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Centro Tecnológico
Departamento de Engenharia Mecânica
Curso de Engenharia de Materiais
Fundamentos de Engenharia de Materiais 5
CAPÍTULO 1
LIGAS DE FERRO-CARBONO
Elemento Ferro
tabela 1-1
Propriedades mecânicas de alguns ferros totalmente recozidos
tipo de ferro tensão de ruptura, psi tensão de escoamento, psi alongamento,%
ferro com zona refinada 28000 7000
ferro eletrolítico 35000-40000 10000-20000 40-60
(fundido à vácuo)
Lingote de ferro 41000 18000 47
O ferro puro existe em três formas alotrópicas: alfa (α), gama (γ) e delta (δ). A
figura 1-1 mostra uma curva de resfriamento idealizada para o ferro puro indicando as
faixas de temperatura nas quais cada uma dessas formas cristalográficas são estáveis à
pressão atmosférica. Da temperatura ambiente até 910°C o ferro puro tem estrutura
cristalina cúbica de corpo centrado (CCC) e é chamado ferro alfa (α). O ferro α é
ferromagnético, mais no aquecimento até 768ºC (ponto de Curie), o ferromagnetismo
desaparece mais a estrutura cristalina permanece a mesma. O ferro paramagnético α é
estável até 910°C e então é transformado em cúbico de face centrada (CFC), ferro gama (γ).
Acima de 1403°C o fero gama (γ) é transformado novamente na estrutura CCC como ferro
delta (δ), que é estável até o ponto de fusão do ferro puro, a 1535°C. O ferro (δ) tem arestas
maiores do que o ferro (α). A tabela 1-3 resume as propriedades cristalográficas do ferro
puro.
tabela 1-2
Composição química de alguns ferros relativamente puros
composição química, %
tipo de ferro C Mn P S Si O2 N2
lingote de ferro 0,012 0,017 0,005 0,025 traços ..... ........
eletrolítico 0,006 0,005 0,004 0,005 ..... ........
purificado com H2 0,005 0,028 0,004 0,003 0,0012 0,003 0,0001
tabela 1-3
propriedades cristalinas do ferro puro
formas
alotrópicas forma cristalográfica aresta do cubo A interválo de temperatura
alpha CCC 2,86( 70°F) acima de 910ºC
gamma CFC 3,65(1800°F) 910-1403°C
delta CCC 2,93(2650°F) 1403-1535°C
densidade, 7,868g/cm2 ponto de fusão,1535ºC ponto de ebulição 3000°C
As fases presentes para várias temperaturas numa liga Fe-C resfriadas lentamente e
com porcentagem de carbono abaixo de 6,67% são mostradas no diagrama da figura 1-2.
Este diagrama de fases não é um verdadeiro diagrama de equilíbrio, pois apresenta a fase
cementita (Fe3C), a qual não é uma fase de equilíbrio. Sob certas condições a cementita irá
decompor-se nas fases mais estáveis de grafita e ferro. Porém, na prática a cementita (Fe3C)
é considerada uma fase de equilíbrio. Por esta razão o diagrama mostrado na figura 1-2 é
metaestável.
Fig 1 - O sistema metaestável Fe-Fe3C. Neste sistema binário, há três reações invariáveis importantes: peritética
a 1495°c, eutética a 1148°c, e eutetóide a 723°c.
O diagrama de fases Fe-Fe3C (Figura 1-2) contém quatro fases sólidas ferrita α,
austenita, cementita (Fe3C), ferrita δ. A descrição de cada uma dessas fases está a seguir.
Reação Peritética :
Reação Eutética:
Uma vez que aços comum ao carbono não contêm mais que 1,2%C, a reação
eutética não será tratada nos capítulos de aço. Esta reação será importante no estudo dos
ferros fundidos, que contém acima de 2%C.
Reação Eutetóide:
Temperaturas Críticas
Um aço comum ao carbono contendo 0,8%C é chamado de aço eutetóide, desde que
a transformação eutetóide da austenita para a ferrita e cementita ocorra a essa composição.
