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Segurança alimentar

SEGURANÇA
ALIMENTAR

Cappylobacter jejuni/© Sebastian Kaulitzki Dreamstime.com

Segurança alimentar é um conjunto de normas de produção,


transporte e ar mazenamento de alimentos visando
determinadas características físico-químicas, microbiológicas
e sensoriais padronizadas, segundo as quais os alimentos
são adequados ao consumo. Estas regras são, até certo ponto,
internacionalizadas, de modo que as relações entre os povos
possam atender as necessidades comerciais e sanitárias.
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U
m conceito des sensoriais (cor, cheiro, sabor, ou preparo de alimentos, pode
importante textura, viscosidade etc.) ou pa- ocorrer uma contaminação física
na garantia togênicas, que causam doenças. no produto. Estas contaminações
de um ali- Os fungos são, a grosso modo, provêm, principalmente, dos pró-
mento sau- divididos em fungos filamentosos prios equipamentos, que podem
dável é o dos (bolores) e leveduras. Sua ocor- soltar pedaços de metais e/ou plás-
“perigos”, rência é mais comum em alimentos tico e/ou borracha (especialmente
que podem com baixo percentual de água e/ou em equipamentos com agitadores
ser de ori- elevada porção de lipídios, como mecânicos), parafusos etc., ou
gem biológica, química ou física. amêndoas e castanhas, por exem- das matérias-primas, que trazem
Entre os perigos de origem plo. Os fungos são os principais consigo sujidades aderidas aos
biológica estão os microrganismos perigos biológicos destes alimen- produtos no momento da colheita
(protozoários, fungos, bactérias tos. Seu risco está na produção de ou do transporte.
e vírus), as principais causas de micotoxinas por algumas espécies. O mercúrio, assim como os de-
contaminação de alimentos. Os Estes compostos ao serem ingeri- mais metais pesados, é considerado
alimentos possuem uma compo- dos, acumulam-se no organismo, um perigo químico. Compostos
sição bastante complexa, ou seja, causando uma série de transtornos, químicos tóxicos, irritantes ou
possuem um número muito grande desde ataques ao fígado a alguns que não são habitualmente usados
de componentes. Estes componen- tipos de câncer. como ingrediente. Podem ser agro-
tes são em sua maior parte água, Em sua maior parte, o grupo de tóxicos, hormônios (sintéticos),
proteínas, lipídios e carboidratos, microrganismo mais associados aos antibióticos, detergentes, metais
além de sais minerais, vitaminas perigos biológicos são as bactérias pesados, óleo lubrificante, entre ou-
(co-fatores) e ácidos nucléicos. e os fungos, contudo, atualmente tros. Desde o momento da produção
Tal como o corpo humano, que vem se dando um maior destaque até o consumo, os alimentos estão
consegue aproveitar significati- aos vírus, como o caso da febre sujeitos à contaminação química.
va parte destes compostos, uma aftosa ou da gripe aviária, por Esta contaminação pode ocorrer no
grande variedade de espécies de exemplo. próprio campo, através da aplicação
microrganismos também estão Entende-se por perigos físicos de inseticidas, herbicidas e outros
habilitados a fazê-lo. Isto faz com a existência de corpos estranhos, agentes para controle de pragas
que os alimentos sejam locais como pedaços de metal, pedaços na agricultura. A contaminação
ideais para a proliferação desses de borracha, pedaços de plástico, pode ser ocasionada também pela
organismos. areia, parafusos, pedaços de ma- contaminação do solo com metais
As bactérias são um dos gru- deira, cacos de vidro ou pedras. pesados.
pos mais conhecidos e numerosos. A microscopia eletrônica de grãos A Tabela 1 contém um resu-
Podem ser deteriorantes, quando de areia é um exemplo de perigo mo dos perigos associados aos
causam alterações nas proprieda- físico. Durante o processamento alimentos.

TABELA 1 - PERIGOS ASSOCIADOS A ALIMENTOS

Biológico Químico Físico


Parasitas e protozoárlos Alergênlcos Panes de pragas
Vírus Metais tóxicos: chumbo, cádmlo Osso
Mlcotoxlnas Aditivos alimentares: conservantes, Caroços de frutas
coadjuvantes de fabrlcação
Bifenilas policloradas (PCBs)
Tintas de impressão
Substâncias proibidas
Macrobiológico Resíduos veterinários: antibióticos, Vidro
Microbiológico estimulantes do crescimento Metal
Bactérias patogênicas Plastificantes e migração na embalagem Pedras
Formadores de esporos Resíduos químicos: pesticidas, fluidos de limpeza Madeira
Não-esporulados Plástico

