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Belo Horizonte
Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Fumec
2006
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Belo Horizonte
Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Fumec
2006
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Universidade Fumec
Faculdade de Ciências Humanas
Curso de Comunicação Social
Habilitação em Jornalismo
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Prof. Ms. Jorge Rocha Neto da Conceição - Orientador
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Prof.
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Prof.
RESUMO
A Internet atualmente faz parte do cotidiano de milhões de pessoas. Sua expansão afetou as
agenda-setting. Assim, o papel do jornalista vem se reconfigurando à medida que os recursos que
a web oferece são utilizados de forma a aproveitar as suas potencialidades. Atribuições clássicas
do profissional, como gatekeeper e agenda-setter, vêm cedendo espaço a uma nova forma de
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................10
1 CIBERESPAÇO .......................................................................................................................14
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................................81
REFERÊNCIAS ...........................................................................................................................85
ANEXOS .......................................................................................................................................90
10
INTRODUÇÃO
rede de computadores era percebida apenas como ferramenta para auxiliar o trabalho jornalístico
dos veículos tradicionais – e mais tarde utilizada como extensão dessas publicações – hoje, a web
é entendida como uma mídia que possui um fazer jornalístico específico: o webjornalismo.
Além de seu poder de atualização constante, a Internet propiciou à audiência, pela primeira vez, o
poder de publicar qualquer conteúdo, utilizando apenas um microcomputador com acesso à rede.
As possibilidades de interação oferecidas pela web romperam com fórmulas engessadas do fazer
jornalístico tradicional. Isso significa que o campo jornalístico ligado ao broadcasting perdeu a
produtores de conteúdo e audiência, que são estimuladas nesta mídia. Dessa forma, os modelos
teóricos da comunicação de massa que têm o gatekeeper como figura central passam a ter sua
(NTICs).
Sendo assim, este trabalho discute e questiona a aplicação, na mídia interativa, das hipóteses do
seus efeitos sobre o público. Apesar de alguns autores enquadrarem erroneamente a Internet em
desenvolvimento.
comunicativa, posicionam-se ora como emissores, ora como receptores, já que esses papéis são
constantemente permutados entre os diversos atores que intervêm nessa mesma ação. Sendo
Se a World Wide Web vem afetando os diversos aspectos da realidade jornalística, um deles,
elemento de ligação entre os diversos discursos (divergentes e consensuais), aquele que indica,
webjornalista cabe – dentro de um ambiente em que o fluxo informacional cresce a cada segundo
ciberespaço.
12
E para que o cartógrafo de informação possa desempenhar adequadamente esse novo tipo de
reconfiguram o espaço público, à medida que novos indivíduos são incorporados na produção de
produção da notícia e como o papel do jornalista vem se reconfigurando para atender a essa nova
demanda do público leitor: participar. Para tanto, foi dividido em três capítulos. O primeiro traz a
respectivamente, por meio dos sistemas broadcast (ou top-down news) e intercast (ou bottom-up
news). O capítulo mostra, ainda, a evolução da prática jornalística na Internet desde meados da
década de 1990, quando a web começou a ser utilizada como mídia, e aborda o jornalismo online
exclusivamente para web. Apresenta-se, ainda nesta parte, o ciberespaço como o ambiente no
O segundo capítulo aborda a transição, desde que o jornalismo vem sendo praticado na Internet,
entre um modus operandi ainda massivo até o funcionamento sistêmico-relacional dos sites de
A terceira parte destina-se às análises de sites que exemplificam a transição exposta no segundo
capítulo. Foram analisados os sites Caros Amigos, NoMínimo e OhMyNews International, que,
nessa ordem, demonstram a evolução entre um modo de atuação ainda ligado à experiências das
dessa nova práxis e a aplicação, de forma apropriada, das potencialidades dessa nova mídia – a
Internet –, que não substitui as demais, mas apresenta uma alternativa para a realização de um
1 CIBERESPAÇO
essas mudanças acontecem: o ciberespaço. Esse termo – do inglês cyberspace – foi criado por
William Gibson, no seu livro Neuromancer, de 1984. Para Gibson, apud Lemos1, o ciberespaço é
uma “alucinação consensual”, “um espaço não físico ou territorial, que se compõe de um
conjunto de redes de computadores através das quais todas as informações (sob as suas mais
Desde então, essa definição de Gibson foi se transformando. Com a rápida expansão das redes de
computadores, o termo ciberespaço caiu em senso comum e vem sendo usado erroneamente
como sinônimo para Internet – que representa o suporte midiático. De fato, a “rede das redes” é a
faceta mais aparente do ciberespaço, já que atualmente a Internet faz parte do cotidiano de
“Today one billion computers are connected to the Internet, most dialing in trough
telephone lines. By the end of 2010, Intel predicts that more than 1.5 billion computers
will be connected via high-speed broadband and another 2.5 billion phones will have
more processing power than today's PCs”2.
1
Disponível em http://www.futuro.eng.br/CIBER.html Acesso em: 19/08/2006
2
“Hoje um bilhão de computadores estão conectados à rede, a maioria discando a partir de linhas telefônicas. Até o
final de 2010, a Intel prevê que mais de 1,5 bilhão de computadores estarão conectados por meio de banda-larga de
alta velocidade e outros 2,5 bilhões de aparelhos telefônicos [celulares] terão mais capacidade de processamento que
os computadores atuais” [tradução nossa]. BOWMAN, Shayne & WILLIS, Chris. We Media: How the audiences are
shaping the future of news and information. Disponível em
http://www.hypergene.net/wemedia/download/we_media.pdf Acesso em: 19/08/2006
15
realidade, foi dada por Pierre Lévy (2000:92), que definiu o ciberespaço como “o espaço de
comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos
computadores”. Essa é uma definição que foi, com o passar do tempo e com a aplicação prática,
suplementada. A Internet, com todo esse seu potencial midiático de crescimento, deve ser
entendida como um dos componentes do ciberespaço, um novo ambiente que rompe com a
limitação das distâncias físicas para oferecer uma dimensão em que predomina o tempo real e
imediato.
Para demonstrar esta evolução conceitual, podemos recorrer inicialmente a Lemos, que define o
ciberespaço por meio de duas perspectivas: “como o lugar onde estamos quando entramos num
não, em todo o planeta (BBS3, videotextos, Internet...)”. Já Silva Jr. (2002:132) concebe o
O encontro desses elementos permite a criação de novos vínculos sociais. Pierre Lévy (2004:369)
3
Bulletin Board System: Um dos primeiros sistemas de troca de informações por computador.
16
pública mundial, o que terá profundas repercussões sobre a vida democrática”. Lemos afirma que
o ciberespaço aparece, então, como o ambiente pelo qual toda a sociabilidade contemporânea
Esta “rede de inteligências coletivas” representa uma fronteira entre o concreto – em que espaço e
tempo são entidades físicas bem definidas – e o imaterial – em que a noção de espaço é perdida
em função da noção de tempo real. Para Lemos, tal fato significa “a passagem da modernidade
(onde o espaço é esculpido pelo tempo) à pós-modernidade (onde o tempo aniquila o espaço); de
globalização é entendida por ele como um processo que “se inscreve na ordem info-temporal e
Sendo assim, ao mesmo tempo em que o ciberespaço representa uma ruptura, uma fronteira entre
o real e o virtual, revela-se também como um retorno às sociedades tribais, nas quais a
sociabilidade era submetida à proximidade física. Só que, no caso do ciberespaço, de acordo com
Vaz (2004:225), a proximidade é tecnológica, de todos com todos. “Eis o sonho: com a internet,
enfim, a troca de mensagens assemelha-se a um diálogo ou ao que ocorre numa praça ou numa
festa”.
Podemos considerar que as NTICs causaram impacto aos modelos teóricos tradicionais, que
[...] foi a emergência da comunicação planetária via redes de teleinformática que instalou
definitivamente a crise nesse exclusivismo [dos meios de comunicação de massa] e, com
ela, a generalização do emprego da palavra mídia para se referir também a todos os
processos de comunicação mediados por computador (SANTAELLA, 2002:45).
A partir dos anos 1980, novos equipamentos começaram a provocar mudanças nos processos de
4
PEREIRA, Fábio Henrique & MORAES, Francilaine Munhoz. Mas afinal, Internet é mídia? Artigo apresentado no
XXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom), Belo Horizonte, Setembro 2003.
Disponível em http://reposcom.portcom.intercom.org.br/bitstream/1904/5145/1/NP2PEREIRA_FABIO.pdf
Acesso em: 20/08/2006
18
Essa transformação citada por Santaella culmina com o advento da Internet, que nasceu no final
da década de 1960, nos Estados Unidos, como resultado de interesses militares. Em 1969, surgiu
a Arpanet, uma rede de computadores montada pela Advanced Research Projects Agency
(ARPA)6 e operada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos. O objetivo era criar, no
Caso um desses pontos fosse destruído, a comunicação entre os outros permaneceria intacta. A
Internet ficou restrita a objetivos militares até a década de 1990, período em que seu uso
comercial foi liberado, culminando com sua expansão para todo o mundo.
5
Pierre Bourdieu chama de bens simbólicos o resultado do processo de autonomização da produção intelectual e
artística. A vida intelectual e artística permaneceu durante toda a Idade Média e o Renascimento sob a tutela da
Aristocracia e da Igreja e esse processo de autonomização foi acelerado pela Revolução Industrial. Os bens
simbólicos são produtos, ou seja, valorizados como mercadoria.
Disponível em www.fmemoria.com.br/teoriaecritica/img/mercado_dos_bens_simb.pdf Acesso em: 28/08/2006
6
Agência do Departamento de Defesa Americano, hoje chamada The Defense Advanced Research Projects Agency
(DARPA). http://www.darpa.mil
19
Assim, a finalidade pela qual foi criada explica o caráter descentralizado da rede, em que todos os
nós são equivalentes e não existe um comando central. Essa arquitetura em forma de teia, com
comunicação vertical. Bowman & Willis7 chamam de broadcast (ou top-down news) e intercast
(ou bottom-up news), respectivamente, os modos de atuação dos meios de comunicação de massa
A primeira estratégia de publicação – broadcast (ou top-down news) – diz respeito ao processo
quase linear utilizado pelas organizações comunicacionais tradicionais (ver figura 1). São
estruturas sólidas e inflexíveis, regidas de acordo com decisões centralizadas, disseminadas para
comunicacional nesta estrutura, o sistema broadcast impõe uma rigidez que desumaniza as
relações entre os agentes envolvidos nos processos de comunicação. Os chefes afastam-se dos
editores, que se afastam dos repórteres, que se afastam de suas fontes e do leitor. As matérias
perdem profundidade e tornam-se valores de mercado que impulsionam uma marca, a do jornal,
informação e sua devida disseminação entre os setores da sociedade, esse sistema não é aplicável
à comunicação interativa.
7
Disponível em http://www.hypergene.net/wemedia/download/we_media.pdf Acesso em: 19/08/2006
20
espaço de informação (ver figura 2). O sistema bottom-up news cresce como seu próprio nome
denuncia: de baixo para cima, isto é, da base informativa, do universo de informações que
engloba a sociedade, as instituições e seus agentes. Desde a discussão da pauta, até apuração e
futuras correções, tudo pode ser feito nesses espaços que amalgamam as relações sociais. Ao
fomentar a livre participação dos indivíduos na construção da mensagem, esse sistema privilegia
8
Disponível em http://www.hypergene.net/wemedia/download/we_media.pdf Acesso em 20/08/2006 [tradução
nossa]
9
Disponível em http://www.hypergene.net/wemedia/download/we_media.pdf Acesso em 20/08/2006 [tradução
nossa]
21
Além da estrutura descentralizada, o modo de atuação nessa nova mídia lhe confere o caráter de
meio interativo, como confirma Primo (2004:47): “a interação não deve ser vista como uma
forma, a comunicação gerada nesse novo meio vai contra o modelo de comunicação tradicional,
considerada como meio de comunicação interativo. Por isso, os marcos teóricos tradicionais,
aplicados aos meios de comunicação de massa, tornam-se ineficientes para se avaliar a prática
autores: o da interatividade. De acordo com Morris & Ogan, “This concept has been assumed to
be a natural attributte of interpersonal communication, but […] it is more recently applied to all
new media”11.
O termo interatividade ganhou força com o advento da Internet, apesar de já ser presente, com
menos intensidade, nos meio convencionais. Brecht (1984) já pensava sobre o conceito na sua
10
Interagentes são os indivíduos (jornalista, fonte, especialista, instituição, entusiasta, etc) envolvidos na construção
de conteúdos nesse sistema de interlocução horizontal, sendo cada um deles um nó na rede.
