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Terra Viva
(A preocupação de Nando)
Dez anos apenas era a sua idade, mas a sua cabeça era povoada por
problemas que, se não lhe pertenciam, pelo menos deveriam pertencer ao
mundo dos adultos.
Porque com tanto serviço a ser feito e as mães preferem usar seus filhos
para pedir esmolas?...
“Você pode! Você pode muito! Um muito que pode parecer pouco, mas é um
pouco que é muito!”
E resolveu:
Nando plantou Epê Laiê (Epé Layé – palavra yorubá, que significa Terra
Viva).
Laiê tinha raízes, estava preso. Não podia agir, mas podia sonhar.
Ossãe (Osanyin) – o orixá (òrìsà) feiticeiro, conhecedor dos poderes das folhas –
ouviu os pensamentos e sentimentos de Epê Laiê. Retirou, então, de uma de suas
cabaças, um pó mágico e soprou em Epê Laiê, dando-lhe o dom da locomoção, o
poder da ação. Ossãe nada falou, Ossãe não fala! Mas o seu inseparável
companheiro Aroni disse:
“Epê Laiê, agora você já pode ocupar-se com os assuntos que tanto lhe preocupam”.
Foi uma vitória, uma grande vitoria. Mas Epê Laiê sentia que sozinho seria muito
difícil fazer alguma coisa. Buscou parceiros entre as arvores da sua idade, nada
conseguiu; tentou as mais velhas, e nada. Ele não sabia nem como, nem por onde
começar. Já estava ficando desanimado quando Exu (Èsù) – Senhor do
movimento e da ação – veio em seu socorro e disse-lhe que quando os nossos
semelhantes não nos ajudam, devemos buscar o apoio dos deuses.
A idéia foi bem recebida. Mas onde encontrar esses deuses – se perguntou
a esperta arvorezinha. Exu, que não precisa que os homens falem para que
ele os entenda, deu a resposta:
Epê Laiê sabia que na floresta onde nasceu e cresceu existia uma linda
cachoeira. Logo imaginou; aquele deveria um lugar escolhido para morada
divina.
A arvorezinha não estava errada: nas cachoeiras e nos rios mora oxum
(Ọṣun), a linda deusa que, coberta de ouro e com voz doce como mel, seduz
a todos. A charmosa e faceira Oxum que, dengosa, cobre de dengo os seus
protegidos.
Esperançoso, Epê Laiê correu para a cachoeira. Qual não foi a sua surpresa,
quando da linda cachoeira de que tanto ouviu falar só restava um fino fio
d’água.
Oxum, Ere iêiê ô! (Òsun Ore Yèyé) – Oxum, amiga que agrada, que faz
todas as vontades.
E porque a cachoeira que ele tinha conhecimento que era tão linda,
agora estava tão suja, fraca, sem vida?
“Epê Laiê, sempre se pode fazer algo; se Oxum está fraca, alimente-a.
Foi assim que mais uma vez orientado por Exu, Epê Laiê ofertou à deusa Sua
comida predileta: feijão fradinho com ovos – um omoluku-olelé.
Epê Laiê até podia ter tido medo de Yemanjá, mas não teve. Era raiva de
mãe. Raiva que brota do amor. Então ele pensou:
“Alimentei Oxum para que Ela ficasse forte, e Iyá, o que posso fazer para
acalmá-Lá?
Oura vez Exu, o mais humano dos deuses, veio ao seu socorro:
Indo em busca do apoio de ogum, Epê Laiê seguiu o seu rastro e O encontrou
em uma conversa nervosa com Orixá Okô – o deus da agricultura.
Mesmo afastado, Epê Laiê não deixou de ouvir a conversa entre os deuses,
devido ao tom de voz de Ogum e até mesmo de Orixá Okô, que
conhecidamente calmo, também estava exaltado. Não era para menos, tanto
empenho tiveram para ajudar o homem a sobreviver: Ogum pra criar a
enxada, o facão e outras ferramentas necessárias para arar a terra; Orixá
Okô para criar e desenvolver a agricultura de forma sustentável, e agora via
os homens simplesmente fazendo queimadas, que só contribuem para que o
planeta fique mais destruído?!
Da ira de Iyemanjá, Epê Laiê não teve medo, mas da ira de Ogum, sim. E
preferiu, realmente, voltar logo para sua “casa”, onde pensava encontrar a
tranqüilidade necessária para refletir sobre sua “peregrinação”.
Mas a floresta que vira Epê Laiê crescer estava uma confusão só: máquinas
e mais máquinas derrubando as suas companheiras. Agora não tinha mais
jeito! – pensou Epê Laiê – Não contava com ninguém, nem mesmo com os
deuses, só lhe restava desistir.
(Epê Laiê volta a encontrar Exu e Nando, o
rapaz que lhe plantou trazendo os outros
orixás)
Xango (Sangó)
Deus da Justiça,
Oxalá (Osalá)
A Divindade da Paz,
Omolu (Omolu)
Oiá (Oya)
Oxumare ( Osumaré)
Senhor do Equilíbrio e
Euá (Ewa)
Oxossi ( Ososi)
O Deus protetor
o equilíbrio do mundo?
Fim