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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS XIV


COLEGIADO DE LETRAS

RODRIGO LIMA DA SILVA

INTERFERÊNCIA DA ORALIDADE NA ESCRITA: UMA


ANÁLISE DE ERROS ORTOGÁFRICOS

Conceição do Coité
2011
RODRIGO LIMA DA SILVA

INTERFERÊNCIA DA ORALIDADE NA ESCRITA: UMA


ANÁLISE DE ERROS ORTOGÁFRICOS

Projeto de pesquisa apresentado ao


Departamento de Educação da Universidade
do Estado da Bahia (UNEB), curso de Letras
Vernáculas, como parte do processo avaliativo
da disciplina Seminário Interdisciplinar de
Pesquisa VI (SIP VI).

Orientadora: Profa. Lúcia Parcero

Conceição do Coité
2011
1. TEMA

Oralidade e escrita nos ensinos públicos e privado.

2. DELIMITAÇÃO DO TEMA

A Interferência da oralidade na escrita: um estudo no ensino de língua


portuguesa em turmas do ensino público e do privado (um estudo ortográfico).
3. PROBLEMA

Partindo do pressuposto de que todos os seres humanos trazem consigo


uma gramática internalizada, pode-se afirmar que, no processo educacional, os
traços da oralidade interferem na produção gráfica das palavras, pois cada
modalidade possui sua especificidade. Isso acontece porque se adquire a
gramática internalizada no contexto situacional no qual os indivíduos se
encontram inseridos.

Logo, essas modalidades da fala e da escrita constituem duas


possibilidades de uso da língua. Sua utilização acontece de acordo às
condições de produção. Daí a importância de um interlocutor que possa nortear
esses alunos no processo contínuo de adaptação da linguagem oral para a
escrita, em meio às mudanças linguísticas decorrente da gama de interação
praticada pelos indivíduos e das variadas formas circunstanciais da fala. O
professor desempenha um papel de fundamental importância nesse processo,
pois, por meio das suas metodologias, contribui para que os alunos utilizem as
suas várias formas de linguagem, adequando-as ao contexto social.

À medida que a fala é transposta para a escrita, as condições de


produção apresenta-se de acordo com sua própria natureza. Se, no texto
escrito, as marcas conversacionais se constituem por meio das várias regras
gramaticais, no texto oral estes recursos são substituídos por outros, tais como
os marcadores conversacionais que pretendem efetivar a comunicação
eficiente entre os falantes.

O processo de interferência da oralidade na escrita é bastante


presente nos estudantes de escolas públicas, mais do que em estudantes
de escolas particulares. Na maioria das vezes, os alunos do ensino público
sentem mais dificuldades na escrita do que os do ensino privado, pois em
suas construções escritas usam a língua falada (linguagem informal) na
hora de escrever textos, sem estar atento para as variações presentes na
sua fala, comprometendo o significado do seu texto.
Ao contrário dos alunos de ensino público, os do ensino particular
possuem mais facilidade para desenvolver e criar textos sem a necessidade de
transcrever sua variação para seus escritos. Porém, isso não significa que eles
não usem a língua falada em seus textos, há uma diferença entre eles, ou seja,
a quantidade de variações em seus textos é bem menor do que os alunos de
ensino público.

Além dos lingüistas, também professores de línguas têm a concepção de


que a linguagem escrita é afetada pela oral. Assim, é importante ressaltar que
as variadas formas inadequadas utilizada para uma situação comunicacional
decorrem, muitas vezes, do contexto no qual o indivíduo está inserido, pois
tanto este como o tópico discursivo diferencia a linguagem oral da escrita, os
exemplos abaixo especificam:

1- Onte fui vê a flô nacê

(ontem, ver, flor, nascer)

2- Quero conhece muintos lugares.

(conhecer, muitos,)

3- E aí cara pega o beco e deixa de queixo.

Nos dois primeiros exemplos, verifica-se a supressão de alguns


fonemas das palavras, pois se assim falam, é porque pronunciam oralmente
no seu convívio. No terceiro, percebe-se a presença de gírias, marca
frequente na linguagem oral de muitos alunos, as quais interferem na
compreensão do significado quando se trata de textos escritos.

