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FORÇAS BLINDADAS
“Ao Corpo de Oficiais cabe o dever de aceitar o Exército como a Nação pode tê-lo,
mas o dever ainda maior de redobrar esforços para colocá-lo à altura de sua elevada
missão. ”
Marechal José Pessôa Cavalcanti de Albuquerque
1. INTRODUÇÃO:
O Exército Brasileiro, assim como toda a Nação, vem passando por uma fase
extremamente difícil no campo econômico que traz reflexos negativos para a Força
Terrestre, tais como baixíssimos soldos, perda progressiva da capacidade profissional de
seus quadros, sucateamento do seu material e muitos outros problemas tão reais e
dolorosos em nosso dia-a-dia pelas unidades do Exército.
Este texto procura tratar exatamente sobre os problemas que atingem nossas
FORÇAS BLINDADAS, tais como falta de objetividade na sua configuração, dispersão
exagerada dos meios blindados, falta de quadros especializados e a necessidade de uma
política de pessoal voltada para a formação de elementos especializados em blindados,
entre outros.
2 Artigo escrito em 1995
Certamente ele não traz somente os problemas. Ao final são apresentadas algumas
soluções possíveis para, se não resolver, pelo menos atenuar de maneira sistêmica e
objetiva esta problemática.
2. DESENVOLVIMENTO:
Na Guerra do Golfo o que se viu, em relação aos blindados, foi que além da
diversidade de carros de combate e de transporte utilizados(T-34, 54, 55, 59, 62, 72
BTR 50, 60, 152, M1 Abrans, Chieftain, Urutu, Cascavel, VCR, AMX 30,
Challenger)que somavam 4 décadas de evolução tecnológica, as unidades de ambos os
lados já estavam adequadas ao novo tipo de batalha que iria se impor, ou seja, todas
elas possuíam organicamente ou em apoio, tropas diversificadas e com missões definidas
em apoio aos carros; enfim, os carros não operavam sozinhos, mas dentro de uma
sofisticada e inteligente organização para o combate na qual todos se complementavam e
ele era o vetor principal que iria proporcionar a ruptura efetiva das posições inimigas.
Conclusão Parcial
Com o passar dos anos os blindados sofreram mudanças profundas em sua parte
técnica e tática, contudo as suas características básicas, como a mobilidade, potência de
fogo e choque, flexibilidade e comunicações amplas e flexíveis, continuam a ser
indispensáveis para qualquer exército, além de serem o melhor e mais eficaz meio que
um comandante de uma força terrestre pode dispor para alcançar a vitória.
Como viatura blindada para transporte de pessoal (VBTP) nos RCB utilizamos o M-
113 de fabricação americana, que também serve para o transporte de pessoal de apoio
nos RCC.
Conclusão Parcial
a)Região Sul
Esta região, principalmente na sua porção mais oeste e sul, onde o relevo plano e
com poucas variações de altura, inexistência de grandes florestas que se constituam em
obstáculos e amplo espaço livre para evoluções táticas são um convite para operações
blindadas, aliado ao possível emprego de blindados por parte de países que fazem
fronteira conosco em caso de conflito. É, sem dúvida, uma região que exige tropas
blindadas para a sua defesa.
6 Artigo escrito em 1995
b)Região Centro-Oeste
Embora não seja tão favorável quanto a Região Sul, o Centro-Oeste, desde que
evitadas as regiões do pantanal entre Cáceres e Aquidauana, nas épocas de cheia, pode-
se utilizar meios blindados para sua defesa, principalmente em ações clássicas de ligação
e reconhecimento.
c)Região Norte
Conclusão Parcial
Após esta breve análise das regiões mais propicias ao emprego de concentrações
de blindados em nosso território , já podemos concluir que é imperioso constituirmos uma
FORÇA BLINDADA compatível com as nossas necessidades em caso de conflito externo.
