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Vistas de Portugal

Os Médicos

Precisamos todos muito deles, mas para alguns temos de tomar PACIENTIX uma hora
antes da consulta. Previna-se também com um calmante para o aftermath.
Aqui vai a fundamentação:

- A medicina pública não conhece as formas de cortesia- não há apelidos nem Senhora
Dona ou Dona. Há Sr. José e Sra.Maria, o que deixa todos na sala de espera a olhar uns
para os outros e a Dona Sãozinha nunca mais entra. Prepare-se, nos casos mais graves,
para ser tratado por tu.

-A medicina não reconhece pessoas que falem bem e muito menos as bem-educadas.
Também não suporta quem não se queixe muito. A medicina adora berros, urros e as
doenças das vizinhas. Evite estar à vontade e ir directo ao assunto; prepare a sua
confissão, lembre-se de que está na presença de uma identidade superior.

-A medicina é uma ciência oculta, logo quem sofre de sinusite e rinite, por exemplo,
mesmo que assoe quantidades industriais do que todos sabem, espirre a cada dois
segundos e estoure de dores de cabeça, não deve mencionar que tem as maleitas
referidas. Vai-se ver. Depois de alumiarem todas as cartilagens com uma maquineta, de
nos porem a morrer com a língua de fora a dizer âh,âh,âh, recostam-se, fazem que
pensam muito e lá receitam o antibiótico. A gatafunhada ainda deixa reconhecer o
genérico mais comum. Tem de se sair do oráculo muito assustado porque o astro nada
disse. Há que tomar as doses, há que tomar cuidado!

-Os outros médicos são todos incompetentes, logo se o que está a consultar lhe
perguntar quem foi o burro que lhe viu a garganta há seis meses, cale-se muito
caladinho e não diga a verdade: “O burro foi o Sr. Doutor!”.

- O doente é um ignorante, logo não deixe rasto da sua passagem pelos livrinhos de
biologia e química do liceu, nem se atreva a mencionar princípios activos. Nunca.
Diga o nome do medicamento ou do orgão a medo, de preferência com uma grande
calinada. Recebe sempre um abanar de cabeça ou um sorriso cínico-paternal.
Eu exemplifico, pela experiência:
-“Doenças que teve?”
-X, y, e z,
- Alergias?”
- Ácido acetílosalicílico.
-“As pessoas dizem aspirina, não sabe?”
- Só sei que não sou alérgica nem à caixa nem à Bayer!

Vistas do meu carro

O português puro tem um sítio próprio para exercer o poder- a bomba de gasolina.
Chega, de carrito ou de carrão, e ocupa a bomba de trás, de modo a que ninguém mais
possa abastecer. O veículo fica sempre parado, obstruindo totalmente a faixa, para que
ninguém ouse passar para a bomba da frente. Ó ultraje!
Não paga em dinheiro, paga com cartão, para que o reino dure mais uns bons minutos.
Ainda vai tomar um café e discutir futebol.
Os que estão na fila, e que fariam exactamente o mesmo, começam a buzinar e a dar
largas aos conhecimentos de língua portuguesa que têm e que se resumem aos
substantivos merda, filho(a) da p_ _ _,e ca_ _ _ _o, ao verbo fo_ _ _ e ao adjectivo
verbal fo_ _ _ _! Também usam imperativos com base no léxico básico acima!
A fila já vai longa e entram as “esposas” dos ditos, com conhecimentos linguísticos um
pouco mais avançados, que já incluem as orações condicionais e um grande grau de
vidência, provado pelo “ O que tu queres sei eu!”.
Abasteça em Espanha se se quiser poupar a este suplício, ganhando tempo e dinheiro!
Se teve mesmo de passar por isto, conte com outro fenómeno- os engarrafamentos por
curiosidade mórbida e uma nova modalidade- observar os movimentos de máquinas de
desaterro em terrenos próximos da auto-estrada. Os ingleses têm o bird-watching, os
portugueses descobriram as delícias do caterpillar-watching. Não há horários a cumprir
que os detenham.
Evite as estradas portuguesas- só se lá morre uma vez, mas suportar o descrito e, com
pressa, lembra-nos o velho ditado: “ Mais vale a morte que tal sorte.”
E já agora, lembre-se de que tem cinco dias úteis para pagar as CCUT, sob pena de ter
snail mail , com cumprimentos do Estado!

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