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EEEFM "PROFª MARIA OLINDA OLIVEIRA DE MENEZES"


Turma
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Nome:_______________________________________________ _____
HISTÓRIA – Profª Vaneska Godoy de Lima 

Lutas Sociais e Revoluções

LUTAS SOCIAIS NO MUNDO GREGO E ROMANO


A maior diferença entre a organização política e próprios representantes políticos, como os Tribunos da Plebe,
religiosa do mundo grego e romano e a da Antiguidade entre os romanos.
Oriental (egípcia e mesopotâmica), e a do posterior mundo Os conflitos entre comerciantes em ascensão social e
feudal, está no fato de que a atividade política e religiosa não as oligarquias dominantes da Grécia Antiga ocorreram entre
se misturava: política era coisa dos homens, terrena, e a 400 e 300 a.C. Foi nesse contexto, em Atenas principalmente,
religião era coisa do espírito, do plano das idéias. Nesse que o regime político caminhou gradativamente da monarquia
sentido, o mundo grego e romano foi o que mais desenvolveu e oligárquica para a democracia, o governo dos atenienses.
concretizou a atividade política como a arte dos homens em Embora excluísse as mulheres, escravos e estrangeiros dos
administrar a pólis, a cidade. A grega e a romana foram as direitos políticos e sociais, significava um avanço, pois não
primeiras culturas a tratarem a política de forma racional e não diferenciava a população conforme a renda, como nos regimes
divina ou sagrada. Na pólis ateniense, o regime político políticos anteriores. Estabelecia-se pela primeira vez na
transitou da monarquia a democracia; em Roma, da monarquia história da humanidade uma democracia direta, na qual os
a república. Nosso mundo ocidental atual tem como base a cidadãos atenienses votavam diretamente, em praça pública
idéia e a prática política greco-romana, na qual o poder político (ágora), as Na Roma Antiga, as lutas sociais dos plebeus por
é independente do religioso. maiores direitos ocorreram entre 500 e 200 a.C., em plena fase
Mas quem construiu a democracia e a república no da república. A plebe era composta por diferentes camadas
mundo greco-romano? De certa maneira, foram as pressões sociais: pequenos proprietários, comerciantes, artesãos e
sociais, principalmente dos comerciantes e pequenos camponeses romanos. A diferença com os gregos é que, nessa
proprietários gregos (os georgói) e romanos (os plebeus), sobre fase, a república romana iniciava sua expansão não só marítima
os grupos dominantes: eupátridas em Atenas e patrícios em e comercial mas, sobretudo, territorial e colonial pelo
Roma. Isso porque na medida em que Atenas e Roma Mediterrâneo. E, devido a essa expansão colonial, a plebe dos
expandiam o comércio marítimo pelo Mediterrâneo, pequenos proprietários e camponeses acabou sendo
aumentava o poder econômico dos comerciantes e mercadores, prejudicada economicamente pela produção colonial e pelo
que pouco a pouco passavam a exigir maior participação nas crescimento do uso da mão-de-obra escrava estrangeira. Por
decisões políticas tradicionalmente concentradas nas mãos dos outro lado, a plebe dos comerciantes e artesãos cresceu
grupos dominantes, as oligarquias. Exigiam também o direito economicamente com a expansão colonial romana pelo
de voto nas assembléias que decidiam sobre a administração da Mediterrâneo, e começou a liderar o conjunto da plebe,
pólis ou da cidade romana, e o de indicar ou eleger seus exigindo mais direitos sociais e políticos. Iniciou-se, então, na
Roma Antiga, o período das revoltas sociais.

