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UM MANIFESTO ANTI-DESIGN LLUMAIDEIA (© designer nio ¢ artista. Aliés, ele faz questio de deizar isso bem claro, No Brasil, ele briga com 0 publicitiri, com o arquiteto, com o micreito. O designer gosta de brigar. ‘Mas ele sequer sabe quem 6, Hle adora falar sobre "eriatividade”, uma questio complicadissima das quais 0 Al6sofos, 0: mixticos, of cientistas « 0+ pricélogos ze debstem por anos. Mas sera que o designer procura esses estudos? Quantos sto o+ designers que diseutem em sala de aula Platio, Kant, Hegel, Nietzsche, Freud, Jung, Sarze, Bachelard, Hillman, Peisce.. Sempre existe um maluco em cada cingitenta 'normais’. Mas, onde eles lestio? Por que nio fazem barulho? Sera que estio dormindo? Enfim ‘Mas como pode o designer saber o que faz, se nio sabe nem o que €? Ble nio é artista, ele nio é “taarketiro”, ele nto € publicitirio, ele aio é arquiteto. Ble é essa "coisa" que as veces lembram de chamar quando alguém precisa de uma "logomarea” (que por sinal, sequer exist). (O designer é preguigoso: quer a parte pritica, E que paradozi este é! Mal sabe ele que esti em um molde Aloséfico pragmtico, que opera somente em fingio de um mercado, que por sia vez possi um modelo econémico americana. Para 0: desavisados, ito é 0 chamado comportmento neoliberal norte-americano, que tantos gosta de critiar, mas nfo se dio conta que o simples faro de nio saber que vite nele jé 0 fortalece. E 20 pormos nesta: palavras, pode ficar mais claro para alguns que um Design brasileiro torna-re complicado de se veaizar. Bengragado que quando falamos em mitos como os dos deuses egipcios, parece nio haver contestagio do ppiiblico geral para dizer que eles sio realmente mits. Mas a0 focamos em ponte: como "Mercado", is", ninguém compreende a absaagio que estes termos envelven Or, algun jé vin © mercado andando por a? E 0 Design? E o eine cert" de se facer Design? Nio é earache somo ess absmagies, eras consmigtes himanas gacham cant for pela tepetaio, qe sealomes acedinnde que elas eluents sto res? Bstio repedade o mesmo etre de algins positives confundem o que é "modelo" com o que é eal” Como é que o designer no Brasil, como universitirio, © assim integrante da elite intelectual brasileira, espera ser um formador de opiniio se simplesmente aceita o modelo dos outs? Pior: sero designer ‘brasileiro um conformado ou um ignorante? Seo Design isto que aprendemos na academia, uma grande simulacio baseada em valores de mercado que spunea sto exatamente concretos, out seja, sio também smulacées, dizemos alto e claro: nio acreditamos n0 Design. uuumentesto TiGsiqn leon Propomos entio aqui uma idéia que acreditamos ser nove interessante dentro deste cenitio. Envendam: as vezes, é necessirio 0 oposto se apresentar para que algo posss se definir. Temos assim a definicio da Arte pela Anti-Arte, a Lei pela Transgressio, 1 Ordem pelo Caos Todo modelo requer wm And-Modelo| Entio, anavés deste manifesto, declaramos piiblico o que acreditamos: 0 Anti-Design ‘Melbor ainda: acrediamos na tensio entre Design ¢ Anti-Design, Mas tendo em vista que em temas brasileira: sequer existem producées sobre o segundo elemento, buscamos, através dene modesto manifesto, uma definigio. Il, UMA CONTESTAGAO COMO CRIADORA DE TENSAO Lembrem-te: da repetigio & imposigio, é um pulo. © poder do cornurador, por examplo, +6 se da pela repeticio dos seus atos — una nica chibatada pode ser facilmente exquecida ¢ perdoada (‘foi um acidente, sem querer"), 20 paszo que uma série de chibatadas torna-se uma tornira (é caleulado, consciente) (© poderoso se impée pela