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A cura do câncer

Numa praia, um caranguejo


Seu andar de lado, passo a passo
Pela areia
Seguindo o litoral
E pela linha de sua trajetória
Lá longe
Já mais distante donde a vista alcança
Homens trabalhando
Fincando colunas e vigas de metal
Entre o choque das ondas
Batendo concreto no porto
Projetando o futuro
A saída para o mar

No passado, um homem se dispôs


E manejou o fogo
De sua descoberta surgiu o mundo
A civilização, os motores, as mortes em massa
Aquilo que somos hoje
Os distúrbios, a depressão
Desastre de carro, suicídio
Do fogo, a construção do porto
De navios, betoneiras e caminhões

O homem, naquele momento


Teve a sua chance divina
Poderia ter se ajudado
Evitado se auto-destruir
Não ter de olhar para si mês
E inevitavelmente perguntar:
O que fizemos de nós mesmos?

Prazer, felicidade, bem-estar


Essas e outras palavras
Muitas, nem me lembro
Não faltaram para prever
Tudo aquilo que queríamos
Mas as palavras obtidas
Estão grifadas em meu dicionário

Angústia
Que aqui reina entre nós
Tristeza
Espalha teu brilho como o Sol
Dor
Pungente até tornar-se normal
Que nem estranheza causas
Ira
Comportamento normal

Até onde a inteligência nos levou?


Do fogo do homem primitivo
Aos bombardeios de napalm
E massacres étnicos, estilhaços de granadas

Brilho divino
Iluminando a mente humana
E conspurcada de sua finalidade
Leve-nos ao progresso
Traga felicidade
Ou não...
Traga, entre lágrimas
Nossa auto-flagelação
Tira a vida de um jovem
Que nem provou da vida
Queime seu corpo e espírito
Lance-nos todos à fome
E ao desespero

Sofre, velho
Com o inchaço de seu tumor
Dor incessante
Latejando na barriga
Lembra-se do seu trabalho
Da máquina de escrever na repartição
Invenção moderna
O aparelho de fax, a cafeteira
O motor do carro
Guiado em sua juventude
Da primeira viagem de avião
E veja com profundo pesar
Tudo o que foi moderno
Ficou velho
E ainda assim
Não descobriram
A cura do seu câncer

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