Se o teor de carbono no aço for menor que 0,8%C, ele é chamado aço hipoeutetóide. A
maioria dos aços produzidos comercialmente são aços hipoeutetóides.
Aços contendo mais que 0,8%C são chamados aços hipereutetóide. Quando a
quantidade de carbono no aço vai além de 1,2%, o aço torna-se muito frágil, por isso
poucos são produzidos com mais de 1,2%C.
Resfriamento Lento em Aços Comum ao Carbono
Se uma amostra de aço comum ao carbono com 0,4% de carbono (aço hipoeutetóide) é
aquecida até aproximadamente 900ºC (ponto a da figura 1-7) por um tempo suficiente, esta
estrutura se transformará em austenita homogênea. Se esta liga for resfriada para a
temperatura de 775ºC (ponto b figura 1-7), a ferrita proeutetóide irá nuclear
heterogeneamente nos contornos de grãos da austenita. Se a liga for continuamente
resfriada da temperatura do ponto b para o ponto c, a ferrita proeutetóide continuará a
crescer dentro da austenita até aproximadamente 50% da amostra a ser transformada. O
excesso de carbono da ferrita que foi formado será rejeitado na interface austenita-ferrita
dentro da austenita remanescente, que se torna rica em carbono. Enquanto a liga é resfriada
da temperatura do ponto b até o ponto c a porcentagem de carbono da austenita
remanescente aumentará de 0,4 a 0,8%. A 723ºC, se a condição de equilíbrio permanecer, a
austenita remanescente será convertida para perlita pela reação eutetóide: austenita
ferrita + cementita. A ferrita dentro da perlita é chamada de ferrita eutetóide,
diferentemente da ferrita proeutetóide que é formada primeiro. Ambos tipos de ferrita têm a
mesma composição nas condições próximas do equilíbrio.
Utilizando a regra da alavanca logo acima de 723ºC (no ponto c da figura 1-7), a
porcentagem de ferrita proeutetóide e a porcentagem de austenita podem ser calculadas por:
Wt% α proeutetóide = 0,80 - 0,40 x 100% = 50%
0,80 - 0,02
A análise de tais transformações pode ser feita através do estudo de diagramas TTT
(Tempo, Temperatura e Transformação) (figura 1-14), que indica qual será a microestrutura
final do material dependendo do tratamento ao qual ele for submetido. Por exemplo: se um
Ferro-Carbono eutetóide é temperado da temperatura de austenitização à temperatura
ambiente, uma nova fase metaestável será formada: martensita. Se um aço eutetóide for
temperado até uma temperatura entre 250 e 550ºC e transformado isotermicamente, uma
estrutura intermediária entre martensita e perlita será formada: bainita. As microestruturas
da perlita, martensita e bainita associados com o diagrama de transformação isotérmica são
mostrados na figura 1-15.
Figura 1-14 - Diagrama de transformação isotermal de um aço comum ao carbono eutetóide
mostrando sua relação com o diagrama de fase do Fe-Fe3C.
Mecanismo e Morfologia
Efeitos da Temperatura
A Resistência da Perlita
Fig 1.26 – Efeito da quantidade de carbono na estrutura da martensita: a) tipo ripas; b)mistura de ripas e
discos; c) tipo disco.
Figura 1-30- austenita retida em ligas Fe-C temperadas em função de quantidade de carbono
Tipo II – Martensita em discos: a estrutura da martensita em ligas Fé-C de alto teor
carbônico consiste em discos agulhados de martensita, muitas vezes cercada por regiões de
austenita retida. Os discos são criados tendo hábitos de cisalhar em planos irregulares,
dependendo da quantidade de carbono. Em aços com 1,0% de carbono, a estrutura Fe-C
martensítica é formada para ter exclusivamente martensita em discos e austenita retida. Em
contraste os aços martensíticos baixo-carbono são formados independentemente em planos
específicos dentro da austenita e terminam e, ou começam em outros planos específicos. Os
discos em martensita alto-carbono variam em tamanho e têm uma estrutura de camadas
paralelas finas (figura 1-31).
