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História Da Educação No Brasil
História Da Educação No Brasil
BRASIL
MOVIMENTO BRASILEIRO DE
ALFABETIZAÇÃO
MOBRAL
Vitória- 1993
Estrutura
1. desenvolver nos alunos as habilidades de leitura, escrita e
Metodologia do contagem;
MOBRAL 2. desenvolver um vocabulário que permita o enriquecimento
de seus alunos;
3. desenvolver o raciocínio, visando facilitar a resolução de
Programa de seus problemas e os de sua comunidade;
Alfabetização 4. formar hábitos e atitudes positivas, em relação ao trabalho;
Funcional 5. desenvolver a criatividade, a fim de melhorar as condições
de vida, aproveitando os recursos disponíveis;
6. levar os alunos:
O Programa - a conhecerem seus direitos e deveres e as melhores
de formas de participação comunitária;
Alfabetização - a se empenharem na conservação da saúde e melhoria
Funcional das condições de higiene pessoal, familiar e da comunidade;
apresentava seis - a se certificarem da responsabilidade de cada um, na
objetivos: manutenção e melhoria dos serviços públicos de sua comunidade e
na conservação dos bens e instituições;
- a participarem do desenvolvimento da comunidade,
tendo em vista o bem-estar das pessoas (CORRÊA, 1979, p. 152).
Para se atingir estes objetivos foi criado um material didático constituído de livro de
texto, livro glossário, livros de exercício de matemática, livro do professor e conjunto de
cartazes. Este material foi modificado em 1977 e passou a ser chamado de Conjunto
Didático Básico.
A metodologia deste programa não se diferenciava substancialmente da empregada
no Programa de Alfabetização Funcional. Note-se apenas que sai do aspecto puro e
simples da alfabetização e propõe atividades relacionadas as quatro primeiras séries do
primeiro grau, começando a assumir aspectos de um grande sistema paralelo de
educação.
Um outro aspecto que deve ser notado é a preocupação com a formação de mão-de-
obra e colocação no mercado de trabalho. O que, aliás, mais tarde passaram a ser
adotados como Programas do MOBRAL, como será visto adiante.
Mais uma vez a atividade era imposta pelos planejadores, onde as atividades
culturais eram oferecidas aos mobralenses como forma de sensibilização para o trabalho
exercido.
Até mesmo os princípios que norteavam a ação para "despertar a consciência
crítica do mundo histórico-cultural", baseavam-se em teorias discutíveis quanto a
democratização,
se bem que
a. democratização da cultura;
afirmavam o
b. dinamização da criatividade e intercâmbio cultural;
contrário, já que
c. valorização do homem e da cultura local e,
pretendiam:
d. preservação da cultura (CORRÊA, 1979, p. 244).
Sabemos que cultura é algo dinâmico colocada sempre em confrontação com outras
culturas. A proposta do MOBRAL era justamente de preservar valores culturais apesar
de fazer referências a democratização da cultura.
Programa de Profissionalização
Este Programa surgiu no ano de 1973 e buscou convênios com entidades como o
Programa Intensivo de Preparação de Mão-de-Obra - PIPMO.
Algumas empresas também colaboraram com o MOBRAL, sendo que as Casas
Sendas, uma rede de supermercados do Estado do Rio de Janeiro, colaborou com o
treinamento de empregadas domésticas. Lógico que para atender a burguesia residente
na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro.
No ano de 1976 um outro acordo com a Massey-Ferguson, fabricante de tratores,
permitiu o treinamento de 40.000 tratoristas em um ano. Esta foi a fase onde a palavra
de ordem da ditadura militar, já em fase de pleno desgaste, era "plante que o João
garante". João Batista de Figueiredo foi o último dos militares no poder.