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ROTAS DE TRANSMISSÃO DE
AS TOXINFECÇÕES PATÓGENOS ENTERAIS
Apesar de serem raros os casos fatais, este tipo de doença pode causar
distúrbios na saúde pública com conseqüências sociais e econômicas mais Água
ou menos graves. As toxinfecções alimentares decorrem de vários fatores
e seu grau de gravidade é em função do tipo de microrganismo ingerido, do Safra Esgoto
número de microrganismos (grau de contaminação do alimento), de sua
multiplicação no organismo, da quantidade da toxina elaborada no alimento Solo
ou no organismo, e da sensibilidade do hospedeiro (idade, estado de saúde).
Manifestam-se pelo aparecimento de sintomas característicos, conforme o
microrganismo responsável. Animais
As doenças provocadas nos homens e nos animais têm causas muito variadas,
devendo-se destacar:
- As alergias; Silagem, alimentação
Fezes
- Os envenenamentos por substâncias químicas que podem existir no alimento,
ser introduzidas nele ou ser produzidas por microrganismos;
Carne
- As doenças do tipo infecciosas provocadas por microrganismos.
As doenças bacterianas de origem alimentar podem ser produzidas por três
tipos de bactérias: Humanos
- As bactérias toxigênicas - formam toxinas no alimento durante a sua multi-
plicação, cuja ingestão provoca no consumidor um quadro patológico, que está
relacionado apenas com a toxina e não com as células bacterianas. Ex.: Clostridium Existe um grande número de fa-
botulinum e Staphylococcus aureus. tores que contribuem para tornar um
- As bactérias patogênicas - que contaminando o alimento ingerido, podem alimento inseguro, causando toxin-
multiplicar-se ativamente no aparelho digestivo (intestino), provocando uma reação
fecções às pessoas que os ingerirem.
do tipo infeccioso. Os sintomas da doença só aparecem se no alimento existirem
células viáveis dessas bactérias. Ex.: Salmonella, Clostridium perfringens, Bacillus Entre as principais causas estão o
cereus e Vibrio parahaemolyticus. controle inadequado da temperatura
- Multiplicação anormal de bactérias habitualmente saprófitas - pode provocar durante o cozimento, o resfriamen-
reações no consumidor idênticas às causadas por bactérias patogênicas. Ex.: to e a estocagem, higiene pessoal
Enterococcus. insuficiente, contaminação cruzada
Nas toxinfecções alimentares as bactérias mais freqüentes são: Salmo- entre produtos crus e processados,
nella, Staphylococcus aureus e Clostridium per fringens. As principais outras
bactérias que, embora menos vezes responsabilizadas, podem dar origem
e monitoramento inadequado dos
a toxinfecções alimentares graves são: Clostridium botulinum, Bacillus processos.
cereus, Listeria monocytogenes, Yersinia, Shigella, Campylobacter e Vibrio A chave para a produção de ali-
parahaemolyticus. mentos seguros é produzir alimentos
microbiologicamente estáveis, ou
seja, é necessário certificar-se de que
ALIMENTOS SEGUROS por alimentos devem ser reduzidos nenhum microrganismo do alimento
As diferentes definições de ao máximo durante a sua produção. irá se multiplicar até doses infeccio-
alimentos seguros são dadas a Contudo, a produção de alimentos sas; de maneira geral, é importante
partir do que constitui um risco seguros não é tarefa fácil e requer que estejam inativados e que não
significativo, ou seja, o consumidor alguns procedimentos básicos, haja toxinas. Assim, as temperaturas
pode considerar que alimentos se- como controle da fonte, controle do de cozimento e de resfriamento são
guros significam risco igual a zero, desenvolvimento e do processo dos essenciais, pois tem como finalidade
enquanto o produtor de alimentos produtos, boas práticas higiênicas reduzir o número de microrganismos
deve considerar o que é um risco durante a produção, processa- infectivos em uma ordem de 6 log (106
aceitável. Contudo, a consideração mento, manipulação, distribuição, células/g até 1 célula/g), bem como
de risco igual a zero é impraticável, estocagem, venda, preparação e não prover condições que permitam
devido a quantidade de produtos utilização, além de uma abordagem o crescimento de esporos microbianos
alimentícios disponíveis, a com- preventiva. que sobrevivam ao cozimento, e evitar
plexidade da cadeia de distribuição O controle de patógenos de ori- condições favoráveis para a produção
e a própria natureza humana. Por gem alimentar na fonte nem sempre de toxinas termoestáveis que, por
outro lado, não há um consenso pú- é fácil, pois muitos deles sobrevivem definição, são resistentes a 100°C du-
blico do que constitui exatamente no ambiente por longos períodos de rante 30 minutos e, portanto, não são
um risco aceitável. De qualquer tempo e podem ser transmitidos de destruídas no processo de cocção.
forma, é certo que os riscos de várias maneiras, conforme apresen- Os alimentos que não passam pelo
ocorrência de doenças transmitidas tado na figura acima. processo de cozimento são, normal-

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mente, acidificados e estocados sob fracamente tamponáveis (que não dos mesófilos ou dos psicrófilos.
condições de resfriamento. Essa resistem a mudanças de pH), como Um microrganismo termófilo não
prática baseia-se no princípio de que os vegetais, por exemplo, podem se desenvolve em temperaturas
o pH e a temperatura do alimento alterar seu pH consideravelmente. ambientes e, portanto, alimentos
inibirão o crescimento microbiano. Para carnes, o pH de um músculo enlatados podem ser estocados em
Portanto, é possível predizer o pH animal descansado pode diferir temperaturas ambientes mesmo que
e a temperatura de estocagens de bastante do pH de um animal fa- contenham termófilos que sobrevi-
alimentos que restringirão o cresci- tigado. Um alimento pode possuir, veram a processamentos com altas
mento dos patógenos de alimentos. inicialmente, um pH que impeça o temperaturas.
A faixa de crescimento da maioria crescimento bacteriano, mas esse As orientações sobre o tempo e
dos microrganismos que causam valor pode ser alterado pelo meta- a temperatura para a maioria dos
toxinfecções alimentares é apresen- bolismo de outros microrganismos patógenos de origem alimentar de
tada na Tabela 2. (mofos e leveduras), permitindo o frutos do mar foram determinadas
A faixa de pH de um microrga- crescimento bacteriano. considerando o tempo total de uma
nismo é definida pelo valor mínimo Já as faixas de temperatura para dada temperatura. Por exemplo,
(no final ácido da escala) e pelo o crescimento microbiano, bem como para controlar o crescimento de
valor máximo (no final básico da as de pH, possuem um valor mínimo espécies de Salmonella, o alimento
escala). Cada microrganismo possui e outro máximo, com um valor ótimo não deve ser exposto a temperatu-
um valor ótimo de pH, no qual seu de temperatura para o crescimento ras entre 5,2°C e 10°C durante mais
crescimento é máximo (veja Tabela máximo. O valor ótimo de tempe- de 14 dias; ou a temperaturas entre
3). As mudanças bruscas de pH de ratura de crescimento determina o 11°C e 21°C durante mais de 6 horas;
um alimento podem se refletir na grupo que o microrganismo perten- ou ainda, a temperaturas maiores
atividade microbiana. Os alimentos cerá, ou seja, grupo dos termófilos, que 21°C por mais de três horas.

