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Título: A Terrível História da Perna Cabeluda(Prenúncios da Besta-Fera)

Autor: Guaipuan Vieira


Categoria: Literatura de Cordel - 32 estrofes - 8 páginas
Idioma: Português
Instituição: Centro Cultural dos Cordelistas - Cecordel
1ª Edição: 1998 2ª Edição: 1999
Gravação:

A TERRÍVEL HISTÓRIA Ainda tem no calcanhar


DA PERNA CABELUDA Um afinado esporão
(Prenúncios da Besta-Fera) Cuja cor avermelhada
Autor: Guaipuan Vieira Reluzente a um medalhão
Santo Deus Onipotente No tornozelo uma gola
Venho rogar vossa ajuda Como estivera em prisão.
Pra afastar assombração
De todo mal nos acuda Na canela tem um chifre
Principal desse fantasma Com uma luz bem na ponta
Que é a Perna Cabeluda. Uma espécie de lanterna
Pra andar por onde afronta
É um bicho horripilante Fazer vítima onde passa
Que na noite entra em ação Que já se perdeu a conta.
Tem dois metros de altura
E pula como cancão
No joelho tem um olho Tem enorme cabeleira
Acesso que nem tição. No lugar que foi cortado
Que sacode sobre a perna
O nariz é bem pontudo Girando de lado em lado
Além da boca rasgada De jaguar são as orelhas
As prezas são dum felino E há pelo aveludado.
Língua com a ponta cortada
Tem barbicha que nem bode
Pense então na coisa feia
Cada unha é envergada.
Multiplique o seu pensar
Faz um barulho medonho Pois é assim que a coisa
Como chocalho de cobra Anda em noite de luar
É o rangido dos dentes E também na escuridão
Da energia que sobra Pra poder se ocultar.
Limpa o nariz com a língua -2-
Dança fazendo manobra.
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Quem já viu conta que a perna Dois ônibus da Marimbá
Chega mansa e de repente Do Piauí essa empresa
Cisca o chão e fala coisas Se chocaram nessa curva
Que não há um ser vivente Que foi a maior tristeza
Pra decifre a linguagem Não escapou um cristão
Que repassa no presente. Só de pensar dá fraqueza.

E depois dessa contenda Uma vítima teve a perna


Dá um assovio fino De seu corpo decepada
À noite entra em silencio Dizem que ela criou vida
Como ordena seu destino Num monstro foi transformada
Até o galo no poleiro Na mata ficou vagando
Esquece o sagrado tino. Procurando sua estrada.

Por onde passa o vivente Antes de achar caminho


Fica imobilizado Pra sua nova paragem
Falta as pernas pra correr Em todo aquela região
É um momento aperreado Ficou fazendo visagem
Só pra vê que neste mundo Assombrando caçador
Tudo um pouco é encontrado. E vaqueiro de coragem.

Muitos contam que a origem Pois chegou no Ceará


Vem duma história passada Seguindo um caminhoneiro
Dum acidente de ônibus Que vinha pra Canindé
Em região povoada Só conduzindo romeiro
Pra bandas do Piauí Depois foi a Fortaleza
Curva do “S” chamada. Promover o seu desterro.
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A Perna anda descalça Percorre a periferia
Vagando em noite escura Onde sente muita estima
Tem um rastro muito grande O povão é seu chamego
Que não é de criatura Espécie de grande ima
Dizem até que um sapato Que através dessa gente
Na cidade ele procura. Mantém a fama de cima.

Muitos fazem confusão Não existe corajoso


Aumentando mais o medo Chamado desafiante
Que a Perna também vaga Pra enfrentar a essa Perna
Quando o dia é muito cedo Por ter jeito horripilante
Nas manhãs de sexta-feira Assim vara a madrugada
Zombando de seu segredo. Cada vez mais triunfante.

Em noite de lua cheia E vagando estrada afora


Ela fica mais nervosa Já provocou acidente
Vaga na areia da praia Pois fez carro abalroar
É muito mais perigosa Pondo em risco muita gente
A razão é o sofrimento No aeroporto aeronave
Da tal vida desastrosa. Sair do pouso decente.

Circula todo o Nordeste Da mesma forma já fez


Promovendo temporada Na lagoa, o pescador
Por onde passa o terror Deixar o peixe na isca
Tem uma história contada E gritar: Nosso Senhor!
Nunca peça para vê Daí - me força nestas pernas
A Perna mais assombrada. Pra fugir deste terror.
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Esta Perna Cabeluda Tudo isso ela freqüenta
Bota mesmo pra quebrar Numa forma mais oculta
Até na santa igreja Observa o ser humano
Já andou a perturbar Talvez fazendo consulta
Fez o padre e o sacristão Mas depois desta visita
Vir à missa abandonar. Fazer mal é que resulta.

Fez mulher que trai marido Dizem que é a besta-fera


Mudar seu comportamento Que já se encontra presente
Ser caseira e boa esposa Circulando este planeta
Religiosa ao contento Cada vez mais decadente
Da mesma forma o traído Onde o ódio e a violência
Esquecer o sofrimento. Se vê muito mais crescente.

Fez cabra namorador São sinais do fim da era


Esquecer o pé de muro A tristeza é mais aflita
O farrista voltar cedo Aparições e desastres
Prevenindo mais seguro É algo que multiplica
Com medo de vê a Perna A peste afronta o planeta
E passar por tal apuro. Na terra a paz desabita.

Mas a Perna é vaidosa Pois rezar é que nos resta


Tem paixão e boemia Pra livrarmos da aflição
Visita festas de roque Mas que haja com firmeza
Em clubes da burguesia Santo Deus no coração
Também gosta de seresta Ao contrário nós seremos
E da boa churrascaria. Vítimas da tribulação.
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