11
“Esse conceito [interatividade] já foi assumido como atributo natural da comunicação interpessoal, mas [...] é mais
recentemente aplicado para todas as novas mídias” [tradução nossa]. MORRIS, Merril & OGAN, Christine. The
Internet as Mass Médium. Disponível em http://jcmc.indiana.edu/vol1/issue4/morris.html Acesso em: 26/08/2006
22
"Teoria do Rádio", que esboçou entre 1927 e 1932. Ele imaginou um meio em que o ouvinte
Brecht acreditava que essa situação só seria possível com a superação da sociedade burguesa, e
sua utopia povoou o imaginário de quase todos os teóricos do rádio que vieram depois.
Finalmente, parecem estar dadas as condições técnicas para a sua realização, por meio da
informações confere à Internet uma interatividade bem mais significativa em comparação com as
Para Mielniczuk (2001:175), a interatividade na comunicação é determinada por três fatores: uma
ação comum entre dois ou mais agentes, a capacidade igualitária de ação desses agentes de forma
12
[...] para descobrir o positivo da radiodifusão, uma proposta para mudar o funcionamento do rádio: há que se
transformar o rádio, convertê-lo de aparato de distribuição para aparato de comunicação. O rádio seria o mais
fabuloso aparato de comunicação imaginável da vida pública, um sistema de canalização fantástico, se servisse não
somente para transmitir, mas também para receber; portanto, seria não somente ouvir o rádio, mas também fazê-lo
falar; não se isolar, mas pôr-se em comunicação com ele [tradução nossa].
13
CAMPOS, Pedro Celso. Jornalismo Digital: novos paradigmas de produção, emissão e recepção do discurso.
Disponível em http://paginas.terra.com.br/educacao/pedrocampos/jornalismodigital.htm. Acesso em: 22/08/2006
23
Steuer, apud Primo (2004:45), a interatividade é definida como “a extensão em que os ‘usuários’
envolvimento e seria uma variável direcionada pelo estímulo e determinada pela estrutura
tecnológica do meio. Rafaeli, apud Primo (2004:37), diz que “interactivity is a widely used term
Primo (2004:51) afirma que os diversos enfoques utilizados para o termo interatividade levam a
um conceito elástico e impreciso. O autor utiliza o conceito de interação15 para definir a relação
Estabelece-se dois tipos de interação mediada por computador: reativa e mútua. A interação
reativa pressupõe previsibilidade e automatização das trocas, ocorrendo quando existem opções
um ambiente virtual. A interação mútua é imprevisível, pois cada ação dos participantes repercute
14
“interatividade é um termo usado amplamente com um apelo intuitivo, mas é um conceito subdefinido” [tradução
de Primo].
15
Primo destaca que, segundo os estudos em lingüística histórica de Starobinsky, a palavra “interação” não possui
antecedentes na língua latina clássica, e deriva do verbo inglês to interact, que significa agir reciprocamente, de
acordo com o Oxford English Dictionary, de 1839.
24
virtuais, nas quais os indivíduos interagem, exercendo influências entre si e nos discursos.
indivíduo criar seu próprio sistema comunicacional na rede, na qual ele encontra as ferramentas
necessárias para produzir a mensagem e, o mais importante, o canal para veicular o que lhe
convier. Têm-se, agora, novas condições para a prática jornalística, pois a produção da mensagem
jornalista uma nova postura diante da inserção de outros atores no processo da construção da
notícia.
O jornalismo está presente na Internet desde que esta mídia começou a ser utilizada
comercialmente, em meados da década de 1990. Durante esses anos em que a rede vem sendo
usada para fins jornalísticos, Silva Jr.16 identificou três fases históricas distintas no
parte dos conteúdos das publicações impressas, não apresentando diferenças na estrutura das
matérias. A atualização de conteúdo também seguia o deadline dos veículos originais. A Internet
16
Disponível em www.bocc.ubi.pt/pag/junior-jose-afonso-interfaces-mediadoras.pdf Acesso em: 19/08/2006.
25
A fase perceptiva caracteriza-se pela incorporação de alguns recursos oferecidos pela Internet. Os
produtos, mesmo ainda atrelados ao modelo da mídia impressa, começam a explorar ferramentas
que possibilitam interatividade: passam a utilizar links entre os conteúdos; o e-mail passa a ser
utilizado como forma de comunicação entre leitor e jornalista; a memória começa a ser
A terceira e atual fase é marcada pelo uso efetivo das potencialidades hipermidiáticas oferecidas
pela rede. Isso significa que as publicações típicas dessa fase não somente exploram as
possibilidades que a Internet oferece, mas também possuem um modus operandi específico para a
hipertexto – conjunto de documentos textuais interligados por links, permitindo a consulta das
entanto, Silva Jr. (2002) atenta para o fato de que entender hipermídia apenas como a
ser ilimitada, os recursos multimídia dizem respeito apenas a formatos de mídia fechados,
reunidos num processo narrativo em que o interagente não tem condições de agregar conteúdo.
apud Palácios (2003:21), estabelece como lógica de demanda – própria das NTICs, que
26
de oferta – característica dos meios de comunicação de massa, que trabalham com a emissão por
meio do modelo “um-todos”. Silva Jr. (2002:132) conclui que, no meio interativo, “o conteúdo
encontra-se disponível, e não mais depositado para ser descarregado de maneira massiva e não
interacional”.
Resta compreender que o conceito engloba também o modo de atuação nesse novo meio. Como
atesta Silva Jr. (2002:137): “a hipermídia aponta para a compreensão de todo um processo de
ambiente estão presentes e condicionados à dinâmica dos conteúdos gerados”. Analisar como se
dá esse processo de mediação no ciberespaço é o objetivo dessa pesquisa, com a qual pretende-se
tradicional do fazer jornalístico, pois o fato de qualquer indivíduo conectado à rede poder acessar
e publicar conteúdo aponta para uma situação em que “os papéis que o jornalismo atribuiu a si
mesmo em meados do século XIX, (...) como gatekeeper, agenda-setter e filtro noticioso, estão
Hall acrescenta que, “a partir do momento em que os leitores se tornam seus próprios contadores
de histórias, o papel de gatekeeper passa, em grande parte, do jornalista para eles”. O autor,
17
HALL, Jim. Online Journalism - a critical primer. London: Pluto Press, 2001 apud AROSO, Inês Mendes Moreira.
A Internet e o novo papel do jornalista. Disponível em www.bocc.ubi.pt/pag/aroso-ines-internet-jornalista.pdf.
Acesso em: 19/08/2006
27
apesar de anunciar o fim do gatekeeper na Internet, vislumbra uma nova atribuição do jornalista
nesse meio: “os jornalistas adicionaram a função de cartógrafo ao seu papel e, na biblioteca
universal que é a Internet, também se tornaram autenticadores e desenhadores para aqueles que
seguem os mapas que eles desenham” (HALL apud AROSO). Vaz (2004:218) reforça essa idéia
jornalístico, que atualmente é praticado em publicações pensadas exclusivamente para web – que
pertencem ao que chamaremos de webjornalismo –, mas não significa que as versões digitais de
veículos tradicionais – que se enquadram no que chamaremos de jornalismo online – não possam
No que diz respeito aos termos aqui utilizados (webjornalismo e jornalismo online), é importante
dizer que diferentes nomenclaturas, além dessas, têm sido usadas para definir a prática
Com o aparecimento da internet verificou-se uma rápida migração dos mass media
existentes para o novo meio sem que, no entanto, se tenha verificado qualquer alteração
na linguagem. O chamado "jornalismo online" não é mais do que uma simples
transposição dos velhos jornalismos escrito, radiofónico e televisivo para um novo meio.
Mas o jornalismo na web pode ser muito mais do que o actual jornalismo online. Com
base na convergência entre texto, som e imagem em movimento, o webjornalismo pode
explorar todas as potencialidades que a internet oferece, oferecendo um produto
completamente novo: a webnotícia [grifo nosso].
18
Disponível em http://www.bocc.ubi.pt/pag/canavilhas-joao-webjornal.pdf Acesso em: 20/08/2006
28
eram chamados de receptores. Tal termo torna-se impróprio, pois “a Internet como meio de
que cada nó possa produzir e distribuir mensagens” (VAZ, 2004:225). Sendo assim, as noções de
conceito: o termo prosumidores (do inglês prosumer), cunhado pelo norte-americano Alvin
aponta para uma atenção redobrada em relação ao princípio básico do jornalismo, que é fomentar
transformá-la.
Para que o jornalista possa desempenhar adequadamente esse novo tipo de mediação, que leva
reconfiguram o espaço público. Tal espaço é definido por Wolton (2004:511) como o elemento
19
Ver TOFFLER, Alvin. A terceira onda. 15ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1995.
As três ondas a que Alvin Toffler se refere são o mundo agrícola, o mundo do industrialismo e, agora, o mundo da
informação e da tecnologia. Já na década de 1970, Alvin Toffler anunciava que uma nova sociedade estava tomando
forma, baseada no emprego crescente da tecnologia, na globalização da economia, na abolição de fronteiras, na
universalização da comunicação. Toffler, com o conceito de prosumidor, pretendia fazer uma sobreposição entre os
produtores e os consumidores, de bens ou serviços.
29
simbólico “no qual se opõem e se respondem os discursos, na sua maioria contraditórios, dos
agentes políticos, sociais, religiosos, culturais e intelectuais que constituem uma sociedade”.
Essa definição de Wolton dialoga com a idealização do espaço público de Habermas (1984). Esse
último autor relata como esse ideal se declina por meio da massificação da cultura, proporcionada
pelo surgimento dos meios de comunicação de massa, que transformam os indivíduos em meros
revitalização da esfera pública, à medida que possibilitam que os indivíduos sejam incorporados
No entanto, tal revitalização é condicionada pela mediação webjornalística, que impede que o
culmine num caos informacional. Nessa linha de raciocínio, Morin (2004:12) diz que “a
idéia ao dizer que “quanto mais há informação e comunicação, transparência e imediatez, mais se
Além de organizar esse fluxo caótico de informação, o webjornalista aparece, também, como
comunidades virtuais, reconhecendo, como aponta Rocha (2006)20, “tanto os pontos divergentes
Esse novo modelo de produção jornalística impõe alterações significativas na mediação, que
passa “de uma ‘estrutura monopolista’ para processos de co-enunciação” (ROCHA, 2005)21. O
disponibilização de conteúdos.
A Internet, desde a sua criação, vem sendo utilizada jornalisticamente de duas formas: como
ferramenta para auxiliar a prática jornalística convencional dos meios de comunicação de massa
(representa apenas uma forma a mais de obter conteúdos, além dos métodos tradicionais) e como
mídia propriamente dita, explorando – em maior ou menor grau – as particularidades desse meio.
No primeiro caso, verifica-se o uso reducionista das NTICs como um apêndice do processo de
conceitos como jornalismo de precisão22 – cujo nascimento coincidiu, segundo Meyer, apud
Lima23, com o acesso, pelos veículos, a computadores e bases de dados, nos anos 1970 – e
reportagem assistida por computador24. Essas formas práticas de jornalismo usam a tecnologia
o que faz com que as implicações tecnológicas do ciberespaço não sejam aproveitadas em todo
seu potencial.
permanece [sic] circunscrita [sic] aos limites do ciberespaço"26. No entanto, o jornalismo online,
por se tratar das versões digitais de publicações offline, não utiliza a contento essa potencialidade
Machado defende a hipótese de que “o futuro dos projetos jornalísticos empreendidos no suporte
22
A partir da década de 80, grandes jornais americanos passaram a fundamentar suas notícias e reportagens em
pesquisas próprias, tanto por desacreditarem nas pesquisas solicitadas por políticos, quanto pelas baixas tiragens que
levaram os editores desses jornais a procurar o aperfeiçoamento do produto jornalístico por meio de cobertura mais
científica.
23
Disponível em http://www.cem.itesm.mx/dacs/publicaciones/logos/anteriores/n22/22_lsilva.html Acesso em:
28/08/2006
24
Ou computer-assisted reporting (CAR). É um conjunto de técnicas para capacitar jornalistas a utilizar os recursos
oferecidos pela informática em sua busca por informação, tornando-os capaz de lidar com ferramentas como bancos
de dados, Internet, planilhas eletrônicas, entre outras.
25
MACHADO, Elias. O ciberespaço como fonte para os jornalistas. Disponível em www.bocc.ubi.pt/pag/machado-
elias-ciberespaco-jornalistas.pdf Acesso em 19/08/2006
26
MACHADO, Elias. O ciberespaço como fonte para os jornalistas. Disponível em www.bocc.ubi.pt/pag/machado-
elias-ciberespaco-jornalistas.pdf Acesso em 19/08/2006
32
para que ele exerça o seu papel de “cartógrafo da informação”27, pensando e realizando a
virtual.