forca, enquanto que o lider surge naturalmente, Interessante notarmos que e:ta “forca imposta” pelo: poderosos muito fieqientemente ocome por meios muito elegantes, suds democriticos, Para quem entio seri conveniente seguimmos tudo o que aprendemos? Para nds? Para o: professore:? Para aquele Franlienstein chamado "Mercado"? (© Anti-Design, por mio estar preso 3 necessidades pré-impostas por alguém, nos permite entender excolas de pensmento como a fenomenclogia, por exxmplo, que tanto teria a conmibuir para a producio aeadémica No modelo antal de Design, ela acaba deizada de Indo, pois nio ¢ "pritica” o sificiente (so menos assim pensam os que precisam de dados concxetos). Mais uma vez, estamos sob o dominio de uma ercola de pensmento fiis, que reduz a experiéacia tuniversitiria a um campo de conhecimento limitadissimo de wm curio técnico, e sequer temos consciéncia disso, Pior: aplaudimos e damos gtacas pelo curso ser mais "pritico"e "fiil’,o contirio de “tedrico"e “complexm”. Nie é incomum ouvinmos dos colegas 0 quanto 0 estado de teoria é “chatoe “intial”, com defers: ideolsgicas infames como “para qué que et vou sar isso sna minha vida?" Bete 60 maior exemplo do “cego que alo quer ver" Por favor, nfo entendam aqui tm detimento 30 wabalho pritico. Ble é fundamental. Mas n6+ dessfiamos os estudantes que léem exe manifest a pensarem no mimero de veces que tiveram diseussées ferozer de cunko ideolégico-tadrico com profersores. Nao temos diividas de que foram muito menores do que as de cunhe ideolsgico-pritico Infelizmente, sem 0 conteiido teérico a pritica nio tem forga na academia, Bum curso que se diz ‘universitirio (@ que pretende se manter assim) nio pode se dar 20 Inn de passar por estes cenitios (© Anti-Desiga nos permite critiar 0 Mercado, contestar o "Espeticulo” - afinal, o Design é excravo do mercado, o que impede a liberdade académica, Falar mal deste mito rorna-o um herege. Basta dizer que considersmos um designer bem-micedido aquele que for wabalhar aa Globo, que por ma vez, € a maior “emburrecedora” da sociedade brasileira, Nio creio ser necessirio nos estendermos mais neste asmnt uuumentesto atidesiqn E por fiwor, aio queiram nos dizer o contririo. Nao sejamos cinicos. Sem 0 mercado, o Design perde identidade, Cansamos de ouvir professores e profissionais dizendo que “se nio vender, v aio ver propésito, é Arte” Estio confundindo a universidade com a pratica de mercado — um erro gritante e wise. (© Design, como area “tiensifica” universiiria, esti fadado a morrer nos termos que se enconta, pois os cursos universittios desta rea viraram cursos téenicos - tem gente ai fora achando isso ctimo! [A profissto sequer é recoshecida ainda, e aio acho que seria grave atrevimento falar que grande culpa disso 4 nossa pobreza intelectual, nossa filha refleiva (incluso aqui alunos e professores). Extamos pensnds no Desiga 36 deazo do mercado, e nio saino: dele. Chovenos assim no molhado, pois justiicamos a miemio 02 x05 de contertagio dentro do mesmo modelo! "Vocé deve contestar, mas dave vender, Se viral Esamos entio vivendo em fingio de querer agradar a uma simulagio chamada mercado que sequer nos ‘conhece! Seria engracado, se nie fosse patético. Somos penetas em uma farta, marginais vagabundos, maz nos sentimos convidados de honra, efilamos com auoridade: “te nio vender, nao é tom!”, Nés é que deveriamos ser 0s maiores eriticos de toda essa bagunga! Mas asmusta perceber que wm olar exxerno, de fora do modelo atual, nio € sequer ouvido pela grande maioria ‘Mesmo que fostemos reconhecidos em nossas profisiber, se criticissemos o mercado pelas suas préprias