Em meio ao grande número de traços característicos da exposição oral,


ausentes na escrita, esse projeto levanta as seguintes questões: como o
professor deve empregar suas metodologias de ensino adequando-as à
linguagem usada no convívio contextual? Nesse processo de transposição do
texto oral para o texto escrito, quais os barreiras encontradas? De que forma o
professor pode auxiliar nesse processo de interferência? Será que há mais
marcas da oralidade na produção escrita dos alunos de ensino público? Quais
são os fatores que influenciam para uma freqüência maior das marcas orais
nos textos escritos de um ensino sobre o outro? Há ainda uma diferença entre
a metodologia utilizada nas duas modalidades de ensino (público e privado)?
4. OBJETIVOS

GERAL:

 Analisar a modalidade linguística oral, e sua interferência na escrita, no


ensino de língua portuguesa a partir de duas turmas de ensino público e
duas de ensino privado.

ESPECÍFICOS:

 Identificar os variados usos da fala, de modo que sejam ajustados ao


contexto do aluno;

 Apontar as diferenças entre a linguagem oral e a escrita nas produções


textuais;

 Verificar a frequência com que a interferência acontece da linguagem


oral para a escrita;

 Analisar os motivos de interferência de a oralidade ocorrer com mais


frequência em um ensino e não em outro;

 Identificar os fatores que interferem para que as marcas da oralidade


sejam mais frequentes em um e não em outro ensino.
5. JUSTIFICATIVA

O tema em questão foi suscitado quando se verificou que, nos contextos


escolares de ensinos públicos e privados, a experiência trazida pelos alunos
não eram aproveitadas adequadamente como matéria de discussão no
processo de ensino-aprendizagem, especificamente quando tratada da
gramática internalizada, decorrente da situação contextual na qual se
encontram. Então se percebe que os alunos de ensino privado e especialmente
de ensino público sente muita dificuldade no processo da escrita, pois utilizam
a sua linguagem não sabendo adequar sua fala ao contexto certo (contexto
adequado). Se este aspecto fosse relevante para muitos professores,
reformulariam seus conteúdos didáticos, contribuindo de forma significativa
para o crescimento da maioria de indivíduos pertencentes a uma classe
desfavorecida. É importante investigar essa temática pelo fato de que a língua
oral apresenta variadas relações e distinções, as quais interferem na escrita, de
forma a comprometer no significado e tópico discursivo, caso haja uma
transposição inadequada.

Sendo assim, o que se pretende, é induzir no professor a reflexão sobre


a educação atual, instigando-os a um processo contínuo de aperfeiçoamento
na sua prática pedagógica, para que estes trabalhem os conteúdos de forma
inovada, contextualizando os conhecimentos que os alunos já trazem consigo a
prática educacional. O que de fato é observado é que a maioria dos
professores apresenta pouca relevância no que diz respeito às variadas formas
de linguagem que os alunos trazem para sala de aula. Prova disso, são as
linguagens desenvolvidas pelo aluno, estigmatizadas, tachadas, apenas como
“erros”.

Portanto, é de grande importância a reformulação de práticas


pedagógicas, para a contribuição de uma educação com maior motivação e
aprendizagem satisfatória tanto para o ensino público como para o privado,
pois cabe as escolas mostrar aos alunos a variedade de usos da fala,
trabalhando os seus diferentes níveis (do coloquial ao formal), das modalidades
escrita e falada adequando-as co contexto dos alunos.