Um jornalista, ao conceber sua matéria, pode navegar por variados bancos de dados (estatísticas,
estudos, artigos, infográficos, animações, fotos, vídeos), para se interar sobre determinado
assunto, conseguir as fontes ou mesmo apurar a veracidade das informações enviadas por
interessadas ou próximas do fato, membros de listas de discussão e fóruns, etc.) por meio das
chats, programas de mensagens instantâneas, programas de voz por IP). Na hora de produzir e
estrutura hipertextual, inserindo links para os diversos conteúdos que utilizou. Assim, ele sugere
aos prosumidores várias possibilidades de navegação, de forma que o próprio interagente possa
criar o seu percurso narrativo de acordo com seus interesses, e, em alguns casos, interferir no
27
Ver ROCHA, Jorge. O papel dos jornalistas nos processos interacionais do Participatory Journalism. Artigo
apresentado no XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom), Brasília, Setembro 2006.
Disponível em CD-Rom.
Rocha conceitua cartografia da informação como “processo de organização de significados em uma rede inter-
relacional comunicativa”. Esse conceito é detalhado no próximo capítulo.
33
É possível perceber que, com esse processo de construção da notícia, prioriza-se muito menos as
fontes oficiais para privilegiar as fontes independentes28. Atores políticos, que até então só
apareciam na mídia quando envolvidos em algum fato inusitado, passaram a ter espaço na mídia
interativa e a figurar como fontes difusoras não menos importantes que as oficiais. A preferência
dos meios de comunicação de massa pelas fontes oficiais se justifica pela credibilidade das
instituições, respaldadas por suas reputações. Porém, Machado, citando Lage, alerta que
o mau hábito de julgar as fontes oficiais como as mais confiáveis trata-se de um vício no
jornalismo porque a mentira ocupa lugar estratégico nas intervenções de personalidades
ou instituições vinculadas aos poderes fáticos quando da defesa de interesses particulares,
difundidos como manifestação da vontade coletiva.
conteúdo. Isso tira do jornalista a exclusividade de escolher o que irá figurar no espaço público
Fica evidenciada tanto uma certa diluição do papel do jornalista como único intermediário
para filtrar as mensagens autorizadas a entrar na esfera pública [gatekeeper], quanto das
fontes profissionais como detentoras do quase monopólio de acesso aos jornalistas.
O próximo capítulo se destina exatamente a analisar como acontece essa diluição do papel do
jornalista como gatekeeper dentro do processo de transição entre um fazer jornalístico ligado aos
métodos tradicionais e uma nova práxis que opera numa perspectiva sistêmico-relacional.
28
Ver LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record,
2001.
Para Lage, as fontes podem ser classificadas em oficiais, oficiosas e independentes. Fontes oficiais são mantidas pelo
Estado, por instituições que preservam algum poder de Estado (como as juntas comerciais e os cartórios de ofício) ou
por empresas e organizações (como sindicatos, associações, fundações). Fontes oficiosas são aquelas que,
reconhecidamente ligadas a uma entidade ou indivíduo, não estão, porém, autorizadas a falar em nome dela ou dele,
o que significa que o que disserem poderá ser desmentido. Fontes independentes são aquelas desvinculadas de uma
relação de poder ou interesse específico em cada caso.
34
americana (Mass Communication Research) – que surge com a difusão dos meios de
massivo. O presente trabalho pretende verificar se tais modelos podem ser aplicados ao
pretende sistematizar quais são as efetivas modificações com relação ao Newsmaking (que se
que o termo gatekeeper29 foi apropriado por David Manning White nos estudos do jornalismo na
29
O termo foi cunhado por Kurt Lewin, em 1947, em um estudo de psicologia social que analisava as dinâmicas das
decisões na esfera familiar, em especial no que se refere à modificação dos hábitos alimentares. Ao identificar os
canais pelos quais passa uma seqüência de comportamentos, Lewin percebe que existem zonas que funcionam como
filtro, controladas por gatekeepers, que deixam ou impedem a passagem de informações (WOLF, 1995).
35
década de 1950. White aponta em seu estudo30 que as tomadas de decisão acerca do que viria a
ser publicado ou não partiam do próprio jornalista, de acordo com critérios subjetivos, ou seja,
expectativas”.
Em 1955, o sociólogo norte-americano Warren Breed publicou um artigo no qual atribui o peso
pelas empresas de comunicação. O autor aponta que os valores editoriais da empresa acabam por
pesar mais que as crenças pessoais do jornalista. Analisando este processo histórico, Traquina
(2001:70) explica que a teoria do gatekeeper de White é “uma concepção bem limitada do
trabalho jornalístico, sendo uma teoria que se baseia no conceito de seleção, minimizando outras
dimensões importantes do processo de produção das notícias”. Donohue, Tichenor & Olien, apud
Wolf (1995:163), mostram que há muito mais fatores envolvidos na transmissão das mensagens
O gatekeeping nos mass media inclui todas as formas de controle da informação, que
podem estabelecer-se nas decisões acerca da codificação de mensagens, da selecção, da
formação da mensagem, da difusão, da programação, da exclusão de toda a mensagem ou
de suas componentes.
Podemos então considerar que a maior parte do trabalho de gatekeeping cabe ao espaço
organizacional, pois coloca limites ao trabalho do jornalista, que acaba por se submeter às
políticas e aos interesses corporativos. Hohlfeldt (2001:205) argumenta que esses processos
atribuem aos meios de comunicação uma função de “controle social desenvolvido a partir do
30
White acompanhou o trabalho de um jornalista de meia-idade, de um jornal norte-americano de médio porte. O
jornalista anotou, durante uma semana, os motivos que o levaram a escolher ou não determinadas matérias
(TRAQUINA, 2005).
36
Breed, apud Wolf (1995), argumenta que esses critérios organizacionais, que acabam por manter
a linha editorial dos jornais, são apreendidos por um “processo de osmose”, no qual o jornalista é
enquadrado em uma espécie de código de conduta velado, passado por meio da experiência e do
contato com membros mais antigos da organização. Isso leva a uma situação em que o
profissional, “em vez de aderir a ideais sociais e profissionais, redefine os seus próprios valores
ao nível mais pragmático do grupo redactorial” (BREED, apud WOLF, 1995:164). Portanto, o
que não significam manipulação, pura e simplesmente, eis que não são distorções
deliberadas, mas involuntárias, inconscientes, que podem chegar, por isso mesmo, a
níveis bem mais radicais e perigosos na medida em que omitem ou marginalizam
acontecimentos que, por vezes, poderiam ser efetivamente importantes e significativos
ao menos para determinadas coletividades (HOHLFELDT, 2001:206).
organização do trabalho. Existe uma série de convenções que determinam o que é ou não notícia,
estabelecendo-se assim o conceito de noticiabilidade, entendido por Wolf (1995) como a aptidão
que cada fato possui para ser transformado em notícia. Segundo Hohlfeldt (2001:208), existe um
comunicação de massa escolhem, dentre múltiplos fatos, aqueles que adquirirão o status da
37
noticiabilidade”. Esses critérios são conhecidos como valores-notícia e são utilizados de forma
combinada para realizar-se a escolha dos acontecimentos que serão transformados em matéria
envolvimento de personalidades famosas, e mais uma série de questões que variam de acordo
concorrência.
No que diz respeito ao formato e à rotina de produção noticiosa, mais limitações são colocadas ao
jornalista: o espaço (limite físico – das publicações impressas – e temporal – das publicações de
rádio e TV) e o tempo (respeito aos deadlines dessas publicações), que acabam muitas vezes por
Uma outra questão importante é a captação das informações. As fontes representam um fator
importante na qualidade das notícias produzidas pelos meios de comunicação. Pode-se notar que
Diante de todos esses pontos aqui abordados, percebemos que, se os estudos em torno do
Newsmaking são realizados sob a perspectiva dos emissores, existe a contrapartida de todos esses
fatores no âmbito da recepção. A questão dos efeitos das mensagens produzidas pelos veículos de
comunicação de massa e a maneira como esses meios constroem a imagem da realidade social
influência que a mídia exerce sobre o público, tal hipótese torna-se, então, mais uma premissa no
Os estudos sobre os efeitos dos meios de comunicação de massa estabeleciam, a princípio, que as
influências sobre o público eram mudanças a curto prazo31. Hoje, essa noção não é mais válida e
os efeitos são entendidos como conseqüências de médio e longo prazos, que criam um efeito
cognitivo e cumulativo nos receptores, não impondo determinados conceitos, mas “incluindo em
nossas preocupações certos temas que, de outro modo, não chegariam a nosso conhecimento e,
Um dos marcos desses estudos em torno dos efeitos da mídia é a hipótese da Agenda-setting. Em
1972, McCombs e Shaw, ao analisarem os efeitos da mídia, lançaram tal termo na literatura
acadêmica de comunicação, num artigo científico que se referia a uma pesquisa dos autores
realizada dois anos antes. A pesquisa consistia em acompanhar as discussões dentro de grupos e
31
Quando o conceito de agendamento foi utilizado pela primeira vez, por McCombs e Shaw em 1972, o paradigma
vigente apontava que o poder a mídia era reduzido e os seus efeitos limitados.
39
explicita Traquina (2001:18), nos anos 1920, Walter Lippman já havia ressaltado a existência de
uma forte relação entre as agendas midiática e pública, argumentando que “os mass media são a
mente”. A hipótese da Agenda-setting, segundo Shaw, apud Wolf (1995:130), dispõe que:
Sendo assim, Ferreira (2002) aponta que a hipótese da Agenda-setting pressupõe um impacto
comunicação de massa promovem uma tematização, conhecida como ordem do dia, que são os
assuntos que se tornarão temas da agenda do público, ou seja, o que a mídia aborda será o objeto
de conversa entre as pessoas; 2) acontece também uma imposição com relação à hierarquia
desses assuntos, ou seja, os temas de relevo na mídia serão também os mais importantes para o
público.
escolhidos para serem veiculados), o segundo refere-se à agenda púbica (que estuda a relativa
governamentais (as agendas das entidades do governo). Traquina (2001:24) afirma que “o campo
jornalístico constitui um alvo prioritário da ação estratégica dos diversos agentes sociais, em
40
particular, dos profissionais do campo político”. Assim, o grau de autonomia da agenda da mídia,
mais precisamente da agenda jornalística, é limitado pelas influências das agendas político-
governamentais. Isso justifica, muitas vezes, o fato de os jornalistas priorizarem as fontes oficiais.
Com menor grau de influência, existem ainda outros fatores que interferem no processo de
afirmam que o agendamento nem sempre se aplica a todas as pessoas, argumentando que as
pessoas mais suscetíveis aos impactos do processo de agendamento são aquelas que necessitam
de algum tipo de “orientação” em relação aos assuntos na agenda pública. A natureza do assunto
sociedade tem alguma experiência promovem um agendamento menor do que aquelas sobre as
quais a comunidade tem experiência mínima ou nenhuma. No que diz respeito à questão
temporal, percebe-se que a mídia define o tempo que a discussão sobre determinado assunto
Mas, como aponta Traquina (2001:29), as variáveis mais importantes que determinam a agenda
seja, as fontes, e os recursos que possuem para ter acesso ao campo jornalístico.
Sendo assim, Newsmaking e Agenda-setting podem ser entendidos como duas faces da mesma
que as pessoas incluem e excluem na lista dos assuntos que devem priorizar. Devido ao caráter
41
pública e do pensamento da sociedade. Por isso, é visível o papel ativo dos jornalistas na
que os profissionais da notícia cumpram com sua função social sem sofrer tantas limitações no
que vai figurar no espaço público constituído pelas trocas informacionais neste meio.
Apesar das diferenças apontadas no primeiro capítulo deste trabalho entre os meios de
são utilizados na análise das NTICs. Consideramos que os processos informacionais em espaços
relacionais são marcados por uma transição entre um pensamento massivo – predominante na
É importante ressaltar que as hipóteses do Newsmaking (em que a figura do gatekeeper aparece
recepção dos meios de comunicação de massa. Como já foi visto anteriormente, em razão da
32
Ver BERGER, Peter L. & LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade: tratado de sociologia do
conhecimento. Tradução de Floriano Souza Fernandes. Petrópolis: Vozes, 1985. Original Inglês.
Berger & Luckmann propõem, por meio de uma análise do conhecimento na vida cotidiana, uma teoria da sociedade
como um processo dialético entre a realidade objetiva (instituições e leis) e subjetiva (identidade pessoal e estrutura
social).