TABELA 2 - LIMITES DE CRESCIMENTO MICROBIANO

Organismo Atividade de Taxa de Faixa de


água mínima (aw) Faixa de pH temp. (0C)a crescimento b(td)
A. hydrophila 0,970 (7,2 ótimo) -0,1-42 12 h, 40C
B. cereus 0,930 4,3-9,3 4-52 4 h/geração, 80C
B. stearothermophilus – 5,2-9,2 28-72
C. jejuni 0,990 4,9-9,5 30-45 6 h/geração, 320C
CI. botulinum tipos A e proteolíticos tipos B e F 0,935 4,6-9,0 10-48 (8 d, 100C)C
CI. botulinum tipos E e não-proteolíticos tipos B e F 0,965 5,0-9.0 3,3-45 (8 d, 10.C)C
CI. perfringens 0,945 5,0-9,0 10-52 12 h, 120C
E. coli 0,935 4,0-9,0 7-49,4 25 h/geração, 80C
Lactobacíllus spp. 0,930 3,8-7,2 5-45
L. monocytogenes 0,920 4,4-9,4 -0,4-45 1 d, 4,40C
Salmonella spp. 0,940 3,7-9,5 5-46 (60 h)d, 10 h, 100C
Shigella spp. 0,960 4,8-9,3 6,1-47,1 (3,6 d, 80C)e
St. aureus 0,830 4,0-10,0 7-50 (2,8 d)d, 1 d, 100C
Produção de toxinas 0,850 4,0-9,8 10-48
V. cholerae 0,970 5,0-10,0 10-43 (4 h)d, 98 min. 200C
V. parahaemoiyticus 0,936 4,8-11,0 5-44 60 min, 180C
V. vulnificus 0,960 5,0-10,0 8-43
Y. enterocolitica 0,945 4,2-10,0 -1,3-45 17 h, 50C
Saccharomyces spp. 0,85 2,1-9,0 -
Asp. oryzae 0,77 1,6-13,0 10-43
F. miniliforme 0,87 < 2,5-> 10,6 2,5-37
Pen. verrucosum 0,79 < 2,1-> 10,0 0-31

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TABELA 3 - VALORES DE PH DE ALGUNS ALIMENTOS perde-se anualmente, no mundo
todo, toneladas de alimentos de boa
Faixa de pH Alimento pH qualidade, devido ao ataque de mo-
Baixa acidez (pH7,0-5,5) Ovos inteiros 7,1-7,9 fos, bolores, leveduras e bactérias.
Ovos congelados 8,5-9,5 Muitas espécies de microrganismos
produzem toxinas potencialmente ne-
Leite 6,3-8,5
fastas para a saúde dos consumidores.
Queijo Camembert 7,44 Um exemplo é a alfatoxina B1, uma
Queijo Cheddar 5,9 das substâncias mais cancerígenas,
Queijo Roquetort 5,5-5,9 produzida pelo fungo Aspergillus
Bacon 6,6-5,6 flavus, que costuma formar-se sobre
os alimentos.
Carne de carcaças 7,0-5,4
Estas perdas e riscos podem ser
Carne vermelha 6,2-5,4 evitados, em grande parte, aplicando-
Presunto 5,9-6,1 se os métodos de conservação ade-
Vegetais enlatados 6,4-5,4 quados. Em certos casos, pode-se
Galinha 5,6-6,4 utilizar processos físicos envolvendo o
frio, o calor, a desidratação, ou outros.
Peixe 6,6-6,8
Esses procedimentos não podem ser
Crustáceos 6,8-7,0 aplicados em todas as situações nem
Leite 6,3-6,5 em todos os tipos de alimentos, porque
Manteiga 6,1-6,4 podem alterar as propriedades gusta-
Batatas 5,6-6,2 tivas do produto e, muitas vezes, são
Arroz 6,0-6,7
extremamente onerosos. Torna-se, en-
tão, necessário o uso de um conservan-
Pão 5,3-5,8
te e, dentre os mais freqüentemente
Média acidez (pH 5,3-4,5) Vegetais fermentados 5,1-3,9 usados, destacam-se o ácido benzóico
Queijo Cottage 4,5 e seus sais; os parabenos ou ésteres de
Bananas 4,5-5,2 PHB; os sulfatos; os nitratos e nitritos;
Vagem 4,6-5,5 o cloreto de sódio; os bacteriocinos; e o
ácido sórbico e seus derivados.
Ácido (pH 4,5-3,7) Maionese 4,1-3,0
O controle do crescimento de
Tomates 4,0 microrganismos em alimentos por
Muito ácido (pH 3,7) Picles em conserva e 3,9-3,5 conservantes químicos está relacio-
Sucos de frutas nado com o pH do meio. A forma não-
Chucrutes 3,3-3,1 dissociada da molécula é que confere
a característica antimicrobiológica dos
Frutas cítricas 3,5-3,0
conservantes. Os valores de kPa (pH
Maçãs 2,9-3,3
no qual 50% da molécula se encontra
na forma dissociada) da maioria dos
CONSERVAÇÃO DE ALIMENTOS tais como os sulfatos, nitratos e outros conservantes encontra-se na faixa de
Pode-se definir como conservan- sais, já estão sendo usados há séculos pH entre 3 e 5, portanto, a concentra-
te toda a substância que impede ou em carnes processadas e vinhos. A ção da forma não-dissociada aumenta
retarda a alteração dos alimentos escolha de um agente de conservação com o aumento da acidez, garantindo
provocada por microrganismos ou deve ser baseada no conhecimento uma maior eficiência no controle dos
enzimas. Os conservantes e os agen- do seu espectro antimicrobiano, nas microrganismos. Na faixa de pH
tes antimicrobianos têm um papel propriedades químicas e físicas, tanto alto, particularmente entre 5,5 a 6, os
importante no abastecimento de do alimento quanto do conservante, ácidos inorgânicos são relativamente
alimentos quimicamente estáveis e nas condições de manuseio, processo ineficientes, a exceção dos parabenos,
seguros. A demanda crescente para e estocagem, e na segurança de uma que permanecem na forma não-
alimentos de conveniência e o shelf alta qualidade inicial do alimento a dissociada, sendo efetivos inibidores.
life razoavelmente longo exigido ser conservado. A forma não-dissociada do conser-
pelas cadeias de distribuição, tornam Apesar das medidas higiênicas vante penetra através da membrana,
imperativo o uso de conservantes em e normas sanitárias habitualmente tornando-se ionizado após alcançar o
alimentos processados. Alguns deles, aplicadas na produção de alimentos, interior da célula. A concentração in-