REVOLTAS DA PLEBE
PERÍODO CONQUISTAS
1ª Num ato de protesto, a plebe retirou-se para o Monte Sagrado e só retornou a Roma quando os patrícios
aceitaram sua proposta de ter um Tribuno da Plebe que defendesse seus interesses na Assembléia. No entanto,
494 A 471 a. C em 471 a.C., os plebeus instalam a Assembléia da Plebe, composta somente por elementos da sua camada
social, dai retirando seus tribunos representantes na Assembléia Maior, a Centuríata.
2ª Ocorreu quando os patrícios, pressionados novamente pela plebe, procuraram resolver os problemas redigindo
as leis que antes não eram escritas. Estabeleceram, assim, a Lei das Doze Tábuas que, no entanto, manteve o
450 a 449 a. C poder nas mãos dos patrícios, a escravidão por dividas e a proibição do casamento entre patrícios e plebeus.
3ª Marca a conquista, pelos plebeus, da liberdade de casamento com os patrícios, por meio da Lei Canuléia.
Destaque-se que para os patrícios a proibição do casamento era uma forma de manter em suas mãos o poder
445 a.C político e o poder sobre as terras.
4ª Depois de muitas pressões, a plebe conquistou o fim da escravidão por dividas graças à Lei Licínia, que
também limitava as posses particulares das terras anexadas pelo governo por meio das guerras. Até
367 a 366 a.C aproximadamente 300 a.C., a plebe conquistou também o direito político de eleger e participar de cargos
públicos e administrativos exclusivos dos patrícios, como o Consulado e o Pro consulado (governador de
Província). Contudo, o Senado continuava sendo de exclusividade dos patrícios.
5ª Nesse momento, foi conquistada a vitória mais importante da plebe: a aceitação pelos patrícios de que as leis
287 a 286 a.C votadas na Assembléia da Plebe fossem válidas para todo o Estado romano.

Os irmãos Caio Graco e Tibério Graco, ambos de antes de colocar em vigor a reforma agrária. A Caio, designado
origem nobre, estavam entre os representantes da plebe. tribuno em 133 a.C., coube aplicar a reforma proposta pelo
Tibério, eleito tribuno em 134 a.C., propôs uma lei agrária que irmão. Representando os interesses da plebe, conseguiu
limitava a extensão das propriedades dos nobres romanos. reformas sociais que descontentaram os patrícios, que o
Reprovado pelos nobres e abandonado pela plebe, foi morto perseguiram politicamente até seu suicídio, em 121 a.C.

REVOLUÇOES BURGUESAS E POPULARES


Vejamos, agora, quais foram e como se deram as do século XVII e a Revolução Francesa do século XVIII.
revoltas sociais nos séculos XVII e XVIII, em pleno contexto Consideradas revoluções burguesas, tiveram intensa
de formação do capitalismo industrial na Europa. participação popular e representaram a ruptura política com o
As lutas sociais e políticas ocorridas no período do absolutismo e econômica com o mercantilismo do Antigo
feudalismo já foram objeto de desde o trabalho servil, a Regime. Provocaram a instalação de uma monarquia
formação das monarquias feudais até a crise feudal do século parlamentar na Inglaterra e a república na França. O
XVI. Abordaremos, neste item, as duas revoluções políticas e capitalismo liberal, que buscava a liberdade comercial acima
sociais mais importantes historicamente: a Revolução Inglesa de tudo, foi impulsionado por uma burguesia em ascensão.

