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Revista da Folha - Conexão >> China: Cidade digital - 08/02/2009 Page 1 of 3

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08/02/2009

China
TELÕES GIGANTES ENFEITAM AS RUAS DA
CAPITAL CHINESA E VIRAM ATRAÇÃO NUMA
CIDADE INFESTADA DE INFORMAÇÃO
Raul Justes Lores/Folha Imagem

Telão gigante que cobre o shopping The Place, em Pequim, é o segundo


maior do mundo

cidade digital
por Raul Justes Lores, de Pequim

De milionárias recém-saídas das compras a migrantes rurais


que nunca tiveram uma TV na vida, centenas de pessoas se
reúnem todas as noites para ver um espetáculo digital em
Pequim. Um telão de 250 m de comprimento por 30 m de
largura, suspenso a 25 m de altura, é a maior atração do
shopping The Place. O comprimento é mais que o triplo do
vão do Masp. A tela de 7.500 m2 é 25 vezes maior do que o
telão que passava filmes há alguns anos no Jockey em São
Paulo.

A atração de 250 milhões de yuans (R$ 83 milhões) foi


inaugurada há pouco mais de um ano, mas o fenômeno que

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ela desencadeou continua a se repetir pela capital chinesa.

Em uma cidade que não tem a menor vocação para adotar


uma Lei Cidade Limpa, telões digitais estão se espalhando
por todos os lados -de elevadores de prédios residenciais a
táxis e ônibus.

Um dos motivos da popularização é que, das telas que


utilizam módulos LED (diodos que emitem luz) às planas de
cristal líquido (LCD), tudo é produzido na China. O
barateamento da tecnologia facilitou a propagação. O telão do
The Place virou símbolo da Pequim digital. Ele vai de uma
rua a outra, ocupando um quarteirão inteiro, e é cercado pelas
duas metades do shopping de cinco andares.

O melhor vídeo a passar no telão reproduz em computação


gráfica a vida em Pequim no século 18. A projeção é
intercalada com cenas de filmes de época. Muita gente
aplaude no final.

A ideia é que ele funcione como arena no ar -ali são exibidos


de peixinhos gigantes em aquários (peça obrigatória na
decoração chinesa) a planetas, estrelas cadentes e flores.

O criador do telão e de boa parte das animações é o designer


Jeremy Railton, nascido no Zimbábue e radicado nos EUA.
Para se ter uma noção de seu estilo, ele foi responsável pelas
imagens nos telões dos últimos shows de Barbra Streisand e
Cher.

Jeremy criou o maior telão do mundo em Las Vegas, o único


que supera o de Pequim. O designer até tentou levar a
empresa que o desenvolveu para a China. Não deu. "Do
prefeito ao dono da construtora, reparei que havia uma
pressão enorme para que a tecnologia fosse chinesa. Tivemos
que desenvolver tudo lá", diz, referindo-se à longa tela
coberta de vidro e aos painéis LED. Cinco telas individuais
formam o comprido telão, que mostra imagens de TV e
games.

No elevador
Telas digitais LCD e luminosos estão por toda a parte e se
espalham mais rapidamente do que as luzinhas de Natal no
Brasil, também produzidas na China. Em Xangai, 15 mil táxis
têm essas telinhas. Outros 20 mil em Pequim, Guanghzou e
Shenzhen contam com a novidade.

"O passageiro está sozinho e fica, em média, 17 minutos de


monotonia sentado no banco traseiro. Ele pode ficar teclando
pela tela, mudando de canais, descobrindo novos produtos",
diz Tina Han, gerente da Touchmedia.

Na telinha, há um cardápio com nove opções, de músicas a


campanhas filantrópicas, mas, em todas, 80% do conteúdo é

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de propaganda. Há um botão de "mudo" para silenciar tanta


informação.

A prefeitura de Xangai estuda a regulamentação dos painéis.


Há clientes reclamando que eles são irritantes.

A publicidade chinesa não perdoa nem o calmo trajeto no


elevador. A empresa Framedia instalou 300 mil telas em
elevadores de edifícios residenciais e comerciais em 40
cidades chinesas. os painéis passam anúncios continuamente.

Eles estão presentes ainda em 1.724 academias de ginástica


chinesas. "As telas se aproveitam dos momentos de solidão e
tédio de muitas pessoas em elevadores ou no táxi, mas há
risco de se criar uma exaustão total do receptor", diz o
publicitário Jeremy Sy, da agência Leo Burnett.

Nos últimos meses, várias ruas dos bairros de Chaoyang e


Sanlitun estão ganhando telões do tamanho de um ponto de
ônibus, à altura do pedestre, que exibem propagandas.

À noite, no frio de alguns graus negativos do inverno


pequinês, pode-se escutar os telões ecoando sozinhos
enquanto ninguém se atreve a caminhar.

Os primeiros outdoors em Pequim -que não passavam


mensagens de união proletária ou de ódio à burguesia- só
apareceram nos anos 80, após a abertura econômica da China
comunista. No entanto, até meados dos anos 90, boa parte das
ruas e avenidas da cidade ficava às escuras após às 22h. O
motivo: racionamento.

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