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VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO
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O bem jurídico protegido é a casa e suas dependências. Não é o domicílio, como consta da
rubrica do art. 150. Não é a propriedade, nem a posse do imóvel, mas a casa, enquanto lar do
ser humano, pouco importando sua estrutura física, sua imponência ou humildade, tamanho
ou localização e outras características secundárias.
É a moradia onde o ser humano vive e tem o direito de continuar em paz e harmonia,
gozando de paz e tranqüilidade.
23.2 TIPICIDADE
O caput do art. 150 descreve duas figuras típicas fundamentais, o § 1º contém quatro
formas qualificadas e o § 2º uma causa de aumento de pena.
23.2.1 Conduta
A primeira conduta típica é representada pelo verbo entrar. A segunda pelo verbo
permanecer. Aquela é, necessariamente, conduta positiva, comissiva. Significa ingressar,
penetrando em seu interior.
Na segunda forma típica o sujeito ativo já se encontra no interior da casa, onde terá
entrado legitimamente e aí, devendo sair, não o faz, omitindo-se do comportamento
exigido e violando o preceito.
A permanência ilícita na casa ocorre quando o agente, tendo nela ingressado com o
consentimento do morador, é por este instado a deixá-la mas resiste, de forma
ameaçadora, clandestina ou astuciosa.
Tácito é o dissentimento que decorre das circunstâncias que cercam o fato. Desnecessário
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que o morador expresse sua contrariedade com o ingresso de inimigo figadal em sua casa. Do
mesmo modo, não é necessário que o dono da casa determine a retirada do convidado que
agrediu sua filha, na festa para a qual fora convidado.
livre de entrar ou permanecer na casa. Se o agente não tem consciência de que o morador
se opõe a seu ingresso ou permanência não há fato típico, porquanto aí não terá agido com
a intenção de realizar o tipo.
A tentativa é possível, nas duas formas típicas. Iniciando o ingresso, mas sendo
barrado pelo morador ou outra pessoa ou recusando-se a sair da casa, mas dela sendo
retirado, responderá o agente tão-somente pela tentativa.
A primeira delas é se o crime é cometido durante a noite, que deve ser entendida
como o período compreendido entre o pôr e o nascer do sol, ou seja, quando há escuridão.
Não se confunde a noite com o repouso noturno, que é uma causa de aumento de pena do
crime de furto. O conceito de noite é mais amplo que o de repouso noturno. Vai do
crepúsculo ao amanhecer.
Por fim é qualificado o crime cometido com o emprego de arma ou por duas ou mais
pessoas. A arma deve ser efetivamente utilizada e não simplesmente portada, ainda que
ostensivamente.
Nesses casos, a pena será de detenção de seis meses a dois anos, além da pena relativa
à violência empregada.
23.3 ILICITUDE
Só poderá fazê-lo, porém, durante o dia, ou seja, após o nascer e antes do pôr-do-sol.
Será lícita a violação se presentes todos os seus requisitos: (a) durante o dia; (b) munido de
ordem judicial fundamentada, de prisão, busca e apreensão, penhora etc.; (c) com
observância das formalidades legais, contidas no Código de Processo Penal.
O funcionário público que realizar diligência violando a casa, sem autorização judicial
ou sem observar, rigorosamente, as formalidades legais ou, ainda, com abuso de poder,
responderá pelo crime, com pena aumentada de um terço (§ 2º). As formalidades
processuais são essenciais para a validade da diligência, que será nula caso não sejam
observadas.
Quando um crime está sendo praticado, há flagrante, logo, nesse ponto, há harmonia
entre as duas normas. Quanto à iminência da prática de crime, contudo, não há convergência,
porque não há flagrância de crime futuro. Nesses casos, todavia, pode ser excluída a ilicitude do
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fato pela incidência de uma das causas gerais de justificação, a legítima defesa ou o estado de
necessidade, comentadas no item seguinte.
23.4 CULPABILIDADE
A culpabilidade será excluída quando o agente atuar em erro de proibição. O erro que
recair sobre o dissentimento da vítima, que é elementar do tipo, já se disse, é erro de tipo,
excluindo a própria tipicidade do fato. Aqui se trata de erro que incide sobre a existência de
excludente de ilicitude ou sobre seus pressupostos ou seus limites. Pode haver estado de
necessidade e legítima defesa putativos, bem assim pode o agente errar sobre a existência
8 – Direito Penal II – Ney Moura Teles