A Revolução Inglesa do século XVII

A Inglaterra do século XVII configurava-se como um As forças sociais e políticas dividiam-se. Ao lado do
Estado organizado, aparentemente unido sob o cetro real. A rei estavam a alta nobreza proprietária de terras e o clero
base da economia era a agricultura. O campo concentrava a anglicano e católico. Ao lado do Parlamento, encontravam-se
maioria da população. A produção têxtil ganhava importância: os pequenos proprietários, a burguesia mercantil e
surgiam as primeiras fábricas manufatureiras de tecidos. A manufatureira e, por vezes, a nova nobreza, com forte apelo do
criação de rebanho ovino expandia-se em especial nos puritanismo, versão inglesa do protestantismo. A Revolução
condados mais ricos. Arrendar terras para grandes criadores de Inglesa teve como cenário as divergências políticas entre o
ovelhas tornou-se um excelente negócio para os latifundiários, absolutismo real, anglicano e católico e o parlamento puritano
os quais pagavam alto preço por elas e cercavam as terras no governo de Carlos I (1625-1640). As tentativas do rei em
comunais onde pastava o gado de seus habitantes. Com isso, aumentar os impostos provocaram a revolta da população. Por
porém, milhares de cidadãos que antes tiravam seu sustento outro lado, a monarquia procurava afastar a nova nobreza da
dessas terras viram-se expulsos das mesmas e praticamente corte e ampliar os privilégios dos pares. Face aos protestos do
reduzidos à miséria. O carvão mineral tornou-se o combustível Parlamento, o rei Carlos I o dissolveu, convocando outro,
mais utilizado nas casas londrinas e largamente adotado nas também logo dissolvido por se negar a permitir novos
fundições e fábricas de armas, cerveja, sabão. O crescimento impostos. Entre 1640 e 1642 o novo Parlamento convocado
na procura desse mineral passou a exigir maior organização e depôs o primeiro-ministro, revogou os impostos decretados
investimentos, praticamente inviabilizando a extração pelos pelo rei e estabeleceu que somente o Parlamento poderia se
grupos artesanais e mesmo proprietários fundiários. Os grandes autodissolver. Entre 1642 e 1648, iniciou-se uma violenta
comerciantes londrinos, que dispunham de capital para guerra civil entre os partidários do rei e os partidários do
investir, assumiram o monopólio dessa atividade. A chegada de Parlamento. A criação do Novo Exército Modelo, por
novos capitais ao campo, para compra ou arrendamento de Cromwell, no qual promoções se davam por mérito, aumentou
terras, alterou profundamente as relações no mundo rural. Os a participação popular dentro do exército e foi decisiva para a
novos proprietários e os grandes arrendatários transformaram vitória do Parlamento. O rei Carlos I, derrotado, foi preso e
seus dependentes em mercadoria com a finalidade de aumentar condenado à decapitação pública.
seus lucros. As dificuldades pelas quais passava a aristocracia Entre 1648 e 1658, instalou-se a República de
abriram espaço para o surgimento de novos grupos - comércio, Cromwell. Fazendeiro e senhor rural, além de puritano devoto,
advocacia, grandes arrendamentos, criação de ovelhas, média Cromwell era membro do Parlamento e tinha sido o
nobreza rural- capazes de lutar por seus próprios interesses e comandante do exército parlamentarista. Cromwell esmagou
com peso crescente na vida do pais. violentamente os grupos radicais no interior do exército que
Porém, se do ponto de vista econômico a Inglaterra defendiam uma república justa e igualitária social-mente aliada
estava em pleno processo de desenvolvimento do capitalismo a uma profunda religiosidade cristã. Esses grupos eram
comercial, manufatureiro e industrial, a estrutura jurídica e conhecidos como niveladores, pois pretendiam nivelar as
política era ainda semifeudal. A monarquia absolutista, regime condições sociais e defendiam a população pobre das cidades e
político em vigor, estava fragilizada em meio ao descrédito e do campo, bem como a total liberdade religiosa e a igualdade
descontentamento das classes emergentes. A manutenção dos perante a lei; e cavadores, que se opondo à propriedade
privilégios para a Coroa e a nobreza dava-se à custa de particular do solo, propunham sua posse comunitária.
impostos, pagos por aqueles que não se beneficiavam do
sistema.

