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Endereço(1) CETEC - Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais SAP - Setor de Engenharia de
Controle da Poluição - Av. José Cândido da Silveira, 2000 - Bairro Horto - Belo Horizonte - MG - CEP:
31170-000 - Brasil - e-mail: rgurgel@cetec.br
RESUMO
Este trabalho apresenta os resultados do levantamento das alternativas tecnológicas mais adequadas para o
tratamento e disposição dos efluentes líquidos, dos resíduos sólidos, emissões atmosféricas e aproveitamento
de subprodutos, visando o controle ambiental em pequenas e médias indústrias de laticínios de Minas Gerais.
Para o tratamento de efluentes líquidos foram estudadas as opções de lodos ativados, filtro anaeróbio, lagoa
facultativa e reator de fluxo ascendente e manta de lodo. Como alternativas para o gerenciamento de resíduos
sólidos foram sugeridas a redução na fonte, coleta seletiva, reciclagem e encaminhamento para a coleta
pública. Já para as emissões atmosféricas, foram propostas a substituição de caldeiras velhas, mudança de
combustível (elétrica, GLP, gás natural), otimização da operação da caldeira e uso de equipamentos de
controle de poluição. Para o aproveitamento dos subprodutos são recomendadas a fabricação de ricota, bebida
láctea, soro concentrado, soro em pó, lactose e alimentação animal.
INTRODUÇÃO
O Estado de Minas Gerais é característico pela sua indústria de laticínios, principalmente no que tange à
fabricação de queijos e derivados. Contudo, a maioria das indústrias é de pequeno porte e trabalha quase que
estritamente de forma artesanal.
Diante dos inúmeros problemas enfrentados pelas pequenas empresas no Brasil, como crédito difícil, juros
elevados e competição predatória interna e externa, constata-se que o controle dos impactos ambientais
causados por essas indústrias não é considerado uma questão prioritária. Todavia, as exigências crescentes da
legislação ambiental, aliada a um movimento progressivo de conscientização da população no sentido de,
cada vez mais, se consumir produtos e serviços que gerem menor impacto no meio ambiente têm forçado uma
mudança mais rápida de atitude por parte dos empresários, no sentido de controlar a poluição.
Dentre os principais impactos ambientais das indústrias de laticínios pode-se destacar a geração de
quantidades significativas de efluentes líquidos com elevada carga orgânica, a geração de resíduos sólidos e
de emissões atmosféricas. Outro aspecto importante é a destinação dada à parcela não aproveitada do soro de
queijo, com o seu lançamento diretamente nos cursos d’água, constituindo no mais grave impacto ambiental
gerado pelas indústrias de laticínios. Dessa forma, o controle ambiental deve abranger alternativas que
possam reduzir esses impactos.
Constata-se, na prática, que os impactos ambientais causados pelas indústrias de laticínios poderiam ser
minimizados a partir da otimização e do controle dos processos industriais, inclusive com a adequação do
consumo de alguns insumos (água, combustível, detergentes, desinfetantes, etc) e, sobretudo, pela
implantação de tecnologia para a utilização adequada de subprodutos gerados no processo produtivo (soro
lácteo, soro de ricota, etc).
Os efluentes líquidos industriais nada mais são do que despejos líquidos originários de diversas atividades
desenvolvidas na indústria, contendo leite e produtos do leite, detergentes, desinfetantes, areia, lubrificantes,
açúcar, pedaços de frutas, essências e condimentos diversos, diluídos nas águas de lavagem de equipamentos,
tubulações, pisos e demais instalações da indústria.
Durante o processamento dos produtos lácteos são gerados resíduos sólidos que abrangem embalagens
plásticas e de papel, bombonas plásticas, lixo doméstico, cinzas de caldeiras, aparas de queijo e, em menor
quantidade, metais e vidros.
Na indústria de laticínios, as emissões atmosféricas são provenientes da queima dos combustíveis nas
caldeiras, geralmente a óleo ou à lenha, cujo vapor é usado para a limpeza e desinfecção de pisos e
equipamentos e em etapas do processo produtivo, como a pasteurização do leite e a fabricação de queijos. A
combustão do óleo resulta na emissão de poluentes atmosféricos, tais como material particulado, óxidos de
enxofre, óxidos de nitrogênio, hidrocarbonetos e monóxido de carbono. A queima da lenha libera estes
mesmos poluentes, além de compostos voláteis como o ácido acético, metanol, acetona, metilacetato,
acetaldeído e alcatrão (EPA, 1977; CETEC, 1982).
