Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
de Projetos Industriais
Aula 2 - 21/05/2010 1
O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
Prof.º Lon L. Fuller – Universidade de
Harvard
Teoria da argumentação
Interpretação e Aplicação do Direito
Direito X Lei X Justiça
Aula 2 - 21/05/2010 2
O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
Quatro jovens membros de uma sociedade de
exploradores de caverna penetram na companhia
de Roger Whetmore no interior de uma caverna
Já bem distantes da entrada ocorreu um
desmoronamento de terra bloqueando
completamente sua única entrada
Quando os jovens se aperceberam da situação
difícil que se encontravam, concentraram-se
próximo a entrada obstruída na esperança que uma
equipe de socorro pudesse chegar e libertá-lo da
prisão subterrênea
Aula 2 - 21/05/2010 3
O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
O secretário da sociedade de exploradores de
caverna foi notificado pelas famílias que os jovens
não haviam retornado para casa
Os exploradores haviam deixado indicações na
sede da sociedade e a equipe de socorro foi
prontamente enviada ao local
Porém a tarefa revelou-se extremamente difícil, foi
necessário suplementar as forças de resgate
O trabalho de desobstrução foi várias vezes
frustrado por novos desmoronamentos de terras
Em um destes 10 operários contratados morreram
Aula 2 - 21/05/2010 4
O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
Os fundos da sociedade e os valores
levantados (doações) estavam se exauriram
Desde que souberam que os exploradores
tinham levado pouca comida e na caverna
não substância animal ou vegetal, temeu-se
que eles morressem de inanição
No 20º dia soube-se que os exploradores
tinham levado um rádio transmissor e assim
os escavadores da missão de resgate
conseguiram contato com os jovens
Aula 2 - 21/05/2010 5
O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
Os exploradores queriam saber quanto tempo seria
necessário para liberá-los e os engenheiros
responderam que precisariam no mínimo de mais
10 dias, se não ocorresse mais nenhum
desmoronamento
Os exploradores expuseram suas condições e
perguntaram as médicos quais as chances de
sobreviverem, sem alimento, por mais 10 dias e os
médicos disseram que havia escassa possibilidade
de sobreviverem
A partir daí o rádio silenciou-se por 8 dias
Aula 2 - 21/05/2010 6
O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
Quando a comunicação foi restabelecida os exploradores
pediram para falar novamente com os médico
Whetmore indagou se eles poderiam sobreviver por mais 10 dias
se se alimentassem da carne de um dentre eles
A contragosto responderam em sentido afirmativo
Whetmore inquiriu se seria aconselhável tirarem na sorte, mas
ninguém respondem
Whetmore então perguntou se havia um juiz para responder a
pergunta, insistiu se havia algum sacerdote para responder a
indagação, mas ninguém quis assumir o papel de conselheiro
nesse assunto
Aula 2 - 21/05/2010 7
O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
Depois disso não se recebeu mais mensagem de
dentro da caverna
Quando os homens foram finalmente libertados
soube-se que no 33º dia Whetmore tinha sido morto
e servido de alimento a seus companheiros
Das declarações aceitas pelo júri evidenciou-se que
Whetmore foi o primeiro a propor que buscassem
alimento na carne de um dentre eles e que como
ninguém lhes aconselhou deveriam tirar na sorte,
usando um dado que o mesmo carregava consigo
Aula 2 - 21/05/2010 8
O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
Entretanto, antes que os dados fossem lançados
Whetmore declarou que desistia do acordo e
acreditava que deveriam esperar um pouco mais
antes de tomar um expediente tão terrível e odioso
Porém os demais jovens o acusaram de violação do
acordo e lançaram os dados mesmo assim
Quando chegou a vez de Whetmore um dos
companheiros lançou os dados em seu lugar, ao
mesmo tempo em que se lhe pediu para levantar
quaisquer objeções e ele declarou que não tinha
objeções a fazer
Tendo-lhe sido adversa a sorte, foi então morto
Aula 2 - 21/05/2010 9
O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
Após o resgate e depois de terem permanecido algum tempo no
hospital onde foram submetidos a tratamento para desnutrição e
choque emocional foram denunciados pelo homicídio de
Whetmore
Após o julgamento, deu-se um veredicto especial, tendo decido
que os réus eram culpados e por isso sentenciados à forca
Dissolvido o júri, seus membros enviaram uma petição conjunta
os Chefe do Poder Executivo para converter a pena para prisão
de 6 meses (Clemência executiva)
Porém nada resolveu o Executivo, aguardando o julgamento da
Suprema Corte (recurso dos condenados)
Aula 2 - 21/05/2010 10
O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
O Júri se absteve de decidir e o juiz de primeira
instância decidiu seguindo o único caminho que lhe
restava face ao disposto na lei da época:
“Quem quer que intencionalmente prive a outrem da vida
será punido com a morte”
Este dispositivo legal não permite nenhuma
exceção aplicável à espécie, embora a nossa
simpatia nos incline a ter em consideração a trágica
situação em que esses homens foram envolvidos
Aula 2 - 21/05/2010 11
O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
Os 5 juízes da Suprema Corte proferiram seus votos
2 manifestaram-se pela absolvição e 2 pela condenação e
devido a abstenção de 1 deu empate o julgamento
Face a esta circunstância foi mantida a decisão condenatória de
primeira instância
Presidente Truepenny, C.J. CULPADOS – Em verdade seu
voto simplesmente transferiu a decisão do problema para o
governador do condado. Veja o que ele disse: “Em um caso
dessa natureza o princípio da clemência executiva parece
admiravelmente apropriado para mitigar os rigores da lei… ;
…Se isto for feito, será realizada a justiça sem debilitar a
letra ou o espírito de nossa lei e sem se propiciar qualquer
encorajamento à sua transgressão” .
