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Primeiro vi a boca. Só depois percebi que era você.

No inicio, de dentro do carro, o que me parecia é que tinha sido seqüestrado para dentro
de uma cena de comercial de Chanel 5 ou de filme noir, feito pelos próprios inventores
do estilo.

Era uma linda mulher de pele branca como a neve, vagando na noite escura iluminada
apenas pela Lua e por si mesma. Em meio ao frenesi de carros coloridos e iluminados,
parecendo levemente preocupada ou assustada, ela atravessava a avenida, olhando para
todos os lados. Os cabelos lindos longamente lisos, de um castanho iluminado
propositadamente para se destacar no fundo da noite, esvoaçavam com vida própria,
banhados do branco da Lua cheia. E esta mesma Lua compunha coadjuvante, como
fundo, aquela aquarela da minha imaginação, em que a garota frágil, mas determinada,
era o centro de toda a sedução.

Tinha então esta pintura traçada, de contrastes absurdos. Do vermelho escarlate


daqueles hipnóticos lábios imensos, mais do que agressivos, desenhando na noite.
Capazes mesmo de devorar a própria eterna rainha da noite. Dos brancos insolentes das
poucas luzes da noite que insistiam em desafiar aquela boca. E ainda o Negro manto da
noite que tentava encobri-la. Porém todos sucumbiam às mesmas tentações e aquele
centro de todas as atenções, Ela, o verdadeiro sentido da noite. Foi quando uma buzina
reclamante me despertou deste transe inebriante para o triste o cheiro da realidade que
me chamava. E percebi que minha passagem para esta outra realidade inesquecível era
você.

Mais uma vez, você.

Buzinei sem esperança, mas você procurou, me achou, sorriu e acenou.

E eu fui embora, sonhando.

Johnny C.

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