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Sobre o silêncio

Luigi Giussani

Elevai para os céus o olhar: em primeiro lugar para fazer isto, devemos recolher-
nos e recolher; imaginem quando não havia ceifeiras-mecânicas e o trigo era
recolhido à mão... Mal tenhamos vagar, devemos recolher-nos, porque é nos
momentos de silêncio que o Ser emerge, pode emergir, como substância nossa
e companhia da nossa existência.

Por isso, o primeiro indício de que alguma coisa de novo aconteceu em nós e,
portanto, cresce (dado que a chuva mandada por Deus não cai sobre a terra
sem dar fruto), é o amor ao silêncio. O silêncio é a procura da vida, é a busca
de significado, por isso da plenitude do viver. Não, não se deve amar o
silêncio; mas, certamente, no silêncio aparece o que deve aparecer, num
esplendor crescente.

A primeira necessidade do nosso caminhar é o silêncio, porque só com esta


condição podemos procurar o Verbo da vida, porque “tudo foi feito por meio
d’Ele, e de tudo o que existe, nada foi feito sem Ele” (Jo 1, 3), Aquele que
nasce entre nós. Ele, que começou a nascer entre nós, surgirá cada vez mais
no seu esplendor, se nós o procurarmos.

A primeira flor do silêncio é a alegria, tal como florescem silenciosamente os


rebentos sobre as árvores.

Silêncio e alegria deveriam ser as características apaixonadas da nossa alma,


isto é, do nosso existir consciente, do nosso viver como homens. Silêncio, isto
é, a procura, e alegria, que acompanha inexoravelmente a procura.

Nossa Senhora ensina-nos esta atitude de espera atenta:

No anúncio a Maria, as palavras do Anjo podiam confundi-la de espanto e


humildade. Porém, não eram de molde a serem totalmente incompreensíveis,
tinham qualquer coisa pela qual se tornavam compreensíveis à alma daquela
rapariga que vivia os seus deveres religiosos.

Nossa Senhora abraçou-as: “Eu sou a escrava do Senhor. Faça-se em mim


segundo a tua palavra”. Não porque compreendesse, mas na confusão tornada
imensa pelo Mistério que se anunciava vibrando na sua carne, Nossa Senhora
abre-lhe os seus braços, os braços da sua liberdade e diz: “Sim”. E esteve
alerta todos os dias, todas as horas, todos os minutos da sua vida.

O estado de alma de Nossa Senhora, aquele estado de ânimo que opera uma
atitude e a decide face às ocasiões e ao tempo, como se pode definir melhor
este estado de alma de Nossa Senhora do que com a palavra “silêncio”? É
mesmo o silêncio, repleto de memória. Duas coisas contribuíam para esta
memória, duas coisas determinavam este silêncio. A primeira era a recordação
do acontecido. O acontecido conservava intacta a sua maravilha, o seu
mistério verdadeiro, o seu mistério de verdade, porque – e é a segunda coisa –
tinha qualquer coisa de presente: aquele Menino, aquele jovem presente,
aquele Filho presente.

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