Visando a solução dos problemas ambientais causados por estas empresas, foi criado o Projeto Pesquisa
Tecnológica para Controle Ambiental em Pequenos e Médios Laticínios de Minas Gerais, denominado
PROJETO LATICÍNIOS, que tem por finalidade propor soluções tecnológicas para a redução do impacto
ambiental desse segmento da indústria alimentícia. Sua elaboração faz parte do convênio de cooperação
técnico-financeira denominado PROJETO MINAS AMBIENTE.
O PROJETO MINAS AMBIENTE tem por finalidade o ensino e o desenvolvimento tecnológico para o
controle ambiental em pequenas e médias indústrias de Minas Gerais, sendo um interinstitucional no qual
cooperam:
• instituições atuantes nas áreas de ensino, pesquisa, controle ambiental e apoio às micro, pequenas e
médias indústrias, a saber:
! Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (EE-UFMG)
! Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN)
! Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC)
! Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM)
! Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG)
! Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (SEBRAE)
• indústrias pertencentes às tipologias industriais contempladas pelo Projeto, geralmente com o apoio de
seus sindicatos ou organizações similares que, no caso dos laticínios, são:
! OCEMG - Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais
! SILEMG - Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados, no Estado de Minas
Gerais
• Sociedade Alemã de Cooperação Técnica - Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (GTZ),
dentro do Acordo de Cooperação Bilateral Brasil-Alemanha
METODOLOGIA
O PROJETO LATICÍNIOS foi dividido em quatro etapas principais, da seguinte forma: (1) diagnóstico do
setor; (2) levantamento do estado da arte (3) estudo de alternativas tecnológicas para o processo industrial
(aproveitamento de subprodutos); (4) estudo de alternativas tecnológicas para o tratamento de efluentes
líquidos, resíduos sólidos e emissões atmosféricas.
Com base nas informações obtidas nas etapas de diagnóstico (1) e Estado da Arte (2) foram selecionadas as
soluções consideradas as mais adequadas para o tratamento e a disposição dos efluentes líquidos, das
emissões atmosféricas e dos resíduos sólidos e aproveitamento de subprodutos, resultando nas etapas (3) e
(4), apresentadas neste artigo.
RESULTADOS
Alternativas para aproveitamento de soro
O aproveitamento dos subprodutos da indústria de laticínios, em especial do soro de queijo, apresenta como
principal dificuldade o fato do soro ser visto como resíduo e não como matéria-prima. Dessa forma, não há
uma preocupação em se buscar uma maior conservação e estabilidade do mesmo, com a aplicação de baixas
temperaturas ou a sua concentração para garantir sua qualidade.
Contudo, a solução definitiva para o problema do soro deve passar necessariamente por uma busca conjunta
de melhorias que facilitem o escoamento da produção, implantação de programas que possibilitem a obtenção
de soro de qualidade nas indústrias e implantação de unidades estrategicamente localizadas para a pré-
concentração e encaminhamento do soro para uma unidade de processamento.
Na Tabela 1, são mostradas algumas alternativas que podem ser utilizadas para aproveitamento do soro de
queijo.
Portanto, para o cálculo da vazão média dos efluentes, foram considerados os seguintes valores:
" 5,0 litros de despejos por litro de leite processado, nos pequenos laticínios
" 4,0 litros de despejos por litro de leite processado, nos médios laticínios
" 3,0 litros de despejos por litro de leite processado, nos grandes laticínios
Para a estimativa da vazão máxima e mínima foram adotados os coeficientes obtidos de estações de
tratamento em operação, que indicam que a vazão máxima observada é cerca de 4 vezes a vazão média, e a
mínima é cerca de 20% da média
Novamente notou-se maior carga orgânica nas pequenas indústrias, devido à problemas técnicos, principalmente na
separação do soro resultante da fabricação de queijo. Ressalta-se também a necessidade de realizar uma
conscientização da importância de se segregar o soro de forma adequada do restante dos despejos.
Os valores a serem utilizados no presente estudo, para a carga orgânica, em função da DBO (Demanda Bioquímica
de Oxigênio), são apresentados na Tabela 3.