Tipo III – Martensita mista de ripas e discos: há a formação de uma fase transitória,
constituída de uma mistura da fase em ripas e da fase em discos para aços com teor de
carbono entre 0,6 e 1,0% (figura 1-28). Com o aumento do teor de carbono, a quantidade de
martensita em discos aumenta e a martensita em ripas diminui. Kelly e Nutting descobriram
que o fator que determina qual o tipo de martensita se formará é a temperatura de
transformação na qual os grãos de cada tipo de martensita são formados. Eles acreditam
que se a temperatura Ms para uma liga Fe-C fosse abaixo da temperatura de transformação
crítica, uma maior quantidade de martensita tipo discos se formaria. A quantidade de
carbono no aço é que controla a temperatura Ms e assim, pode determinar qual o tipo de
martensita irá se formar. Portanto, existe um campo de temperaturas onde é formada a
estrutura mista de ripas e discos correspondente à faixa de composição entre 0,6 e 1,0 % de
carbono. Essa faixa de temperaturas para aços entre 0,6 e 1,0 % é de 200°C a 320°C.
Modos de deformação
Com índices mais elevados do carbono, a reação martensítica torna-se cada vez
mais difícil, como é indicado pelo aumento em uma quantidade da austenita retida sob
aquelas condições e pelos efeitos de abaixar a temperatura MS (figura 1-30). Enquanto
ocorrer o descrito acima, a maclação se tornam cada vez mais a modalidade predominante
da deformação enquanto o índice do carbono aumenta.
Enquanto a temperatura da transformação é abaixada, o deslizamento torna-se cada
vez mais difícil. O fator importante parece ser os valores relativos de tensão crítica
cisalhante para maclação e deslizamento em uma dada temperatura e composição da liga.
Wasilewski1 sugeriu que a maclação ocorre como meio de impedir a falha da lacuna
quando as energias de tensão suficientemente elevadas acumulam localmente. Assim uma
parte significativa da tensão de escoamento gerada pela reação martensítica em
temperaturas mais baixas pode ser acomodada no limite coerente de macla/matriz,
abaixando desse modo a energia livre na martensita. Desta forma, muitas vezes a tensão de
escoamento nas placas martensíticas das ligas de elevado carbono contendo Fe-C não pode
ser acomodado pela maclação, trincando (figura 1-33).
Figura 1-33
Microestrutura de uma
amostra de Fe – C
martensita com 0,93%,
mostrando as trincas na
placa de martensita
Velocidade da Transformação
Estabilização
Considere uma amostra de uma liga de ferro-carbono austenítico que esteja sendo
rapidamente resfriado para formar a martensita. Se o resfriamento for parado para algum
intervalo do tempo, l s, em alguma temperatura abaixo da MS, a reação martensítica será
parada, e a martensita é dita estabilizada. Nenhuma transformação adicional além de
austenita para martensita ocorrerá mesmo que haja uma diferença suficiente de energia livre
para que a reação continue. Se o resfriamento de uma liga estabilizada for recomeçado, uma
determinada quantidade de sub-resfriamento é necessária para começar outra vez a reação
austenita-martensita, e quando ocorre, freqüentemente começa com um estouro. Uma teoria
para esclarecer a estabilização é que os átomos de carbono difundem para as discordâncias
na martensita, impedindo assim seu movimento adicional enquanto a reação está parada.
Martensita Baixo-Carbono
Com o teor de carbono mais elevado nas ligas Fe-C, endurecimento por solução
sólida é o mecanismo de endurecimento dominante, como é evidenciado pela distorção da
rede do ferro de CCC para tetragonal. O aumento na dureza do ferro pode ser
correlacionado com o aumento da distorção da rede. Entretanto, a introdução de numerosas
maclas na placa da martensita também poderia ser um outro mecanismo de endurecimento.