressarcindo os danos
no carro de Adamastor. Há, neste ensejo, ocasião de arrependimento posterior?

18. Benedito desfere oito tiros em direção a Marcelo, pretendendo mata-lo. Contudo ele erra
os sete tiros e somente um “passa de raspão”, ocasionando lesões corporais em Marcelo.
Contudo, ao ver o rapaz sangrando devido à hemofilia, Benedito leva-o para o Hospital, onde
é atendido e salvo da morte. Há, no caso, ocorrência de arrependimento posterior?

19. É possível arrependimento posterior em crimes tentados? Exemplifique uma hipótese.

ESTADO DE NECESSIDADE (continuação).

O Código Penal Brasileiro adota a teoria unitária, que não leva em consideração a
ponderação dos bens jurídicos em colisão.
TEORIA UNITÁRIA – Construção doutrinária (justificante 2) = O bem sacrificado ≤ bem
protegido (Estado de necessidade).
TEORIA DIFERENCIADORA – Estado de necessidade Justificante ou Exculpante.
Leva em consideração a ponderação dos bens jurídicos em colisão.
Será uma justificante quando o bem sacrificado é menor que o bem protegido – Artigo 43 do
CPM.
Será uma exculpante quando o bem sacrificado é maior ou igual ao bem protegido – Artigo 39
do CPM.

REQUISITOS OBJETIVOS DO ESTADO DE NECESSIDADE – Devem ser simultâneos, se


faltar um descaracteriza o Estado de Necessidade.
1. Perigo Atual – Art. 24 – O perigo atual é um perigo gerúndio, que está acontecendo. Por
exemplo, náufrago (questão legal). O perigo iminente é aquele que está para acontecer a
qualquer momento (questão doutrinária e jurisprudencial);

Estado de necessidade
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica
o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua
vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio,
cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o
dever legal de enfrentar o perigo.
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito
ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.

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2. Inevitabilidade da conduta tomada – Tinha que tomar uma medida eficaz para tutelar sua
vida, não tinha outra alternativa;
3. Não-provocação voluntária do perigo – O agente que provocou intencionalmente o estado
de perigo não pode alegar estado de necessidade;
4. Inexibilidade do sacrifício do bem ameaçado – Não é uma justificante, mas afasta a
culpabilidade porque a conduta diversa não poderia ser exigida do agente.
5. Direito próprio ou alheio – O estado de necessidade se dirige para a proteção do direito
próprio ou alheio.
REQUISITO SUBJETIVO – A consciência de que, havendo uma situação de perigo, a pessoa
proteja o bem jurídico seu ou de terceiro;
Bem Jurídico Disponível – Todo bem jurídico individual, exceto a vida.
- Art. 24, §1º - Norma relativa, pois quem tem o dever legal de enfrentar o perigo deve ter
possibilidade de sobrevivência.
- §2º - Refere-se a uma situação em que não ocorreu o estado de necessidade, mas que se
permite uma redução da pena.

ESPÉCIES DE ESTADO DE NECESSIDADE

Estado de Necessidade próprio e estado de necessidade de terceiro


- Estado de Necessidade Real – Descrito no art. 24;
- Estado de Necessidade Putativo – Teoria do erro;
- Estado de Necessidade Agressivo – Acontece quanto a conduta do sujeito atinge bem
jurídico de terceira pessoa inocente.
Exemplo: Destruir propriedade alheia para impedir a propagação de incêndio que colocaria
em risco a vida de várias pessoas.
- Estado de Necessidade Defensivo – Acontece quando a conduta do sujeito atinge bem
jurídico de quem causou ou contribuiu para a situação de perigo. Por exemplo, para evitar a
inundação de grandes proporções, um sujeito desvia um canal na direção da propriedade do
causador do rompimento do dique.

LEGÍTIMA DEFESA

É um dos institutos mais antigos do Direito Penal.


Na legítima defesa a pessoa reage a uma agressão injusta.
O Estado admite que não pode estar presente em todos os locais e em todos os momentos
para proteger o cidadão.
Autoriza, então, o indivíduo a se defender sem que isso seja crime, ainda que seja um fato
típico, não sendo antijurídico, portão, não é criminosa.

REQUISITO DA LEGÍTIMA DEFESA (devem ser simultâneos)

Legítima defesa
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando
moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão,
atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

1. Agressão injusta, atual ou iminente – Será sempre uma conduta humana. Quando uma
pessoa reage a uma agressão de um animal age em estado de necessidade e não em
legítima defesa. Essa agressão injusta não é só do direito penal, pode ser em qualquer ramo
do direito.

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Essa agressão injusta pode ser comissiva ou omissiva. Essa agressão deve ser injusta, ou
seja, não pode ser aceita pelo ordenamento jurídico. Se a agressão for justa, não admite
legítima defesa.
Essa agressão deve ser atual ou iminente. É a agressão que está acontecendo ou prestes a
acontecer.
- Não existe legítima defesa de agressão passada;
- Não existe legítima defesa de uma promessa de mal futuro;
Agressão injusta dá margem a uma reação. Essa reação é a que chamamos de legítima
defesa.
Essa reação deve ser imediata à agressão.
2. Direito Próprio ou Alheio – Existe a legítima defesa própria e a legítima defesa de terceiros.
Posso agir para proteger interesse meu ou de terceira pessoa, mesmo sem vínculo afetivo
com essa terceira pessoa.
3. Meios Necessário usados moderadamente – São os meios necessários para interromper
uma agressão injusta ou evitar uma agressão injusta que está prestes a acontecer.

“José dá uma „lapada‟ com a bainha de uma facão na bunda de Ananias. Este, sentindo sua
masculinidade ferida, desfere um soco em José. Irritado e sobre o efeito de álcool, ele se
levanta e agride Ananias com golpes do facão, cortando-o e decepando o seu braço”.

ESPÉCIES DE LEGÍTIMA DEFESA

REAL OU PRÓPRIA – A descrita no art. 25 do CP.


LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA – Estudada adiante.
LEGÍTIMA DEFESA SUCESSIVA – Acontece quando ocorre excesso por parte do agredido
que, inicialmente, agira acobertado pela legítima defesa.
LEGÍTIMA DEFESA RECÍPROCA – Não pode ocorrer essa hipótese de legítima defesa. Isso
porque a legítima defesa é resultante de uma agressão justa contra uma agressão injusta.
Pode ocorrer legítima defesa putativa contra legítima defesa putativa ou legítima defesa
putativa contra legítima defesa real.
A legítima defesa é um tipo de estado de necessidade.

ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL

Estrito cumprimento – Utilizar os meios absolutamente necessários para cumprir o seu dever
legal. Por exemplo, um PM consegue prender um traficante e algema-o. Ele está agindo em
estrito cumprimento do dever legal.
“do dever legal” – Diz respeito a uma lei em sentido formal. Remete às pessoas que exercem
uma função pública, cargo público.
Mas há situações em que a pessoa, mesmo sem investidura em cargo ou função, age em
estrito cumprimento do dever legal – os pais biológicos ou adotivos, por exemplo.

EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO

Se refere a qualquer direito (penal, civil), mas ele deve estar dentro do limite da razoabilidade.
“Seu direito vai até onde começa o direito do próximo”.
- Intervenções médico-cirúrgicas – Alia-se exercício regular do direito e estado de
necessidade.
- Art. 146, §3º, inc. I;
Constrangimento ilegal
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave
ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio,

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a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a


fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. [...]
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do
paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente
perigo de vida;

- Caso das testemunhas de Jeová – Eles não consentem com a transfusão de sangue,
mesmo em casos de extrema necessidade. Cabe aos médicos decidirem se acatam ou não
as exigências.
- Atividades desportivas (controladas pelo Estado) – Podem acontecer lesões. Toda lesão que
ocorra nos limites da atividade desportiva não será considerada antijurídica em razão de
exercício regular do Direito.
RACISMO – Inafiançável e imprescritível
Súmula Jurisprudencial do STF sobre difamação, injúria – Só é crime nos casos de ânimo
exaltado.
Comentário machista também é injúria.

OFENDÍCULAS (offendiculas)

Também chamadas de “defesas mecânicas predispostas”. São dispositivos ou instrumentos


objetivando impedir ou dificultar ofensa a um bem jurídico, podendo ser elas ocultas ou
ostensivas. Por exemplo, cerca elétrica, cachorro faminto, fosso atrás do muro, “pega-lalau”.
Há estabelecimento de regras para colocação de cerca elétrica.
Quando a pessoa instala a ofendícula ela é exercício regular do direito. Direito à proteção.
Quando a ofendícula é acionada, passa a ser legítima defesa.

CONSENTIMENTO DO OFENDIDO EM RELAÇÃO A BENS JURÍDICOS DISPONÍVEIS

Todos os bens jurídicos individuais, exceto a vida.

Consentimento

Tipicidade Antijuridicidade

Integrar o tipo. Art. 125 Excluir o tipo. Art. 150, Excluí-la


CP CP

Quanto ao Consentimento que exclui a antijuridicidade, há os seguintes requisitos:


A manifestação do ofendido seja livre, sem coação, fraude ou outro vício de vontade.
O ofendido, no momento de consentir, possua capacidade para fazê-lo. Compreenda o
sentido, a atitude e as consequências daquilo que faz.
Que se trate de bem jurídico, mas que o consentimento seja anterior à ação típica.
Que a ação típica ocorra dentro dos limites do consentimento.

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Exemplo: “Valdeílson compra um Corsa em 2008. Sua namorada, Vanda, o toma emprestado.
Contudo, ao receber o carro de volta ele percebe no chão do banco traseiro um forte indício
de que Vanda havia traído-o com seu melhor amigo. Valdeílson, então, profundamente
magoado, solicita a Flávio, seu primo, que este queime o carro. Flávio, então, com o
consentimento de Valdeílson, incinera o carro”.

CULPABILIDADE

EVOLUÇÃO DO CONCEITO
Conceito Formal de Culpabilidade – Resulta de uma construção.
1. Conceito Psicológico – Final do Século XIX. Os doutrinadores imaginam que é o vínculo
psicológico que ligava o autor do delito ao resultado do delito. Dolo e culpa eram espécies de
culpabilidade (dolo = culpabilidade mais intensa; culpa = menos intensa). Muitas críticas foram
dirigidas. Por exemplo, como explicar a culpa inconsciente?
2. Conceito Psicológico Normativo – Fase de transição. Representado por Frank,
Goldschimidt, Freudthal. Eles ainda não tiveram o entendimento de que dolo e culpa
compõem a culpabilidade. Trouxeram o novo elemento da reprovação e o novo elemento
inexigibilidade de conduta diversa.
3. Conceito Normativo Puro – Construção da escola finalista. Idealizado por Hans Welzel.
A culpabilidade é um juízo de reprovação que incide sobre a conduta típica e antijurídica
realizada por um indivíduo. Indivíduo esse que poderia agir conforme o direito e, entretanto,
com base em seu livre-arbítrio ou em sua autodeterminação, preferiu não fazê-lo. A
culpabilidade é a culpabilidade da vontade. Welzel ainda inseriu duas mudanças: Ele retirou o
dolo e culpa da culpabilidade e colocou-os no fato típico.
Ele estabeleceu quais são os três elementos da culpabilidade, que valem até hoje:
Imputabilidade; Potencial ou possível consciência da Ilicitude; Exigibilidade de Conduta
Diversa.
Este é o conceito FORMAL. O conteúdo material da culpabilidade é altamente instável.

ELEMENTOS DA CULPABILIDADE

Primeiro elemento da culpabilidade


IMPUTABILIDADE – No art. 26 não define o que é imputável, mas o que é inimputável.
A imputabilidade vem a ser o conjunto de condições de maturidade e sanidade mental que
permitem ao agente conhecer o caráter ilícito do seu ato e de determinar-se de acordo com
esse entendimento.

Inimputáveis
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da
ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.
Redução de pena
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois
terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou
por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.

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Inimputabilidade

Doentes Mentais – Desenvolvimento Menores de 18 anos de


Medida de Segurança mental incompleto ou idade – Medidas
retardado – Medida de Socioeducativas
Segurança

Quem avalia se o indivíduo é imputável ou inimputável é o psicólogo. Deve ser avaliado de


acordo com o momento da prática do delito. O momento da prática do delito é relevante.
Do ponto de vista médico há três sistemas de avaliação da imputabilidade:
SISTEMA BIOLÓGICO OU ETIOLÓGICO – Adotado para os menores de 18 anos aqui no
Brasil. Para o menor de 18 anos não importa se ele sabia exatamente o que estava fazendo
com plena consciência.
SISTEMA PSICOLÓGICO OU PSIQUIÁTRICO – Não é adotado aqui no Brasil.
SISTEMA BIOPSICOLÓGICO OU MISTO – Aplica-se à hipótese de doentes mentais ou
pessoas com desenvolvimento mental incompleto ou retardado. A regra no Brasil é este
sistema (a exceção é o biológico).

