Em processo julgado pelo Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro
em maio de 2005, um Juiz processou o condomínio onde morava por ser tratado pelo porteiro como “você”, o digníssimo Juiz reivindicava ser chamado de Doutor. Felizmente em uma sentença cheia de diplomacia e justificações o pedido foi julgado improcedente, resultando na condenação do postulante no pagamento de custas e honorários. Casos como o descrito brevemente acima, servem para mostrar absurdos resultantes de egos inflados, que se acham superiores devido à sua formação ou aos seus cargos. Em pleno século XXI é lamentável diagnosticar resquícios de uma cultura baseada em títulos e honrarias, herança de uma colonização onde se almejava uma migração da plebe para a corte, onde se dividia a população em nobreza e simples colonos, onde a quantidade de posses nomeavam os coronéis e senhores. Não é raro se deparar com seres exigindo que os outros os tratem por determinado título, se este título foi conquistado através de uma carreira acadêmica pelo menos este título é merecido, embora fora do contexto da academia creio ser desnecessário; porém a muitos que acham que por pertencerem a determinadas classes ou profissões mereçam um tratamento diferenciado. Tais personagens deveriam conscientizar-se que o respeito não se manifesta no título ou pronome de tratamento utilizado. Determinada ocupação não transforma ninguém em Doutor. Sem mencionar que tal atitude é de um tremendo mau gosto, e até de discriminação social, quem deveria processar era o porteiro. Tais exigências consistem em uma ostentação desmedida e desrespeitosa. O que muito me surpreende é um Juiz, conhecendo os trâmites da justiça, a morosidade da mesma, o acúmulo de processos relevantes, utilizar-se dela para tratar de um caso que está longe de ser uma questão de justiça e sim de etiqueta, protocolo ou coisas do gênero. Tal atitude mostra a falta de noção do mesmo. Em um país, que não valoriza a educação, que as diferenças socioculturais imperam e que o regionalismo incute na língua grandes diferenças, é extremamente ridículo exigir que as pessoas utilizem no seu cotidiano um tratamento cerimonioso, pertinente somente em ambiente acadêmico, clero, governo ou círculos fechados de diplomacia, e no máximo em situações formais.