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Tratamento de beleza

Wanda de Assumpção
A recomendação de um peeling interior
Há na minha casa um espelho colocado, estrategicamente, ao lado da porta de saída.
Sempre que estou ali esperando o elevador, aproveito o momento para dar uma olhada e ver
se estou em ordem para sair. Acontece que a pouca luminosidade naquele local mostra algo
mais do que eu gostaria de ver: sulcos escuros ao lado da boca e uma falta de nitidez na linha
do queixo. Sinal dos anos, filosofo. Mas não há consideração filosófica em que impeça de ficar,
de vez em quando, parada ali, repuxando aqui e ali para trás, remoçando temporariamente.
Nós, mulheres, queremos ser bonitas porque gostamos de agradar aqueles a quem
amamos. Quem ama quer agradar ao ser amado, quer ser bela para ele; por isso se enfeita.
Lemos em Isaías 61:10 sobre o noivo que se adorna de turbante e a noiva que se enfeita com
as suas jóias. Em Apocalipse, a nova Jerusalém, descendo do Céu da parte de Deus, vem
ataviada como noiva adornada para o seu esposo (Ap 21:2).
A nós, as filhas de Deus, que queremos agradar ao nosso Pai amado, o apóstolo Pedro
recomenda um tipo de tratamento de beleza mais radical do que o peeling – trata-se de algo
que atinge o mais profundo do nosso ser, um peeling interior, que é o que interessa a Deus.
Nesse tratamento, o próprio Deus vai removendo as células mortas das nossas defesas, das
nossas cobranças, das nossas exigências de que as pessoas nos dêem aquilo que só o nosso
Amado pode nos dar perfeitamente, deixando exposto e vulnerável o nosso coração, numa
dependência total dele.
O apóstolo Pedro, em sua primeira carta, contrastando a beleza física com a interior,
discorre sobre diversas coisas preciosas: a nossa fé (1 Pe 1:7), o sangue de Jesus (1:19), a pedra
viva que é Jesus (2:4,6,7) e o “espírito manso e tranquilo”, que é de grande valor diante de
Deus” (3:4). A beleza exterior vai murchando com o passar dos anos, como atesta o meu
espelho. Nem cremes nem plásticas conseguem deter ou anular totalmente o envelhecimento
físico. Mas a beleza interior, se for cultivada, só vai aumentando com o passar dos anos. Por
isso, embora não fale contra os cuidados com a beleza física, o apóstolo Pedro aponta o
caminho da beleza que perdura, que ostentaremos na eternidade, mas cujo cultivo começa
aqui.
Neste “salão de beleza”, o que pretendemos e que tratamento seguimos par atingir
essa finalidade?
O nosso objetivo é aquilo que o nosso Amado considera precioso: o espírito manso e
tranquilo. Portanto, vamos examinar um pouco o significado maior das palavras manso e
tranquilo para entender melhor onde queremos chegar.
A palavra manso significa amansado, domado, aquele que atende. Dá a idéia de um
animal selvagem, amansado por alguém, que aprendeu a atender às ordens de seu domador. É
força sob controle. É o oposto de passividade, de medo, de timidez.
A palavra tranquilo significa quieto, imperturbável, em paz, aquele que se refreia de se
agitar ou de falar. É o oposto de agitado, que significa aquele que arrasta algo ao redor,
ansioso, perturbado, aflito, como Marta, irmã de Maria, a qual se agitava de um lado para o
outro enquanto Maria permanecia sentada tranquila aos pés de Jesus.
Portanto, o nosso objetivo é a força de tudo o que somos, sob o controle do nosso
Mestre. Não nos agitamos, não vivemos ansiosas, querendo tomar as rédeas em nossas
próprias mãos. Começamos a ouvir mais do que falar (Maria de Betânia aos pés de Jesus,
Maria, mãe de Jesus, que guardava as coisas maravilhosas que via em seu coração, em vez de
sair falando sobre elas para quem quisesse ouvir). Sabemos a hora de trabalhar e a hora de
ficar quietas, deixando a voz de Deus falar aos nossos corações. E assim Ele pode nos levar
onde quiser.
Para atingirmos esse objetivo, qual o tratamento de beleza que devemos escolher?
A atitude de submissão. A palavra submissão significa: colocar-se sob,
voluntariamente, alinhar-se com. Indica que ninguém pode nos obrigar a sermos submissas.
Nenhum marido pode nos fazer submeter-nos. Tem de haver uma entrega voluntária de quem
somos, do que somos, primeiramente pra Deus, depois para as situações em que Ele nos
colocar ou permitir estar. Submeter-se é entregar-se voluntariamente, como o fez Jesus (João
10:17-18). E quem se entrega obedece. Submissão significa obediência a Deus.
O ato de obediência. Depois de trabalhar a nossa atitude, o tratamento requer uma
ação da nossa parte, que é obedecer. A obediência é o termômetro da nossa confiança em
Deus. É na obediência, nas circunstâncias mais difíceis, que damos a Deus a oportunidade para
Ele revelar Sua bondade e poder, que, por sua vez, fortalecerão a nossa fé. Por que muitas
vezes é tão difícil obedecer? Por que Deus pede de nós coisas que não queremos entregar,
coisas que para nós representam a própria vida – as estratégias que aprendemos para nos
defender das dores que já sofremos, que nos foram infligidas por pessoas a quem amamos ou
em quem confiamos. Soltá-las significa expor-nos, tornar-nos vulneráveis, deixar de nos
defender, ficarmos mudas diante do tosquiador, como Jesus fez (1 Pedro 2:23; Isaías 53:4).
Significa entregar-nos, abandonar-nos àquele que julga retamente, sem exigências ou
cobranças. É assim que Deus opera em nós a santificação. [Jesus], embora sendo Filho,
aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu. (Hb 5:8)
A esperança em Deus. Era em Deus que estas mulheres de outrora colocavam a sua
confiança. O Apóstolo começa este capítulo dirigindo-se às mulheres para serem submissas a
seus maridos, mesmo os não-crentes, para que eles possam ser ganhos, sem palavra, pelo seu
comportamento. Ora, ele sabia quanto é difícil esperar em Deus. Como Sara, estamos sempre
dispostas a dar uma ajudazinha a Deus, seja fazendo algo ou falando, que é a nossa
especialidade. Mas quando colocamos em Deus a nossa esperança, Ele nos aquieta e nos
tranquiliza. Então, podemos aprender a esperar pacientemente, fazendo a nossa parte – o
bem – sem temer perturbação alguma. Já não precisamos nos defender; Ele é o nosso
defensor. Não precisamos falar de tudo o que nos acontece; aprendemos a meditar sobre elas
e a guardá-las no nosso coração. Aprendemos a ouvir mais do que falar. Deixamos de nos
agitar. Aprendemos a amar as pessoas com a abundância do amor de Deus em nossos
corações.
Sabemos que “enganosa é a graça e vã a formosura, mas a mulher que teme o Senhor
(que se submete a Ele, voluntariamente, que Lhe obedece, que espera Nele) será louvada”.
Sua beleza interior é preciosa aos olhos de Deus, um adorno apropriado e rico para a noiva do
Cordeiro.
Raio de luz – edição 112, p. 24-25

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