CAUSAS QUE EXCLUEM A IMPUTABILIDADE

DOENÇA MENTAL – Constitui uma alteração mórbida da saúde mental, independentemente


da sua origem. Por exemplo, esquizofrenia, demência senil, paranoia, psicose maníaco-
depressiva. Observe que a psicopatia não é doença mental, o psicopata é considerado
imputável.
Os trabalhos dos psiquiatras são exercidos no HCT.
DESENVOLVIMENTO MENTAL INCOMPLETO OU RETARDADO – Oligofrenias, idiotias,
imbecilidade, debilidade mental, surdo-mudo não educado, o silvícola não integrado.

MENORIDADE – Aqueles que têm idade inferior a 18 anos completos.


Menores de dezoito anos
Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente
inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação
especial.

EMBRIAGUEZ COMPLETA – Art. 28 CP. Aquela decorrente de caso fortuito ou força maior.
“Embriaguez completa” deve ser interpretada no sentido amplo, ou seja, não só decorrente do
consumo de álcool, mas de substâncias de efeito análogo.

Embriaguez
II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou
substância de efeitos análogos.
§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez
completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo

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da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter


ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.
§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o
agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior,
não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade
de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento.

Aquela não decorrente de dolo ou culpa.


Esse assunto nos remete a outro tema dentro da embriaguez denominado actio libera in
causa. Há pessoas que colocam-se neste estado de embriaguez para se tornarem
inimputáveis e cometerem crimes. Depende de prova. Deve-se aferir também o contexto. A
pessoa se embriagar pode ser considerado como fase preparatória.
EMOÇÃO E PAIXÃO – Artigo 28, inciso I. Não excluem a imputabilidade penal a emoção e a
paixão.

Emoção e paixão
Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:
I - a emoção ou a paixão;

Não confundir os dois termos. A emoção é uma sensação provisória. A paixão é um


sentimento crônico e, por isso, duradouro. A paixão está ligada a sentimentos como ódio,
cobiça e revolta. No máximo pode promover a redução da pena. Por exemplo, homicídio
privilegiado; lesão corporal privilegiada.
- Ver artigo 65, c.

Circunstâncias atenuantes
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: [...]
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em
cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência
de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima;

- O semi-imputável do art. 26, parágrafo único, vai ter uma pena reduzida. Vai cumprir a pena
num presídio normal. Se ele precisar de um tratamento no decorrer desta, o Juiz de
Execuções Penais o internará numa clínica de tratamento (medida de segurança).
- Antes da reforma de 1984 existia o duplo binário. Passou-se ao sistema vicariante. Ou pena
ou medida de segurança a partir de 1984 (foi a última reforma do Código Penal).

EMBRIAGUEZ VOLUNTÁRIA OU CULPOSA PELO ÁLCOOL OU SUBSTÂNCIAS DE


EFEITOS ANÁLOGOS
Alguns remédios deixam a pessoa com sensações análogas às de uma embriaguez.
Não exclui a imputabilidade.
“Tudo no direito é prova. O que não tem prova não existe”;

EMBRIAGUEZ COMPLETA, PROVENIENTE DE CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR


Se a embriaguez for completa, o agente é inimputável.
Se a embriaguez for incompleta, o agente é semi-imputável e terá pena reduzida.

Exemplo: Carlos, médico de Ingrid, recomenda a ela determinado medicamento para que
possa dormir. Ingrid, confiando nele, toma o remédio e percebe-se persistentemente tonta. Ao
ler a bula vê que o remédio causa sintomas da embriaguez. Assim, ela não sabia que o
remédio causaria essa sensação.

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Carvalho, policial, “garante”, se embriaga por caso fortuito e deixa de agir ao ver uma senhora
sendo assaltada nas proximidades do posto policial. Há, no caso, omissão do dever legal de
agir.

Segundo elemento da culpabilidade


CONSCIÊNCIA ATUAL OU POSSÍVEL DA ILICITUDE DA CONDUTA

Essa consciência é na hora da ação. Parte do pressuposto que a pessoa é imputável.


No Brasil, o dolo é natural, não normativo.
- “Estratégia dos promotores no júri: fazer questões simples para a pessoa „relaxar‟ e, em
seguida, surpreendê-la indicando contradições”.

“Carla, filha de um militar, recebe pensão devido à morte do pai, algo legal segundo a
legislação militar. No entanto, com a sua morte sua neta continua recebendo a quantia
referente à pensão, algo ilegal, pois é exigível a conduta de avisar do falecimento da mãe
para que haja o corte do fornecimento. Como a neta era uma advogada, óbvio que ela estava
consciente da ilicitude, até mesmo porque poderia buscar informações para saber se tinha
direito ou não à quantia. Há, aqui, um crime”.

Terceiro elemento da culpabilidade


EXIGIBILIDADE DE CONDUTA ADVERSA
Na circunstância em que o indivíduo se encontrava, se era exigível para ele um
comportamento diverso do que ele teve.

HIPÓTESES DE DIRIMENTES OU EXCULPANTES LEGAIS

1. COAÇÃO IRRESISTÍVEL (ART. 22 CP)


Física – vis absoluta – coagida – instrumento – não há vontade;
Moral – vis relativa – ameaça.
Coação irresistível e obediência hierárquica
Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em
estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior
hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.

Coação Física
Um atirador estava dando tiros com repetição quando vem uma pessoa e bate no braço dele
a fim de que ele atinja um amigo e isso acontece. Trata-se de hipótese de coação irresistível
física.
A coação física não serve para compor o rol de exculpantes legais. A coação física atinge a
tipicidade.

Coação Moral
A ameaça não pode ser vaga ou ameaça imprecisa.
É indiferente que essa ameaça seja ligada ao coagido ou pessoas ligadas afetivamente ou
não a ele.

Se a coação for irresistível, está-se diante de uma autoria mediata. Caso a coação for
irresistível, há concurso de agentes.

2. OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA
Se refere necessariamente a relações de direito público. Também está prevista no art. 22 do
CP. Quando o superior hierárquico dá ao subordinado uma ordem não manifestamente ilegal.
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A ordem é ilegal, mas ela, por fora, aparenta ser legal.


