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UMA PICHAÇÃO NA EDUCAÇÃO

O episódio envolvendo a professora de Viamão e o aluno de 14 anos, tratado por


Zero Hora nesta semana vem em boa hora, possibilitando que a sociedade discuta
efetivamente sobre o tema. Vivemos uma época confusa em relação à ética, onde a
inversão de valores nos confunde e os educadores tateiam no escuro, procurando uma
forma de educar e conscientizar que o bem coletivo deve ser respeitado, vendo que
muitas vezes a família como base do núcleo social por outro lado, não colabora na
construção do caráter do indivíduo que para se afirmar, comete excessos no ambiente
coletivo respaldado pela ausência dos pais e pela sua necessidade de autoafirmação
perante o grupo que pertence.
Numa sociedade onde o individualismo é uma bandeira defendida pela mídia
que desde a mais tenra idade estimula a competição, a busca do sucesso a qualquer
preço e utiliza de símbolos semióticos a ser seguidos na busca de status,
reconhecimento e vitória, cria no indivíduo uma formação egocêntrica e dificuldade nas
relações sociais, partilha do coletivo, respeito pelo que é de todos, por considerar que
todas as coisas são pessoais e todas as instâncias um prolongamento de seu próprio lar.
E como os filhos observam os pais e neles se espelham, começam a ver no
cotidiano a fila sendo furada, a lata de refrigerante que é jogada pela janela, o sinal
vermelho sendo ultrapassado, a faixa de segurança que não é observada, o desrespeito
com as pessoas idosas, a intolerância e a lei do “Primeiro EU”. Desta forma, ao se
deparar com o coletivo, estes jovens tem muita dificuldade em perceber a importância
de preservar um bem público e os professores ficam refém de uma sociedade que prega
valores individuais e de certa forma acaba punindo o educador que procura mostrar os
aspectos éticos e a capacidade de se viver em sociedade de uma forma harmônica. Em
muitos casos a lógica se inverte e um educador acaba sendo punido por tentar nadar
contra uma corrente ideológica que prima pela questão particular, transformando-se
vilão. É uma temeridade punir uma educadora que está no seu papel de mostrar a cada
um de seus alunos que estamos em sociedade e nela temos que saber conviver
respeitando os indivíduos e o bem público que possui imensa dificuldade de repor o
patrimônio destruído. Punir uma educadora é com dar uma carta branca ao
individualismo e o desrespeito a convivência coletiva, carta branca esta que em pouco
tempo estaria pichada com símbolos da falta de limites.

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