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tracelular dos ácidos orgânicos altera pasteurizado utilizando o método embalados a vácuo e que passam por
o funcionamento normal do gradiente HTST (High Temperature Short tratamentos térmicos brandos, pos-
envolvido no sistema de transporte da Time), ou Alta Temperatura de Tem- suindo uma estocagem a frio cuida-
membrana celular. po Curto, com 72°C, por 15 segundos. dosamente controlada para prevenir
Esse método é realizado com a fina- o crescimento de patógenos formado-
MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO lidade de eliminar todas as bactérias res de esporos, como o Cl. botulinum.
A maioria dos métodos de con- patogênicas, como a Mycobacterium Esse tratamento é equivalente a 90°C,
servação é elaborada para inibir o tuberculosis, Salmonella spp. e por 10 minutos. Os organismos dete-
crescimento de microrganismos. Os Brucella spp. Os microrganismos riorantes, principalmente psicrófilos,
métodos que previnem ou inibem o termodúricos são aqueles capazes de também são inativados durante o
crescimento microbiano incluem o sobreviver a pasteurização, incluin- tratamento térmico, o que prolonga
resfriamento, congelamento, seca- do-se neste grupo o Streptococus a vida de prateleira. Os mesófilos e
gem, cura, processos de conserva, thermophilus, Enterococus faecalis, os termófilos tendem a sobreviver a
embalagens a vácuo, embalagens Micrococus luteus e Microbacterium tratamentos térmicos brandos muito
com atmosferas modificadas, fer- lacticum. Os esporos de B. cereus e mais do que os psicrófilos, mas são
mentação e utilização de conservan- B. subtilis podem sobreviver a tra- incapazes de se multiplicar a tempe-
tes. Os outros métodos inativam os tamento térmico, sendo que os de B. raturas frias de estocagem.
microrganismos como, por exemplo, cereus causam degradação do leite, As altas pressões hidrostáticas,
a pasteurização, esterilização e ir- conhecida por creme fino. A Tabela 4 entre 300 e 500 MPa, inativam bacté-
radiação. A maioria dos métodos de apresenta outros regimes de tempo e rias vegetativas, enquanto altas
conservação é baseada na redução temperatura de pasteurização. pressões (acima de 1.000 MPa) são
do crescimento microbiano, devido a A esterilização é um método apro- necessárias para eliminar os esporos
condições ambientais desfavoráveis, priado para prolongar a estocagem do bacterianos. O processo pode ser
bem como redução de temperatura, leite. O tratamento térmico é forte combinado (sinergicamente) com
diminuição do pH e da atividade de o suficiente para eliminar todos os tratamentos térmicos sempre que
água e desnaturação, devido a trata- microrganismos presentes, tanto os baixas pressões, entre 100 e 200 MPa,
mentos térmicos. deteriorantes quanto os patógenos de são utilizadas.
A conservação por tratamento origem alimentar. Existe uma chance
térmico abrange os processos de pas- estatística de um microrganismo FERRAMENTAS DE
teurização, esterilização, sous-vide e sobreviver ao processo, mas isso é GERENCIAMENTO DA
altas pressões hidrostáticas. normalmente aceito na produção de SEGURANÇA ALIMENTAR
No processo de pasteurização, o alimentos seguros. Apesar das indústrias e dos órgãos
leite, por exemplo, é normalmente Os produtos sous-vide são aqueles reguladores trabalharem pela produ-

TABELA 4 - TEMPO DE PASTEURIZAÇÃO E REGIMES DE TEMPERATURA

Alimentos Processo de Principal objetivo Efeitos secundários


pasteurização
Leite 630C, 30 min. Destruir os patógenos: Destrói os microrganismos deterioradores
0
71,5 C, 15 min. Br. abortis, My. tuberculosis, C. bumetti
0
Ovo líquido 64,4 C, 2,5 min. Destruir os patógenos Destrói os microrganismos deterioradores
0
60 C, 3,5 min
Sorvete 650C, 30 min. Destruir os patógenos Destrói os microrganismos deterioradores
0
71 C, 10 min.
800C, 15 seg.
Suco de fruta 650C, 30 min. Inativar as enzimas: pectina esterase e Destrói fungos
770C, 1 min. poligalacturonase e leveduras deterioradores
880C, 15 seg.
Cerveja 65-680C, 20 min. Destruir os microrganismos deterioradores:
(na garrafa)
72-750C, 1-4 min. leveduras e bactérias ácido-lácticas
(900-1.000 kPa)

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ção e por sistemas de processamento de fiscalização e utilizado em toda ramenta que trabalha no caminho
que garantam que todos os alimen- cadeia produtiva de alimentos, por da prevenção.
tos sejam seguros e saudáveis, a ter como filosofia a prevenção, ra- Da sigla APPCC, o AP (Aná-
isenção completa dos riscos é um cionalidade e especificidade para lise de Perigos) é, sem dúvida, a
objetivo inatingível. Os fatores de controle dos riscos que um alimento peça-chave para todo o sistema,
segurança alimentar precisam ser possa oferecer, principalmente, principalmente para a determina-
aplicados a toda cadeia alimentar, no que diz respeito à qualidade ção dos PCCs (Pontos Críticos de
da produção ao consumidor e, para sanitária. Controle). Estes perigos à saúde
isso, é necessária a integração de do consumidor são classificados
ferramentas de qualidade, as quais SISTEMA APPCC - ANÁLISE DE em perigos químicos, físicos e bio-
podem ser implementadas mundial- PERIGOS E PONTOS CRÍTICOS lógicos, e variam quanto ao grau de
mente, facilitando a comunicação DE CONTROLE severidade e riscos potenciais de
dos distribuidores de alimentos e O sistema APPCC, da sigla ori- manifestação em consumidores. Os
autoridades reguladoras. ginal em inglês HACCP (Hazard perigos biológicos compreendem
A crescente preocupação com Analisys and Critical Control bactérias patogênicas e suas toxi-
a qualidade dos alimentos tem ge- Points), teve sua origem na década nas, vírus e parasitas. Os perigos
rado o desenvolvimento de várias de 50 em indústrias químicas na Grã físicos incluem cacos de vidro, es-

