Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Centro de Filosofia e Cincias Sociais Instituto de Histria Histria e Ecologia na construo do Brasil

2011/02 Professor Dr. Jos Augusto Pdua Aluna: Michelle M. G. de Oliveira D.R.E.: 108 000 071

Resenha: FREYRE, Gilberto. A cana e a gua; A cana e a mata. In Nordeste: aspectos da influncia da cana sobre a vida e a paisagem do Nordeste do Brasil. 7 Edio revista. So Paulo: Global, 2004, pp 56-95.
A Antiga civilizao do acar no Nordeste, de uma patologia social to numerosa, d-nos essa mesma impresso, em confronto com as demais civilizaes brasileiras a pastoril, a das minas, a da fronteira, a do caf. Civilizaes mais saudveis, mais democrticas, mais equilibradas quanto distribuio da riqueza e dos bens. Mas nenhuma mais criadora do que ela, de valores polticos, estticos, intelectuais (pg. 195).

Por isso, segundo Freyre, o Nordeste o centro da civilizao brasileira, com muita sensibilidade e vivncia. Ao analisar os danos que a agroindstria aucareira provoca no solo, na gua, na vegetao nativa, nos animais silvestres e no prprio ser humano, Nordeste1 trata dos impactos sociais da cultura da cana-de-acar e de sua ligao com a formao do complexo scio-ecolgico e do complexo scio-cultural, e a destruio do meio ambiente. Publicado em 1937, a proposta do livro, segundo Freyre, realizar um estudo ecolgico sobre o Nordeste brasileiro. No o outro Nordeste das secas, do semi-rido, do serto cujas atividades principais so a pecuria e a plantaes de algodo. Mas o Nordeste que se estende do Recncavo baiano ao Maranho cujo centro Pernambuco e, particularmente, a cidade do Recife. Esse Nordeste cuja estrutura baseada na escravido, no latifndio e na monocultura canavieira.

Este ensaio uma tentativa de estudo ecolgico do Nordeste do Brasil. De um dos Nordestes, acentuese bem, porque h, pelo menos, dois, o agrrio e o pastoril; e aqui s se procura ver de perto o agrrio (p. 37).

A cana-de-acar o principal personagem do livro. Atravs dela, e ao longo de seis captulos, Freyre analisa a relao entre o homem e a natureza, sempre mediada pela cultura: as relaes entre senhores de engenho e seus escravos so sempre descritas atravs de suas relaes com as matas, os rios e os animais; a partir dos valores que esto sendo construdos com a extenso dos canaviais e, nesse sentido, com a constituio de uma civilizao do acar. As relaes entre o homem e a natureza, estabelecidas atravs da monocultura da cana, no podem, assim, ser dissociadas das relaes dos homens entre si.