A metodologia empregada, também chamada de Treinamento por Famílias
Ocupacionais, era assim definida:
1. atendimento em larga escala - a metodologia deveria permitir,
por meio de pequenas adaptações, sua aplicação em todo o país,
permitindo, assim, uma certa economia de escala;
2. atendimento a nível de semiqualificação - dentro do
princípio de que às entidades de treinamento caberia o papel de
formar homens 'treináveis' e às empresas, a sua especialização;
3. mobilidade no mercado de trabalho - deveriam ser dados
conteúdos comuns relativos a várias ocupações agrupadas por
semelhança de tarefas e/ou operações, material/ferramental
utilizado ou mesma base teórica de conhecimentos. Assim, tendo
conhecimentos relativos a um grupo de ocupações - Família
Ocupacional - o aluno poderia mais facilmente acompanhar as
mudanças e transformações do mercado de trabalho;
4. adequação à realidade da clientela mobralense - dentro
desse princípio, os cursos deveriam ser rápidos, com baixa
exigência de escolaridade e em horários compatíveis com as
necessidades de uma clientela adulta (CORRÊA, 1979, p. 301-302).
1. levantamento, na comunidade, dos seus principais problemas
de saúde;
Este
2. discussão, com os participantes, destes problemas e procura
programa
de soluções simples e viáveis;
assumia como
3 transmissão de informações simples sobre temas de saúde,
estratégia uma
visando um conhecimento de alternativas para solução de
ação típica de
problemas levantados;
quem assume a
4. motivação dos participantes para a realização de algumas
incompetência
experiências a nível individual e familiar que representem uma
dos serviços
nova atitude, mais adequada, com relação à preservação da saúde;
públicos no
5. motivação dos participantes e seus familiares para que
atendimento à
transmitam, para vizinhos e conhecidos, essas novas atitudes;
população.
6. motivação dos participantes para que se organizem em
Assim,
grupo para a execução de obras e campanhas sanitárias de caráter
propunha como
comunitário;
exercício que a
7. motivação da comunidade, entidades e autoridades locais
própria
para que integrem esforços na melhoria das condições de saúde e
comunidade
saneamento (CORRÊA, 1979, p. 317).
resolvesse seus
problemas de
saneamento básico, o que caberia a administração pública.
Eis o que determinava como estratégia:
A organização de grupos dizia respeito a formação de grupos que iriam trabalhar
baseados no diagnóstico realizado e a manutenção do programa fazia com que,
periodicamente, os grupos se reunissem "para discutir estratégias, dividir tarefas,
responsabilidades, avaliar e, se necessário, fazer reformulações no plano" (CORRÊA,
1979, p. 342).
O processo de implantação do Programa Diversificado de Ação Comunitária -
PRODAC, obteve boa receptividade nas prefeituras do interior. Os técnicos que foram
a campo percebiam que não havia muita receptividade nas capitais dos Estados ao
contrário das prefeituras. Evidente que qualquer Projeto que seja implantado numa
prefeitura de interior renderá frutos políticos para o ocupante do cargo de Prefeito. Mas
os técnicos do MOBRAL preferem achar que os Prefeitos recebiam de bom grado o
PRODAC como "meio de consulta permanente à vontade do povo" (CORRÊA, 1979,
p. 345).
Programa de Autodidatismo
Como insinua seu próprio nome este Programa foi criado para propiciar aos
indivíduos condições que os fizessem agentes de sua própria educação. Era dirigido a
ex-alunos e a toda a comunidade.
Os objetivos gerais deste Programa eram:
1. proporcionar alternativa educacional, através de atendimento
numa linha de autoditaxia, às camadas menos favorecidas da
população;
2. ampliar a atuação do Posto Cultural, imprimindo-lhe
características de uma agência de educação permanente, com
programas voltados para um aperfeiçoamento constante da
população (CORRÊA, 1979, p. 358).
Finalidade de Educar
Método
O método do MOBRAL não parte do diálogo, pois concebe a educação como
investimento, visando a formação de mão-de-obra com uma ação pedagógica pré-
determinada. Isso faz impedir a horizontalidade elite e povo, colocando a discussão só
nos melhores meios para atingir objetivos previamente estabelecidos pela equipe
central.
O momento pedagógico proposto é autoritário, porque ele (MOBRAL) acredita que
sabe o que é melhor para o povo, trazendo com isso a descrença, a falta de fé na
historicidade do povo na sua possibilidade de construir um mundo junto com a elite.