Em sua maior parte, o grupo de microrganismos mais


associados aos perigos biológicos são as bactérias e
os fungos, contudo, atualmente vem se dando um maior
destaque aos vírus, como o caso da febre aftosa ou da
gripe aviária, por exemplo.

ferramentas de gestão da qualida- Bretanha e, nos anos 60 e 70, foi ex- pículas de osso, fio de cabelo, entre
de, as quais têm sido criadas e uti- tensivamente usado nas plantas de outros. Já os perigos químicos têm
lizadas na expectativa de atender a energia nuclear e adaptado para a como exemplo os defensivos agríco-
quesitos de idoneidade em respeito área de alimentos pela Pillsbury las, antibióticos, micotoxinas, sani-
ao consumidor, para oferecer um Company, a pedido da NASA, para tizantes e uma grande quantidade
produto seguro e, ao mesmo tempo, que não houvesse nenhum proble- de produtos que podem entrar em
contemplar as exigências de comer- ma com os astronautas relativo contato com o alimento.
cialização, principalmente as de a enfermidades transmitidas por Enquanto os perigos químicos
exportação, nas quais os critérios alimentos (ETA) e equipamentos são os mais temidos pelos consu-
são bem mais rigorosos. Além des- (migalhas de alimentos) em pleno midores e os perigos físicos os mais
tes pontos, há também a diminuição vôo. O problema de migalhas foi comumente identificados (pêlos,
de custos, gerada pela redução de resolvido com o uso de embalagens fragmentos de osso ou de metal,
perdas e otimização da produção, especiais e, de possíveis ETA, com etc.), os perigos biológicos são os
dentre outros benefícios. a utilização do sistema APPCC, mais sérios do ponto de vista de
Das ferramentas disponíveis, que, por mostrar-se altamente saúde pública, e representam a
podem ser citadas as BPF (Boas preventivo, evita a falsa sensação grande maioria das ocorrências
Práticas de Fabricação), PPHO de segurança de produtos, que totais ocasionadas, principalmente
(Procedimentos Padrão de Higiene eram, até então, inspecionados lote por bactérias. Por esta razão, ainda
Operacional), MRA (Avaliação de a lote por análises microbiológicas, que o sistema APPCC trate dos
Riscos Microbiológicos), Gerencia- sendo esta a única garantia dada três tipos de perigos, os biológicos
mento da Qualidade (Série ISO), por outras ferramentas de controle devem ser abordados em maiores
TQM (Gerenciamento da Qualidade de qualidade. detalhes.
Total) e o Sistema APPCC (Análise Microrganismos altamente pa- O Ponto Crítico de Controle
de Perigos e Pontos Críticos de togênicos podem ser veiculados por (PCC) é qualquer ponto, etapa ou
Controle), o qual tem sido ampla- alimentos e bebidas e, o sistema procedimento no qual se aplicam
mente recomendado por órgãos APPCC, atualmente, é a única fer- medidas preventivas para manter

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um perigo identificado sob controle, de microrganismos patogênicos a APPCC para bebidas e vinagres
com objetivo de eliminar, prevenir um nível aceitável, e o item a ser e, logo em seguida, a Portaria 46
ou reduzir os riscos à saúde do controlado (binômio tempo/tempe- do MAPA, obrigou a implantação
consumidor. Os PCC1, PCC2, PPC3 ratura) não faz parte do programa gradativa em todas as indústrias
e assim por diante, representam a de pré-requisitos. Já a etapa de em- de produtos de origem animal do
ordem em que estes PCCs aparecem pacotamento do leite pasteurizado programa de garantia de qualidade
no fluxograma do produto. Ponto de pode ser tratada como um PC, pois APPCC, cujo pré-requisito essen-
Controle (PC) é qualquer ponto, eta- o seu controle depende basicamente cial são as BPF.
pa ou procedimento no qual fatores do programa de Boas Práticas, como O APPCC é baseado em uma
biológicos, químicos ou físicos podem manutenção preventiva de equipa- série de etapas inerentes ao pro-
ser controlados, prioritariamente, mentos, higienização adequada de cessamento industrial dos alimen-
por programas e procedimentos de máquinas, tubulações e ambiente e tos, incluindo todas as operações
pré-requisitos, como as Boas Práti- treinamento de pessoal. que ocorrem desde a obtenção
cas. Justifica-se o estabelecimento A legislação nacional referente da matéria-prima até o consumo,
do PCC a partir da constatação do ao APPCC teve início em 1993, es- fundamentando-se na identificação
risco significativo da ocorrência de tabelecendo pelo SEPES/MAARA dos perigos potenciais à saúde do
um determinado perigo que provo- normas e procedimentos para pes- consumidor, bem como nas medi-
que impacto à saúde pública. Um cados, e, no mesmo ano, a Portaria das de controle das condições que
exemplo prático seria a etapa de 1428 do MS preconizou normas geram os perigos. É racional, por
pasteurização do leite fluido, a qual para obrigatoriedade em todas as basear-se em dados científicos e
sempre constituirá um PCC, pois indústrias de alimentos. Em 1998, registrados; é lógica e compreen-
não há etapa anterior ou posterior a Portaria 40 do MAARA, atual sível, por considerar ingredientes,
efetiva (quando a matéria-prima é MAPA, estabeleceu um manual de processos e usos dos produtos; é
de boa qualidade) para a redução procedimentos baseado no sistema contínua, ou seja, os problemas