PURITANISMO
O puritanismo é, originalmente, uma orientação espiritual característica da Grã Bretanha, fundada sobre a suprema
autoridade da Escritura, a adesão à doutrina da predestinação e o repúdio da vida mundana encarnada na frivolidade dos Stuart.
Surgido por volta de 1564, influenciado por Calvino e Zwingli Bullinger, o puritanismo exerceu grande in-fluência durante o
reinado de Elizabeth I. Perseguidos pela alta comissão eclesiástica criada em 1583, os puritanos imigraram em grande parte para
a Holanda e depois para os Estados Unidos. Na Inglaterra, os puritanos arrebanharam alguns elementos das classes mais
influentes da sociedade inglesa; criticaram as concepções ultra-episcopais de Jaime I e exerceram um papel considerável na
revolução da Inglaterra, combatendo, ao lado do Parlamento, Carlos I (Cromwell), sendo dissolvidos com a restauração, em
1660. O puritanismo, ao considerar a riqueza como símbolo de eleição, contribuiu para a formação da burguesia capitalista na
Inglaterra e nos Estados Unidos e para o florescimento dos regimes parlamentares.
GRANDE ENCICLOPÉDIA LAROUSSE CULTURAL. v. 20. São Paulo: Nova Cultural, 1998, p. 4837.
ANGLICANISMO
Religião oficial da Inglaterra desde o reinado de Elizabeth, o anglicanismo nasceu não de um movimento de idéias, mas
da política religiosa de Henrique VIII, cujos episódios da vida conjugal provocaram um sério desentendimento com o papado. Em
1534, o Ato de Supremacia deu ao rei o poder de chefe supremo e "único" da igreja da Inglaterra. Em sua origem, a Igreja
Anglicana foi, portanto, apenas uma dissidência católica. Mas a ruptura com Roma favoreceu a pene-tração das idéias luteranas,
cuja influência se concretizou através do Book of Comon Prayer, que, depois, não ficaria isento de influências calvinistas. Na
verdade, a reforma anglicana apareceu como uma via intermediária entre o catolicismo, de que conserva, com a hierarquia, as
formas exteriores do culto, e o protestantismo, cujos grandes princípios doutrinais mantém. Com esse duplo valor, ele
desempenha um papel de primeiro plano na aproximação das igrejas.
GRANDE ENCICLOPÉDIA LAROUSSE CULTURAL. v. 2. São Paulo: Nova Cultural, 1998, p. 309.
II, herdeiro de Carlos I, assumiu o trono. No entanto, quando
Os posicionamentos assumidos pelos niveladores e Jaime II tentou restaurar o absolutismo e o catolicismo na
cavadores tornaram-se um incômodo para as classes sociais Inglaterra, o parlamento liderado pela burguesia e pela nova
dominantes. Ambos os grupos foram afastados da República de nobreza reagiu violentamente. Em 1689, Jaime II foi derrubado
Cromwell e do Parlamento. Cromwell tornou-se lorde-protetor e se instalou definitivamente na Inglaterra uma monarquia
da Inglaterra e transformou o regi-me em ditadura. Seu poder constitucional e parlamentar, fundada na Declaração de
assumiu um caráter cada vez mais personalista, só tolerado Direitos, a Bill of Rights. Essa foi a chamada Revolução
devido aos sucessos obtidos interna e externamente contra a Gloriosa de 1688-89.
Holanda e a Espanha pela marinha inglesa. Com a morte de Como vimos, durante o processo revolucionário na
Cromwell, seu filho, Richard, o sucedeu como lorde-protetor, Inglaterra, a participação popular mais radical foi afastada,
cargo do qual abdicaria depois de se mostrar incapaz de enquanto outras camadas dominantes em ascensão social
compatibilizar as correntes políticas inglesas. Em 1660, por tomaram o poder, o que evidencia claramente como a luta
meio de golpe militar, derrubou-se a república e instalou-se social e política construiu as relações de poder, econômica e
uma monarquia parlamentar, chamada de Restauração. Carlos cultural numa sociedade.

A REVOLUÇÃO FRANCESA DE 1789 (SÉCULO XVIII)