42
entre os sujeitos, ou seja, analisar a comunicação no ciberespaço por meio de uma abordagem
Essa abordagem tem suas bases nos estudos de um conjunto de autores – antropólogos (Gregory
Bateson, Erving Goffman, Edward T. Hall, Ray Birdwhistell) e psiquiatras (Jurgen Ruesch, Don
D. Jackson, Paul Watzlawick, Albert E. Scheflen) – da Escola de Palo Alto. Tais estudos,
realizados nas décadas de 1950 e 1960, ficaram conhecidos como “pragmática da comunicação”
e são responsáveis por uma superação dos modelos lineares e transmissivos apresentados pelas
humana numa perspectiva “orquestral” (em que todos os elementos envolvidos na comunicação
modelos “telegráficos” tradicionais (em que uma mensagem é transmitida de um pólo a outro).
comunicativa de maneira ativa, sem “congelar” seu papel em uma função de emissor ou receptor,
já que esses papéis são constantemente permutados entre um conjunto de interlocutores que
intervêm nessa mesma ação. Tal perspectiva se aplica às NTICs, pois os interagentes passaram a
43
possuem as mesmas condições de publicar conteúdo, desde que munidos do aparato técnico
necessário (computador e capacidade de acesso à rede, uma vez que os processos de inserção de
rede (o que não acontece nos veículos de massa, ou seja, não se interage com as mídias televisiva
Para os autores da Escola de Palo Alto, o conceito de comunicação é visto exatamente como essa
interação, que, por sua vez, é tratada como um sistema. Watzlawick (1967:108) utiliza as
propriedades da Teoria Geral dos Sistemas33 para proporcionar uma compreensão da natureza dos
sistemas interacionais. O autor cita Birdwhistell para mostrar o caráter sistêmico da comunicação:
É por meio desse raciocínio sistêmico que podemos compreender como se organizam as práticas
modificação) são resultantes da intervenção dos diversos atores envolvidos na ação comunicativa.
Dentro dessa perspectiva sistêmico-relacional, as propriedades dos sistemas abertos, citadas por
33
A Teoria Geral dos Sistemas foi desenvolvida em 1936 pelo biólogo húngaro Ludwig von Bertalanffy. Sua idéia
central é o desenvolvimento de uma teoria de caráter geral, que possa ser aplicada a fenômenos semelhantes que
ocorrem em uma diversidade de campos específicos de conhecimento. Existem dois tipos de sistemas: fechados, que
não têm qualquer relação com o respectivo ambiente, e abertos, que estabelecem uma inter-relação com o ambiente
que o rodeia. Os sistemas sociais correspondem ao segundo tipo.
44
Watzlawick (1967), e que dialogam com a Teoria da Complexidade de Morin (1991), ajudam a
A primeira propriedade, a globalidade, diz que “toda e qualquer parte de um sistema está
relacionada de tal modo com as demais que uma mudança numa delas provocará uma mudança
(adaptação relativa à sua evolução), que pode ser sintetizada em dois pontos: singularização –
(MORIN, 1991). Dentro dessa noção, estão os princípios da não-somatividade – um sistema não
pode ser visto como a soma de suas partes – e da não-unilateralidade – uma parte não tem como
inter-relacional, ao invés de cadeias lineares de causa e efeito, que leva a uma mudança ao longo
do tempo, de forma que os resultados influenciam as informações originais e assim por diante. A
última propriedade diz respeito à eqüifinidade, que, segundo Watzlawick (1967:115), “significa
que os mesmos resultados podem brotar de diferentes origens, porque a natureza da organização é
Em contraste com os estados de equilíbrio nos sistemas fechados, que são determinados
por condições iniciais, o sistema aberto pode atingir um estado independente do tempo,
independente das condições iniciais e determinado apenas pelos parâmetros do sistema
(BERTALANFFY apud WATZLAWICK, 1962:115)
34
Tais pontos serão explicados mais detalhadamente no terceiro capítulo deste trabalho.
45
portanto, como um sistema complexo, no qual a atuação jornalística está vinculada ao conceito de
gatekeeping é minimizado, cedendo espaço a uma nova práxis, a qual Rocha35 chama de
comunicativas inter-relacionais.
Esta mudança no tipo de mediação jornalística pode ser verificada ao longo dos anos em que a
Internet é utilizada como mídia. A primeira geração de sites jornalísticos é marcada por um modo
de atuação ainda massivo, já que havia apenas a transposição do conteúdo dos veículos impressos
para a web. Na segunda geração, começa-se a perceber o início do pensamento interativo: alguns
elementos hipermidiáticos começam a ser utilizados, mas o padrão da produção de notícias ainda
é o mesmo da edição impressa. Nessas duas primeiras fases do jornalismo na Internet, podemos
deste trabalho) também são regidos pela lógica da comunicação de massa e, portanto, preservam
os papéis clássicos atribuídos ao jornalista, assim como as relações viciadas entre as organizações
35
ROCHA, Jorge. O papel dos jornalistas nos processos interacionais do Participatory Journalism. Artigo
apresentado no XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom), Brasília, Setembro 2006.
Disponível em CD-Rom.
36
Embora comecem a ser minimizadas na transição entre as etapas perceptiva e hipermidiática.
46
na produção do conteúdo, criando uma narrativa específica para esse novo meio. É a partir de
então que o pensamento massivo é abandonado, dando lugar ao pensamento interacional. Por
isso, os conceitos clássicos começam a ser questionados. Primo & Träsel usam o neologismo
gatewatching, criado por Bruns, em oposição à noção de gatekeeping presente nos meios de
comunicação de massa:
Esse termo cunhado por Bruns ainda é insuficiente para abordar o novo tipo de mediação que o
jornalista assume na web, em sua etapa hipermidiática, na qual sistemas colaborativos, como
livre da necessidade de condensar todos os dados em sua própria matéria” (PRIMO & TRÄSEL),
2006). Dessa forma, o jornalista aparece como cartógrafo de informação, ou seja, aquele que,
37
PRIMO, Alex & TRÄSEL, Marcelo Ruschel. Webjornalismo participativo e a produção aberta de notícias. In:
VIII Congresso Latino-americano de Pesquisadores da Comunicação, 2006. São Leopoldo: Anais, 2006.
Disponível em http://www6.ufrgs.br/limc/PDFs/webjornal.pdf Acesso em: 08/09/2006
38
Wikipedia é uma enciclopédia livre, escrita de modo colaborativo por muitos de seus leitores.
http://www.wikipedia.org
47
Figura 3
Essa nova atribuição do jornalista – a cartografia da informação – encontra seu espaço nos sites
leitura para outras publicações (o que não se verifica nos sites de jornalismo online, que
apresentam na maioria das vezes apresentam somente links internos, configurando apenas uma
interação do tipo reativa), o webjornalista proporciona uma interação mútua – na qual verifica-se,
39
Conceito utilizado pelos sites de jornalismo colaborativo para designar os membros da audiência que participam
do processo de construção
40
São referências num documento em hipertexto a outro documento ou a outro recurso. Significa "atalho",
"caminho" ou "ligação". Utilizando hiperlinks (ou apenas links) é possível produzir narrativas não lineares.
48
A sobrecarga cognitiva de que fala Rocha é proporcionada pelo imenso volume de informações
inseridos a cada dia. Isso justifica a necessidade desse novo mediador, o cartógrafo da
Portanto, a cartografia da informação atinge seu auge em sites que propiciem a participação ativa
dos interagentes. Primo e Träsel destacam que esses sites não apenas oferecem a possibilidade de
É esse processo interacional típico das redes telemáticas que proporciona a subversão de práticas
de construção da notícia, retira-se do jornalista o monopólio do jogo informativo (e, por isso, o
caráter de controle social da mídia Internet), tanto no que diz respeito à seleção dos temas
(gatekeeping) quanto no que tange à produção. Como é o cidadão comum quem participa
No que diz respeito aos processos de agendamento, a própria lógica de funcionamento da Internet
– que funciona por demanda, e não por oferta como os meios tradicionais – já proporciona um
despejada na audiência. Sendo assim, os temas discutidos na rede podem ser definidos pelo
comunicação de massa. Ou seja, a definição temática e a hierarquia dos assuntos não vêm da
mídia, e sim dos próprios interagentes. Isso faz com a cobertura webjornalística contemple mais o
interesse público, e não somente o que interessa aos grandes grupos políticos e econômicos.
fontes oficiais. Ou seja, todos os setores da sociedade podem ser contemplados nas matérias
webjornalísticas, promovendo uma abordagem muito mais profunda do que a cobertura realizada
O tempo em que os assuntos permanecem em pauta na Internet também é uma questão que foge
da imposição midiática, pois não há previsão de como e quando e discussão vai acabar. O espaço,
por ser ilimitado, também é um diferencial em relação aos veículos massivos, não significando,
portanto, uma restrição para a seleção dos acontecimentos que serão publicados.
massa, pois o fato de a audiência dispor de meios para acessar e publicar as informações que
deseja pode fazer com que o processo de seleção de notícias nos meios massivos contemple mais
importância dos jornalistas, também pode proporcionar benefícios para o jornalismo offline.
51
3 ANÁLISE DE SITES
Vimos que a prática jornalística na Internet obedece a uma escala evolutiva desde o início da
utilização da web como mídia. Este capítulo destina-se a exemplificar como acontece a transição
entre um modus operandi ainda massivo (fase transpositiva), passando por uma etapa
intermediária que já começa a explorar as possibilidades da rede (fase perceptiva), até chegar ao
durante o mês de outubro de 2006 e, para tanto, foram escolhidas categorias de avaliação do uso
se analisar se o site opera apenas atrelado ao sistema broadcast (ou top-down news) ou se respeita
as potencialidades do sistema intercast (ou bottom-up news). Para avaliar esse processo de
singularização – que está associada com a relação entre parte e todo – diz respeito à maneira
como o material publicado ocupa o espaço disponível e, principalmente, como este espaço é
pensado. Assim, por meio dessa observação pode-se constatar como o site trabalha em relação ao
característica da eqüifinidade dos sistemas abertos e com a relação entre parte e parte – diz
52
respeito ao fato de o sistema permitir e/ou fomentar a participação do usuário. Nesse aspecto,
pretende-se analisar que tipos de ferramentas e espaços foram preparados para tanto, como
funcionam e como o contato entre a audiência e o núcleo gestor do site pode colaborar para o
inter-relacional. Para melhor compreender esse processo e sua aplicação na mídia Internet, é
necessário antes entender o que é enunciação e enunciado. De acordo com Fiorin (2002:31), “a
enunciação é o ato pelo qual o sujeito constrói o sentido, e o enunciado é o objeto que auxilia a
definição deste sujeito”. Dessa forma, as análises relativas aos processos de co-enunciação
mostram que é preciso buscar elementos do ato (enunciação) em seu produto (enunciado) para
compreender esta relação que configura “um ato comunicacional dinâmico ou performance”
(FIORIN, 2002:34).
da possibilidade dos usuários atribuírem mérito ou demérito a alguma informação – fazendo uma
A hierarquização aborda práticas muito semelhantes às encontradas nas rotinas produtivas dos
processos de edição e recorte feitos por núcleos isolados do sistema. Assemelha-se ao trabalho de
um editor na elaboração da primeira página de um jornal: decidir o que vai aparecer ali ou não.
rígidos de estruturação e não permite que a importância dada a determinado material seja
“primeira página” do site de acordo com a qualidade do material lido, sem depender direta e
pontos, mas não interfere na posição ocupada pelas matérias, enquanto o enquadramento pretende
potencialidades da rede. Isso é possível fazendo referência a outros sites por meio de links (fora
do domo informacional do site em que trabalha), utilizando áudio e imagem, podcasting41, dentre
41
Podcasting é a forma de publicação de programas de áudio e/ou vídeo pela Internet. A palavra "podcasting" é uma
junção de iPod - um aparelho que toca arquivos digitais MP3 - e broadcasting (transmissão de rádio ou TV). Assim,
podcast são arquivos de áudio ou vídeo que podem ser acessados na Internet.
54
acordo com sua vontade. Como, por exemplo, trabalhar no site um sistema que apresente somente
as editorias que lhe convierem, mudando as cores, organização das colunas e das divisões da
homepage. Esta categoria é diferente do enquadramento, pois nela analisa-se a relação entre
usuário e sistema apenas como um processo passivo. Por outro lado, o enquadramento demanda a
participação de muitos interagentes para funcionar, já que a “edição” da primeira página do site é
individual, em que o funcionamento do sistema pode ser alterado de acordo com as preferências
do usuário.
não apenas como a publicação incentiva a participação de seus usuários, mas, principalmente,
como o sistema oferece ferramentas e canais para que haja um processo de socialização com e
entre o seu público leitor. Indica também como o site trabalha para que essa participação seja
rede.
relações sociais são tecidas no contexto do site, por meio da observação do tipo de estrutura que
nasce dos embates entre os interagentes (jornalistas e audiência). Também será dividida em
Finamente, a última categoria pretende observar se o site possibilita interação reativa ou mútua, o
que permite-nos classificar as pessoas que compõem a audiência como apenas usuários ou, de
fato, interagentes. Para tanto, observa-se se as publicações permitem que haja relações sociais
entre seus membros. Não se aborda aqui apenas a conversação ocasional, mas sim a criação de
3.1.1 Histórico
O primeiro site analisado, aqui denominado Caros Amigos online42, é a versão digital da revista
impressa Caros Amigos. Segundo informações contidas no próprio site43, a publicação impressa,
lançada em abril de 1997, é uma revista mensal de assuntos diversos, com distribuição nacional e
tiragem média de 50.000 exemplares. É o carro-chefe da editora Casa Amarela, que edita
revistas, fascículos e livros. O site foi criado em 2001 e sofreu uma reformulação no final de
outubro de 2006.
