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Pós-graduação em Engenharia

de Projetos Industriais

Disciplina - Legislação Aplicada:


Introdução ao Direito

Prof.ª Dahyana Siman C. da Costa

Aula 2 - 21/05/2010 1
O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
 Prof.º Lon L. Fuller – Universidade de
Harvard
 Teoria da argumentação
 Interpretação e Aplicação do Direito
 Direito X Lei X Justiça

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O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
 Quatro jovens membros de uma sociedade de
exploradores de caverna penetram na companhia
de Roger Whetmore no interior de uma caverna
 Já bem distantes da entrada ocorreu um
desmoronamento de terra bloqueando
completamente sua única entrada
 Quando os jovens se aperceberam da situação
difícil que se encontravam, concentraram-se
próximo a entrada obstruída na esperança que uma
equipe de socorro pudesse chegar e libertá-lo da
prisão subterrênea

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O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
 O secretário da sociedade de exploradores de
caverna foi notificado pelas famílias que os jovens
não haviam retornado para casa
 Os exploradores haviam deixado indicações na
sede da sociedade e a equipe de socorro foi
prontamente enviada ao local
 Porém a tarefa revelou-se extremamente difícil, foi
necessário suplementar as forças de resgate
 O trabalho de desobstrução foi várias vezes
frustrado por novos desmoronamentos de terras
 Em um destes 10 operários contratados morreram
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O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
 Os fundos da sociedade e os valores
levantados (doações) estavam se exauriram
 Desde que souberam que os exploradores
tinham levado pouca comida e na caverna
não substância animal ou vegetal, temeu-se
que eles morressem de inanição
 No 20º dia soube-se que os exploradores
tinham levado um rádio transmissor e assim
os escavadores da missão de resgate
conseguiram contato com os jovens
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O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
 Os exploradores queriam saber quanto tempo seria
necessário para liberá-los e os engenheiros
responderam que precisariam no mínimo de mais
10 dias, se não ocorresse mais nenhum
desmoronamento
 Os exploradores expuseram suas condições e
perguntaram as médicos quais as chances de
sobreviverem, sem alimento, por mais 10 dias e os
médicos disseram que havia escassa possibilidade
de sobreviverem
 A partir daí o rádio silenciou-se por 8 dias
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O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
 Quando a comunicação foi restabelecida os exploradores
pediram para falar novamente com os médico
 Whetmore indagou se eles poderiam sobreviver por mais 10 dias
se se alimentassem da carne de um dentre eles
 A contragosto responderam em sentido afirmativo
 Whetmore inquiriu se seria aconselhável tirarem na sorte, mas
ninguém respondem
 Whetmore então perguntou se havia um juiz para responder a
pergunta, insistiu se havia algum sacerdote para responder a
indagação, mas ninguém quis assumir o papel de conselheiro
nesse assunto

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O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
 Depois disso não se recebeu mais mensagem de
dentro da caverna
 Quando os homens foram finalmente libertados
soube-se que no 33º dia Whetmore tinha sido morto
e servido de alimento a seus companheiros
 Das declarações aceitas pelo júri evidenciou-se que
Whetmore foi o primeiro a propor que buscassem
alimento na carne de um dentre eles e que como
ninguém lhes aconselhou deveriam tirar na sorte,
usando um dado que o mesmo carregava consigo
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O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
 Entretanto, antes que os dados fossem lançados
Whetmore declarou que desistia do acordo e
acreditava que deveriam esperar um pouco mais
antes de tomar um expediente tão terrível e odioso
 Porém os demais jovens o acusaram de violação do
acordo e lançaram os dados mesmo assim
 Quando chegou a vez de Whetmore um dos
companheiros lançou os dados em seu lugar, ao
mesmo tempo em que se lhe pediu para levantar
quaisquer objeções e ele declarou que não tinha
objeções a fazer
 Tendo-lhe sido adversa a sorte, foi então morto

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O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
 Após o resgate e depois de terem permanecido algum tempo no
hospital onde foram submetidos a tratamento para desnutrição e
choque emocional foram denunciados pelo homicídio de
Whetmore
 Após o julgamento, deu-se um veredicto especial, tendo decido
que os réus eram culpados e por isso sentenciados à forca
 Dissolvido o júri, seus membros enviaram uma petição conjunta
os Chefe do Poder Executivo para converter a pena para prisão
de 6 meses (Clemência executiva)
 Porém nada resolveu o Executivo, aguardando o julgamento da
Suprema Corte (recurso dos condenados)

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O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
 O Júri se absteve de decidir e o juiz de primeira
instância decidiu seguindo o único caminho que lhe
restava face ao disposto na lei da época:
 “Quem quer que intencionalmente prive a outrem da vida
será punido com a morte”
 Este dispositivo legal não permite nenhuma
exceção aplicável à espécie, embora a nossa
simpatia nos incline a ter em consideração a trágica
situação em que esses homens foram envolvidos

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O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
 Os 5 juízes da Suprema Corte proferiram seus votos
 2 manifestaram-se pela absolvição e 2 pela condenação e
devido a abstenção de 1 deu empate o julgamento
 Face a esta circunstância foi mantida a decisão condenatória de
primeira instância
 Presidente Truepenny, C.J. CULPADOS – Em verdade seu
voto simplesmente transferiu a decisão do problema para o
governador do condado. Veja o que ele disse: “Em um caso
dessa natureza o princípio da clemência executiva parece
admiravelmente apropriado para mitigar os rigores da lei… ;
…Se isto for feito, será realizada a justiça sem debilitar a
letra ou o espírito de nossa lei e sem se propiciar qualquer
encorajamento à sua transgressão” .