Tal qual a Inglaterra da primeira metade do século meio rural e entre os trabalhadores urbanos. A miséria social
XVII, a França até 1789 estava mergulhada numa monarquia crescia assustadoramente, enquanto o Estado Absolutista
absolutista típica do Antigo Regime. Os reis Luís XIV, XV e aumentava os impostos sobre a população para custear suas
XVI chegaram no auge do poder absolutista. O governo, com despesas financeiras.
sua política mercantilista, intervinha direta-mente no comércio • Política: o Estado Absolutista centralizador não
e na economia, mantendo o monopólio colonial. A Igreja tomava providências enérgicas para resolver a violenta crise
Católica era fortíssima aliada do poder real tanto na política econômica e financeira pela qual passava a França. O poder
econômica interna quanto na ex-terna, sobre as colônias na real mostrava-se in-sensível à crise, e desde 1614 governava
América. No entanto, na segunda metade do século XVIII, a sem convocar os Estados Gerais, assembléia que reunia os
França começou a passar por graves crises econômicas, sociais representantes dos três estados sociais: o primeiro estado, a
e políticas que, somadas, resultaram na Revolução de 1789. nobreza; o segundo estado, o clero; e o terceiro estado, o povo
Essas crises foram: ou todos aqueles que não pertenciam ao primeiro e ao segundo
estados. O terceiro estado, do qual faziam parte desde
• Financeira: havia enormes gastos para manter os camponeses, trabalhadores urbanos, pequenos proprietários e
luxos da nobreza e da corte real. Os nobres e o clero não comerciantes até a burguesia mercantil e industrial, constituía
pagavam impostos. Houve também muito prejuízo com a mais de 80% da população. Os Estados Gerais foram
participação em guerras, como a dos Sete Anos contra a convocados em 1789 pelo rei Luís XVI para ajudar a tirar a
Inglaterra, e no apoio à Guerra de Independência das colônias França da crise. E foi aí que teve início o processo
norte-americanas entre 1776 e 1782. Além do mais, a França revolucionário.
comprava produtos manufaturados, principalmente da
Inglaterra, sua grande e mais desenvolvida rival. Isso gerava • Social: como vimos, a crise financeira, econômica e
grande prejuízo na balança comercial, levando o Estado a política refletiu-se gravemente sobre a população, ou seja,
aumentar os impostos para a maioria da população como forma sobre o terceiro estado. camponeses, trabalhadores urbanos,
de sustentar seus gastos descontrolados. pequenos proprietários e comerciantes estavam bastante
descontentes com a condição de empobrecimento. A média e a
• Econômica: anos seguidos de péssimas colheitas, alta burguesias também estavam inconformadas em manter,
agravadas por problemas climáticos, levaram à subprodução pagando pesados impostos, os privilégios do primeiro e do
agrícola e conseqüente elevação dos preços, e ao aumento segundo estados. A situação era insustentável.
considerável da miséria e da fome entre os camponeses no
Poderíamos acrescentar a todas essas crises a difusão tinha poucos direitos políticos. Sua postura era antiabsolutista,
de idéias iluministas francesas e inglesas por pensadores e mas muitas vezes defendeu a monarquia parlamentar durante o
escritores, como John Locke, Montesquieu, Rousseau, Diderot processo revolucionário. Sua posição política variava conforme
e Voltaire, que defendiam basicamente o fim do absolutismo seus interesses econômicos. Foi a camada social que mais
político, da intervenção do Estado na economia, do conquistas obteve com a revolução, principalmente com o
mercantilismo e questionavam radicalmente a influência da liberalismo econômico resultante da crise do Estado forte e do
religião na política, pois eram anticlericais. Essas idéias de mercantilismo colonial. A alta burguesia na França constituía o
contestação à ordem estabelecida vieram se somar ao caldo chamado grupo dos girondinos e politicamente esteve à frente
revolucionário em que vivia a França da segunda metade do da monarquia constitucional da primeira fase, da República
século XVIII. Girondina na segunda fase, e do Diretório e do Consulado na
No trecho abaixo, retirado da Declaração da quarta e quinta fases da revolução, porém não sem resistência
Independência de 1776, das treze colônias inglesas da América social das camadas menos favorecidas: ou seja, quando a