1º. Se o subordinado não percebe a ilegalidade e mesmo assim executa a ordem, estamos
diante de um concurso de agentes.

ATENÇÃO: Também existe no CP Militar, no art. 38. No caso, a ordem não deve ser
manifestamente criminosa.
A ilegalidade é mais ampla do que o criminoso.

Art. 38. Não é culpado quem comete o crime:


Coação irresistível
a) sob coação irresistível ou que lhe suprima a faculdade de agir
segundo a própria vontade;
Obediência hierárquica
b) em estrita obediência a ordem direta de superior hierárquico, em
matéria de serviços.
§ 1º Responde pelo crime o autor da coação ou da ordem.
§ 2º Se a ordem do superior tem por objeto a prática de ato
manifestamente criminoso, ou há excesso nos atos ou
na forma da execução, é punível também o inferior.

3. ERRO DE PROIBIÇÃO
Há erro de proibição quando o indivíduo realiza uma conduta pensando, erroneamente, que
ela está em conformidade com o direito.

4. DISCRIMINANTES PUTATIVAS

5. CASO FORTUITO (imprevisibilidade) e FORÇA MAIOR (inevitabilidade).

Seminário – Justiça Restaurativa – Com Novo Olhar sobre as Vítimas de Delitos


Drª. Selma Santana e Prof. Osvaldo Bastos

1º SEMINÁRIO – JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO NOVO OLHAR SOBRE AS VÍTIMAS DE


DELITOS.
DRª. SELMA SANTANA

- Justiça Restaurativa é um tema que está se impondo progressivamente no Brasil, mas


estamos ainda descobrindo-o. Nos Estados Unidos e em países Europeus já é estudado há
muito tempo.
- Como nosso sistema penal trata os presos?
- O prejuízo causado pelos maus parlamentares causa mais danos ao Brasil do que os furtos
simples.
- Descaso com os presos. Sistema que não socializa. Nem ressocializa.
- O que a sociedade brasileira busca, na verdade, é a vingança.
- Presídio. Universidade do crime? Presos se misturam, com promiscuidade.
- Relação de honestidade conosco e com os outros. Você empregaria um regresso ou uma
regressa?
- “Preso morcego” – Por falta de espaço na cela, dorme amarrado com um lençol às grades.
- Eles saem com mais raiva ainda dos presídios. Vêem seus filhos na criminalidade, as filhas
se prostituindo, a esposa abandonada.
- Defensores públicos – Trabalho enorme e relevantíssimo. Mal remunerado, infelizmente.
- Homens-aranha. Escalam prédios metropolitanos até o terceiro, quarto andar, para roubar.
- Terceiro andar dos prédios com grade, pois no segundo andar põe-se grade e no primeiro
também, podendo o ladrão escalar.

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- Salvador só tem o que há de ruim nas metrópoles.


- Nós vivemos presos, com medo. Quem pode, sai armado. As mulheres, com spray de
pimenta.
- Programas “na mira” e “se vira, Bocão”. Pretexto de investigação jornalística. Cria um
sentimento de fragilidade, de medo, de insegurança. Desrespeitam o princípio da presunção
de inocência.
- “A festa do pó”, em Vitória da Conquista. Filmagem do rosto de cada um, em fila.
- Questionamentos em entrevistas que induzem a respostas criminalizantes pelos presos.
- Questão das vítimas dos delitos. Vocês pararam para pensar mais de cinco minutos nas
vítimas dos delitos?
- Nós não temos o hábito de pensar nas vítimas. Nós temos nossa atenção voltada ao réu. O
ser humano tem dificuldade de lidar com a sua dor, quanto mais com a dor do outro.
- A vitima passou a ser totalmente esquecida.
- Como está nosso sistema judiciário? Pilhas e pilhas de processos, sem ver a pilha baixar.
Juízes desmotivados, defensores públicos desmotivados.
- Baixos salários a policiais e delegados.
- Só podemos pensar em bem-estar do ponto de vista coletivo. Tirar a cortina do egoísmo, da
hipocrisia.
- A Justiça restaurativa, na realidade, constitui uma série de métodos e mecanismos, através
da vítima e do agressor, que eles cheguem a uma conciliação. Não está preocupada com o
crime. O crime atinge a vítima, o ofensor, a sociedade. A criminalidade interessa ao governo.
Deve-se tratar as conseqüências do crime.
- A proposta é que a vítima e autor do delito se encontrem. Ali deve haver a pessoa do
facilitador, do mediador.
- A justiça restaurativa se aplica mais a crimes de pequena e média gravidade. Não pode se
estabelecer crime de privação de liberdade nem tarefas humilhantes.
- O mediador é um facilitador para o diálogo. Ele não interfere no conteúdo do acordo.
- Nos presídios não estão pessoas que deveriam estar.
- A justiça restaurativa começou nos Estados Unidos, na década de 70. Foi aprimorada na
década de 80. Posteriormente, foi adotada na Europa, no Canadá, França, Portugal, África do
Sul, País de Gales, entre outros.
- Projeto de Pesquisa na UFBA – Justiça Restaurativa.
- Projeto de Lei 7.006/2006
- Dificuldades no Brasil: o pensamento retribuitivista. A sociedade brasileira é uma sociedade
retribuitiva.
- Chacina do Carandiru, com 111 mortos, em 02 de dezembro de 2002.
- A justiça tardia não é justiça. Ela tem de ser rápida.
- Nós temos o hábito de importar as coisas da exata maneira que elas são lá. Para trazer a
justiça restaurativa ao Brasil é necessário capacitar bem os mediadores.
- Sr. Albérico opinou indicando a necessidade de controle de natalidade, distribuição de renda
e cuidar daqueles que já nasceram, com acesso à saúde, cultura e educação.
- Na África do Sul, o pensamento restaurativo é uma prática há anos.
- Marcos jurídicos da justiça restaurativa:
- Resolução 2000/14, de 27 de julho de 2000, intitulada “Princípios Básicos para
utilização de Programas Restaurativos em Matérias Criminais”

- Pesquisa na Internet: “A Justiça Restaurativa baseia-se num procedimento de consenso, em


que a vítima e o infrator, e, quando apropriado, outras pessoas ou membros da comunidade
afetados pelo crime, como sujeitos centrais, participam coletiva e ativamente na construção
de soluções para a restauração dos traumas e perdas causados pelo crime. Trata-se de um
processo estritamente voluntário, relativamente informal, intervindo um ou mais mediadores
ou facilitadores, na forma de procedimentos tais como mediação vítima infrator (mediation),