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Segurança alimentar
são detectados e imediatamente a implantação e/ou adequação dos procedimentos de monitorização. O
corrigidos; e sistemática, por ser pré-requisitos PPHO ou POP e primeiro passo é determinar o que
um plano completo, passo a passo BPF, que irão gerar o manual de monitorar, quando, como e quem
desde a matéria-prima até a mesa Boas Práticas de Fabricação, o qual será o responsável, que deverá ser
do consumidor. deve estar em dia com a legislação treinado e capacitado para esta ta-
Entre os benefícios atribuídos vigente e ser avaliado pelo MAPA refa. O monitoramento é a medição
ao sistema APPCC está a garantia ou outro órgão competente, antes ou observação esquematizada de
da segurança do alimento; a dimi- de se dar início a elaboração do um PCC relativa a seus limites crí-
nuição de custos operacionais (evita plano APPCC. ticos, e os procedimentos utilizados
destruição, recolhimento e, às ve- O sistema APPCC se baseia em precisam ser capazes de detectar
zes, re-processamento); a diminui- sete princípios. O primeiro deles, perdas de controle do PCC, além
ção do número de análises; a redu- inclui a análise de perigos e medidas de fornecer informações em tempo
ção de perdas de matérias-primas preventivas. Este princípio repre- para correção.
e produtos; a maior credibilidade senta a base para a identificação Os métodos de monitoramento
junto ao cliente; a maior competi- dos PCCs e PCs e visa identificar devem ser fáceis e de rápida men-
tividade na comercialização, além perigos significativos e estabelecer suração, já que não haverá tempo
de atender a obrigatoriedade na medidas preventivas cabíveis. Com para exames analíticos extensos.
exportação e a requisitos legais auxílio do histórico dos produtos, Assim, são preferidos testes quí-
internos, como a Portaria 46/98, e consultas bibliográficas, entre micos (acidez titulável) e físicos
externos, como o Codex, Mercosul outros recursos, os perigos são (tempo/temperatura), já que os
e Comunidade Européia. identificados, focando a atenção aos microbiológicos, com exceção de al-
Os requisitos para a implanta- fatores, de qualquer natureza, que guns testes rápidos que geralmente
ção do APPCC em uma indústria possam representar perigo. Todas são limitados a algumas etapas, são
vão além das BPF e PPHO; o as matérias-primas, ingredientes e muito demorados. Toda monitoriza-
comprometimento da alta direção etapas são avaliados e, quando não ção gera um documento associado a
é indispensável para o início das é possível eliminar, prevenir, ou re- cada PCC e deve ser assinado pelas
atividades, a qual deve ser informa- duzir o perigo, por meio de medidas pessoas que executam esta tarefa e
da e motivada para a importância preventivas, alterações no fluxogra- pelos supervisores e responsáveis
e benefícios que o sistema possa ma deverão ser realizadas. da empresa.
trazer e, também, disponibilizar O segundo princípio diz respeito O princípio cinco estabelece as
recursos para aquisição de equi- a identificação dos pontos críticos ações corretivas. As ações correti-
pamentos, sanitizantes, material de controle. Os PCCs são pontos vas específicas devem ser desen-
de pesquisa, etc. caracterizados como realmente volvidas para cada PCC de forma
Em uma seqüência lógica, come- críticos à segurança e devem ser a controlar um desvio nos limites
ça-se por delegar responsabilida- restritos ao mínimo possível. Para críticos ou na faixa de segurança e
des a um profissional competente e determinação de PCCs e PCs, uma devem garantir novamente a segu-
treinado para liderar o programa. árvore decisória deverá ser utiliza- rança do processo. Estas ações vão
Esse profissional deverá possuir, da. Os pontos considerados como desde ajustes na temperatura, até a
além de conhecimento técnico, faci- PCCs, devem ser identificados e destruição do lote de produto.
lidade de trabalhar em equipe. Uma enumerados em um fluxograma. O princípio seis estabelece os
equipe multidisciplinar deverá ser O terceiro princípio é sobre o es- procedimentos de verificação. É
formada; a correta definição do tabelecimento dos limites críticos. uma fase na qual tudo que já foi
grupo é fundamental para o desen- São valores (máximo e/ou mínimo) realizado anteriormente passa por
volvimento do trabalho, e deve-se que caracterizam a aceitação para uma revisão de adequação para
levar em consideração não somente cada medida preventiva a ser moni- total segurança do processo. A
a necessidade de ter integrantes torada pelo PCC e estão associados verificação consiste na utilização
com graduação formal, mas, tam- a medidas como tempo, temperatu- de procedimentos em adição aos
bém, aqueles que têm vivência com ra, pH, acidez titulável, etc. Algu- de monitorização; aqui podem ser
a prática da indústria. O treinamen- mas empresas adotam os limites incluídas análises microbiológicas
to do pessoal da equipe e de toda a de segurança, ou faixa de trabalho, tradicionais que, apesar de demo-
indústria deve ser conduzido toda que são padrões mais rigorosos em radas, são mais seguras e possuem
vez que se achar necessário, para relação aos limites críticos, adota- respaldo da legislação. Esta ação
capacitação técnica dos funcioná- dos como medida para minimizar a deverá ser conduzida rotineiramen-
rios e envolvimento maior com o ocorrência de desvios. te ou aleatoriamente para assegu-
sistema. Isso permitirá e facilitará O quarto princípio estabelece os rar que os PCCs estão sob controle