Some-se ainda:
uma guerra rápida, veloz e altamente letal e não admite combates desgastantes que
sugam lentamente a capacidade econômica dos países contendores e não produzem
efeitos imediatos. A Guerra do Golfo, das Malvinas/Falklands, Yom Kippur, Seis Dias e
outras, são exemplos da rapidez com que os conflitos tendem a ser resolvidos. É
interessante notar que exceto na Guerra das Malvinas/Falklands, os conflitos citados
contaram, em sua parte terrestre, com ampla utilização de blindados.
Que o nosso país necessita de uma revitalização de investimentos na área militar isto não
se discute, entretanto, a curto ou médio prazo, dificilmente haverá um investimento
maciço nesta área. Que as FORÇAS BLINDADAS que atualmente possuímos não atende
todas as necessidades do país em caso de conflito, também é uma afirmação que
somente aqueles que querem permanecer sob uma capa fantasiosa e irreal insistem em
negar. É uma dura realidade, todavia não chega a ser desesperadora e nem irremediável.
Se analisarmos a história de muitos países, que hoje são considerados potências,
chegaremos a conclusão que já estiveram em situação infinitamente pior em face a um
inimigo real(o que não é o nosso caso) e conseguiram reverter o quadro, através de um
planejamento sério, com metas a atingir plausíveis e perseguidas de maneira persistente.
O custo de apenas um carro de combate novo, que pode variar de 750. 000 a 5, 5
mil dólares , já nos dá um indício de que o problema é complexo e de difícil solução.
Contudo, a curto, médio e longo prazos, pode-se imaginar um planejamento que nos leve
a possuir uma FORÇA DE BLINDADOS razoável em 10 ou 15 anos. Evidentemente o ideal
seria que isto acontecesse em 2 ou 5 anos, mas por mais otimista que sejamos é um
prazo irreal.
Alguns acham que a solução para melhorar a nossa FORÇA BLINDADA “seria
apenas a compra de moderníssimos carros de combate”. Ou seja, bastaria que
9 Artigo escrito em 1995
tivéssemos todos os nossos carros do tipo M1 Abrans ou Leopard 2 que o problema estaria
resolvido. Acredito que isto seja um equívoco, fruto de uma análise precipitada, pois uma
FORÇA BLINDADA não é composta apenas de carros modernos. Embora eles sejam o
expoente máximo desta força, os obuseiros autopropulsados, viaturas blindadas para
transporte de pessoal e viaturas especializadas sobre lagartas para apoiar uma infinidade
de missões que são peculiares de tais forças são fundamentais. É imperioso que haja um
equilíbrio na compra deste material, entre carros de combate e outras viaturas que
viabilizem o emprego destes mesmos carros em combate, pois já foi mostrado que utilizar
os carros sem estarem inseridos em uma estrutura organizacional especificamente criada
para isto é suicídio.
Outros concluem “que os nossos M 41 não tem mais valor para continuar em
nossas forças e deveriam ser abandonados de vez. Mais vale uma FORÇA BLINDADA
pequena, porém dotadas de carros novos e modernos, do que continuarmos com os
velhos Walter Buldog”. Embora o ideal seria possuirmos somente a última palavra em
carros de combate, sabemos que isto é impossível no momento. Gostemos ou não, este
carro, que entrou em serviço no Exército Brasileiro em agosto de 1960, nas antigas
Divisões Blindadas, e foi distribuído ao então Regimento de Reconhecimento Mecanizado,
possivelmente ficará em serviço até o início de século XXI, já que não temos como
substituir os cerca de 300 carros, de uma só vez. Além disto, o M 41 ainda pode ser
bastante útil para o exército em, no mínimo, duas hipóteses:
b)Os preços proibitivos dos carros tem obrigado a muitos países a investirem na
repotencialização de seus blindados, que muitas vezes chegam a 1/3 ou ¼ (depende do
tipo de serviço feito)do preço de um carro novo. É bem verdade que o M 41 já foi
10 Artigo escrito em 1995
repontecializado em 1978, onde, entre outras mudanças, teve o seu motor a gasolina