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reuniões coletivas abertas à participação de pessoas da família e da comunidade


(conferencing) e círculos decisórios (sentencing circles). Na forma de mediação, se propicia
às partes a possibilidade de uma reunião num cenário adequado, com a participação de um
mediador, para o diálogo sobre as origens e consequências do conflito criminal e construção
de um acordo e um plano restaurativo. Na forma de reunião coletiva e círculo decisório,
ocorrerá também uma mediação em sentido amplo, mais abrangente e reflexiva, ou seja, o
diálogo sobre origens e consequências do conflito criminal e a construção de um acordo e um
plano restaurativo ocorre não em nível individual, mas de forma coletiva e integrada com a
comunidade. Tais procedimentos propiciam às partes a apropriação do conflito que
originalmente lhes pertence, legitimando-os a construir um acordo e um plano restaurativo,
alcançando o resultado restaurativo, ou seja, um acordo objetivando suprir as necessidades
individuais e coletivas das partes e se lograr a reintegração social da vítima e do infrator”.
- Há diferenças entre o mediador e o conciliador. O mediador é neutro, não interfere no
conteúdo, o conteúdo dos acordos deve estar no processo.
- A política criminal deve pensar à frente do pensamento populacional.

2º SEMINÁRIO – CRISE DE SEGURANÇA E CORTE DE RECURSOS


PROFESSOR OSVALDO BASTOS

- Quanto mais o ensino no Brasil se ampliou, mais a qualidade se reduziu.


- A crise da segurança no Brasil é uma crime moral que se reflete em outras instâncias:
saúde, polícia, educação.
- Poder discricionário da polícia.
- No Brasil, o que deveria ser tipificado como crime organizado era o “escândalo” que envolve
os políticos, e não a quadrilha ou bando, que envolve singelos bandidos.
- Para alguns comentadores o termo “discricionário” significa meramente usar o bom senso
em circunstâncias excepcionais.
- Para outros, “discricionário” se aplica na fase de persecução penal que compete o trabalho
policial, ao procurar suspeitos, cumprir mandados.
- A aplicação seletiva de leis é responsável, de forma clara, por uma grande quantidade de
problemas ao lidar com o poder discricionário policial.
- A “algema” é um meio de contenção.
- Qualquer exercício de poder discricionário pela polícia abre porta para o uso arbitrário do
poder governamental.
- Estruturar o poder discricionário não significa eliminá-lo.
- O problema prisional no Brasil é legislativo e judiciário.
- “No Brasil, ser pobre não é crime, é agravante”
- A Constituição de 1988 foi feita com ênfase no passado, ou seja, para impedir o retorno da
ditadura, e não com ênfase para o futuro.
- As medidas só são tomadas quando casos trágicos acontecem.
- Segurança e corte de recursos.
- Caso Protógenes - Execrado em Praça Pública, porque trabalhou.
- Operação Satiagraha.
- A lavagem de dinheiro é um dos grandes crimes do Século XXI. Crime sofisticado.
- Lei nº. 9.883, de 1999.
- Decreto nº. 4.376, de 13-09-2002.
- Decreto nº. 3.695, de 2000.
- Quem enriquece o crime é a lavagem de dinheiro. Investimentos no setor financeiro. O
tráfico é só “capital inicial”.

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EXCULPANTES SUPRALEGAIS

Juarez Cirino dos Santos é o único autor brasileiro que trata desse tema.
Exculpantes são causas que excluem a imputabilidade.
Estas exculpantes não estão previstas em lei:
- Fato de consciência;
- Provocação da situação de legítima defesa;
- Desobediência civil;
- Conflito de deveres.

FATO DE CONSCIÊNCIA

Art. 5º, VI, da Constituição Federal de 1988 – Garante ao indivíduo a liberdade de crença e de
consciência.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na
forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

Direitos Individuais – Vida e Integridade Física;


Direitos Coletivos – Paz Interna e Existência do Estado.
O fato de consciência tem por objeto decisões morais ou religiosas sentidas com deveres
incondicionais, vinculantes da conduta, asseguradas pelo artigo 5º, VI, da Constituição
Federal de 1988. Protege a liberdade de formação de crença e consciência, limitada apenas
por direitos individuais, como a vida e a liberdade física, os direitos coletivos.
No caso de tipos penais que protegem direitos humanos fundamentais, esta exculpante é
condicionada à proteção de um bem jurídico por uma alternativa neutra.

Imagine uma criança correndo perigo de vida, sendo necessária uma transfusão de sangue.
Os pais não admitem, devido a motivos religiosos. Se os médicos não realizarem a transfusão
porque alegam não terem recebido a aceitação dos pais da criança, os médicos responderão
por homicídio e os pais também.

Se os pais não permitirem e, mesmo assim, os médicos fizerem, os pais não responderão por
crime nenhum, pois houve a ação alternativa do médico. O médico também não responderá
por crime nenhum.

Se os pais não permitirem e uma tia consegue um curador judicial que autorize a transfusão e
os médicos a realizem, os pais não responderão por crime nenhum. Essa exculpante, no
caso, verifica-se em relação à atitude dos pais.

Uma mulher tem uma gravidez abdominal e corre um grande risco de vida, o qual é quase
certo. O médico se nega a realizar o aborto. Caso outro médico não se mobilize para fazê-lo,
este primeiro responderá por crime quando a mulher falecer.

PROVOCAÇÃO DA SITUAÇÃO DE LEGÍTIMA DEFESA

Cirino, nesse sentido, sustenta:

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Se o provocador pode desviar a ação de defesa do agredido (como, por exemplo, fugindo do
local), não haverá exculpação. No caso, ao provocador, há exculpação.

Se o provocador não pôde desviar a ação de defesa provocada, estão seria possível admitir a
exculpação do agressor por ações inevitáveis de defesa, porque o Estado não pode exigir de
ninguém a renúncia ao direito de viver, nem criar situações sem saída em que as alternativas
são ou deixar-se matar ou sofrer pena rigorosa.

Se o provocado age de tal forma que, se o provocador não reagisse, poderia morrer ou sair
gravemente ferido, ou seja, não pode se desviar, os fatos típicos do provocador haverão
exculpação (mas a agressão injusta por parte dele, não).

