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sustentabilidade.
Algumas estatísticas estipulam que se todas as pessoas do mundo consumissem como a
classe média dos países desenvolvidos, precisaríamos de, se não me falha a memória, mais
dez planetas Terra para prover os recursos e mais cinco só para jogar o lixo.
Se o ideal atual de uma sociedade global igualitária é que todos, sem exceção, possam ter
um estilo de vida confortável mediano, que seria equiparável ao vivido pela classe média de
tais países desenvolvidos, tal feito já seria impossível, como disse no parágrafo acima. Logo,
para que o padrão contemporâneo de qualidade de vida exista para poucos, tem que existir
pobreza e miséria para muitos, pois é impossível que todos gozem deste privilégio.
Como então seria possível que todos que vivem neste planeta tenham uma boa qualidade de
vida, que seja pelo menos próxima do ideal de sustentabilidade e igualidade social? Ao meu
ver existem, resumidamente, duas maneiras conectadas diretamente ao design:
Qual é o papel do designer nisso tudo? Bom, o design é parte fundamental nas fundações do
consumismo, estando envolvido em todos os processos da longa cadeia de desenvolvimento
de qualquer bem de consumo, desde o projeto inicial, o planejamento, o branding até o
marketing publicitário.
Fundamentalmente, o design é a peça principal deste processo; É ele que desperta o desejo
desenfreado de consumo nas pessoas, juntamente com a manipulação propagandista que,
ao longo dos anos, vem condicionando as pessoas a pensar que a posse de coisas é a chave
da felicidade.
Em todo caso, em primeiro lugar, como designers, devemos nos questionar o quanto é
sustentável, por exemplo, criar mais uma cadeira ou mesa, e despejar esse produto num
oceano de similares entre os quais, de maneira geral, não existe grande diferenciação
ergonômica ou funcional. Uma cadeira de um Philippe Starck da vida, usando critérios de
análise objetivos, é realmente melhor de se sentar do que uma cadeira comum de plástico,
que já atente a todos os critérios ergonômicos? Por incrível que pareça, muitas vezes é até
pior. Quem aqui já não sofreu tentando permanecer sentado por mais de cinco minutos em
uma cadeira "assinada" caríssima?
Não tem como negar que existe alguma coisa muito errada nisso tudo, certo? O
documentário "The Light Bulb Conspiracy" mostra como tudo começou.
Imaginem o prejuízo que tal tratado, consagrado entre quatro paredes, trouxe ao mundo,
em termos de desperdício de recursos, durante todo este período; Simplesmente não é
quantificável.
Outro caso clássico é o da meia-calça feminina que, logo quando foi inventada, era tão
resistente que propagandas eram feitas com elas sendo usadas para rebocar caminhões,
sem desfiar um fio. Como a lâmpada, os engenheiros foram ordenados a encontrar uma
maneira de torná-las mais frágeis, em prol da lucratividade da indústria.
Meu ponto é: Onde está a ética nisso tudo? Qual a razão pela qual, ao invés de criar o
melhor produto possível e buscar a lucratividade usando a criatividade para criar um
sucessor ainda melhor, rebaixar um excelente produto à mediocridade para posteriormente
criar produtos um pouco menos medíocres?
E como o design, e o designer, participam nisso tudo? Fato é que os designers de hoje em
dia, já ficam extremamente felizes por ter um de seus produtos introduzido no mercado, e
não ligam a mínima sobre como tal produto foi produzido e como ele está contribuindo para
a evolução da sociedade e a construção de um mercado um pouco mais saudável. Se uma
empresa internacional resolve produzir, por exemplo, uma de suas luminárias na China,
usando trabalho escravo dentro de uma fábrica com zero controle de emissão de poluentes,
você faria alguma oposição?
E como consumidor? Quando você comprou seu iPad, você se preocupou com o fato de que
as condições de trabalho da fábrica que o produz são tão precárias e abusivas, que
instalaram redes de proteção contra suicídio no campus da empresa, como
forma paliativa de frear o grande número de funcionários que preferem se matar do que
suportar mais um dia vivendo naquelas condições, tudo isso pra você ficar passando seus
dedinhos naquela tela o dia inteiro?
É meus amigos, a coisa está feia para o nosso lado; O cerco está se fechando e está se
tornando cada vez mais difícil usar a criatividade para deixar nossa marquinha positiva aqui
neste planeta.
Temos que descartar o ridículo senso de "glamour" que permeia nosso ciclo de
personalidades excêntricas vestidas como pop-stars, e começar a ser realistas. Design é uma
profissão como qualquer outra, cuja a justificativa covarde de que "estou só fazendo o meu
trabalho" pode até enganar os bobos, mas não passa de uma desculpa chula para tentar
diminuir a significância de que estamos usando nossa criatividade para alimentar uma
indústria ultrapassada, irracional e destrutiva.
Pense nisso tudo quando for criar seu próximo produto. Se, por ventura, constatar que o
mesmo não trará nenhum benefício à sociedade, tratando-se de somente mais um belíssimo
pedaço de lixo, talvez seja melhor deixá-lo no mundo intangível da imaginação, para
amadurecer mais um pouco.