É conveniente ressaltar que foram encontrados valores maiores e menores do que os mostrados na Tabela 1.
Principalmente em pequenos laticínios, onde a segregação do soro é realizada de forma precária, os valores de DBO
foram mais altos do que os apresentados na Tabela 1. Onde houve uma conscientização na separação do soro
visando o seu aproveitamento, os valores de DBO foram mais baixos. Em alguns casos, os valores de DBO foram
menores, mas com excessivo consumo de água.
Quando o laticínio está entre médio e grande portes, a segregação do soro é melhor, e conseqüentemente a carga
orgânica verificada foi mais baixa.
Para médias indústrias (capacidade de recepção de 40.000 e 80.000 litros de leite/dia) selecionou-se:
• lodos ativados com aeração prolongada e fluxo contínuo
• reator anaeróbios de fluxo ascendente e manta de lodo (UASB), precedido de floculação e flotação
para remoção de gorduras:
Portanto os custos que serão apresentados estão sujeitos à variações de até 40%. A quantificação apresentada é
aproximada, pois a estimativa de custo foi realizados com base no projeto básico.
Para a estimativa de custos de construção das alternativas propostas foram considerados os seguintes itens:
" serviços
" materiais e equipamentos
Os custos de construção das alternativas em função das capacidades estudadas encontram-se na Figura 1.
800.000
600.000
400.000
200.000
0
UASB + FP
FB + FP
LAB + FP
LAC + FP
LAS + FP
UASB + LS
FB + LS
LAB + LS
LAC + LS
LAS + LS
FA
LAGOA
Tipo de tratamento
20.000
15.000
10.000
5.000
0
UASB + FP
FB + FP
LAB + FP
LAC + FP
LAS + FP
UASB + LS
FB + LS
LAB + LS
LAC + LS
LAS + LS
FA
LAGOA
Tipo de tratamento
• Todos os processos propostos têm condições técnicas de atender as condições legais impostas pela
legislação. Entretanto, o filtro anaeróbio pode apresentar dificuldade de atender o padrão da Legislação
Estadual de Minas Gerais.
• Para a seleção da alternativa de tratamento, deve-se levar em consideração a localização da indústria
(proximidade de área residencial), bem como a disponibilidade de área. A operação de reatores
anaeróbios próximos à residência (raio de 50 m aproximadamente), pode causar desconforto devido a
odores de pequena intensidade, que normalmente são produzidos.
• A disposição no solo é recomendada, como tratamento complementar nos locais onde não é possível o
lançamento em corpo receptor. Para isso, deve ser efetuado um estudo para avaliar a características do
solo, o tipo de vegetação mais adequada e a taxa de aplicação.
• O processo de filtros anaeróbios é o mais econômico, tanto construtiva quanto operacionalmente.
• Quanto aos filtros biológicos, deve-se destacar a pouca experiência brasileira na construção e operação
dessa tecnologia para indústrias de laticínios. Mas, como a aplicação da tecnologia está sendo objeto de
pesquisa em muitos países, espera-se uma otimização dos parâmetros de projeto e uma conseqüente
redução dos custos.
• O sistema de lodos ativados, por batelada, tem-se mostrado muito eficiente e seguro operacionalmente.
Entretanto, os custos construtivos e operacionais não tornam a tecnologia a mais atraente para grandes
capacidades.
• Para as duas maiores capacidades estudadas (40.000 e 80.000 L/d), o sistema de lodos ativados contínuo
tem-se mostrado mais econômico que o processo por batelada, tanto construtiva quanto
operacionalmente. Destaca-se ainda, uma redução do custo de implantação quando os tanques são
construídos no solo, tipo lagoa.
• Os reatores anaeróbios de manta de lodo (UASB) são normalmente vantajosos para o tratamento de
efluentes orgânicos. Entretanto, para laticínios, devido ao elevado teor de material graxo na forma
emulsionada, é imperioso um tratamento físico-químico, para a sua remoção. Com isso, os custos
tornam-se elevados, o que torna o processo pouco atraente para indústrias de laticínios. Além disso, o
sistema conjugado (tratamento físico-químico + UASB) exige operadores mais qualificados, devido a
complexidade operacional.