DESOBEDIÊNCIA CIVIL

Tem por objeto ações ou demonstrações públicas de bloqueios, ocupações, etc, realizadas
em defesa do bem comum, ou em prol de questões vitais da população, ou mesmo em lutas
coletivas por direitos fundamentais, desde que não constituem ações violentas (à pessoa ou à
coisa), contra a ordem vigente, e que sejam limitadas no tempo.

CONFLITO DE DEVERES

Entre a escolha do mal menor em detrimento de um mal maior.

Um indivíduo conduz um trem em alta velocidade e percebe que está prestes a sair dos
trilhos. À direita, à frente, ele vê, de um lado, cinco homens trabalhando e, do outro, uma
Igreja lotada. O maquinista decide jogar o trem contra os trabalhadores, para haver um mal
“menor”.

Pessoas desempregadas que não conseguem – ou mesmo não adentram – no mercado de


trabalho e acabando furtando comida no supermercado para alimentar seus filhos.

PRINCÍPIO DA CO-CULPABILIDADE

Considerado grande novidade, mas, desde o século XVIII (1799), um médico francês, Jean
Paul Marat, começou a fazer críticas ao Direito Penal, afirmando que se o Direito Penal é
desigual não pode haver a mesma pena para todos, o mesmo tratamento para todos. A
culpabilidade deve ser dividida entre a sociedade e o autor do fato, por isso o termo co-
culpabilidade.
Não se pode exigir que todos atendam a lei da mesma forma, em razão da desigualdade.
Há quem admita que a co-culpabilidade é uma causa de atenuação de pena, sustentando que
deve haver um nexo causal entre a falta de oportunidade quando o indivíduo esteve na
sociedade e o crime por ele cometido. Sustentam que esse princípio se aplica em grande
parte em relação aos crimes patrimoniais.
A co-culpabilidade tem aplicação residual. Primeiro analisa-se se a pessoa não agiu em
estado de necessidade e segundo, se havia inexigibilidade de conduta adversa.
A co-culpabilidade já se encontra prevista na maioria dos códigos da América Latina.
No Brasil, de certa forma, existe alguma previsão normativa análoga ao princípio da co-
culpabilidade.
Art. 60, caput e parágrafo único – Esse artigo é uma forma parecida como princípio da co-
culpabilidade. Lei 9.605/1998, art. 14, I.
No atual momento, o entendimento majoritário é que esse princípio se aplica de acordo com o
artigo 66 do CP.

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Aplicação da pena pelo juiz – fases:


1ª – Fixar a pena-base – art. 59 CP.
2ª – Circunstâncias agravantes ou atenuantes, se tiverem, art. 61, art. 65. No art. 66 há as
chamadas atenuantes inominadas, ou genéricas.
3ª – Causas majorantes ou causas que diminuem a pena. No agravante o critério de aumento
fica a critério do juiz, não podendo aumentar o limite da pena cominada.
Na majorante existe um quantum determinado de aumento.
O princípio da co-culpabilidade está sendo usado como uma circunstância atenuante
inominada e é aplicado na 2ª fase da aplicação da pena. Esse é o pensamento majoritário.
Há uma linha mais radical que é defendida por Juarez Cirino dos Santos. Ele considera que
quando a situação do indivíduo não está inserido no mercado de trabalho, não teve
oportunidade, qualquer ato que ele venha a cometer em virtude dessa circunstância
extinguiria a culpabilidade, exclui o crime.
A co-culpabilidade às avessas defende que a pena deve ser aumentada para o indivíduo que
teve oportunidade.
Essa ideia da aplicação desse princípio existe o nível jurisprudencial, mas na doutrina existe
pouco sobre isso.

PENSAMENTO DE EUGÊNIO ZAFARONI – Tem uma visão particularizada. Não aceita o


princípio da co-culpabilidade. Crítica baseada em duas razões: primeira que esse princípio
permanece vinculado à ideia de que a criminalidade está ligada à pobreza; segunda é que ele
entende que esse princípio subestima ou revela a seletividade criminalizante. Propõe uma
ampliação. Defende a ideia da culpabilidade por vulnerabilidade e abandona o princípio da co-
culpabilidade, desde a década de 80.
Entende-se por situação de vulnerabilidade aquela na qual a pessoa se coloca quando o
sistema penal a seleciona e a utiliza como instrumento para justificar seu próprio exercício de
poder, pois é o grau de vulnerabilidade ao sistema penal que decide a seleção e não o
cometimento do injusto, porque há muitos mais injustos penais iguais e piores que deixam o
sistema penal indiferente. Dessa forma, existe uma relação intrínseca entre vulnerabilidade e
seletividade.
Essa vulnerabilidade seria uma exculpante supralegal para Zafaroni que é um abolicionista.
Ele acha que o vulnerável é uma pessoa que é selecionada pelo sistema e isso não tem nada
a ver com a conduta que a pessoa praticou. Defende que há uma seletividade no sistema não
só para pessoas pobres, mas também para outras minorias, por exemplo, homoafetivos,
prostitutas, índios, egressos.
A vulnerabilidade não é uma decorrência direta da pobreza.

TEORIA DO ERRO

1. ERRO DE TIPO:

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ERRO
DE TIPO

ESSENCIAL ACIDENTAL
(ART. 20,
CAPUT)

ESCUSÁVEL INESCUSÁVEL ERRO SOBRE ERRO NA RESULTADO


A PESSOA – EXECUÇÃO – DIVERSO DO
ART. 20, §3º ART. 73 PRETENDIDO –
ART. 74

2. DESCRIMINANTES PUTATIVAS
2.1. Incidente sobre situação de fato – erro de tipo permissivo – art. 20, §1º;
2.2. Incidente sobre os elementos objetivos de uma justificante – erro de proibição indireto –
art. 21, caput, 2ª parte.
3. ERRO DE PROIBIÇÃO
3.1. A ignorância da lei – art. 21, caput e art. 65, II, do CP;
3.2. Erro de proibição: Direto (art. 21, parágrafo único do CP); Indireto;
4. ERRO PROVOCADO POR TERCEIRO – Art. 20, §2º.

ERRO DE TIPO ESSENCIAL (ART. 20, CAPUT)

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime


exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto
em lei.

Erro de tipo essencial é aquele que recai sobre os elementos de um tipo legal. Já o erro de
tipo acidental recai sobre dados acessórios do tipo legal ou sobre a forma de execução da
conduta.