6. FUNDAMENTAÇAO TEÓRICA

Segundo Bortoni-Ricardo (2006), quando lidamos com alunos que tem


um acesso muito limitado à norma culta em seu ambiente social, temos de
levar em conta a interferência das regras fonológicas e morfossintáticas de
seu dialeto na aprendizagem do português-padrão. O papel do professor é
de grande importância nesse processo de condução dos alunos no que
tange a interação das linguagens coloquial, informal e falada para uma
linguagem formal por meio da escrita. O que é perfeitamente possível
quando se sabe que todo falante nativo é competente em sua língua
materna, e nela pode desempenhar variadas tarefas comunicativas.
Vale ressaltar que as linguagens decorrentes da interação entre
pessoas com pouca familiaridade com as convenções da língua escrita, a
qual contribui para que de fato os alunos ao se inserirem na escola
carreguem consigo traços dessa linguagem. Apreendida do seu habitat, se
expressando de forma inadequada, e escrevendo os fonemas exatamente
como pronunciam. Bortoni- Ricardo (2006) diz que o erro na língua é, pois,
um fato social. Ele não decorre da transgressão de um sistema de regras
da estrutura da língua e se explica, simplesmente pela inadequação de
certas formas a certos usos. Verifica-se constantemente nas salas de aula a
presença de certos vocábulos enquadrados como inadequados estes são
predominante no convívio social informal, tais como as gírias, abreviações,
que é uma característica dessa nova forma de linguagem moderna induzida
pelos meios virtuais a qual reflete na escrita da maioria dos alunos.
Outras por vezes decorrentes de condições econômicas, que não lhes
oferece uma oportunidade de enriquecer o vocabulário. Porém, como afirma
Bortoni Ricardo (2006) na língua oral, portanto o indivíduo tem a variação a
seu dispor. Cabendo-lhe aprender na escola e na vida a ajustar a variante
adequada a cada contexto, pois nesta linguagem, existe uma interação livre
entre os interlocutores, de forma a se envolverem com o tópico discursivo
que é desencadeado com espontaneidade, despreocupação com vias
gramaticais, forte presença de marcadores conversacionais como os
prosódicos, os quais abrangem os contornos entonacionais, como pausas,
o tom da voz; os marcadores não lingüísticos como o riso, o olhar,
gesticulação.
Sendo assim, é de grande importância o papel dos professores nesse
processo de adequação das variadas formas orais na passagem para a
escrita. Pois, como se sabe, na fala não se enfatiza os vocábulos como
“erros”, enxergando-os apenas como diferentes maneiras possíveis e
competitivas de se falar, as diversas formas de dizer a mesma coisa são
associadas à situação de comunicação na qual os Indivíduos se encontram.
Entretanto, sabendo que a escrita está presente em todas as atividades
sociais em paralelo direto com a oralidade, vale ressaltar a significativa
influência que o contexto desempenha na linguagem oral e,
conseqüentemente, na escrita, por meio dos aspectos discursivos
pragmáticos durante a enunciação, determinando escolhas lexicais
estilística. Leonor (2007) diz que ambas se diferem nos seus modos de
aquisição, nas suas condições de produção, transmissão e recepção,
através dos quais os elementos de estrutura são organizados.
Corroborando com tal afirmação, Kato (1990) apresenta o que distingue
essas duas modalidades orais e escritas: a dependência contextual, o grau
de planejamento, a submissão consciente as regras convencionadas para a
escrita, ou seja, as diferentes condições de produção que são empregadas,
o que acaba por evidenciar como produtos diferenciados, mas com
estrutura semelhante, Fávero (2007) salienta que a escrita tem sido vista
como de estrutura complexa, formal e abstrata, enquanto a fala, de
estrutura simples ou desestruturada, informal, concreta e dependente do
contexto.
Sendo assim, o que diferencia a fala da escrita são as diferentes
condições de produção e variação na forma pela qual as atividades
lingüísticas são distribuídas. Essa variação dependente das diferenças
sociais, as quais marcam a interferência oral na escrita, quando de fato os
alunos reproduzem o que constantemente escutam no seu dia-dia, e
posteriormente transcreve.
É de grande importância salientar que a interferência da modalidade da
fala para os textos escritos se dá não somente nas zonas periféricas, é
perceptível entre os falantes letrados, que se utilizam do oral nos textos
escritos, como afirma Kato (1990) a distribuição das atividades linguisticas
entre as modalidades escrita e oral muda com a evolução histórica e a
mesma variação encontrada pode ser vista sincronicamente nas
sociedades letradas.
Portanto, apesar da gramática normativa ser imposta e cobrada pela
escola, é necessário que os professores se apropriem da gramática
internalizada nos alunos, para, por meio desta, contextualizar as
informações novas aos conhecimentos que estes já trazem consigo,
contribuindo assim para que os alunos se familiarizem com as convenções
escritas. Contudo, cabe à escola trabalhar as produções de texto de forma
contextualizada, mostrando aos alunos a relação existente entre essas
modalidades e apropriar-se de elementos lingüísticos de cada um deles,
adequando às situações da enunciação.
7. HIPÓTESES