Em entrevista realizada por e-mail, a editora de Caros Amigos online, Tatiana Estanislau dos
Santos, afirmou que os objetivos, quando o site foi lançado, eram criar um meio de comunicação
42
http://carosamigos.terra.com.br
43
http://carosamigos.terra.com.br/do_site/quemsomos.asp
56
mais rápida com os leitores da revista impressa e ter um novo caminho para divulgá-la. Segundo
ela, o primeiro parceiro foi o Uol44. Hoje, o site está hospedado no Terra45.
A Caros Amigos impressa é uma publicação que se opõe à hegemonia do discurso neoliberal que
geralmente pauta as grandes empresas jornalísticas. Segundo Câmara46, Caros Amigos tem como
colaboradores “os que ficaram de fora dos MCM [meios de comunicação de massa] nos tempos
acordo com o autor, são profissionais que prezam por um jornalismo sem concessões editoriais e
Por ser uma publicação que conserva características da fase transpositiva, Caros Amigos online
ideológica. O site não demonstra pretensões de ser um veículo pensado e produzido para o (e no)
meio digital. Caros Amigos online mostra-se, portanto, a exemplo de outros sites de veículos
tradicionais, como um braço, uma extensão da revista impressa, tanto para os leitores já
fidelizados, quanto para os leitores em potencial. Nesse último caso, a versão online seria uma
espécie de chamariz para a publicação impressa, ou seja, uma vitrine de sua marca, que usa a
44
http://www.uol.com.br/
45
http://www.terra.com.br/revistas
46
CÂMARA, Marcelo Barbosa. O jornalismo independente de Caros Amigos: um processo de contra-hegemonia.
Disponível em http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/da250920022.htm. Acesso em 15/10/2006
57
3.1.3 Análise
Em virtude de uma reformulação do site, ocorrida durante o período de realização das análises,
optou-se por fazer, quando necessário, as observações sobre as duas versões separadamente.
Na primeira versão – que data do ano de 2001 até meados de outubro de 2006 –, dentro do
quesito singularização, Caros Amigos online reproduz o sistema utilizado pela mídia tradicional,
conferindo ao site uma organização rígida, que mantém em pauta os assuntos discutidos na
alternativos, o site acaba por não se afastar do agenda-setting, limitado, nessa ocasião específica,
pela própria revista. Apesar de em seu projeto editorial a Caros Amigos pretender abordar
imprensa, em sua versão virtual, o site não explora devidamente as possibilidades hipermidiáticas
da Internet e se transforma em uma vitrine da revista impressa. De maneira geral, pode-se dizer
que Caros Amigos online, assim como a revista impressa, consegue não se tornar prisioneira do
encontro dos agentes da comunicação (leia-se não tão somente o repórter, editor e outros
profissionais da comunicação, mas também o leitor) – Caros Amigos online tem um processo
mínima. A publicação não incentiva a participação ativa da audiência. O site não possui um
sistema, ou sequer foi estruturado, para estimular a colaboração do leitor na produção das
58
matérias e do conteúdo. Para possibilitar uma mínima participação, são utilizadas algumas
publicações anteriores) acontece na parte dedicada à publicação impressa, quando o leitor tem
relação ao conteúdo do próprio site e às opiniões, artigos e material enviado pelo leitor, não se
percebe nenhum link que aponte para um banco de dados do conteúdo. Existe um “arquivo de
reportagens”, cujo acesso só pode ser feito depois de ler uma reportagem até o final. Na estrutura
do site não existe link para este arquivo, o que aponta uma despreocupação ou desconhecimento
Caros Amigos online, uma vez que a publicação é feita por um núcleo próprio, que define
estrategicamente qual será o conteúdo, e, mesmo assim, também não permite que a audiência
transpositivo, oriundo de uma organização jornalística que possui uma publicação impressa, todo
o material é apresentado de maneira a obedecer políticas editoriais rígidas, que não permitem que
Como o leitor não interfere na disposição do conteúdo do site, a categoria enquadramento – que
diz respeito à configuração do site (quando alterada pela audiência) e à construção do processo
narrativo dentro do conteúdo – não se aplica. Ao leitor não cabe nenhuma função de co-
organizador de conteúdo. Com relação às narrativas, em Caros Amigos online as matérias são
movimento, além de não trabalharem com a disponibilização de links para outros sites, de
Também não existe a possibilidade de se personalizar o site quanto à estrutura, já que todo
material enviado pelos usuários está sujeito à aprovação ou desaprovação dos próprios
responsáveis pelo site. Ou seja, a “capa do site” não pode ser configurada de acordo com as
preferências do leitor, pois é criada pelos editores e não está mais sujeita a modificações até
novas atualizações (que respeitam períodos definidos). A única ferramenta que poderia ser
considerada como uma personalização é o recebimento do “Correio Caros Amigos”47, por e-mail.
Mesmo assim, não há como o leitor separar por assuntos ou editorias de sua preferência.
Em Caros Amigos online existe a configuração de algo semelhante ao que a categoria atividades
parecido com um fórum de discussão. No entanto, o site não visa a criação de uma comunidade
possibilidades de participação do público são voltadas para permitir que o usuário veja seus
textos publicados e continue visitando a página, e não facilitam o fortalecimento da relação entre
47
Segundo consta no próprio site, “o Correio Caros Amigos é um informativo da editora Casa Amarela totalmente
gratuito de periodicidade semanal destinado a estimular o debate e informações importantes e relevantes para todos
nós”. Disponível em http://carosamigos.terra.com.br/do_site/correio.asp# Acesso em:20/10/06
60
jornalístico é limitada aos jornalistas de Caros Amigos e a atualização de tal conteúdo é defasada,
com períodos mal-definidos. A seção “Novas”48 do site, por exemplo, no momento da análise
(outubro de 2006) tem uma matéria publicada em julho do mesmo ano, o que contradiz o nome
do próprio do espaço. Não há um cuidado dos responsáveis pelo site em pensar no usuário como
potencial colaborador, e não são propostos espaços para que haja qualquer tipo de socialização
mais ampla, exceto pelos ocasionais debates que acontecem em algumas caixas de comentários.
processos de conversação entre os usuários são mínimos, restritos a seções não dedicadas
especificamente a esses propósitos. Falta em Caros Amigos online espaços como salas de bate-
papo, listas de discussão, grandes estruturas sistematizadas para permitir a participação de muitos
usuários na discussão de variados temas, sempre com ponderações e moderações feitas pelos
do site, com proposta de apenas apresentar produções diversas do leitor, não o fomentando a
seção “Palanque” conta com grande participação do usuário. No entanto, essa participação é
condicionada, uma vez que o leitor é convidado a falar sobre pautas sugeridas pelo próprio site.
Na ocasião da análise dessa seção, a pauta em voga era: “O que você achou do segundo debate
entre Lula e Alckmin?” Os leitores aqui “postam” informações das mais variadas. Algumas com
“postagens” são opiniões diversas a respeito dos candidatos. Em alguns momentos os leitores
48
http://carosamigos.terra.com.br/novas_corpo_ci.asp?not=1128
61
processo de interlocução. As mensagens são listadas por ordem de envio e não há qualquer
registro de data, fato que dificulta a contextualização do “diálogo”. As mensagens nesta seção são
mantidas com atualização contínua, isto é, assim que enviadas já vão para a lista de mensagens
do site, sem moderação. Na seção “Chute o Balde” o usuário é convidado a falar do que quiser e
como quiser. Aqui o conteúdo das mensagens não tem tema definido, o que configura a seção
inserção. Apesar da proposta de se falar do que quiser, esta seção não trabalha com atualização
Mediante a análise de tais categorias, percebe-se que o leitor de Caros Amigos online não pode
jornalisticamente). Os recursos de interação mútua (PRIMO, 2004) não são utilizados pela
3.2 NoMínimo
3.2.1 Histórico
De acordo com informações fornecidas, em entrevista por e-mail, pelo jornalista Xico Vargas,
editor de NoMínimo49, o site deriva de uma revista diária de informação na Internet, que se
chamava NO. (Notícia, Opinião e Ponto). Segundo o editor, depois de dois anos, embora NO.
tivesse conquistado média mensal de audiência superior a 1,5 milhão de visitações, um de seus
jornalistas que integrava a redação de NO. decidiu formar o site NoMínimo, que está no ar há
mais de quatro anos. De acordo com Xico Vargas, a média de visitação de NoMínimo é entre 2,5
e 3 milhões de pageviews50 mensais, com 900 mil a 1,1 milhão de usuários únicos51. O site está
hospedado no ibest52.
Ainda segundo informações fornecidas por Xico Vargas, NoMínimo é uma publicação
independente, mantida por contratos para fornecimento de conteúdo com os portais IG, iBest e
49
http://nominimo.ibest.com.br
50
Visualizações de página [tradução nossa]. É o número de vezes que determinada página (site) é carregada no
navegador.
51
A contagem de usuários únicos refere-se às visitações por IP (Internet Protocol). Cada maquina conectada à rede
tem um IP. Alguns sites registram os IPs das máquinas que os acessam e fazem uma contagem. Assim, pode-se
saber, em média, o número de pessoas (de máquinas diferentes) que visitaram a página.
52
http://www.ibest.com.br
63
impressos.
É um site que explora algumas ferramentas de interação com a audiência. Os leitores participam
sugerindo, eventualmente, temas que gostariam de ver abordados e manifestando suas opiniões,
por meio das caixas de comentários, enquetes e e-mails dos colunistas e editores do site.
NoMínimo não oferece outros canais de relacionamento com o público e, segundo o editor, não
há a intenção, pelo menos por enquanto, de inserção de outras ferramentas, como fóruns, listas de
discussão e salas de bate-papo. Xico Vargas afirma que os editores planejam introduzir novidades
em áudio e vídeo.
3.2.3 Análise
A singularização em NoMínimo ainda segue um modelo misto, que reúne características da mídia
tradicional e da mídia interacional. A “capa do site” é construída por um sistema de edição, isto é,
algum membro do corpo editorial escolhe o que vai ocupar qual lugar na página. O site é dividido
em quatro partes distintas: a primeira é uma coluna à esquerda, um grande menu, no qual o leitor
pode navegar entre as seções dos colunistas e entre um conjunto de editorias; a segunda é uma
barra superior dinâmica, isto é, seu conteúdo é rotativo, de maneira que os boxes que são ali
mostrados, com títulos e chamadas para o conteúdo do site, são atualizados constantemente; a
terceira é a coluna da direita, que também possui sistema de boxes com conteúdo rotativo, ao
mesmo tempo em que tem um sistema de conteúdo fixo – com links para algumas colunas
separadamente, para a “frase do leitor escolhida” e para sites parceiros; a quarta parte é o quadro
64
funciona como um blog, com as matérias sendo apresentadas em uma coluna somente, em ordem
antigas estão ocupando espaços das matérias mais recentes. Pode-se concluir então que há um
trabalho de edição na “capa do site”, o que nos permite aproximar o modelo de publicação de
NoMínimo dos processos de agendamento, uma vez que os autores fixam alguns tópicos, guiando
a leitura do público.
A respeito do desenvolvimento simbiótico, o site não foca seu trabalho em aproximar leitores e
editores. O público participa timidamente, nas seções de comentários e na seção “Fala Leitor”,
que, no entanto, tem um sistema de funcionamento mal planejado (não fica claro ao leitor como
publicar conteúdo nessa seção). O jornalista Xico Vargas, editor do site, afirmou que “´Fala
leitor’ é como uma coluna de cartas. São mensagens enviadas para os jornalistas de NoMínimo
por e-mail (ou seja, fora dos comentários). Normalmente a seleção é feita por cada editor que
recebe a mensagem de seu leitor”. Percebe-se que o encontro dos agentes do processo
trezentas mensagens do público, e, em raras ocasiões, o próprio autor posta algo respondendo às
críticas. Mas o próprio formato estrutural dessas seções (janelas pop-up53) concede um grau de
menor importância ao que é ali apresentado, pois aparenta mostrar que as mensagens do público
53
Janelas pop-up são janelas do navegador que abrem, com tamanhos reduzidos, sem as opções de barra de
endereços e que têm como função apresentar conteúdos menos importantes ou publicidade.