João coloca o seu Código Penal, idêntico ao da sua professora, próximo ao Código Penal
dela, em cima da mesa. Ao ausentar-se, sem querer, acaba levando o da professora.

No erro de tipo escusável, afasta-se o dolo e a culpa. Por conseguinte, afasta-se a tipicidade.
No erro de tipo inescusável responde-se por crime culposo (se houver o crime correspondente
na forma culposa). Ler o artigo 20, caput. Afasta-se, neste caso, só o dolo.

No exemplo de João e o livro: Se os livros são idênticos, mas há uma diferença de que um
tem o nome da professora e outro tem o nome dele e ele nem chega a conferir esse nome na
segunda capa, houve descuido por parte dele.

DESCRIMINANTES PUTATIVAS
São quatro descriminantes putativas. As quatro do artigo 23 do CP com a inclusão do termo
“putativo” ao final.
- Estado de Necessidade Putativo;
- Legítima Defesa Putativa;

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- Estrito Cumprimento do Dever Legal Putativo;


- Exercício Regular do Direito Putativo.

Quando o erro incide sobre uma situação de fato.

Estado de Necessidade Putativo


Maria está no cinema sábado à noite assistindo a um filme. Um engraçadinho diz que o
cinema estava pegando fogo. As pessoas saem correndo, com medo, em direção à saída.
Joana passa na frente, impedindo Maria de sair. Então Maria dá uma cotovelada e quebra o
nariz de Joana. Depois, esclarece-se que não houve incêndio algum.

Legítima Defesa Putativa


O policial, num morro do Rio de Janeiro, vê um homem com um instrumento parecido com
uma arma e atira nele. Logo depois constata que se tratava apenas de uma simples furadeira.

Estrito Cumprimento do Dever Legal Putativo


Mateus está em plena guerra, cuidando da guarda noturna. Ao ver o vulto se mexendo no
matagal, próximo ao acampamento, atira nele para matar. No entanto, após o dia clarear e ir
verificar o que houve, percebe que era um companheiro de acampamento que havia fugido do
rapto dos inimigos.

Exercício Regular do Direito Putativo


Túlio está numa festa e vê um rapaz, com camisa bege e calça preta, dando um tapa numa
mulher. Ele, como não gosta de ver homem espancando mulher, persegue o rapaz. No
entanto, ao ver outro homem, de costas, com camisa bege e calça preta, o golpeia
imaginando que fosse o rapaz que havia dado o tapa na mulher.

Esses casos serão tratados como erro de tipo permissivo. Ver art. 20, §1º.

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime


exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto
em lei.
Descriminantes putativas
§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado
pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse,
tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro
deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.

Quando o erro incide sobre os elementos objetivos de uma justificante.


Arnold briga com Renato e é agredido por este. Então, vai em casa e busca um taco para
bater em Renato, imaginado que estivesse em legítima defesa. Contudo, na verdade, a
legítima defesa exige que o perigo seja atual ou iminente, o que não ocorreu no caso em
questão.

No erro de proibição a pessoa supõe que a sua conduta está em conformidade com o direito,
embora não esteja.

Carlos, idoso, é empurrado por um jovem no cinema, de nome Anderson. Então, horas
depois, ao término do filme, com a sua banguela, dá bangueladas na cabeça de Anderson
quando ele estava de costas, desprevenido. Carlos imaginava que estava sob legítima
defesa.

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O desconhecimento da lei é inescusável. O máximo que pode provocar é uma atenuação da


pena (art. 65, II). Uma coisa é a ignorância da lei, outra é erro de proibição. São coisas
distintas.

Circunstâncias atenuantes
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: [...]
II - o desconhecimento da lei;

Tobias, pai do traficante Fernandinho – mas sem saber que o filho traficava –, guarda para o
filho, no interior de sua residência, vários sacos de pó branco. O filho dele havia dito que
tratava-se de gesso, pois afirmara que estava trabalhando de gesseiro. Contudo, tratava-se
de cocaína.

Renato, pai de César, sabendo que o filho traficava, guarda cocaína que o seu filho solicita a
ele, pois não sabia que isso é crime. Aqui a situação é distinta da primeira.

O erro de proibição indireto é um erro que incide sobre os elementos objetivos de um


justificante.

ERRO PROVOCADO POR TERCEIRO (ART. 20, §2º)

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime


exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto
em lei.
[...]
Erro determinado por terceiro
§ 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro.

1ª Hipótese – Imagine a hipótese de dois militares, “A” (capitão e padrinho de “B”) e “B” (cabo
que confia plenamente em “A”). “A” fala com “B” para que atirasse contra “C”, como forma de
brincadeira, pois a arma estava descarregada. “B” atira e “C” morre. Então, no caso, “B” foi
induzido a erro. Neste caso “A” age dolosamente. “A” sabia que a arma estava carregada.

2ª Hipótese – Neste caso, “B” desconfiava que “A” não gostava de “C”, porque eles brigaram.
Mesmo assim não confere a arma e atira. Ambos respondem por homicídio (“A” dolosamente
e “B” culposamente).

3ª Hipótese – “B” não sabia da animosidade de “A” com “C”. A não sabia se a arma estava
carregada ou não, não tinha certeza. No caso, pode-se considerar que “A” agiu culposamente
ou com dolo eventual, a depender da linha de pensamento seguida por quem julga.

4ª Hipótese – “A” não sabia que a arma carregada, mas afirmou a “B” que a arma não estava
carregada. “B” sabia da animosidade entre “A” e “C”, mas mesmo assim atira. “A” responde
culposamente ou dolosamente e “B” responde culposamente.

5ª Hipótese – “A” afirma a “B” que a arma está descarregada, mas ele sabia que a arma
estava carregada. “B”, além de saber da relação de animosidade de “A” e “C”, verifica a arma
e confere que está carregada. Não há vínculo psicológico entre os dois. Ambos respondem
por dolo.

6ª Hipótese – “A” não tinha certeza se a arma estava carregada. “B” sabia da animosidade de
“A” com “C”. “B” verifica a arma e percebe que está carregada e, mesmo assim, atira. “A”
responde por culpa ou dolo eventual. “B” responde por dolo direto.

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ERRO ACIDENTAL

Erro sobre a pessoa (error in persona) – art. 20, §3º;

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime


exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto
em lei.
[...]
Erro sobre a pessoa
§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não
isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou
qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente
queria praticar o crime.