• Para os esgotos domésticos gerados nos escritórios e refeitórios das indústrias sugere-se que estes sejam
encaminhados primeiramente a uma fossa séptica, dimensionada de acordo com a NBR 7229 –
Construção e operação de fossas sépticas e disposição de efluentes finais. Após a passagem pela fossa, os
esgotos devem ser encaminhados para a entrada do tratamento biológico.
• As águas pluviais devem ser coletadas em tubulações independentes e dispostas separadamente dos
demais efluentes em rede pluvial ou diretamente nos corpos receptores.
Outra alternativa que também pode ser adotada é a mudança de combustível. Combustíveis gasosos queimam
com mais facilidade e, por serem em geral mais limpos, exercem um menor impacto sobre o meio ambiente.
Os combustíveis líquidos e sólidos, por sua vez, produzem maior quantidade de fuligem, já que a combustão é
menos eficiente e, além disso, esses combustíveis apresentam maior quantidade de impurezas. As alternativas
de substituição do óleo combustível residual ou mesmo da lenha, recaem principalmente no uso de óleo
diesel, gás natural e GLP (gás liquefeito de petróleo). O grande problema na utilização de combustíveis mais
limpos são os seus custos mais elevados.
Em geral, equipamentos de controle de poluição não são utilizados pelas pequenas e médias indústrias de
laticínios e, quando o são, não se mostram efetivos o suficiente para enquadrar as emissões de material
particulado à legislação ambiental do Estado. Isto porque ciclones e multiciclones apresentam baixa
eficiência para controlar as pequenas partículas provenientes da queima de combustível, e devem ser
encarados como um meio de minimizar as emissões de partículas emitidas sob condições especiais, como por
exemplo na operação de sopragem, durante a partida da caldeira ou quando é utilizado um óleo muito sujo e
pesado.
No limiar da vida útil de uma caldeira torna-se mais difícil um controle adequado de suas condições
operacionais, ocorrendo assim não só uma queda no rendimento térmico da caldeira, mas também um
aumento nas emissões de fuligem para a atmosfera. A partir de 20-25 anos de operação da caldeira é
importante iniciar o planejamento de compra de uma nova unidade. Utilizar uma caldeira além de seu limite
de exaustão compromete as condições de segurança, viola as leis ambientais e desperdiça recursos
energéticos.
CONCLUSÕES
Se forem consideradas isoladas, tornam-se limitadas às alternativas de aproveitamento de subprodutos,
devido ao pequeno porte das indústrias que fazem parte do Projeto, no que se refere a capacidade de
processamento, capacidade de investimento e a dispersão geográfica. É necessário investimentos, tanto EM
nível setorial quanto governamental, visando a melhoria da qualidade do soro, melhoria da mão-de-obra e
modernização das empresas, buscando soluções a médio e longo prazo.
Com relação aos efluentes líquidos, verificou-se diversas alternativas viáveis, sendo que a alternativa do filtro
anaeróbio apresentou-se como a mais atraente do ponto de vista construtivo e operacional para as pequenas e
médias empresas. Entretanto, devido a dificuldade em atender os padrões da legislação, sugere-se uma
pesquisa contemplando o filtro anaeróbio associado a sistemas de pós-tratamento, com a finalidade de se
avaliar a eficiência e os custos desse sistema combinado. A pesquisa experimental visando avaliar esse
sistema combinado foi aprovada e já está sendo executada pela equipe do PROJETO LATICÍNIOS.
As emissões atmosféricas e os resíduos sólidos apresentam-se como problemas menores em relação à questão
do soro e dos efluentes líquidos. Os resíduos sólidos produzidos por estas indústrias são potencialmente
recicláveis, o que facilita a solução do problema. As caldeiras, quando bem operadas e em bom estado de
manutenção, não devem causar maiores problemas, principalmente pelo fato da maioria das caldeiras se
situarem na periferia das cidades ou na zona rural. As soluções para o controle das emissões atmosféricas
passam por otimização da operação da caldeira, mudança de óleo combustível, uso de equipamentos de
controle de poluição ou em última hipótese, a substituição de caldeiras velhas por novas.
De maneira geral, foi concluiu-se também que as soluções tecnológicas devem fazer parte de um sistema de
medidas de gestão e controle ambiental, que tenha como objetivo otimizar o processo industrial e promover o
treinamento e conscientização dos proprietários e funcionários, no que diz respeito às questões ambientais,
com a finalidade de garantir-se eficácia e perenidade nas soluções adotadas.
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