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EXPLOSÃO

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30.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS DO


CRIME

O art. 251 contém o tipo penal de explosão: “expor a perigo a vida, a integridade
física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de
engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos”. A pena é reclusão, de três a
seis anos, e multa.

O bem jurídico tutelado é a incolumidade pública, a segurança pessoal das pessoas


e de seus bens materiais, sua tranqüilidade, enfim.

Sujeito ativo é a pessoa, qualquer uma, que realiza a conduta. Sujeito passivo é o
Estado e também a pessoa que fica exposta ao perigo ou cujo patrimônio também tenha
sido afetado pela situação causada pelo agente.

30.2 TIPICIDADE

No caput está descrita a forma típica fundamental. O § 1º contém uma


circunstância privilegiadora. O § 2º contempla elementos e causas de aumento de pena. A
forma culposa está definida no § 3º. O art. 258 trata das formas qualificadas pelo
resultado.

30.2.1 Forma típica simples


2 – Direito Penal III – Ney Moura Teles

30.2.1.1 Conduta e elementos do tipo

A conduta é expor a vida, a integridade física ou o patrimônio de alguém a uma


situação de perigo, mediante explosão. É colocar em perigo. Realiza-se mediante a causação
de uma explosão, ou através de arremesso ou colocação de engenho de dinamite ou de
substância de efeitos análogos.

A primeira forma contemplada no tipo é a causação de uma explosão. Explosão é a


expansão violenta de gases, em forma de calor, acompanhada de estrondo e pressão
disruptiva, causada por repentina liberação de energia decorrente de uma reação química
muito rápida, ou de uma reação nuclear ou, ainda, do escape de gases ou vapores sob
grande pressão. Com a explosão, as matérias próximas, inclusive corpos humanos, sofrem
a ação da enorme força expansiva dos gases liberados, recebendo seu impacto.

Prevê a norma, ainda, a hipótese de o agente arremessar ou colocar um engenho de


dinamite ou de outra substância de efeitos análogos. Arremessar é lançar a distância.
Engenho é a bomba ou qualquer outro artefato construído pelo homem com o fim de
causar explosão. Dinamite é a nitroglicerina misturada com materiais sólidos. Outras
substâncias têm a mesma qualidade explosiva da nitroglicerina. O simples arremesso ou a
tão-só colocação do artefato já realiza a conduta, não sendo necessário que ocorra a
explosão do engenho.

É necessário, porém, que com essas condutas – causar explosão, arremessar ou


colocar engenho explosivo – o agente exponha a perigo a vida, a integridade física ou o
patrimônio das pessoas. Exige-se, como no crime de incêndio, o perigo para um número
indeterminado de pessoas ou bens patrimoniais. Sem que haja a situação de perigo
concreto, não se realizará o tipo. Não há exigência de que ocorra dano efetivo a qualquer
bem jurídico, bastando a existência do perigo concreto, que deverá ser cabalmente
demonstrada através da prova técnica.

Havendo lesão corporal, incidirá a forma qualificada adiante comentada.

O agente deve atuar com dolo. É necessário que ele tenha consciência de que está
provocando uma explosão, arremessando ou colocando em determinado lugar um engenho
explosivo, sabendo que ao fazê-lo coloca em perigo bens jurídicos de pessoas
indeterminadas, e vontade livre de atuar nesse sentido, sem qualquer outra motivação
especial, senão a de criar o perigo comum. Admite-se a verificação típica também quando o
agente atua com dolo eventual, ou seja, quando, mesmo não desejando criar o perigo, nele
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consente, se ele ocorrer.

Se o agente pretende, com a explosão, arremesso ou colocação de explosivo, causar


a morte de determinada pessoa ou lesioná-la ou danificar uma coisa alheia, haverá
concurso formal imperfeito entre o crime de explosão e o crime contra a pessoa ou o delito
patrimonial.

30.2.1.2 Consumação e tentativa

A consumação acontece quando os bens jurídicos mencionados no tipo, de pessoas


indeterminadas, ficam expostos ao perigo causado pela conduta do agente. Tratando-se de
explosão, consuma-se com seu momento causador do perigo. No caso de arremesso ou
colocação de engenhos explosivos, consuma-se com a realização do arremesso ou com a
colocação dos mesmos em determinado local, independentemente do funcionamento do
mecanismo de acionamento do engenho.

A tentativa é admissível nas três hipóteses se, apesar da explosão ou do arremesso


ou colocação do explosivo, não se instala, por uma razão qualquer alheia à vontade do
agente, a situação de perigo para indeterminados bens jurídicos.

30.2.2 Circunstância privilegiadora

Quando o agente não emprega dinamite ou explosivo de efeitos análogos aos da


dinamite, a pena será de reclusão, de um a quatro anos, e multa. A menor reprovação penal
decorre da menor potencialidade explosiva de outras substâncias, menos perigosas que a
dinamite.