Aula 2 - 21/05/2010 12
O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
Foster, J. – Declarou-os INOCENTES . Utilizou os argumentos do jusnaturalismo,
afirmando que os acusados “... estavam longe da nossa realidade”. Ao mesmo
tempo, relaciona o ocorrido à excludente da legítima defesa, declarando que
deveria ser aplicada a "lei da natureza" (o Direito Natural), isto porque pressupõe o
Direito Positivo a existência da possibilidade de coexistência dos homens em
sociedade para nela conviverem. Desaparecendo tal condição, desaparece a
coercibilidade.
T atting, J. – Não Votou . Analisando os argumentos de Foster, reconheceu ter
dificuldade de afirmar que a condenação dos acusados produziria efeito
"preventivo". Apesar de afirmar que agiram intencionalmente, Tatting, cheio de
dúvidas, toma uma decisão inédita: “ Minha mente fica enredada nas malhas das
redes que eu próprio arremesso para salvar-me. Uma vez que me revelei
completamente incapaz de afastar as dúvidas que me assediam, lamento anunciar
algo que creio não tenha precedente na história deste Tribunal. RECUSO-ME A
PARTICIPAR DA DECISÃO DESTE CASO”. Seu voto foi nulo.
Aula 2 - 21/05/2010 13
O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
Keen, J. – Declarou-os CULPADOS . Discorda de Foster, afirmando que “é
convicção humana de que o assassinato é injusto e que algo deve ser feito ao
homem que o comete” . “Devo supor que qualquer observador imparcial, que
queira extrair destas palavras o seu significado NATURAL, conceberá
imediatamente que os réus privaram INTENCIONALMENTE da vida a Roger
Whetmore. Minha conclusão é de que se deve confirmar a sentença
condenatória”.
Aula 2 - 21/05/2010 14
O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
Pontos de destaque defendidos para a absolvição:
Nosso direito positivo é inaplicável a este caso que encontra-se regido pela
“Lei da Natureza”, pois nosso direito pressupõe a coexistência dos homens
vivendo em sociedade
10 trabalhadores morreram para salvar a vida dos 5 jovens, a que título
podemos dizer que é injusto que estes exploradores executassem um
acordo para salvar a vida de 4 deles
Grandes obras de infra-estrutura por exemplo, estatisticamente envolve
risco à vida humana, entretanto, deliberada e conscientemente incorremos
neste risco e pagamos este custo na suposição de que os valores
resultantes para aqueles que sobreviverem sobrepujam a perda (valor
absoluto da vida humana?)
Todo direito positivo deve ser interpretado com racionalidade, segundo seu
propósito evidente
Há séculos estabeleceu-se que matar em legítima defesa é escusável
Aula 2 - 21/05/2010 15
ANÁLISE ATUAL (BR)
Aula 2 - 21/05/2010 16
ANÁLISE ATUAL (BR)
Numa primeira análise a solução do caso parece simples: se a norma penal
prevê que quem mata pratica conduta típica do homicídio e, se os
sobreviventes do caso que se analisa mataram seu companheiro, então a
conduta dos sobreviventes se ajusta ao tipo previsto pela norma penal
Entretanto a conduta típica não basta para que exista crime pois para que este
reste configurado faz-se necessário que o ordenamento reprove o
comportamento do sujeito, considerando o fato como ilícito, antijurídico
Geralmente o fato típico também é antijurídico, salvo os casos em que fica
caracterizada uma das causas excludentes da ilicitude (causa de justificação,
art. 23 do CP: estado de necessidade; a legítima defesa; e o estrito
cumprimento de dever legal ou exercício regular de direito)
Dito isto acredita-se que os sobreviventes do Caso dos Exploradores de
Cavernas estariam amparados na legislação brasileira pela excludente de
ilicitude: o estado de necessidade.
Aula 2 - 21/05/2010 17
ANÁLISE ATUAL (BR)
Para que se configure o estado de necessidade a doutrina aponta como
requisitos indispensáveis:
a) Atualidade do perigo: que esteja na iminência de ocorrer;
b) Inevitabilidade do perigo: a situação deve estar de tal forma configurada que
não admita outra forma de o sujeito resguardar o bem jurídico sem violar direito
alheio;
c) Que o perigo não tenha sido voluntariamente provocado pelo sujeito;
d) Razoabilidade da conduta do agente.
Aula 2 - 21/05/2010 18