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Desacelerando o Tempo para viver melhor.

O desenvolvimento do tema é melhor do que sua conclusão. Infelizmente no final ele resvala
no pieguismo da mensagem de auto-ajuda tão repetida em milhares de textos na web. No
entanto, a capacidade de observação do autor me fez lembrar de uma velha propaganda de
jeans e, talvez, quem sabe da minha própria vida... (pretendo)
Deixa eu explicar...
Num banco, tipo banco de praça, encostado num prédio antigo um homem de meia idade,
vestindo uma Levi's 501, com ares de estar sem compromisso, como dizemos por aí - "meio
largado" - de repente tem uma visão incrível: A Morte aparece sentada do seu lado no mesmo
banco. Aquela figura clássica da Morte é invocada. Aquela com a mortalha preta envelhecida e
rota, com a fisionomia andrógina e pálida que fez papel relevante no Sétimo Selo (filme
clássico do Bergman). Com um jeito displicente frente ao espanto óbvio do homem no banco,
Ela, a Morte, com sua também clássica foice, olha para cima da cabeça do pobre
desafortunado. Imediatamente vem compreensão instantânea: "O assunto Dela é comigo". Ele
olha para cima e percebe um piano já praticamente sobre sua pobre cabeça. Alguém deixou cair
da janela do terceiro andar...
Nesse momento, como um direito divino concedido a todo condenado a morte, vem as
imagens da memória de toda sua vida... Começando no berço e sucedendo todos aqueles
momentos que fazemos questão de lembrar. Sejam eles deliciosos ou apenas aprendizados.
Momentos inesquecíveis, divertidos, sofridos e apaixonados. Flashes de segundos de toda uma
vida vivida intensamente. Como devemos ter.
Daí o esperto usuário da Levi's percebe que a Morte condescendente terá de esperar até
que toda aquela recordação acabe. O homem então exagera nos detalhes. Se emociona, ri e
chora até que com um sorriso malandro... (daqueles debochados que eu sei bem fazer...)
percebe que sua Companheira e testemunha derradeira sucumbiu ao sono "no meio do filme
muito longo". Então, calmamente, o homem se levanta do banco onde o tempo parou para
esperar o fim de sua vida, com o piano flutuando a dois metros do chão e, com aos mãos nos
bolsos, silenciosamente sai de cena. Deixando sua memórias passando, o piano no ar e a Morte
esperando.
Viva sempre intensamente sua vida. Você não sabe quando essas experiências podem ser
muito úteis...

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