azul trocado por um a diesel nacional e foi equipado com um canhão 90 mm. Esta
repontecialização feita na década de 80, que segundo o Gen Euclydes Figueiredo, era
“uma solução de emergência (. . . ) é um remendo que se fez no carro, que era muito bom,
mas dispendioso, e para o qual não tínhamos suprimentos. Usava gasolina especial que
nós não tínhamos(. . . ) O M 41 foi então repontencializado com um motor Scania, que
pesa uma tonelada a mais que o original. Essa sobrecarga atrás desequilibrou o carro; a
suspensão não agüentará durante muito tempo. Para tempo de paz, para exercitar e como
recurso momentâneo, serve; mas não creio que sirva em campanha”. Ou seja, satisfazia
em parte as nossas necessidades da época, porém atualmente já sentimos que estamos
necessitando de um blindado com mais equipamentos óticos e de tiro para fazer frente as
necessidades que o campo de batalha atual impõe, bem como pequenas melhorias em
outras partes. Um bom exemplo de uma repontecialização atual e bem feita em uma Vtr M
41 é a realizada pela Dinamarca. A firma encarregada de tal empreitada, a Falck Schmidt,
dotou a torre de telêmetro à laser, sistema NBC, e um novo projetor infravermelho que
possibilita combates noturnos. O canhão 76 mm continuou, apenas adaptando-se para a
utilização de munições cinéticas (APFSDS-T). O motor original foi trocado por um diesel
Cummins VTA - 903 T que desenvolve 465 Cv. Fez o mesmo com os seus Centurions,
substituindo o canhão original de 90 mm pelo famoso L-7 de 105 mm. Uma luneta de tiro
sueca Ericson, com um telêmetro laser acoplado(Neodynium YAG) compõe os novos
equipamentos de direção e condução do tiro. É interessante notar que se dotarmos o M 41
com equipamentos óticos modernos conjuntamente com algumas melhorias em seus trens
de rolamento, teremos um carro em condições de lutar contra outros carros similares na
América do Sul, em igualdade de chances, além de poder empreender combates
noturnos. Deste modo teríamos um bom carro para dotar os RCB. Quem ainda não
acredita que este caminho é viável e atende as nossas necessidades, basta verificar o
ano de fabricação dos carros utilizados na Guerra do Golfo, e encontrará por
exemplo:Chieftain(adotado pela Inglaterra em 1963), Leopard 1A1(adotado pela
Alemanha e outros países na década de 60, foi repotencializado), M 60(EUA, adotado
em 1960 e também modificado), e até mesmo alguns T 34, de fabricação soviética da 2º
Guerra Mundial, repotencializado.
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Conclusão Parcial
capacidade operacional , já que desta maneira haveria possibilidade de apoio real e não
apenas no “papel”, como acontece no momento devido a falta de meios AP no Brasil.
mais dinâmico, realizando exercícios os mais reais e árduos possíveis, tendo sempre em
mente que estes exercícios, na carta ou no terreno, devem ser combinados com outras
armas, e, finalmente, complementando a formação de lideres aptos para conduzir
desde as frações elementares até as unidades e grandes unidades blindadas. Seria,
inclusive, uma oportunidade de se homenagear o Marechal José Pessôa, considerado o
Pai dos Blindados do Exército Brasileiro pelo seu empenho em trazer para o Brasil os
primeiros carros de combate, os F 17 Renaut, dando o seu nome a ela. Tenho a mais
absoluta confiança e certeza que o funcionamento desta escola é fundamental para o
nosso exército e trará, sem dúvida alguma, grande evolução no pensamento blindado
brasileiro, bem como aumentará sobremaneira o poder de combate da força como um
todo.
Qual dos dois oficiais abaixo está realmente apto a liderar um Regimento C Mec em
combate?
OFICIAL 1 - Foi Cmt de Pel C Mec por um ano, Cmt de PELOPES por um ano, Cmt de
Esqd C Sv por um ano, Instrutor do NPOR por três anos, Cmt de Esqd C C por um ano,
S/3 de um RCB, S/4 de um RCB, Sub Cmt de um RCB , E/2 de uma Bda Inf Mtz e foi
designado para comandar um R C Mec.