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O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
 Foster, J. – Declarou-os INOCENTES . Utilizou os argumentos do jusnaturalismo,
afirmando que os acusados “... estavam longe da nossa realidade”. Ao mesmo
tempo, relaciona o ocorrido à excludente da legítima defesa, declarando que
deveria ser aplicada a "lei da natureza" (o Direito Natural), isto porque pressupõe o
Direito Positivo a existência da possibilidade de coexistência dos homens em
sociedade para nela conviverem. Desaparecendo tal condição, desaparece a
coercibilidade.
 T atting, J. – Não Votou . Analisando os argumentos de Foster, reconheceu ter
dificuldade de afirmar que a condenação dos acusados produziria efeito
"preventivo". Apesar de afirmar que agiram intencionalmente, Tatting, cheio de
dúvidas, toma uma decisão inédita: “ Minha mente fica enredada nas malhas das
redes que eu próprio arremesso para salvar-me. Uma vez que me revelei
completamente incapaz de afastar as dúvidas que me assediam, lamento anunciar
algo que creio não tenha precedente na história deste Tribunal. RECUSO-ME A
PARTICIPAR DA DECISÃO DESTE CASO”. Seu voto foi nulo.

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O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
 Keen, J. – Declarou-os CULPADOS . Discorda de Foster, afirmando que “é
convicção humana de que o assassinato é injusto e que algo deve ser feito ao
homem que o comete” . “Devo supor que qualquer observador imparcial, que
queira extrair destas palavras o seu significado NATURAL, conceberá
imediatamente que os réus privaram INTENCIONALMENTE da vida a Roger
Whetmore. Minha conclusão é de que se deve confirmar a sentença
condenatória”.

Handy, J. – Declarou-os INOCENTES . Asseverou que a questão era


simplesmente de se analisar a natureza do contrato firmado entre os réus e
analisar os fatos à luz da realidade humana e não de teorias abstratas. Afirmando
que “os juízes são os que mais se afastam da realidade” , disse que 90% da
população pretendia que aquela Corte absolvesse os acusados ou, quando
muito, lhes aplicasse uma pena meramente simbólica. "Concluo que os réus são
inocentes da prática do crime que constitui objeto da acusação e que a sentença
deve ser reformada”.

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O CASO DOS EXPLORADORES
DE CAVERNA
 Pontos de destaque defendidos para a absolvição:

 Nosso direito positivo é inaplicável a este caso que encontra-se regido pela
“Lei da Natureza”, pois nosso direito pressupõe a coexistência dos homens
vivendo em sociedade
 10 trabalhadores morreram para salvar a vida dos 5 jovens, a que título
podemos dizer que é injusto que estes exploradores executassem um
acordo para salvar a vida de 4 deles
 Grandes obras de infra-estrutura por exemplo, estatisticamente envolve
risco à vida humana, entretanto, deliberada e conscientemente incorremos
neste risco e pagamos este custo na suposição de que os valores
resultantes para aqueles que sobreviverem sobrepujam a perda (valor
absoluto da vida humana?)
 Todo direito positivo deve ser interpretado com racionalidade, segundo seu
propósito evidente
 Há séculos estabeleceu-se que matar em legítima defesa é escusável

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ANÁLISE ATUAL (BR)

 Como todos os Estados Democráticos de Direito, o Brasil,


é fundamentado e orientado pelo princípio da dignidade da
pessoa humana, (art. 5°, caput, da CF) e a vida é um
direito fundamental do indivíduo
 O indivíduo tem direito a uma continuidade na sua
existência como pessoa humana, tem "direito a não ter
interrompido o processo vital senão pela morte espontânea
e inevitável"
 Art. 121 do CP – homicídio: reclusão de 6 a 20 anos 

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ANÁLISE ATUAL (BR)
 Numa primeira análise a solução do caso parece simples: se a norma penal
prevê que quem mata pratica conduta típica do homicídio e, se os
sobreviventes do caso que se analisa mataram seu companheiro, então a
conduta dos sobreviventes se ajusta ao tipo previsto pela norma penal  
 Entretanto a conduta típica não basta para que exista crime pois para que este
reste configurado faz-se necessário que o ordenamento reprove o
comportamento do sujeito, considerando o fato como ilícito, antijurídico
 Geralmente o fato típico também é antijurídico, salvo os casos em que fica
caracterizada uma das causas excludentes da ilicitude (causa de justificação,
art. 23 do CP: estado de necessidade; a legítima defesa; e o estrito
cumprimento de dever legal ou exercício regular de direito)
 Dito isto acredita-se que os sobreviventes do Caso dos Exploradores de
Cavernas estariam amparados na legislação brasileira pela excludente de
ilicitude: o estado de necessidade.  

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ANÁLISE ATUAL (BR)
 Para que se configure o estado de necessidade a doutrina aponta como
requisitos indispensáveis:  
 
a) Atualidade do perigo: que esteja na iminência de ocorrer; 
b) Inevitabilidade do perigo: a situação deve estar de tal forma configurada que
não admita outra forma de o sujeito resguardar o bem jurídico sem violar direito
alheio; 
c) Que o perigo não tenha sido voluntariamente provocado pelo sujeito;   
d) Razoabilidade da conduta do agente.

 Presentes estes requisitos configurado está o estado de necessidade a licitar a


conduta típica do sujeito

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