65
memória informacional e criando um banco de dados. O site conta com avançado sistema de
busca, por períodos de tempo, autor específico ou frases inteiras. Além disso, é possível encontrar
resultados das enquetes, o que confere ao site um caráter de fonte de dados eficaz. No entanto, a
busca falha ao não encontrar algumas colunas ou textos, mostrando apenas uma página de erro.
editorial, o que impede o usuário de participar da organização. Apesar de existir certa ordem de
publicação cronológica, algumas matérias de capa são mais antigas, como já apontado
anteriormente.
A característica enquadramento pode ser analisada unicamente sob seu aspecto de construção de
narrativas, uma vez que não há interferência do usuário na estruturação do site. Poucos
colunistas, como Pedro Dória e Guilherme Fiúza, fazem uso das opções de links para publicações
externas em seus textos. Aparece aqui o caráter perceptivo de NoMínimo, no qual se vê certo
Dentro das possibilidades de personalização, NoMínimo conta com uma ferramenta que permite
textos de um autor predileto, sem ter que acessar o site continuamente. Apesar disso, nada mais
possibilidades da web, não disponibiliza nenhum espaço para que sua audiência mantenha contato
entre si e com os próprios editores. Não existe a proposta de se criar uma espécie de comunidade,
que se organize de acordo com os limites do site. O contato com o público não é a proposta de
NoMínimo, apesar de ocorrer nas seções de comentário. No entanto, o contato se dá muito mais
pela qualidade da publicação do que pela possibilidade de a audiência ter uma participação ativa.
O encontro da audiência e sua participação nos debates propostos pelo site são tópicos analisados
acontecem interações entre os usuários é na seção de comentários. Muitas vezes estão cheias de
debate entre dois ou mais leitores, o que, de fato, é um ganho para a “comunidade” criada ao
redor do site. Em uma coluna chamada “Olha Só: TV, Cinema e DVD”, o colunista Ricardo Calil
apresenta uma matéria chamada “Quinze Minutos de Vexame”, na qual levanta a discussão sobre
celebridades que são flagradas pela mídia em atos duvidosos e que, a partir disso, dão a volta por
cima e conseguem contratos milionários com publicidade, abordando o caso de Daniela Cicarelli
como melhor exemplo. Nos comentários, transcritos no quadro abaixo, encontramos opiniões
E A Midia fica aonde? SE os sites Terra, Ibest e cia ltda não ficam dando destaque a Maguilla
isso eu nem saberia que a Cicareli é uma putinha, nem que a Karina Bacchi beijou o
arrgg baixinho? Voce vendem o peixe de voces e querem que a sociedade tenha moral e 23/10/2006
etica. Reflitam voces tambem. 09h35
Se a mídia careta continuar a exibir fartas porções de Daniele Winits, Cicarelli e Juilana James Bond
Paes, u só tenho a dizer que ser quadrado nunca foi tão bom para mim. Que venha o 23/10/2006
próximo escândalo. 09h58
concordo com o texto do Calil…e epoca em que vivemos eh simplesmente ridiculo..e
sabe do que mais? quando aconteceu o tal episodio da Cicarelli nem precisou eu ser um
publicitario de renome pra sacar que ela logo lucraria e muito com essa palhacada
toda… Abstrato
hoje em dia quem eh pego em flagrante, simplesmente assume a culpa e parte pra cima 23/10/2006
tentando virar o jogo, se fazendo de vitima…o prizidenti eh um exemplo maior de toda 10h08
essa bandalheira de hoje em dia..
sao pegos com a boca na botija, viram pra voce e perguntam e dai??
Infelizmente não só a mídia está atrás do dinehiro. Pior ainda é saber que somos
responsáveis pelo que acontece e acabamos por nos acomodar e não fazer nada.
Flávio
Comentamos, nos dizemos indignados mas não fazemos nada. Acho que o ditado mais
certo é o que diz que cada povo tem o governo que merece. Nós nos acomodamos e
23/10/2006
agora aceitamos qualquer um, literalmente, para traçar os rumos desta que poderia ser
uma grande nação.
A discussão perdura e os focos vão se movimentando. Vale notar que tudo começou com a
discussão das celebridades e, até aqui, um trecho recortado, termina com debates políticos. Até o
Na seção “Fala Leitor”, o material apresentado é selecionado pelo editor dentre um conjunto de
e-mails que ele recebe sobre algumas matérias. Essa seleção do material não aponta para uma
configuração de um espaço de atuação do leitor, uma vez que sua participação depende da
concessão de outrem. O grande momento de encontro entre os visitantes do site acontece nas
centenas de seções de comentários, ao término das matérias de alguns editores (as matérias
3.3.1 Histórico
Oh Yeon Ho. Em 2004, devido ao sucesso do sistema, foi fundado o OhMyNews International
(OMNI) 55, disponibilizado em inglês. Por questões lingüísticas, optamos pela análise do OMNI.
Para compreender o motivo pelo qual o site foi criado, é preciso analisar o seu contexto histórico.
A Coréia do Sul, país onde o site foi idealizado, passou por um regime político ditatorial –
instaurado no começo da década de 1980 por meio de um violento golpe militar – que durou até
meados da década de 1990. Segundo Brambilla56, o cenário midiático pós-ditadura era sustentado
54
http://ohmynews.com
55
http://english.ohmynews.com
56
Disponível em http://ambrambilla.blaz.com.br/genealogia_do_ohmynews.pdf. Acesso em 15/10/06.
69
realizada pela imprensa criaram um cenário favorável ao projeto de Oh Yeon Ho. A idéia era
criar uma opção de jornalismo independente do poder e de fontes oficiais, que suprisse a
necessidade do povo sul-coreano de manifestar suas idéias. O site traz o slogan “Every citizen is
cadastrados, OMNI possui uma série de regras jornalísticas bem definidas, e ainda conta com
Segundo Brambilla, a política editorial do site é definida por “progressista aberta”, ou seja, é uma
contava com 727 cidadãos-repórteres, uma equipe distinta do corpo permanente de repórteres do
57
Todo cidadão é um repórter [tradução nossa]
58
Repórter-cidadão [tradução nossa]
70
se encontram, de acordo com Brambilla, “a partir de uma perspectiva própria e não orientada pelo
pela edição de todo o material enviado pelos cidadãos-repórteres e pela produção das notícias e
coberturas mais complexas e densas, como os assuntos ligados à política e economia. Brambilla
afirma ainda que o número de reportagens sobre negócios, assuntos internacionais, cultura e
fez com que a edição semanal fosse substituída por uma edição diária do noticiário e, atualmente,
já não se pode identificar a periodicidade de uma edição: “com cerca de 38 mil colaboradores
3.3.3 Análise
out do site se aproxima da estrutura noticiosa dos grandes jornais online. O site possui um
sistema fixo de editorias na coluna da esquerda e no quadro superior. Existem dois quadros à
direita, nos quais estão alinhadas informações mistas com conteúdo do site, conteúdo de outras
publicações (Herald Times) e links para alguns recursos hipermidiáticos, como enquetes
(interação reativa) e salas de bata-papo (interação mútua). Em um outro quadro está o conteúdo
rotativo da capa do site, com algumas chamadas, cadernos especiais, apresentação dos melhores
71
deles, e é nele que se inserem as chamadas de capa (geralmente com fotos), títulos (em tamanho
maior) e bigodes (subtítulos, em tamanho diferente da fonte corpo do texto). Ao final da página,
uma coluna dupla mostra as últimas inserções de conteúdo de acordo com as editorias e, mais
abaixo, são mostradas as últimas inserções de todo o sistema, com data e hora.
Apesar de seu formato se assemelhar ao formato dos jornais impressos, utilizado em muitas
ao conteúdo editorial. A “capa do site" é criada de acordo com decisões de um conselho editorial,
que avalia o material enviado e a importância de cada informação (já que OMNI é uma
publicação mundial). No entanto, apesar de haver um conselho editorial que define a capa, o site
consegue se afastar do agenda-setting por ser mantido pela audiência. Em alguns momentos,
como a agenda do público é alterada pela agenda dos grandes meios de comunicação de massa, o
próprio público acaba reconfigurando o espaço do site, na medida em que se atém aos mesmos
assuntos. Em um contato com Yu-jin Chang, um dos diretores membros do conselho editorial de
OhMyNews, por meio do Google Talk59, perguntamos sobre o uso de algumas imagens na capa
do site que apontam links para assuntos específicos, como a tensão com a Coréia do Norte60 e
também as questões do Oriente Médio61. A resposta de Chang foi reveladora: “when there are a
lot of stories about a big topic, such as the midease conflict, we make the decision to make a
special section, and by doing this, it also stimulates more stories on that topic”62. Consideramos
59
Google Talk é um serviço de mensagens instantâneas desenvolvido pelo Google – empresa que criou e mantém o
maior site de busca da Internet – e incorporado ao Gmail (conta de e-mail gratuita oferecida também pelo Google).
Qualquer pessoa que possua uma conta Gmail pode conversar instantaneamente com outra que também possua.
60
http://english.ohmynews.com/english/eng_section.asp?article_class=13
61
http://english.ohmynews.com/english/eng_section.asp?article_class=16
62
“Quando temos muitas histórias sobre um grande assunto, como os conflitos no Oriente Médio, nos decidimos
fazer uma seção especial, e fazendo isso, também estimulamos mais histórias sobre o assunto”. [tradução nossa].
72
que esta é, inclusive, uma maneira de evitar que a maior quantidade de histórias sobre
determinados assuntos ocupe demasiado espaço na capa do site ou no decorrer das demais
vista.
já chamam o usuário para participar, seja por meio de comentários ou de novas matérias. Os
níveis de participação do usuário e o uso de outras ferramentas serão melhor abordados a seguir.
Esta categoria observa o grau de participação do público não somente na inserção de material,
mas também na análise e aprimoramento da performance funcional do site. Em OMNI, nas salas
mantida uma discussão contínua entre os membros do site e seus editores. Analisando essas salas,
vêem-se algumas mensagens de usuários insatisfeitos ou confusos com o sistema do site, e ali
memória informacional. Além disso, o site ainda conta com uma eficiente ferramenta de busca,
que procura por material relacionado a determinado autor, título ou palavra-chave. No entanto, o
OMNI não possui um arquivo geral do conteúdo, com indexação feita mediante data de inserção.
No que diz respeito ao processo de ranking, todo visitante ou membro do site pode aprovar ou
desaprovar os comentários de outros visitantes. Este processo visa apenas apontar a credibilidade
73
do autor, uma vez que os comentários que recebem maior ou menor número de aprovações ou
Analisando a hierarquização em OMNI, percebe-se que a capa do site é organizada pelo conselho
editorial. Os assuntos de maior importância, de acordo com definições editoriais desse conselho,
ganham destaque por alguns momentos, até que novas matérias sejam enviadas e ocupem seu
lugar. É um processo rígido e ao mesmo tempo flexível. Rígido quando a ordem das publicações
na capa é definida por um interagente apenas (nesse caso, um conselho de editores) e flexível
quando está sujeita a novas inserções sem um período de tempo definido, ou seja, assim que um
novo material for enviado e selecionado, ele já é inserido na capa. A equipe de editores e
jornalística do material (material respeitoso, fundamentado, bem redigido, com fontes, etc.) e não
participação da audiência. Além de permitir que o próprio interagente faça uso de todo tipo de
recursos disponíveis para a web em suas matérias – como tabelas, caixas de links, podcasting,
transmissão de gravações em formato mp3, enquetes – o site ainda se reorganiza por demanda do
público – como no caso supracitado das chamadas de capa para os assuntos relacionados com a
Coréia do Norte e com o Oriente Médio. No que se refere à construção de narrativas, grande parte
das matérias apresentam muitos links para sites distintos, excluindo-se a possibilidade da criação
de uma espécie de domo informacional restrito ao espaço do próprio OMNI. Em parceria com
outros sites, OMNI explora um recurso interessante: ao fim de cada matéria o leitor pode
74
enquadrá-la nos serviços de “melhores seleções” espalhados pela web, como o Digg63. Apesar de
essa ser uma das características da comunicação hipermidiática, entende-se que o uso restrito dela
audiência moldar a publicação à sua vontade. Não há opção de estruturar o site de acordo com
OMNI permite e fomenta a participação dos interagentes de várias formas. Por meio de um
trabalho de acompanhamento editorial das propostas de pautas, e até mesmo das matérias,
mensagens privadas entre os membros do site, possibilidade de comentar uma matéria e até
mesmo comentar um comentário, são provas do pensamento interacional, que visa o contato entre
todos. Fora do espaço do site, ainda acontece, em um sistema de lista de discussão, um trabalho
de crítica, sugestões e conversação entre estes usuários, levando a interação aqui para além dos
limites estruturais do OMNI. Nosso contato com o corpo de diretores de OMNI foi feito em
questão de segundos por meio dessa lista de discussão. O processo de publicação das matérias
conta com um diálogo entre os interagentes que é fundamental. Assim, o uso de alguns recursos
web mais avançados é feito pelo editor de acordo com as necessidades do repórter.