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OFICIAL 2 - Foi Cmt Pel C Mec por quatro anos, realizou um curso de
motomecanização, Cmt de Esqd C Mec por três anos, S/3 e S/4 e Sub Cmt de um R C
Mec , E/3 de uma Bda C Mec e foi designado para comandar um R C Mec.
Após uma análise superficial, qualquer leigo chega a conclusão que o oficial Nr 2 ,
teoricamente , é o mais apto para comandar uma tropa mecanizada em combate, pois
além de ter feito sua vida profissional em cima de tropas mecanizadas, desde tenente, ele
está familiarizado com todas as peculiaridades desta área, conhece a fundo o
equipamento e os aperfeiçoamentos implementado ao longo dos anos, bem como o perfil
da tropa que irá comandar. Imagine se este oficial fosse colocado para comandar um RCC
ou RCB?Certamente iria se desdobrar ao máximo para fazer um bom comando, e até
conseguiria alguns resultados positivos, dada a característica altamente moldável e
criativa de nossos oficiais, todavia não é isto que se procura, mas sim o máximo de
rendimento em qualquer função. É bem verdade que possuímos alguns oficiais que são
quase “gênios”, com uma capacidade de aprendizado e execução acima da média, mas o
nosso exército possui 1% de gênios e 99 % de homens normais que se saem muito bem
quando especializados em determinada área.
A França foi um dos países que apesar de reconhecer logo a necessidade de tropas
blindadas especializadas, porém não introduziu de imediato este novo meio de combate
em suas forças, tal fato conduziu o seu exército a fragorosa derrota na década de 40, na
2ª Guerra Mundial, quando, ao ser computada suas perdas em 5 de junho de 1940,
perdera 30 divisões no seu setor norte, ou seja, quase 1/3 do total de suas forças,
incluindo a melhor parte de suas já poucas numerosas divisões mecanizadas, bem como
12 divisões inglesas colocadas em reforço. Ao contrário, a Alemanha, apesar de ter tido
bastante reações internas contrárias, teve a sorte de contar com um antigo e visionário
general:Hans von Seeckt. Deve-se a ele a idéia de reconstituir um eficiente exército e
lançar a sua futura estrutura, investindo nos seus quadros e mandando o desconhecido
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Guderian, ainda Maj, para estudar e treinar pequenos efetivos alemães de carros de
combate em Kazan, na Rússia. Estas e outras medidas foram capazes de transformar o
derrotado exército Alemão da 1ª Guerra Mundial na potência militar que subjugou a Europa
em 1941; apesar de, durante estes exercícios na Rússia, ainda estar em vigência o
Tratado de Versalhes, que proibia qualquer investimento militar na Alemanha que
ultrapassasse os 100. 000 homens e a construção de CC, belonaves e canhões de longo
alcance. Lembremo-nos do que disse o Gen Von Thoma, sobre a guerra moderna: ”Na
moderna guerra móvel, a tática não é o principal. O fator decisivo é a organização dos
recursos - a fim de conservar a impulsão”.
Conclusão Parcial
3. CONCLUSÃO
Finalmente, tentei abordar da forma mais ampla, honesta e direta possível, que
estas páginas me permitem, as nossas FORÇAS BLINDADAS. Sei que esta modesta
explanação não esgota o assunto e que é necessário que um número maior de militares
exponham suas idéias, experiências e pontos de vista sobre todos os aspectos que dizem
respeito a força, tendo coragem moral para falar aquilo que acreditam e não o que os
outros gostariam de ouvir, ou para agradar pessoas ou grupos de pessoas, pois acredito
que a troca de idéias francas, ancoradas na disciplina, é o melhor meio para que o nosso
Exército esteja apto a responder aos desafios que o futuro nos aponta, haja vista que se
algum dia a nação nos chamar para defendê-la contra um inimigo externo comum, não
haverá justificativa ou argumento plausível para uma derrota e nem para o derramamento
18 Artigo escrito em 1995
Este artigo está escrito exatamente como foi publicado em 1995. Deve ser lido dentro do
contexto da época.