No processo de transposição do texto oral para o escrito, é possível que:


1) O aluno não tenha o domínio da norma padrão e acabe levando para a
escrita, traços da língua oral;
2) A falta da prática da produção textual faça com que haja pobreza de
recursos/elementos da modalidade escrita no texto escrito, culminando com
muitos elementos do texto falado.
3) Esteja havendo uma metodologia inadequada empregada pelo professor
para a análise linguística das produções textuais;
4) A interferência da oralidade aconteça com mais freqüência no ensino
público, pelo fato da sua metodologia ser menos contextualizada e mais
necessitada de recursos (materiais tecnológicos para ajudar o professor no
ensino).
8. METODOLOGIA

A metodologia caracteriza-se por ser um conjunto de métodos e


técnicas que determinam as etapas a seguir em um determinado processo, ou
seja, que indicarão como a pesquisa pretende ser realizada. Pode ser
considerada também, como um procedimento que conduz a certo resultado.
Minayo (2001, p.22) diz ainda que é a metodologia que aponta
alternativas teóricas fundamentais, expõe as implicações do caminho escolhido
para compreender determinada realidade e o homem em relação com ela.

8.1 – Corpus de análise

Para constituição do corpus serão selecionados vinte textos de alunos


do 6º ano do ensino fundamental, sendo dez do ensino particular Colégio
Projeção, situado na sede do Município de Coité e dez do ensino público, do
Colégio estadual Duque de Caxias, localizado no Distrito de Aroeira do mesmo
município.
Como mencionado anteriormente, a pesquisa se propõe a levantar as
formas gráficas da interferência da oralidade na escrita, bem como comparar
tais ocorrências no ensino público ao do privado. Para isso é necessário um
bom conhecimento da organização do sistema gráfico o que poderá apontar
caminhos mais eficazes para aprendizagem da escrita.
A partir dos textos (redações) produzidos pelos alunos sob orientação
do professor regente da classe, será feito o levantamento das formas
ortográficas variantes encontradas nas redações, a serem analisadas a partir
dos pressupostos teóricos da Sociolingüística em sua abordagem qualitativa
que leva em consideração não apenas os fatores estruturais da língua, mas
também os aspectos socioculturais do falante.

9-CRONOGRAMA

Atividades Se Ou No De Ja Fe Ma Ab Ma Jun Jul Ago Se Ou No Dez


t. t. v. z. n. v. r. r. i. h. h. s. t. t. v. .

201 201
0 1

Elaboração do X X X X
projeto

Apresentação X
do projeto

Elaboração do X
sumário da
Monografia

Coleta de X
dados

Levantamento X X
de dados

Codificação X X
dos dados

Elaboração do X X X
cap. I Fund.
teórica

Elaboração do X X
cap. II
Metodologia
Elaboração do X X
Cap. III –
Análise dos
dados

Elaboração da X
introdução

Elaboração da X
conclusão

Revisão do X
texto

Entrega do X
trabalho

Apresentação X
pública

10. REFERÊNCIAS:

BORTONI-RICARDO, STELLA, Eloris. O estatuto do erro na língua oral e


escrita. Florianópolis: edofsc, 2006.
CAGLIARI, L. C. Alfabetização e lingüística. São Paulo: Scipione, 1989.

CAMARA JR, J. Mattoso. Manual de expressão oral e escrita. 21. ed. Petrópolis:
Vozes, 2002.

FARACO, Carlos Alberto. Escrita e Alfabetização. São Paulo: Contexto, 1997.

FÁVERO, Leonor Lopes; ANDRADE Maria Lúcia C.V. Andrade; AQUINO, Zilda G, O.
Aquino. Oralidade e escrita: perspectivas para o ensino de língua materna. 6. ed.São
Paulo: Cortez, 2007.

KATO, Mary A. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística. São


Paulo: Ática, 1990.

MINAYO, M. C. Ciência, técnica e arte: o desafio da Pesquisa Social. In:


Mynayo (Org.) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis:
Vozes, 2001.
SOARES, Magda Becker. Aprender a escrever, ensinar a escrever. In Soares.
A Magia da linguagem. Edwiges Zaccur (org.). Rio de Janeir.o: DP&A:SEPE,
1999, p, 49-73.

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