Erro na execução (aberratio ictus) – art. 73;

Erro na execução
Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de
execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia
ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado
o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20
deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o
agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.

Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis ou aberratio delicti) – art. 74.

Resultado diverso do pretendido


Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou
erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso do
pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como
crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a
regra do art. 70 deste Código.

- Incide sobre dados acidentais do delito ou sobre a forma de sua execução. Neste tipo de
erro o agente age com consciência do seu ato. O erro acidental não exclui o dolo;
- Normalmente em concurso eles colocam expressões em latim;
- Erro sobre a pessoa ocorre quando há um equívoco na representação em face da qual o
sujeito atinge uma pessoa supondo tratar-se daquele que ele pretendia ofender. Ele pretende
atingir uma pessoa certa, vindo a atingir uma pessoa inocente pensando tratar-se da primeira.
Só é admissível nos crimes dolosos.

“A” tem um irmãozinho gêmeo chamado “B”. Nesse sentido, “C” pretende matar “B”. Ao atirar,
contudo, mata “A” porque pensava que seria “B”. Nesse caso, “A” é a vítima efetiva e “B” é a
vítima virtual.

João pretende matar Erasmo, mas devido à escuridão vê um vulto e, pensando ser Erasmo,
atira. Depois percebe que havia matado o próprio pai. Ele responde como se tivesse matado a
vítima virtual, homicídio doloso.

ABERRATIO ICTUS

Ocorre erro da execução quando o sujeito, pretendendo atingir uma pessoa vem atingir uma
outra por uma aberração no ataque.

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“A” pretende matar “B” (que é hemofílico). No entanto, pensando que era “B”, atira e causa
lesão corporal em “C”. No entanto, na mesma situação “B” teria morrido. Então ele responde
por homicídio de “B”. Não faz diferença se “A” sabia ou não da hemofilia no caso de dolo para
causar morte (mas se fosse de lesão corporal, sim).

“A” atira em “B”, a vítima virtual, e acerta de raspão “C”. “B” morre e “C” tem lesão corporal.
Nesse caso, “A” responde por homicídio doloso e lesão corporal culposa. Ele tinha
desconhecimento da possibilidade de atingir “C”. Por outro lado, se “A” tivesse conhecimento
da possibilidade de atingir “C”, responderia por dolo eventual.

Quando há para a vítima virtual um dolo direto e para a vítima efetiva um dolo eventual, nós
dizemos que o agente teve um desígnio autônomo para cada delito.

RESULTADO DIVERSO DO PRETENDIDO

O agente quer atingir um bem jurídico e acaba atingindo, culposamente, um bem jurídico de
natureza diversa. Será punido sempre a título de culpa (se houver aquele crime punido na
forma culposa).

1ª Hipótese – O agente quer atingir uma coisa e atinge uma pessoa: João joga uma bomba
caseira numa loja e acaba atingindo André, que acaba morrendo em virtude da explosão do
artefato. Foi um resultado diverso do pretendido. Ele responde por homicídio culposo da
pessoa.

2ª Hipótese – Ele queria atingir a pessoa, mas acabou atingindo a loja. Há, no caso,
discussão doutrinária. Alguns disseram que ele responderia por tentativa de homicídio em
relação à pessoa. Quanto à loja, como não há dano culposo (art. 163), ele não responde por
nada.

Dano
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

3ª Hipótese – Queria atingir “B” e a loja. Matou “B”, no caso, é homicídio doloso. No caso da
loja, houve culpa, no caso, segundo o art. 163, não há dano culposo.

4ª Hipótese – Ele quer estourar a loja, mas atinge também a pessoa. Por ter atingido a loja,
ele responde parcialmente por dano. Por ter agido de forma a atingir a pessoa, houve crime
culposo.

Atenção nas questões para avaliar se houve ou não desígnios autônomos.

CONCURSO DE CRIMES

No cometimento de vários delitos há concurso de crimes. Zé, sozinho, pode praticar mais de
um delito. Uma quadrilha também pode. Concurso de crimes é o cometimento de dois ou mais
delitos. Podem ser das formais mais diversificadas possíveis: crime doloso e culposo, crime
tentado e consumado.
SISTEMA DO CÚMULO MATERIAL – As penas devem ser somadas;
SISTEMA DO CUMULO JURÍDICO – A pena a ser aplicada deve ser maior do que a
cominada a cada um dos delitos sem, no entanto, chegar à soma delas.

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SISTEMA DA ABSORÇÃO – Considera que a pena do delito mais grave absorve a pena do
delito menos grave.
SISTEMA DA EXASPERAÇÃO – Recomenda a aplicação da pena mais grave aumentada de
determinada quantidade em decorrência dos demais crimes.

O Brasil adota o sistema do cúmulo material no concurso material e no concurso formal


impróprio. O Brasil adota o sistema da exasperação no formal próprio e no crime continuado.

1. Espécies de concurso de crimes:


a) Concurso material (art. 69);
Concurso material
Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou
omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se
cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja
incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e
de detenção, executa-se primeiro aquela.

b) Concurso formal (art. 70);

Concurso formal
Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais
grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas
aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas
aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é
dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos,
consoante o disposto no artigo anterior.
Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível
pela regra do art. 69 deste Código.

c) Crime continuado (art. 71).

Crime continuado
Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições
de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem
os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-
se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave,
se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois
terços.

CONCURSO MATERIAL

Constante no Art. 69 do CP:

O indivíduo pratica duas ou mais condutas e realiza dois ou mais crimes. Conduta não se
confunde com ato.

Um indivíduo entra em uma casa para furtar e encontra uma empregada dormindo. Assim, ele
estupra a mulher. Foram dois crimes, as penas vão se somar.

Um indivíduo entra numa casa e furta doze computadores. Não houve doze crimes, mas um
furto de doze computadores. Uma conduta com vários atos.

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CONCURSO MATERIAL HOMOGÊNEO


Os crimes praticados são idênticos. Pertencem ao mesmo tipo penal. Pode ser também, neste
rol, furto simples e furto qualificado, tentativa de furto e furto consumado.

CONCURSO MATERIAL HETEROGÊNEO


Os crimes praticados são diferentes.

Se cometer um crime com pena de reclusão e um crime com pena de detenção, o réu deve
cumprir primeiro a pena de reclusão e depois a de detenção.

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