do Norte, fica bem evidente a presença das idéias iluministas burguesia chegou ao poder e passou a ser a ordem estabelecida,
do inglês John Locke (1623-1704). Essa declaração certamente deixou de ser revolucionária.
ficou conhecida nos meios revolucionários francesas.
São verdades incontestáveis para nós: que todos os • Revolução Popular: foi uma revolução de caráter urbano
homens nascem iguais; que lhes conferiu o Criador certos que teve nos sans-culottes, sobretudo de Paris, a liderança da
direitos inalienáveis, entre os quais o de vida, o de liberdade e massa empobrecida. Os sans-culottes eram os trabalhadores da
o de buscar a felicidade; que para assegurar esses direitos se cidade, como operários, artesãos, pequenos proprietários e
constituíram entre os homens governos cujos poderes justos principalmente desempregados. Sua participação ocorreu
emanam do consentimento dos governados; que sempre que durante todo o processo revolucionário, mas as conquistas
qualquer forma de governo tenda a destruir esses fins, assiste populares foram poucas e passageiras. Sua maior presença deu-
ao povo o direito de mudá-la ou aboli-la, instituindo um novo se entre 1789 e 1794 junto com os jacobinos, pertencentes às
governo cujos princípios básicos e organização de poderes camadas médias urbanas. Nessa fase, foram aprovadas algumas
obedeçam normas que lhes pareçam próprias para promover a medidas bem populares: a abolição da escravidão nas colônias
segurança e a felicidade gerais. francesas; a Lei do Máximo, que estabelecia um limite máximo
para preços e salários; e a organização de um exército
O PROCESSO REVOLUCIONÁRIO revolucionário e popular. Em 1792, na fase mais radical e
NA FRANÇA popular da revolução, o rei Liberal condenado por traição à
pátria e guilhotinado publicamente. O mesmo aconteceu com
todos aqueles que, de certa forma, eram contrários à Luís XVI,
Dentro do processo revolucionário francês, podemos encontrar por estar negociando a invasão da França com países inimigos
várias revoltas e revoluções (algumas aconteceram ao mesmo em guerra, como a Inglaterra, a Prússia e a Rússia, foi
tempo): uma Revolta Aristocrática, uma Revolução Burguesa, República Jacobina.
uma Revolução Popular e uma Revolução Camponesa.
Vejamos cada uma delas. • Revolução Camponesa: foram inúmeras revoltas dirigidas
principalmente contra a opressão e os privilégios feudais no
• Revolta Aristocrática entre 1786 e 1789: ocorreu quando o campo. Em 1789, com a derrubada de Luís XVI, camponeses
rei Luís XVI, pressionado pela grande crise financeira, decidiu do interior da França invadiram e saquearam muitas das
estender ao clero e à nobreza (primeiro e segundo estados) a grandes propriedades, chegando a , matar alguns aristocratas
cobrança de impostos que só era obrigatória ao terceiro estado. rurais. Essa revolta ficou conhecida como a Noite do Grande
As elites reagiram fortemente contra esse procedimento do Medo. No entanto, a Revolução Camponesa acabou se
Estado Absolutista, pois queriam manter seus privilégios esvaziando, na medida em que se suprimiram os direitos
intocáveis. Enfim, a aristocracia privilegiada rebelou-se contra feudais e foi feita a divisão das grandes propriedades de terra,
as medidas econômicas do rei. Isso fez com que Luís XVI durante o processo inicial revolucionário, o que possibilitou a
convocasse os Estados gerais, formado pela assembléia dos formação de numerosa classe de pequenos proprietários rurais.
três estados em conjunto, para que se aprovasse a cobrança dos Os dez anos do período revolucionário, entre 1789 e 1799,
impostos ao primeiro e segundo estados. Foi a Revolta foram de intensa luta de classes, política e social. As
Aristocrática que impulsionou o processo revolucionário na revoluções se alternaram, dependendo da força social de cada
França. grupo em luta, num jogo social e político de avanços e recuos,
mas que marcou profundamente a história do mundo ocidental.
• Revolução Burguesa: ocorreu durante todo o período A ordem estabelecida foi posta em xeque e uma nova visão
revolucionário, entre 1789 e 1799. A alta burguesia industrial política se descortinou: o povo tinha que ser considerado pelos
em ascensão social e econômica pertencia ao terceiro estado e governantes, caso contrário o trono poderia ser derrubado e os
altares abalados...