condigéer de existéncia esariamos fazendo o menao que experar que um caro sem gasolina ande 20 empurrumos o pira-brisa, Qualquer leigo om fisica mecinica entende que o cairo 36 vai andar ze for empurrado de fora, ow saja, que uma forca EXTERNA amie, Por sinal, espero que esta lima explicagio possa fazer refletir melhor aqueles que dizerem que o And- Design jé erasta no Brasil Aste nio é Anti-Desiga -¢ Arve Publicidade nao ¢ Ani-Design - é Publicidade. ‘Micteiro nfo é Anti-Designer — é Micreizo (© Anti-Dasiga é contestagio, proteno, critica, provacagio - no Desiga! # a recusa de modelos impostos, principalmente o modelos redutorer, que vem o himano como ma méquina precisa, estritmente ‘biolsgica, consumista e previsivel que busca tudo o que é mais pritico Nao vemos outra forma de facer o Design “andar” no campo intelectual sem ser contestado, sem ser provecado e posto em contaste, som uma forga que seja a0 mesmo tempo EXTERNAe IRMA E se ele io anda, mesmo apés tantos apelos por parte de alguns partcipantes desse mito, 0 Anti-Desiga devers suprir essa necessidade, Atodos aqui que dividem nossa opinito e se identificam com essas idéias: eemos agora um nome, 1. UM EXEMPLO ‘Um breve exemple: aio parece exist evidncia maior dessa nossa pobreza intelectual do que trabalhos de Psicologia e Design Todos falam de Gestalt, Cognitive, Comportamental, que sto importantissimas e fiandamentais, 30 memo tempo em que sio linhas mais fincionais, crust, cientificistas, aplicfveis rapidamente 20 mercado, Em ougas palavras: seus remiltados sto mensuriveis por formar visuais e niimeros. E todo designer gosta de wm uuumentesto atidesiqn asimero, uma estatistica, qualquer coisa que prove por A+B que o trabalho dele vende (mesmo que no dia seguinte ninguém mais lembre). Para o Design, estas psicologias 'funcionama” ‘Mas 0 que é este "fincionat"? Sto o aiimeros que aparecem no pagamento mensal? Onde est Freud, Jang, Adler, Frankl, Lacan, enfim, todos aqueles que fizeram longo watados sobre a experiéncia humana e ‘os siubolos produzidas ma psiqhe? Sera que toda nossa experiéncia se resume a mimeros? Seré que o Design, produsindo icone: que vGo de um lado para o outro no mundo atual, eriando as mais diversas sensagées e experiéacias no piiblico, nfo teriam absoluramente NADA a aprender com essas excolas mis profundas que nio sto possiveis de serem mensuradas por insumentos e/ou mimeros precisos? Mais uma ‘yer! serd toda a experiéncia humana possivel de ser expretsa em ntimero:? (por sinal, um fato interessante: apesar de sermos tho dependentes de valores numérico: como estatisticas, notare ciftar, aquele pensamento filoséfico chamado 'positivisme" sequer € citado, Mais e mais, parece que co designer nao sabe quem é,nem 0 que Bonde esti o fenémeno? Onde esti o Mito? Onde esti o Simbolo profundo? (Onde estio os poetas? Onde esti a fcgio cientifica? A fantasia? Para onde foi o inconsciente no Design? Sera que o fato de nio ser mensuravel (aumérica ou graficamente) torna o estudo da producio de simbolos pela experiéncia pettoal simbdlica init] a0 designer? (Que fique claro: o simbolo semistico nao corresponde exatsmente 20 siinbolo pricolsgico.) IV.UMA TENTATIVA (Como toda ‘tiéncia”humana,o Design nunca possuird definigbes mais precisas e rigidas como nas ciéncias exams. Contdo, é triste ver que no eristem mais brigas novas. As brigas que ocorrem na academia sio as, mesmas de décadas atrés,¢ a sensagio de que andamos em citculos é inevitivel Somos entio antidesigners que mio aceitam mais a: formulas prontas da academia, destas que mio conseguem definir um "Design brasileiro", em que