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DANO EM BEM ESPECIALMENTE


PROTEGIDO

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45.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS DO


CRIME

O tipo do art. 165 do Código Penal é: “destruir, inutilizar ou deteriorar coisa


tombada pela autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico ou
histórico”. A pena é detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

A Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, traz a seguinte norma incriminadora:

“Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar: I – bem especialmente protegido por


lei, ato administrativo ou decisão judicial; II – arquivo, registro, museu,
biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato
administrativo ou decisão judicial: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e
multa. Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de 6 (seis) meses a 1 (um)
ano de detenção, sem prejuízo da multa.”

Trata-se de norma que contém os mesmos elementos da descrição típica do art.


165, com alcance maior, porquanto não abrange apenas as coisas tombadas em virtude de
valor artístico, arqueológico ou histórico, mas toda e qualquer coisa que seja especialmente
protegida por lei, ato administrativo ou decisão judicial.

Inclui, portanto, as coisas tombadas, que assim serão consideradas quando


preencherem os requisitos do Decreto-lei nº 25 e tiverem sido assim declaradas, por ato
administrativo, do titular do órgão administrativo: da Diretoria do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional.

Ora, a lei nova regulou inteiramente a matéria e por ser mais severa que a norma do
art. 165 é, com esta, absolutamente incompatível, tendo, por isso, revogado-a. Não poderia
2 – Direito Penal II – Ney Moura Teles

mesmo ser diferente. O dano causado à coisa tombada não poderia ser punido com pena
mais branda que o dano causado a uma coisa não tombada, embora protegida
especialmente por outra lei, municipal ou estadual, por ato administrativo ou decisão
judicial.

O bem jurídico protegido é o patrimônio artístico, arqueológico e histórico tombado


pela autoridade pública, federal, estadual ou municipal, especialmente protegido por lei,
ato administrativo ou decisão judicial.

Sujeito ativo é qualquer pessoa, inclusive o proprietário da coisa, se de propriedade


particular.

Sujeito passivo é o ente público a que pertence a coisa – União, Estado, Distrito
Federal ou Município – ou o particular proprietário de coisa tombada ou especialmente
protegida.

45.2 TIPICIDADE

É um tipo de dano especial. Aplicam-se, portanto, todas as observações feitas


quando da análise do crime de dano do art. 163. As condutas são as mesmas, destruir,
inutilizar ou deteriorar. A diferença está na qualidade da coisa, que também pode ser
imóvel ou móvel, porém que tenha sido tombada em razão de seu valor ou especialmente
protegida por lei, ato administrativo ou decisão judicial.

O art. 1º do Decreto-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937 assim define o


patrimônio histórico e artístico nacional:

“Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e


imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua
vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor
arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.”

Estados, Distrito Federal e Municípios poderão instituir também seu patrimônio


histórico e artístico, mediante o tombamento das coisas valiosas desse ponto de vista ou a
concessão de proteção especial.

Tombar significa inscrever a coisa num dos livros de tombo previstos em lei, a
partir do que tornam-se inalienáveis, recaindo sobre ela outras restrições, especialmente as
relativas à manutenção de sua integridade e a sua conservação original, a fim de
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resguardar o interesse histórico, artístico ou arqueológico.

Podem ser objeto de tombamento também as coisas de propriedade privada.

O tipo em comento só incide sobre coisa que tenha sido formalmente tombada, nos
termos da legislação pertinente, ou especialmente protegida. Se tem valor histórico,
arqueológico, artístico, mas não foi regularmente tombada ou especialmente protegida, o
crime será o de dano, qualificado se pertencer a ente público, simples se particular.

Cuida-se de norma penal em branco que será completada pela norma contida em lei,
ato administrativo ou pela decisão judicial que declarar a proteção especial do bem.

Crime doloso, o agente deve agir com consciência da qualidade do bem, havendo erro
de tipo se não souber que se trata de bem especialmente protegido ou tombado. Se o erro
for culposo, responderá pelo delito culposo, previsto no parágrafo único do art. 62 da lei
especial.

A consumação, a exemplo do crime do art. 163, acontece com a efetiva destruição,


inutilização ou deterioração do bem, possível a tentativa.

45.3 FORMA CULPOSA

O parágrafo único do art. 62 da Lei nº 9.605 tipifica o dano em coisa especialmente


protegida, inclusive tombada, praticado por negligência, imprudência ou imperícia,
cominada a pena de detenção, de seis meses a um ano, e multa.

Necessária a realização de todos os pressupostos da verificação da tipicidade culposa,


conduta voluntária, resultado involuntário, previsibilidade objetiva e inobservância do
dever de cuidado objetivo.

45.4 ILICITUDE E CULPABILIDADE

A ilicitude do crime de dano pode ser excluída se o agente tiver agido em estado de
necessidade.

Se na repulsa legítima a uma agressão injusta, atual ou iminente, o agente, usando do


meio necessário com moderação, por erro na execução, danificar coisa especialmente
protegida ou tombada, igualmente estará cometendo fato lícito, por estar em legítima
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defesa.

Sua culpabilidade poderá ser excluída nos casos correspondentes de estado de


necessidade e legítima defesa putativos, bem assim em toda situação em que agir por erro
de proibição inevitável. Será diminuída a culpabilidade, com a redução da pena, se o erro
for evitável, conforme manda o art. 21 do Código Penal.

45.5 AÇÃO PENAL

A ação penal é de iniciativa pública, incondicionada, competente a justiça federal se


houver interesse da União. A suspensão condicional do processo penal, de que trata o art.
89 da Lei nº 9.099/95 poderá ser concedida, porém desde que se observem também os
requisitos contidos no art. 28 da Lei nº 9.605/98.

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