AS REVOLUÇÕES DO SÉCULO XX CONTRA A ORDEM CAPITALISTA


Neste item, estudaremos principalmente a Revolução grandes parcelas da população que buscaram instalar uma
Russa de 1917 e a Revolução Espanhola de 1936. Foram sociedade mais justa e igualitária, uma sociedade socialista e
revoluções de grande participação popular, que se anarquista, que se opusesse ao capitalismo vigente. Foram
pronunciaram abertamente contra a ordem capitalista da revoluções de grande influência internacional, principalmente a
primeira metade do século XX. Revoluções apoiadas por russa.
A REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917 o poder dos capitalistas. No Brasil, em
1922, foi fundado o Partido Comunista
do Brasil, o PCB. Significativamente, o
• Antecedentes: Antes de 1917, o imenso Império Russo estava símbolo dos comunistas era uma
passando por grave crise política, econômica e social. bandeira vermelha, uma foice e um
• a Rússia constituía um poderoso império, do leste europeu à martelo entrecruzados, demonstrando a
Ásia, e os custos de manutenção eram gigantescos; força dos trabalhadores do campo e da
• vigorava o czarismo de Nicolau II, com o apoio da cidade no projeto socialista.
aristocracia rural, da burguesia, das tropas de elite do exército e Os princípios da Revolução
da Igreja Ortodoxa russa; Russa serviram de modelo a outras
• só em fins do século XIX iniciou-se o processo de revoluções de caráter socialista pelo
industrialização com exploração da mão-de-obra operária e mundo. A Revolução Chinesa de 1947,
camponesa; a instalação de um Estado socialista nos
países do leste europeu e a Revolução
• a participação da Rússia na Primeira Guerra provocou Cubana de 1959 são alguns exemplos.
aumento da crise econômica e social e a organização de Com a morte de Lênin, em
inúmeros movimentos políticos e sociais de oposição ao 1924, iniciou-se uma disputa interna
czarismo decadente, como o dos socialistas revolucionários, pelo poder no Partido Comunista Russo
dos marxistas (bolcheviques e mencheviques) e da burguesia entre Trotski, partidário do comunismo
constitucionalista. Também ocorriam numerosas greves e internacional, e Stalin, partidário do
motins militares; comunismo num só país. Venceram as
teses de Stalin, e Trotski foi expulso da
• os bolcheviques, socialistas revolucionários e organizações URSS. Iniciou-se, então, a Era
de trabalhadores exigiam a saída da Rússia da Primeira Guerra, Statinista, entre 1924 e 1954,
considerada por eles uma guerra imperialista, motivada por caracterizada ao mesmo tempo por
interesses meramente capitalistas. Duas grandes revoluções grande desenvolvimento industrial e
fizeram parte da Revolução Russa de 1917: a Revolução de econômico e por uma política altamente
Fevereiro e a Revolução de Outubro. centralizadora e militarista. Todos os
opositores do regime stalinista foram
• Revolução de Fevereiro: grande movimento político, social e considerados traidores da revolução.
militar que uniu toda a oposição, derrubou o czarismo e Após a Segunda Guerra
instalou um governo provisório, liderado pela burguesia Mundial, em 1945, a União Soviética
constitucionalista (os cadetes), tendo Kerenski à sua frente. despontou como líder do bloco dos
países socialistas, principalmente do
• criação do Exército Vermelho, comandado por Trotski, para leste europeu, onde ela mesmo havia se
enfrentar os inimigos internos da revolução (a burguesia, os empenhado em implantar a revolução.
nobres e os militares reacionários) e os inimigos externos (a No entanto, organizava-se outro bloco,
Inglaterra, a França e os Estados Unidos). Em decorrência o capitalista, liderado pelos Estados
dessa medida, houve três anos de guerra civil violenta na Unidos. Instaurou-se, assim, a chamada
Rússia; Guerra Fria, que durou até 1991 com a
decadência da União Soviética e o fim
• estabelecimento de uma Economia de Guerra (NEP) como de um Estado que se propôs socialista,
forma de acelerar o desenvolvimento industrial e social na mas se transformou numa máquina
Rússia; burocrática e autoritária, que
economicamente não resistiu à pressão
• instalação de uma nova organização econômica e social que capitalista e aos gastos com a cor-rida
buscava atingir a igualdade eliminando a propriedade privada armamentista-nuclear com os Estados
da terra, das máquinas e das fábricas, por meio de um Estado Unidos.
forte e socialista. Essa sociedade estava fundamentada Enfim, a Revolução Russa
teoricamente no marxismo, nas idéias socialistas de Karl Marx tinha um projeto social generoso de
e Friedrich Engels. Nesse sentido, foi uma revolução implantação de uma sociedade sem
comunista e proletária, que se propunha, efetivamente, a injustiças e comandada pelos
instalar os trabalhadores no poder; trabalhadores. No entanto, os novos
grupos no poder, mesmo
• criação da URSS — União das Repúblicas Socialistas anticapitalistas, desviaram-se para o
Soviéticas — estabelecendo um decreto de autodeterminação autoritarismo e a burocracia,
das nacionalidades antes submetidas ao Império Russo. engessando todo um projeto altamente
O exemplo da revolução revolucionário, proposto como
proletária russa espalhou-se por todo o alternativa concreta contra as injustiças
mundo ocidental e oriental. Inúmeros do capitalismo e a exploração do
Partidos Comunistas se formaram em homem pelo homem. Foi uma
vários países, buscando organizar e experiência social e política que marcou
dirigir os trabalhadores para uma profundamente o século XX.
revolução social e política que retirasse

• A GUERRA CIVIL ESPANHOLA DE 1936


Se a Revolução Russa foi uma rica experiência politicamente por um grupo militar que derrubou um governo
socialista, a Guerra Civil Espanhola foi uma tentativa histórica constitucional e instalou uma ditadura que reconhecia o rei
de implementar pela primeira vez num país um projeto Afonso XIII. Essa ditadura do General Primo de Rivera tinha
anarquista. A Espanha, desde 1923, foi dominada ligações muito próximas com o fascismo italiano de Mussolini.