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e que o plano APPCC é cumprido. indústrias, não só em relação à se- Alimentarius (FAO/WHO) e por
Em relatórios de verificação devem gurança do produto ou minimização indústrias de alimentos, muitas
constar todos os registros já efetua- de perdas, mas pela certeza de estar vezes em colaboração com outros
dos, os de monitorização, de desvios cumprindo as exigências da fiscali- grupos de inspeção e controle.
de ações corretivas, de treinamento zação nacional e internacional.
de funcionários, entre outros. A ve- TQM - GERENCIAMENTO DE
rificação permite, também, avaliar BPF - BOAS PRÁTICAS DE QUALIDADE TOTAL
se algumas determinações estão FABRICAÇÃO A gestão da qualidade total
sendo muito rigorosas, fora da rea- As Boas Práticas de Fabricação (Total Quality Management, em
lidade ou desnecessárias. (BPF) abrangem um conjunto de inglês, ou simplesmente TQM)
O sétimo e último princípio esta- medidas que devem ser adotadas consiste em uma estratégia de
belece os procedimentos de regis- pelas indústrias de alimentos, a fim administração orientada a criar
tro. Todos os documentos ( análise de garantir a qualidade sanitária consciência da qualidade em todos
de perigos, por exemplo) ou regis- e a conformidade dos produtos os processos organizacionais. É
tros (atividades de monitoramento alimentícios com os regulamentos referida como “total”, uma vez
dos PCCs, por exemplo) gerados ou técnicos. A legislação sanitária fe- que o seu objetivo é a implicação
utilizados (material para subsídio deral regulamenta essas medidas não apenas de todos os escalões
técnico, por exemplo) devem ser ca- em caráter geral, aplicável a todo de uma organização, mas também
talogados e guardados. É muito im- tipo de indústria de alimentos, da organização estendida, ou seja,
portante que estes papéis estejam e específico, voltadas às indús- seus fornecedores, distribuidores
organizados e arquivados em local trias que processam determinadas e demais parceiros de negócios.
de fácil acesso, para que a equipe categorias de alimentos. Compõe-se de diversos estágios,
se sinta envolvida e responsável e, As BPF abordam os princípios, como por exemplo, o planejamen-
sobretudo, para facilitar uma audi- os procedimentos e os meios fun- to, a organização, o controle e a

O Sistema APPCC tem sido amplamente recomendado


por órgãos de fiscalização e utilizado em toda cadeia
produtiva de alimentos.
toria. Outros exemplos de registros damentais favoráveis para a pro- liderança. Tem sido amplamente
e documentos incluem relatórios de dução de alimentos com qualidade utilizada por organizações públicas
auditoria do cliente, registros de aceitável. e privadas, de qualquer porte, em
desvios e ações corretivas e regis- Os requisitos gerais de BPF materiais, produtos, processos ou
tro de treinamentos. usualmente abordam como itens serviços.
A implementação do plano o projeto e as instalações que fa- O TQM é centrado na qualidade
APPCC significa passar do papel voreçam a higiene das fábricas de e no conceito de melhoria continua-
para a prática um plano que foi alimentos; o projeto, a construção da. Também enfatiza a garantia
baseado em estudos e teorias. Esse e o uso higiênico apropriado da da qualidade e tem sido definido
é, sem dúvida, o passo mais difícil maquinaria; os procedimentos de como “uma atividade contínua,
para a indústria. Compreende, limpeza e desinfecção, incluindo conduzida pelo gerenciamento, na
além de alteração na rotina, vários controle de pragas; as práticas hi- qual todos reconhecem a respon-
treinamentos com funcionários de giênicas e de segurança alimentar sabilidade pessoal pela segurança
todos os setores envolvidos para a no processamento de alimentos, e qualidade”.
capacitação técnica que o sistema incluindo a qualidade microbioló- Os objetivos do TQM são mais
exige. As mudanças têm que ser in- gica das matérias-primas, a ope- amplos do que os do APPCC, in-
seridas gradativamente e da forma ração higiênica de cada etapa do cluindo a qualidade e a satisfação do
mais prática possível. processo, e a higiene do pessoal consumidor. O TQM e os sistemas
O sistema APPCC, apesar de e seu treinamento em higiene e de qualidade fornecem a filosofia,
dispensar certo trabalho e investi- segurança alimentar. a cultura e a disciplina necessárias
mento inerente a qualquer progra- As BPF foram desenvolvidas para comprometer cada membro da
ma de qualidade, atualmente é o pelos governos, pelo comitê de organização com o alcance de todos
que mais gera confiança dentro das higiene de alimentos do Codex os objetivos gerenciais relaciona-