Síntese
Conclusão
A própria descrição dos fatos já falariam por si mesmo. Mas o que fica de marcante
é que, aproveitando-se do já dito por Pierre Furter, "a alfabetização e a educação de
massa tanto podem ser fatores de libertação como de dominação" (FURTER, 1975, p.
59). Metodologicamente as diferenças entre o método proposto por Paulo Freire e pelo
MOBRAL não tem diferenças substanciais.
A diferença é marcada pelo referencial ideológico contido numa prática e noutra.
Enquanto Paulo Freire propunha a "educação como prática da liberdade", o projeto
pedagógico do MOBRAL propunha intrinsecamente o condicionamento do indivíduo
ao status quo.
O projeto MOBRAL permite compreender bem esta fase ditatorial por que passou o
país. A proposta de educação era toda baseada aos interesses políticos vigentes na
época. Por ter de repassar o sentimento de bom comportamento para o povo e justificar
os atos da ditadura, esta instituição estendeu seus braços a uma boa parte das
populações carentes, através de seus diversos Programas.
Em 1978 o MOBRAL atendeu "quase 2 milhões de pessoas, atingindo um total de
2.251 municípios em todo o país" (CORRÊA, 1979, p. 459). Todo esse esforço
provavelmente era para cumprir o verdadeiro objetivo de seu Presidente que desejava
"uma organização já estruturada e com significativa experiência a serviço da política
social do governo e voltada para a efetiva promoção do homem brasileiro" (CORRÊA,
1979, p. 471).
No ano de 1977 a sua receita foi de Cr$ 853.320.142,00 para atender a 342.877 mil
pessoas, o que permite saber que o custo per capita foi de Cr$ 2.488,00. Os custos
financeiros do MOBRAL eram muito altos. Para financiar esta superestrutura o
MOBRAL recebia recursos da União, do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação, 2% do Imposto de Renda e ainda um percentual da Loteria Esportiva.
O MOBRAL pode ser considerado como uma instituição criada para dar suporte ao
sistema de governo vigente. Como Aparelho Ideológico de Estado, como nos ensina
Althusser, o MOBRAL teve uma atuação perfeita. Esteve onde deveria estar para
conter qualquer ato de rebeldia de uma população que, mesmo no tempo do milagre
econômico, vivia na mais absoluta miséria.
Mas a recessão econômica a partir dos anos 80 veio inviabilizar o MOBRAL que
sugava da nação altos recursos para se manter ativa. Seus Programas foram
incorporados pela Fundação Educar.
ANEXOS
QUADRO 1
Evolução do Índice
de Analfabetismo no Brasil
(1940-1977)
Ano Índice
1940 56,1%
1950 50,7%
1960 39,6%
1970 33,6%
1971 30,7%
1972 26,6%
1973 25,5%
1974 21,9%
1975 18,9%
1976 16,4%
1977 14,2%
QUADRO 2
Necessidades Básicas Palavras Geradoras
(campos semânticos: (forma significante:
exploração do cartaz e do aprendizagem da leitura
significado da palavra) e escrita)
EDUCAÇÃO ESCOLA/PROFESSORA
SAÚDE REMÉDIO/VACINA
ALIMENTAÇÃO COMIDA/PANELA/COZINHA
HABITAÇÃO TIJOLO/CASA
LAZER RÁDIO/FUTEBOL/VIAGEM
PREVIDÊNCIA SOCIAL HOSPITAL/TRABALHO/UNIÃO
VESTUÁRIO SAPATO/PLÁSTICO
LIBERDADES HUMANAS VIDA/FAMÍLIA/FÉ/AMOR
Fonte: (CORRÊA, 1979, p. 154)
QUADRO 3
Formação acadêmica dos técnicos
alocados na direção do MOBRAL
Pedagogia 12
Economia 6
Ciências Políticas e Sociais 5
Formação Militar 5
Engenharia 4
Direito 4
Serviço Social 3
Sociologia 3
Letras 3
Lingüística 2
Biblioteconomia 2
Administração 2
Ciências Contábeis 2
Matemática e Física 2
Geografia 1
Comunicação 1
História 1
Educação Física 1
Nutrição 1
Planejamento 1
Referências:
Período do Regime Militar
Texto
Cronologia