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a coluna

de Bett,y MUan em veja.COIIIIbetbmilan

Por que os vivos tm de cuidar dos mortos

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"A ritualizao da morte necessria porque ningum a aceita automaticamente. Queremos v-Ia positivamente, como uma transfonnao. A ritualizao est a servio dessa transfonnao. Sem ela, o luto ' mais penoso~
ratar o corpo dos mortos pra conserv10 at a incineraao, ou o sepultamento, uma prtica antiga e comum a todas as grandes civilizaes. Na era contempornea, essa prtica, a tanatopraxia, est mais disseminada nos pases de cultura anglo-saxa do que nos de cultura latina. No Brasil, ela

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1221 5 DE OUTUBRO. 2011 I veja

pouco conhecida, certamente por causa do tabu da morte. O tanatopraxista tanto pode se.encarregar do preparo simples do corpo quanto da sua conservaao. Ele tambm pode restaurar um rosto deformado por uma enfermidade ou fazer o molde de uma face. Precisa ter conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia. Sua profissao considerada artistica. Cuidar da pessoa amada depois de morta indcio de grande respeito a ela. E recorrer ao tanatopraxista faz bem tambm para a farnflia, j que estabelece uma continuidade entre o momento da morte e o da incineraao, ou inumaao. Evita que a separaao seja abrupta e ameniza a dor. A presena do tanatopraxista na casa do morto em geral recebida pelos familiares como uma ajuda. O filme de' Yojiro Takita A Partida, ganhador do Oscar de produao estrangeira de 2009, um belssimo exemplo disso. A ritualizaao da morte necessria porque ningum a aceita automaticamente. Queremos v-Ia positivamente, isto , como uma transformaao, uma mutaao, ou um acesso do morto a outro mundo. A ritualizaao est a servio' dessa transformaao. Sem ela, o luto mais penoso. Ns sofremos sem os nossos mortos, mas nao podemos viver com eles. O ritual serve para encontrar a boa distncia. Como diz Baudry, grande estudioso do assunto, temos de evitar a disjunao' (a completa negaao da morte) e a confusao (a relaao ininterrupta com o morto). A morte de um ser querido nos faz sofrer. Mas' tambm nos reenvia nossa condiao de mortais 'e nos humaniza. Lembra que tudo passa e ensina a valorizar o presente.
A psicanalista e escritora Bett,y Mllan assina a coluna Consultrio SentImental em VElA.com. Uma vez por ms, ela pub6ca em VEIA um artigo especialmente escrito para a mista impressa

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