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Segurança alimentar
dos à qualidade. Dentro dessa rede etapas da cadeia produtiva, onde po- A série é composta das seguintes
de trabalho, a inclusão do APPCC, derão ser potencializados, reduzidos normas:
a fim de garantir a segurança ou eliminados. - ISO 9000 - Fundamentos e voca-
alimentar, fornece a confiança de O conhecimento das origens e bulário. Descreve os fundamentos do
que nenhum produto não seguro comportamento destes perigos é de sistema de gerenciamento da qualida-
deixará o local de produção. importância para a avaliação da con- de e especifica a sua terminologia.
centração ou da presença do perigo - ISO 9001 - Sistemas de geren-
MRA - AVALIAÇÃO DE RISCOS em cada ponto da cadeia produtiva. ciamento da qualidade - requisitos.
MICROBIOLÓGICOS Este conhecimento auxilia o esta- Especifica os requisitos do Sistema
A análise de riscos microbiológi- belecimento dos níveis possíveis de da Qualidade para uso onde a ca-
cos (MRA) consiste de três ativida- segurança do produto final e deve pacidade da organização de prover
des interconectadas: a avaliação de incluir o dimensionamento destes produtos que atendam ao cliente e
risco, a gestão de risco, e a comuni- níveis por modificações da concen- aos requisitos regulatórios precisa
cação de risco. tração do agente, por alterações das ser demonstrada.
A avaliação de risco é o processo características intrínsecas do produto - ISO 9004 - Sistemas de geren-
onde o risco associado a um perigo e por ação de processamento, como o ciamento da qualidade - guia para
é avaliado qualitativamente e quan- de secagem, salga, acidificação, trata- melhoramento da performance. For-
titativamente. A avaliação de risco mento térmico, entre outros. nece diretrizes para implantação de
inclui a identificação do perigo, a um Sistema de Gestão da Qualidade,
caracterização do perigo, a avaliação GERENCIAMENTO DA incluindo os processos para melhoria
de exposição, e a caracterização do QUALIDADE (SÉRIE ISO) contínua, que contribui para a satis-
risco. Em 1987, a Inter national fação dos clientes da organização e
A gestão de risco é o processo Organization for Standardization, outras partes interessadas.
onde a informação relacionada ao em Genebra, Suíça, publicou os - ISO 19011 - Auditorias internas
risco, incluindo-se os resultados da padrões ISO 9000, que são equiva- da qualidade e ambiental. Provê guia
avaliação de risco (se disponíveis) são lentes aos padrões europeus da série para o gerenciamento e condução de
usados para tomar decisões sobre EN29000 e aos padrões britânicos BS auditorias da qualidade e ambiental.
como o risco será controlado, e então, 5750:1987. A série ISO 9000 foi adotada no
como esta decisão é implementada. A A sigla ISO é uma referência à pa- Brasil pela ABNT com o nome de
gestão de risco inclui a avaliação das lavra grega iso, que significa igualda- NBR 9000.
opções, a implementação das opções, de. O propósito da ISO é desenvolver
o monitoramento e a revisão. e promover normas e padrões mun- PPHO - PROCEDIMENTOS
A comunicação de risco é o diais que traduzam o consenso dos PADRÃO DE HIGIENE
processo pelo qual a informação diferentes países do mundo de forma OPERACIONAL
relacionada com a avaliação e o a facilitar o comércio internacional. A Os PPHO (Procedimentos Pa-
gerenciamento do risco é intercam- ISO tem 130 países membros, sendo drão de Higiene Operacional), do
biada entre os indivíduos afetados que no Brasil, o seu representante inglês SSOP (Standard Sanitizing
pelo perigo. É a troca interativa de é a ABNT. A ISO trabalha com 180 Operating Procedures), são represen-
informações e opiniões relacionadas comitês técnicos (TC) e centenas de tados por requisitos de BPF conside-
com o risco, com as opções de ges- sub-comitês e grupos de trabalho. rados críticos na cadeia produtiva de
tão do risco e com as medidas de A ISO 9000 é uma série de quatro alimentos. Para estes procedimentos,
controle. É o meio que permite que normas internacionais para “Ges- recomenda-se a adoção de programas
os processos de avaliação e geren- tão da Qualidade” e “Garantia da de monitorização, registros, ações
ciamento ocorram. Qualidade”. Não é destinada a um corretivas e aplicação constante de
A análise de riscos microbioló- “produto” nem a uma indústria espe- check lists. Os PPHO preconizados
gicos pode tomar diferentes formas cífica. Tem como objetivo orientar a pela FDA constituíam, até outubro
e complexidades em função das implantação de sistemas de qualidade de 2002, a referência para o controle
características do perigo em questão, nas organizações. de procedimentos de higiene, data em
da disponibilidade de dados e conheci- As regras e os padrões da Gestão que a resolução 275 da ANVISA criou
mento científico a respeito do perigo da Qualidade e Garantia da Qualida- e instituiu no Brasil os POP (Procedi-
e da complexidade das questões de de são complementares aos padrões mentos Operacionais Padronizados),
gerenciamento do risco. do produto, e são implantados para que vão um pouco além do controle
Os perigos podem ser de natureza melhorar a sua qualidade, com im- da higiene, porém, não descaracteri-
biológica, química e física, os quais pacto na funcionalidade do Sistema zam os PPHO, que continuam sendo
podem ter origem em qualquer das da Qualidade. recomendados pelo MAPA, inclusive

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Bactéria/© Sebastian Kaulitzki Dreamstime.com


em recente resolução que institui o por patógenos alimentares con- introduzidas com o objetivo de
programa PPHO a ser utilizado nos tinuam apresentando problemas aumentar a qualidade dos pro-
estabelecimentos de leite e derivados significativos para a saúde e para dutos, tais como processamentos
que funcionam sob regime de inspe- a economia. térmicos mais brandos, aqueci-
ção federal, como etapa preliminar Em 1990, uma média de 120 mentos em microondas e técnicas
de programas de qualidade como o casos de enfermidades de origem de processamento que envolvem
APPCC. alimentar foi notificada em um altas pressões.
Os PPHO, assim como os POP e grupo de 100 mil pessoas, em 11 A prática de analisar microbio-
as BPF, fornecem o suporte necessá- paí ses europeus. Mais recente- logicamente produtos finais tem
rio para que o sistema APPCC não mente, estimativas baseadas em sido realizada durante décadas. É
desvie do seu objetivo de ser focal estudo-sentinela indicaram que em importante salientar que os testes
e possa agir em pontos cruciais, alguns países europeus há, no míni- microbiológicos devem ser realizados
onde as ferramentas anteriores não mo, 30 mil casos de gastroenterites como parte do sistema de Análise de
conseguiam atuar. agudas, muitas delas de origem Perigos e Pontos Críticos de Controle
alimentar, para um grupo de 100 (APPCC), mais precisamente, na
CONCLUSÃO mil pessoas, anualmente. etapa de verificação. O teste microbio-
A quantidade de produtos dis- Na produção de alimentos, é lógico não garante a produção de um
poníveis no mercado oferece ao essencial que medidas apropria- alimento seguro, porém, dá suporte à
consumidor a oportunidade de am- das sejam tomadas para garantir implementação do sistema APPCC,
pla escolha. Entretanto, apesar do a segurança e a estabilidade do o qual tem sido amplamente reco-
progresso na medicina, na ciência produto durante toda a sua vida mendado por órgãos de fiscalização
e na tecnologia de produção de ali- de prateleira. Para tanto, novas e utilizado em toda cadeia produtiva
mentos, as enfermidades causadas técnicas de processamento foram de alimentos. n

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