A apuração da menor perigosidade da explosão causada ou do engenho será feita a


partir da análise dos efeitos quando de sua explosão, o que se dará também mediante
perícia. É que a substância empregada, para ser considerada não análoga à dinamite, deve
provocar efeitos menos lesivos que ela.

30.2.3 Aumento de pena

O § 2º do art. 251 determina o aumento das penas, se ocorrer a hipótese prevista no


§ 1º, inciso I, do art. 250, isto é, “se o crime é cometido com intuito de obter vantagem
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pecuniária em proveito próprio ou alheio”. É o que acontece quando o agente busca


vantagem de natureza pecuniária, que pode destinar-se a si ou a terceira pessoa, mas não
precisa ser, efetivamente, obtida pelo agente, bastando, para a incidência do aumento, que
seja esse seu intuito.

No inciso II do § 1º do art. 250, aplicável também ao crime de explosão, por força


do que dispõe o mesmo § 2º do art. 251, estão descritas outras causas de aumento de pena,
relacionadas com a coisa sobre a qual recai a explosão.

Alcança a casa habitada ou destinada à habitação. Habitada é a casa na qual mora


ou trabalha uma pessoa; destinada à habitação é a que não tem morador ou ninguém nela
trabalhando. Não é necessário que no momento da explosão, do arremesso ou da colocação
do explosivo haja alguém no interior da casa.

Se a conduta visar a edifício público ou destinado a uso público, ou a obra de


assistência social ou cultural, também haverá aumento de pena. Prédios utilizados pelos
Municípios, Estados, Distrito Federal, União e entes públicos são alcançados pela causa de
aumento, bem como as obras destinadas à assistência social, ou à cultura, por sua
importância para a sociedade, as quais recebem proteção mais efetiva com a majoração da
reprimenda.

Se a conduta visa atingir ou atinge embarcação, aeronave, comboio ou veículo de


transporte coletivo, estação ferroviária ou aeródromo, estaleiro, fábrica, oficina, depósito
de explosivo, combustível, inflamável, poço petrolífero, galeria de mineração, lavoura,
pastagem, mata ou floresta, a pena será, igualmente, aumentada em um terço.

30.2.4 Forma culposa

O § 3º do art. 251 descreve a explosão culposa assim: “no caso de culpa, se a


explosão é de dinamite ou substância de efeitos análogos, a pena é de detenção, de 6 (seis)
meses a 2 (dois) anos; nos demais casos, é de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano”.

A norma contempla exclusivamente as condutas culposas, de exposição a perigo


mediante explosão, não as relativas à criação de perigo por meio de arremesso ou
colocação de engenho explosivo. Puniu a explosão culposa causada por dinamite ou
substância de efeitos análogos diferentemente da explosão culposa causada por outra
substância, de menor potencial lesivo. Deixou de referir-se ao arremesso e à colocação de
explosivo, que, por isso, quando realizadas culposamente, são condutas atípicas.
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Para o reconhecimento da modalidade culposa, é preciso que o agente tenha atuado


numa situação de previsibilidade objetiva, com imprudência, negligência ou imperícia,
faltando, pois, com o dever de cuidado objetivo.

Indispensável que da conduta negligente resulte a mesma situação de perigo


comum, que, por dever ser concreto, haverá de ser, necessariamente, demonstrado e
provado.

As causas de aumento previstas no § 2º somente se aplicam ao tipo básico


fundamental, doloso, não à forma culposa.

30.2.5 Formas qualificadas pelo resultado

Se da explosão, do arremesso ou colocação do engenho explosivo resultar lesão


corporal de natureza grave, a pena será aumentada de metade. Se resultar morte, será
aplicada em dobro.

Tais resultados mais graves devem ter sido produzidos por culpa do agente,
caracterizando, assim, crimes preterdolosos, nos quais o agente atua com dolo na produção
do perigo comum e culpa no resultado que não fora alcançado por seu dolo. Indispensável
a demonstração do nexo causal entre a situação de perigo causada pela conduta e o
resultado mais grave. Assim, incidirá a circunstância qualificadora quando a lesão corporal
ou a morte tiver decorrido do tumulto ou da confusão decorrente da explosão, do
arremesso ou da colocação do engenho. Não necessariamente da explosão em si, mas
simplesmente do fato, até porque o perigo pode ter-se instalado sem que tenha havido a
explosão.

Se a morte ou a lesão corporal tiver sido desejada ou pelo menos consentida pelo
agente, haverá concurso formal imperfeito entre o crime de perigo comum e o crime contra
a pessoa.

Se a explosão culposa der causa à lesão corporal – leve ou grave, porque a norma do
art. 258 não exige apenas a lesão grave como resultado qualificador do delito culposo –, a
pena será aumentada de metade. Se resultar morte, será aplicada a pena cominada para o
homicídio culposo, aumentada de um terço.

30.3 AÇÃO PENAL


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A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. Tratando-se de explosão


privilegiada e explosão culposa, inclusive qualificada por lesão corporal, é admissível a
suspensão condicional do processo penal.

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