tode mundo critica todo mundo... eno final nio dicem nada ew. £ Claro que é bom falamos de empreendimentos, "férmulas magicas', "10 pastos para o sucesso, apenas uma pena que a maioria vicie nisso, aceitando no final a ilusto de que "suto-estima" e " compram em limos e palestas de outras persoas. Aliés, é possivel vender auto-estima? Vender sucesso? Felicidade? Segundo aquele mito gigante chamado mercado, e 0+ seus ntimeros infaliveis, sim. No final disso mdo, o senso critic do designer amal se baseia no seu prdprio “achimio”, que acaba renultando em... nada (mais uma ve: Pois lhe: dicemos bem claramente: o Design, como existe hoje no Brasil, morrerd se nto criar tensdes de aivel intelectual, De tensSes priticas jd somos meses - basta ver a definicio de professores para "o que é ‘um trabalho bom outra grande falécia que temo: de enfrentar Como compreendemos que isso é "bestwira” para a maioria dos designers que vivem cegos (ou conformados) com essa reaidade pragmatica e fria que reduz nossas humanidades a ciftas e estatisticas de ceficiéncia, lhes dicemos de modo complacente: nio se preoeupem. Podem ficar com sett Design, INés, Anti-Designers, 0: marginalizados dos marginalizados, temos agora uma nova casa uuwmenteso, “ume atidesiqn ‘Mas Ihe: fazemos também um convite: verham nos vsitar. Estamos logo ao lado (de repente, extamos até deawo de vocd). Nés mio buscamos regras, instiigSer definidas, forma: ou modelos, Somos uma ideologia, uma nova escola de pensamento, que pretende dislogar © contestar - memio que, em primeizo momento, voeés nos achem ingénuos Alertamosthes: 0 Design como existe hoje parece nio encontrar antitese. Ino é preocupante (para nio dizer deresperador). Hoje em dis, toda idéia que busca um contraste acaba sendo rebaizada como ingenuidade, lixo, pelo simples faro de dizer que o modelo pragmitico mercantil aio deve ser 0 sinico ponte de vista, Serd esse realmente um ambiente académico entio, onde idéias das mais absurdas devem ser discuridas, ow uma ditadura ideolégica? Se essa ditadura nio existe, pior ainda: as idéias novas ze rebaizam ppor algo que sequer tem forma ou nome. On seja, 0: designers estio perdidos,e nio sabem nem o porque. Portanto, se 0 Design quiser sobreviver, é melhor que nos enffente ~ afinal, © designer briga com do mundo, nto €? Caso dessa vez aio compre a briga, podemos até profetzar’ o Design morzerd soziaho, sduizando o proprio reflesn no espelho Obviamente, o que falamos nio é nenhums novidade. Muitos jé fixeram e continuam facendo um “Anti- Design’, principalmente no exterior (cide o movimento Anti-Desiga ocorrido Ii fora hi mais de 50 anos ‘ati:), indo assim contra essa ideologia pragmatica e mercantil importada que engolimos como um grande apo, sempre com a mema dewulpa de que encontamios “designers” disfarcados de “snd-designers” 0 hi ouna forma’, Dersa maneira, no € incomum ‘Mas o proprio Design como tm jogo parece entio ter regras muito complicadas, que nio sto necessirias de ser entendidas -contante que venda. E dai, claro, eria-se essa cultura descartivel que temos hoje em dia, na qual 20 invés de visiarmos museus, ‘isiemos shopping centers das cidades que visitamos Eo designer esti sempre ali, criando os cones que serio usados por alguns meses... e depois jogados fora Apior forma de Mercado é aquela que se vé como tinica instincia moral —e é exta a forma que vivemos, Se 1nd: académicos nio contestanmos e vivermios pelas suas regras, quem € que ira pensar sobre isso? Talvez, quem sabe,o Anti-Design possa gjudar-nos. uuwmenteso, “ume atidesiqn

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