63
Digg é um site que trata de categorização e ranking de conteúdo. Ao usuário do Digg cabe a tarefa de selecionar
material de outros sites e atribuir-lhe pontos negativos ou positivos. http://www.digg.com
75
OhMyNews é o site que, atualmente, possui a melhor estratégia para possibilitar e fomentar a
atuação ativa do interagente. Toda estrutura do site foi criada (e é aperfeiçoada) para fazer da
para inserir material no site. Além disso, o domo informacional de OMNI contempla vários tipos
entre os agentes da comunicação ali inseridos, como os editores responsáveis pelo site, e também
listas de discussão. Mas, o espaço onde os debates acontecem mais comumente são as seções de
comentários. Nelas qualquer um pode escrever o que quiser. Além disso, em OMNI acontece um
processo que ainda é muito pouco utilizado nas publicações online: a possibilidade de se
comentar um comentário, isto é, depois de lido algum comentário, o leitor pode dar sua
Em um artigo chamado “Bush Declares War on Habeas Corpus”64, a autora Claudia Nelson, fala
constitucional do habeas corpus. Além de algumas fontes, a autora termina com um press release
da Casa Branca sobre o assunto, com o discurso de Bush. Ao final de todo o material publicado
em OMNI existe sempre a “caixa de comentários”. Até a data desta análise (25/10/2006),
64
Bush declara guerra ao Habeas Corpus [tradução nossa]. Matéria publicada em 19/10/2006. Disponível em:
http://english.ohmynews.com/articleview/article_view.asp?code=2118905&menu=c10400&no=323946&rel_no=1&
opinion_no=6&page=&isSerial=&sort_name=&ip_sort= Acesso em: 30/10/2006
76
existiam sete comentários sobre o assunto. Abaixo, recuperam-se esses comentários e o processo
There will be a big unraveling, soon. When USA and North Korea go to war, millions of
Rick
people will take to the streets to protest it hopefully, and that will be the beginning of
20/10/2006
the end, or the beginning of a new enlightenment.
Haverá uma grande revelação em breve.
Quando EUA e Coréia do Norte forem à guerra, milhões de pessoas irão para as ruas Obteve três
para protestar esperançosamente, e isto será o começo do fim, ou o começo de um novo aprovações.
Iluminismo. [tradução nossa]
Kelly
I absoulutely agree..we are our own enemy...
20/10/2006
Obteve duas
Eu concordo totalmente, somos nosso próprio inimigo. [tradução nossa]
aprovações.
if i start telling people about this, i can be thrown in jail without questioning or justice Anonomous
now, so its either too late, or i dont know!!!!!!!!!!!!!!!!! 20/10/2006
Obteve duas
Se eu começar a contar isso às pessoas, eu posso ser jogado na cadeia sem
aprovações e 1
questionamentos ou justiça agora, então é tarde demais, ou eu não sei! [tradução nossa]
desaprovação.
I agree. We have to stand up to our government... wait! That great new show "Lost" is
on. Okay, so lemme watch that first, maybe grab some Wendy's, check out some internet Castle
porn... Come to think of it, let's just do it tomorrow. Shit, I'm getting my new satellite tv 22/10/2006
installed tomorrow. How 'bout next week sometime?
Eu concordo. Temos que enfrentar nosso governo... espere! Aquele ótimo novo
programa “Lost” está passando. Certo, então deixe-me assisti-lo primeiro, talvez ver um Obteve três
pouco de Wendy’s, conferir alguma pornografia na Internet... Venha pensar a respeito, aprovações e 1
mas vamos fazer isso amanhã. Merda, vão instalar minha nova tv por satélite amanhã. desaprovação.
Que tal uma outra hora na semana que vem? [tradução nossa]
We ARE doomed!!! I have yet to hear our "so-called" media talk about this!!! Even Art Dan
Bell and George Norrie haven't said a word about it??? 25/10/2006
Estamos condenados! Eu ainda tenho que ouvir a “tão aclamada” mídia falar sobre Obteve duas
isso!!! Até mesmo Art Bell e George Norrie não disseram uma palavra sobre isso??? aprovações.
Seifor
I agree with u! There is a blind-media operating in US.
25/10/2006
Eu concordo com você! Existe uma mídia cega operando nos EUA.
77
Esse último comentário foi feito especificamente sobre o penúltimo, em uma caixa de texto
própria, uma vez que, como explicado anteriormente, em OMNI o leitor pode “comentar o
comentário”.
As análises dos três sites mostram como o conteúdo jornalístico na web se divide de acordo com
o uso dos recursos e possibilidades hipermidiáticas. Alguns sites se propõem unicamente a inserir
não explorando outras ferramentas, ou seja, restringindo-se a apresentar o e-mail dos autores e
opções de caixa de comentários. Ao nosso ver, essas ferramentas são utilizadas como uma
espécie de medidor de freqüência dos usuários, uma espécie de contador de visitantes integrado
com feedback. A publicação Caros Amigos online é exemplo dessa fase, tipicamente
transpositiva.
Algumas outras publicações, como o site brasileiro NoMínimo, são genuinamente virtuais, feitas
exclusivamente para web, sem qualquer extensão offline. O corpo de redatores de NoMínimo
publicam conteúdo com periodicidade variada, sendo que alguns se dedicam a apresentar material
constroem narrativas usando, no decorrer dos textos, links para outras publicações, com o intuito
de explicar conceitos, eventos e/ou personagens, sem ter que fazer referência no próprio texto.
Vale ressaltar que tanto Caros Amigos Online quanto NoMínimo caminham para uma adaptação
às novas potencialidades da web, uma vez que ambas passam por reformas que já são pensadas de
acordo com a usabilidade dos recursos hipermidiáticos. Durante o processo de confecção deste
trabalho, a Caros Amigos Online passou por uma reestruturação gráfica e funcional. Além da
78
mudança nas cores e no design da homepage, uma das seções que contavam com a participação
do público, até então restrita a pautas definidas, passou a se destinar à convocação da audiência
para expor quaisquer pontos de vista, sugerindo o debate de idéias. Uma outra seção, chamada
“Novas”, construída com material enviado por colaboradores (assessores de imprensa de órgãos
ou entidades, especialistas, etc), foi valorizada. Na versão anterior do site, tal seção estava
abandonada e desatualizada e, já nesta segunda versão, novos textos têm sido publicados. Apesar
da tentativa de explorar melhor as possibilidades de interação, o leitor ainda não pode ser
considerado como um interagente. Caros Amigos online poderia fazer uso do site não somente
como uma extensão da revista impressa, já que a linha editorial da publicação defende a
contra-hegemônica de Caros Amigos, sem tirar o valor da publicação impressa. Além de abrir
espaço para a diversidade de idéias, o site poderia também ser utilizado para publicação do
material da revista impressa, porém sem a edição, ou seja, o material “bruto”. Essa estratégia
poderia não somente explorar o espaço (quase que ilimitado) que a mídia Internet oferece, como
criar no leitor a curiosidade pela publicação impressa, estimulando-o a comprar a revista para ver
Em NoMínimo, o uso de alguns recursos web também será valorizado, segundo o editor Xico
Vargas. Ele informou que em breve o site vai explorar som e imagem em movimento. Assim,
perceptiva. Sem seguir a linha editorial de uma publicação offline, NoMínimo é um exemplo do
uso da rede como não apenas ferramenta que estende a projeção de uma determinada publicação,
meio das seções de comentários por e-mails. No entanto, percebe-se que, apesar de contar com
poderiam criar espaços dedicados exclusivamente ao encontro dos usuários (para que sejam, de
integração com recursos extras da web, como fóruns ou listas de discussão, seriam formas
seguras de reunir o público de NoMínimo e possibilitar uma relação todos-todos, dentro das
jornalística, dos recursos que a rede oferece. O site possui um modus operandi que só funciona
publicação alcançou deve-se não somente ao uso das características hipermidiáticas, mas também
ao contexto histórico no qual está inserida, como atesta Yu-jin Chang, membro do conselho
editorial de OMNI :
Much depends on the journalistic, literary and political cultures. For example, in Korea
the specific culture allowed a citizen journalism site to flourish whereas it hasn't been
able to take root yet in other places. These Korean conditions have to do with the
political climate and dissident tradition but also the literacy rate the cultural emphasis
on writing and of course the technological conditions of deep broadband penetration. 65
65
Muito depende da cultura jornalística, literária e política. Por exemplo, na Coréia a cultura específica permitiu um
a site de jornalismo cidadão florescer, sendo que ele não foi executável em outros lugares. Estas condições coreanas
têm a ver com o clima político e a tradição dissidente, mas também com o nível literário e a ênfase na cultura da
escrita e, claro, as condições tecnológicas de profunda penetração de banda-larga [tradução nossa].
80
Por isso, o jornalismo colaborativo apresenta-se ainda como uma potencialidade pouco
A partir das análises, pode-se dizer que o trabalho de gatekeeping diminui à medida que a
cartografia da informação aumenta. Se um site está mais próximo da fase transpositiva, como é o
caso de Caros Amigos online, existe ainda um pensamento massivo que faz com que a prática
Internet. No caso do OhMyNews, o site aparece, atualmente, como o melhor exemplo desse novo
e começam a abrir espaço a uma nova prática jornalística. Minimiza-se o monopólio do jornalista
informação dentro desse ambiente em que o fluxo informacional cresce a cada segundo.
81
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O surgimento das NTICs, ao propiciar o aparecimento de meios não massivos, afetou modelos
barateamento possibilitam que, a cada dia, mais e mais pessoas travem contato com as
informacional é, portanto, uma situação não somente irreversível, mas que se expande
velozmente.
2.0. Na verdade, esse termo diz respeito ao que chamamos, neste trabalho, de fase hipermidiática,
ou seja, a utilização a contento dos recursos oferecidos pela rede. Trata-se da criação e
fóruns e listas de discussão, programas de conversação por IP, webcams integradas com áudio e
simuladores de realidade virtual. Uma das premissas da Web 2.0 é a valorização do conteúdo
colaborativo e da inteligência coletiva, em que o conteúdo deve ser produzido e consumido por
qualquer usuário da rede, de forma simples e direta. Os blogs são exemplos desta premissa.
interpessoal. Sendo assim, a estratégia de publicação na Internet – sistema intercast (ou bottom-
82
igualitária dos diversos atores do processo comunicacional (desde que munidos de computador
com acesso à rede). A web difere-se, portanto, dos meios de comunicação de massa – que
utilizam o sistema broadcast (ou top-down news) – ao proporcionar e utilizar a interação (atributo
tradicionalmente pelo sistema broadcast, pois é a própria audiência que busca a informação. Isso
significa que a escolha temática e a hierarquia dos assuntos na Internet podem ser definidos pelo
público e não apenas pela mídia. Além disso, questões como espaço e tempo em que determinado
assunto continua em discussão deixam de ser limitações, o que influencia também no processo de
agendamento.
informação até então exercido pelos grupos de comunicação. Isso implica em modificações num
informações da Internet possa publicar informações faz com que esse papel se dilua entre todos
aqueles que de alguma forma inserem conteúdos nesta mídia e, conseqüentemente, pode
seu espaço de atuação. No entanto, a minimização desse tipo de mediação na Internet abre a
O jornalista na web, ao contrário do que acontece na mídia tradicional, não ocupa um lugar
central de passagem obrigatória da informação que pode ser tornada pública, e sim se estabelece,
assim como todos os outros interagentes, como um dos nós da rede. E como à rede se somam
novos nós ilimitadamente, e portanto mais fontes de informações, o jornalista aparece como
aquele que organiza, sistematiza e promove a ligação entre conteúdos já publicados, além de
portanto, o profissional jornalista que usa os recursos da web não tão somente para propiciar ao
mas também para auxiliar na visualização e nos processos cognitivos relacionados à organização
A análise dos sites – Caros Amigos Online, NoMínimo e OhMyNews International – mostra a
diferenças no trato dado à audiência por estas publicações virtuais. De acordo com a maneira
dependendo do nível de participação que o site oferece, o interagente pode até mesmo exercer um
atuação da mídia de massa, não fazendo uso efetivo do potencial da Internet. Ambas as
publicações fazem uso de modelos jornalísticos característicos da mídia de massa, uma vez que
seu conteúdo contempla uma visão instrumentalista da web, abrindo mão do efetivo potencial da
hipermídia. Em Caros Amigos online encontra-se um jornalismo que faz da Internet uma vitrine
editora do site, Tatiana dos Santos, o objetivo da publicação é ser mesmo uma extensão da matriz
offline. Já o site NoMínimo, mesmo sendo uma publicação genuinamente virtual, ainda é tem um
funcionamento típico dos meios tradicionais.. Porém, nesta publicação, é possível perceber
publicação sul-coreana, recém-traduzida para o inglês, não tão somente fomenta a participação da
audiência na produção de conteúdo, como também depende dessa participação para existir. Os
leitores de OMNI são chamados de cidadãos-repórteres e o site criou uma espécie de grande
– ou seja, aquelas que realizam esse novo tipo de mediação – dentro desse infinito universo
se do que chamamos neste trabalho de jornalismo online, ou seja, aquele que se serve da web
85
apenas como uma extensão de publicações offline. Fica-nos claro que a Internet exige um fazer
rede, de forma que o profissional se aproxime da audiência para produzir material noticioso.
links e páginas recheadas das mais variadas informações, o jornalista deverá fomentar o debate e
mantê-lo, permitindo não tão somente o informe noticioso, mas também o diálogo entre as fontes,
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Flammarion, 1999 apud PALÁCIOS, Marcos. Ruptura, continuidade e potencialização no
jornalismo online. In PALÁCIOS, Marcos e MACHADO, Elias (orgs.) Modelos de Jornalismo
Digital. Salvador: Calandra, 2003.