Em abril de 1931, a república sucedera à monarquia. Havia cinco anos que a Espanha era uma república: cinco anos perturbados
(...) e onde se haviam sucedido dois anos de governo da esquerda, depois dois anos de governo da direita, de 1934 a fevereiro
de 1936. Em fevereiro de 1936, as eleições gerais reconduzem ao poder as esquerdas coligadas: é a vitória da Frente Popular.
Uma onda de agitação social e desordem alarma os proprietários, os ricos, os militares e a Igreja. No dia 18 de julho de 1936,
estoura uma sublevação militar que fracassa parcialmente; concebida para triunfar em vinte e quatro horas, não atinge seu
objetivo. A guarda civil permanece leal, a marinha continua fiel ao governo; sua atitude é decisiva pois, vigiando o Estreito de
Gibraltar, impede que os insurretos transfiram do Marrocos Espanhol para a Península Ibérica os regimentos marroquinos com
que eles contavam. A Catalunha e as províncias bascas, gratas à república por lhes haver reconhecido a autonomia, colocam-se
ao lado do governo de Madri. Mas este já não tem exército, que se bandeou para os amotinados. Arma-se o povo; milícias
improvisadas criam dificuldades, durante semanas, às tropas regulares, incapazes de alcançar uma vantagem decisiva. A
operação que devia durar algumas horas, durará três anos. A guerra intensifica-se e generaliza-se.
RÉMOND, René. O século XX, 3. ed. São Paulo: Cultrix, 1982. p. 114-5.
Começou uma violenta Guerra Civil que só terminou financiadas militarmente pelas elites espanholas, pela Igreja e
em 1939, com a vitória das forças do general Franco. pelo fascismo italiano e nazismo alemão. Esquadrilhas alemãs
Republicanos, anarquistas e comunistas com grande apoio bombardeavam alvos não-militares, cidades, vilas e povoados,
popular e até de voluntários vindos dos mais diferentes países como aconteceu na cidade de Guernica, que foi fortemente
organizaram um exército popular, armando grande parte da retratada na pintura de Picasso.
população. Do outro lado, as forças do general Franco eram
Picasso estava em Paris quando soube do bombardeio da cidade de Guernica, pelos fascistas, em 28 de abril de 1937. Ao tomar
conhecimento de todos os detalhes da chacina, começa a pintar com faria e emoção. Em seu espírito certamente já fervilhavam
as idéias que mais tarde o levaram a escrever: "O que vocês pensam que seja um artista? Um imbecil feito só de olhos, se é
pintor, ou de ouvidos, se é músico, ou de coração em forma de lira, se é poeta, ou mesmo feito só de músculos, se trata de um
pugilista? Muito ao contrário, ele é ao mesmo tempo um ser político, sempre alerta aos acontecimentos tristes, alegres,
violentos, aos quais reage de todas as maneiras. Não: a pintura não é feita para decorar apartamentos. É um instrumento de
guerra para operações de defesa e ataque contra o inimigo". E como instrumento de guerra ele usou o pincel: em branco e
preto retratou todo o horror de homens, mulheres e crianças, mutilados, de forma magistralmente trágica. E criou Guernica.
Conta-se que Abetz, embaixador de Hitler em Paris, ficou tão impressionado com a obra, que teria perguntado a Picasso,
aparentando desinteresse: - É obra sua? - Não. Sua - replicou o artista com frieza (...). O final da guerra encontra a vida de
Picasso novamente transformada (...). Recusa-se a voltar à Espanha enquanto perdurasse o regime franquista, e faz um contrato
com o Museu de Arte Moderna de Nova York para que proteja e conserve Guernica até a queda do fascismo espanhol, quando
então a obra deverá ser cedida à terra natal do pintor.
CARRASCO, Walcir. Picasso. São Paulo: Abril, 1977. p. 20-2. (Coleção Mestres da Pintura).
A URSS deu pouco apoio aos rebeldes republicanos,
enquanto países carast3s corno
Inglaterra, Estados Unidos e França fizeram vistas
grossas ao acontecimento, devido à forte direção dos radicais
de esquerda no processo. Populações civis foram dizimadas,
chegando a um saldo de um milhão de mortos, numa das
guerras mais violentas do século XX, na qual houve grande
participação popular na luta por um país mais justo. Foi o
último suspiro de um projeto anarquista, duramente abafado
pelas forças conservadoras das elites dominantes.

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