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Da Série O Nosso Ridículo De Todos os Dias

Clientes e Gerentes

Já reparam que desapareceram os fregueses do comércio em geral? E não estou falando da


crise por que passa o comércio.
Para onde foram os usuários dos prestadores de serviços ?
E os passageiros dos meios de transporte ? Alguém viu ?
Há muito tempo não encontro mais nenhum.
Vou ao shopping e só vejo CLIENTES. Tento resolver um problema com as operadoras de
telefones, sejam fixos ou celulares, e só encontro CLIENTES. Ando de ônibus ou metrô e só
estou acompanhado de CLIENTES. Até aquela voz irritante do Metrô pede aos seus
CLIENTES para não sentarem nos bancos de cor laranja.
Percebo o que está acontecendo, mas não acredito. Quero ser freguês, ser usuário ou
passageiro, mas me chamam de CLIENTE! O que faço eu, então? Do meia volta e vou embora.
Não estão falando comigo.
Sabemos que a crise financeira é grande mas ela não justifica a substituição dos fregueses,
usuários e passageiros pelos clientes. Isso até parece discriminação, aliás...
De repente ficou feio, velho ou fora de moda chamar as pessoas de fregueses, usuários ou
passageiros.
Tudo isso faz parte de minha próxima tese de psicologia (só como deboche, porque como todo
bom comunicólogo, desprezo solenemente esta “ciência”. Costumo até dizer que se o mundo
amanhã se acabasse, a única ciência que não voltaria seria a psicologia. Não poderia haver outro
Freud).
Agora, percebamos como de repente certas expressões são banidas e outras viram moda
instantaneamente. Como podemos passar anos chamando um conjunto de habitações em morros
de favelas e agora, de repente, nos sentirmos quase criminosos, discriminados mesmos, se não
chamarmos as mesmas de “comunidades”. Sem falar, mas ainda no mesmo tema, do negro que
virou afro-brasileiro e outras “politicagens-corretas”.
Repare outra: por que TODOS os funcionários de bancos hoje em dia são GERENTES? Fico
perguntando: Quem será que eles gerenciam, além deles mesmos e seus egos ainda maiores?
Será que ninguém mais admite ser atendido por um simples funcionário, mesmo que seja
gabaritado e competente? Você ouve logo: - Quero falar com “Meu Gerente”. Aliás, - mais
NOVO ainda -, ninguém mais é empregado de banco, nem se quer Gerente. Todos são “Meus
Gerentes”. Tá nas plaquinhas...
Portanto, aprendamos, não é bonito chamar ninguém de freguês, usuário ou passageiro. São
todos a partir de hoje: Clientes ! Que bonito!
Quando no Banco, Senhor ou Senhora Cliente procure Seu Gerente. Porém, por favor, não
confunda essa propriedade. Não queria levar o que é SEU para casa. Pode ser que o próximo
também precise dele. Apesar de eu sinceramente não saber para que. Afinal, o que é meu não
interessa a mais ninguém.

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