REFERÊNCIAS DIGITAIS:
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news and information. Disponível em
http://www.hypergene.net/wemedia/download/we_media.pdf. Acesso em: 19/08/2006
HALL, Jim. Online Journalism - a critical primer. London: Pluto Press, 2001 apud AROSO, Inês
Mendes Moreira. A Internet e o novo papel do jornalista. Disponível em
www.bocc.ubi.pt/pag/aroso-ines-internet-jornalista.pdf. Acesso em: 19/08/2006
MEYER, Philip. Periodismo de precision. Barcelona: Bosch, 1993 apud LIMA, Lara Viviane
Silva. Jornalismo de Precisão: História e Conceito. Disponível em
http://www.cem.itesm.mx/dacs/publicaciones/logos/anteriores/n22/22_lsilva.html. Acesso em:
31/08/2006
MORRIS, Merril & OGAN, Christine. The Internet as Mass Médium. Disponível em
http://jcmc.indiana.edu/vol1/issue4/morris.html. Acesso em: 26/08/2006
PEREIRA, Fábio Henrique & MORAES, Francilaine Munhoz. Mas afinal, Internet é mídia?
Artigo apresentado no XXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom), Belo
Horizonte, Setembro 2003. Disponível em
http://reposcom.portcom.intercom.org.br/bitstream/1904/5145/1/NP2PEREIRA_FABIO.pdf.
Acesso em: 20/08/2006
PRIMO, Alex & TRÄSEL, Marcelo Ruschel. Webjornalismo participativo e a produção aberta
de notícias. In: VIII Congresso Latino-americano de Pesquisadores da Comunicação, 2006. São
Leopoldo: Anais, 2006. Disponível em http://www6.ufrgs.br/limc/PDFs/webjornal.pdf
Acesso em: 08/09/2006
SILVA JUNIOR, José Afonso da. A relação das interfaces enquanto mediadoras de conteúdo do
jornalismo contemporâneo. Agências de notícias como estudo de caso. Disponível em
www.bocc.ubi.pt/pag/junior-jose-afonso-interfaces-mediadoras.pdf. Acesso em: 20/08/2006.
ENTREVISTAS
VARGAS, Xico. 22 out. 2006. e-mail. Entrevista concedida a Pedro Henrique Nogueira Penido.
SANTOS, Tatiana Estanislau. 06 nov. 2006. e-mail. Entrevista concedida a Pedro Henrique
Nogueira Penido.
CHANG, Yu-jin. 16 out. 2006. Instant Messenger. Entrevista concedida a Pedro Henrique
Nogueira Penido.
CHANG, Yu-jin. 16 out. 2006. e-mail. Entrevista concedida a Pedro Henrique Nogueira Penido.
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ANEXOS
Anexo V – Entrevista com Tatiana Estanislau dos Santos, editora de Caros Amigos online,
1 - Conte-nos um breve histórico do site e a idéia de sua criação. Quais as propostas? Qual o
perfil editorial? Qual o público da Internet? Houve parcerias com outros grandes sites?
No início, a idéia foi de usar uma nova mídia, um novo espaço que, em primeiro lugar,
pudéssemos nos comunicar com nossos leitores de maneira mais rápida e outro motivo foi a
possibilidade de ter um novo caminho para divulgar a Caros Amigos. Nosso primeiro parceiro foi
o UOL. Quanto ao perfil do leitor, nossa última pesquisa feita em 2001 indicou o seguinte perfil
de nossos leitores: 72% são homens com idade entre 20 e 49 anos. 91% têm superior completo,
19% pós-graduados. Este nível de escolaridade se reflete nas classes econômicas A (17%), B
(49%) e C (30%). Pouco mais da metade são solteiros (55%) e trabalham (67%).
2 - O site pretende expandir a revista para a Internet ou pretende ter "vida própria"?
(Chute o Balde, Coluna do Leitor e Palanque) e nas opções de enviar e-mail para os autores,
Em média são 10.000/dia. Por mês, são 800.000 páginas visitadas e 100.000 usuários únicos.
Muitas vezes tentamos perceber o que esperam da revista nas páginas dedicadas aos leitores, isso
quando não perguntamos diretamente para o leitor. Já fizemos isso algumas vezes.
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“Coluna do Leitor” e e-mail dos editores, vocês vislumbram alguma outra ferramenta,
como fóruns, listas de discussão e salas de bate-papo para reunir o público leitor ao redor
Temos o Correio Caros Amigos que é um boletim semanal com um texto de nossos
colaboradores, que serve de tema para a discussão da semana e é enviado para o e-mail de mais
que estão lá, são pessoas que se cadastraram e que usam realmente o espaço como um meio de
discussão e críticas.
A Caros Amigos tem um espaço para textos no site. Chama-se coluna do leitor, com seções para
conto, artigos, poesia e avaliação da revista. Gostamos dessa sintonia com o leitor, mas devemos
tomar um certo cuidado. Nem sempre quem está do outro lado quer usar o espaço da forma que é
proposta.
Procuramos fechar a edição juntamente com a chegada da edição impressa nas bancas. Para o
material exclusivo do site, só fixamos uma data para o Correio Caros Amigos.
7 - Por que houve a reformulação do site? Em relação à versão anterior de Caros Amigos
Estávamos com o modelo anterior por 4 anos. Podemos dizer de modo geral que estamos
aprendendo a usar a Internet, o avanço é muito grande e aquele modelo já estava engessado. Pela
site pelas páginas antigas, vai ver que não mudamos o antigo projeto.
8 - Houve uma mudança na seção “Palanque”, que, antes servia para colher opiniões dos
comentários diversos e discussões entre os leitores, sem moderação da equipe. Qual foi a
intenção da mudança?
Na verdade, ainda não mudamos a seção, estamos em discussão. O aviso é para tentar conter os
palavrões e preconceito.
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Anexo VI – Entrevista com Xico Vargas, editor de NoMínimo, concedida em 22/10/2006 a Pedro
NoMínimo deriva da primeira revista diária de informação da Internet brasileira, que se chamou
NO. (Notícia, Opinião e Ponto). Ao final de dois anos, embora tivesse conquistado média mensal
aportes de recursos. A partir daí, parte do grupo de jornalistas que integrava a redação de NO.
decidiu formar a NoMínimo, que está no ar há mais de quatro anos. Trata-se de publicação
independente mantida por contratos para fornecimento de conteúdo com os portais IG, iBest e
impressos. Nunca houve parceria com outros sites (apenas contratos com os portais) porque,
graças à simpatia e generosidade dos seus leitores, NoMínimo é o maior site independente da
Internet brasileira.
trabalham esse contato com o leitor? O público leitor ajuda, de algum modo, na produção
Os "Comentários" são espaços abertos para a participação do leitor, para que se manifeste com
liberdade, expresse sua opinião. Ali o leitor pode dizer o que quiser. Só não pode ser mal
educado.
Existe alguma sazonalidade motivada por feriados prolongados e férias, mas nossa média de
audiência situa-se entre 2,5 milhões e 3 milhões de pageviews mensais, com 900 mil a 1,1 milhão
de usuários únicos.
email dos editores, vocês vislumbram alguma outra ferramenta, como fóruns, listas de
Não. Por enquanto, pelo menos, não pensamos nisso. Estamos, porém, planejando novidades em
áudio e vídeo.
No Brasil essa modalidade começou a ser explorada intensamente. Pode vir a ser interessante.
5 – Durante a análise do site, ficamos com dúvida em relação à seção "Fala Leitor". Como
Fala leitor é como uma coluna de cartas. São mensagens enviadas para os jornalistas de
NoMínimo por e-mail (ou seja: fora dos comentários). Normalmente a seleção é feita por cada
(deadline) de NoMínimo?
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Normalmente os blogs têm renovação diária (dependendo do assunto de cada área, mais de uma
vez por dia). Algumas colunas são semanais, algumas quinzenais e algumas, ainda, mensais.
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Anexo VII – Entrevistas com Yu-jin Chang, membro do conselho editorial de OhMyNews
Pedro Penido: Can you answer some questions about OMNI? [Você poderia responder algumas
Pedro Penido: in OMNI site we can see some especific link boxes, like "Middle East" or "North
Korea" [no site do OMNI podemos ver algumas caixas de link específicas, como “Oriente
5:31 PM why this links were make? Who made it? [Por que estes links são criados? Quem os
faz?]
Yu-jin Chang: they're just categories for our stories [são apenas categorias de nossas histórias]
they help organize our stories on special topics [Elas ajudam a organizar nossas histórias em
tópicos especiais]
5:32 PM Pedro Penido: yes. But I wanna know if the site editor make it first, to estimulate
stories about them, or they're consequence of the big number of articles about these themes?
[sim. Mas eu quero saber se o editor do site faz isso primeiro, para estimular histórias sobre eles,
ou se eles são apenas conseqüências do grande números de artigos sobre esses temas?]
5:35 PM Pedro Penido: this decision is made by the editor's council or just for one man? [esta
5:36 PM Yu-jin Chang: there's some discussion about it first...we don't add many of these [há
alguma discussão sobre isso primeiro… nós não acrescentamos muitos deles [temas especiais]]
5:37 PM Pedro Penido: hum. I'm producing a study about Colaborative Journalism [hum. Estou
5:38 PM when u said "little of both", what did u mean? I don’t understand how is it possible.
[Quando você disse “um pouco de ambos”, o que você quis dizer? Eu não entendo como é
possível]
5:39 PM Yu-jin Chang: when there are a lot of stories about a big topic, such as the midease
conflict, we make the decision to make a special section, and by doing this, it also stimulates
more stories on that topic. [Quando existem muitas histórias sobre um grande tópico, como o
conflito no Oriente Médio, nós tomamos a decisão de fazer uma seção especial, e fazendo isso,
1 - What's the impact of the Internet in the Journalism? How did Internet change the
I can't answer the first question, other than to say that it opened the possibility of becoming a
"journalist" to millions and indeed billions. The internet has changed journalism practice in
profound ways that are still being felt. This question can be answered in just a few sentences or
in hundreds of pages. [Eu não posso responder à primeira pergunta, exceto para dizer que se
mudou a prática do jornalismo de maneiras profundas, que estão sendo sentidas ainda. Esta
pergunta pode ser respondida em apenas algumas sentenças ou em centenas das páginas].
content, besides allowing the audience participation. In your opinion why some sites explore
público. Na sua opinião, por que alguns sites exploram essas potencialidades e outros não?]
Much depends on the journalistic, literary and political cultures. For example, in Korea the
specific culture allowed a citizen journalism site to flourish whereas it hasn't been able to take
root yet in other places. These Korean conditions have to do with the political climate and
dissident tradition but also the literacy rate the cultural emphasis on writing and of course the
literária e política. Por exemplo, na Coréia a cultura específica permitiu um a site de jornalismo
cidadão florescer, sendo que ele não foi executável em outros lugares. Estas condições coreanas
têm a ver com o clima político e a tradição dissidente, mas também com o nível literário e a
larga].
3 - How do you understand the participation of the audience in the journalistic production?
The audience is often simultaneously the producer, the distinction is slowly eroded and even lost.
Not only in the sense that readers are often the ones who write the news now, but also determine
which news gets written. [A audiência é quase sempre simultaneamente a produtora, a distinção é
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vagarosamente corroída e até perdida. Não somente no sentido em que os leitores são
freqüentemente os que escrevem a notícia agora, mas também determinam que notícias serão
escritas].
4 - Do you think possible to apply theories and hypotheses from the mass comunication studies,
[Você acha possível aplicar teorias e hipóteses oriundas dos estudos de comunicação de
Yes, in theory. But I can't speak to specifics. [Sim, na teoria. Mas não posso falar
especificamente].
5 - The fact of audience publish (or help publishing) content make the colaborative journalism
editoriais?]
6 - In your opinion, the journalist working in colaborative sites have new atribuitions? [Na sua