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ESCOLA SECUNDÁRIA DE BOCAGE

CURSO DE TÉCNICOS DE APOIO À INFÂNCIA

TÍTULO
CRIANÇAS - SOLDADO

Realizado por:
• Andréia Andrade nº
• Fábio Machuqueiro nº 8
Turma I do 10º ano
Disciplina: Área de Integração
Professor/a: Margarida Costa
17 de Março de 2009
Ano lectivo 2008/2009
Índice

Introdução..........................................................................................................................2
1.Organizações...................................................................................................................3
1.1 Onu..........................................................................................................................3
1.2 Unicef......................................................................................................................4
1.3 Human Rights Watch...............................................................................................4
1.4 Amnistia Internacional.............................................................................................5
1.5 Save the Children.....................................................................................................6
2. Declaração dos Direitos Humanos................................................................................7
3. Direitos das crianças......................................................................................................8
4. Crianças em guerra......................................................................................................13
5. Onde se encontram as crianças – soldado?..................................................................15
5.1 Principais países onde existem crianças soldado...................................................16
6. República Democrática do Congo - Casos Concreto..................................................18
7. Républica Democática do Congo: Crianças - soldado de regresso a casa..................19
7.1 Serviços psico-sociais e clínicas de saúde.............................................................20
7.2 Voltar para a casa não é fácil ................................................................................20
7.3 Crianças soldado, crianças sem infância...............................................................21
8. A Idade média da ”criança soldado” ...........................................................................22
9. Estatisticas...................................................................................................................24
10. Free Children From War............................................................................................25
10.1 Necessidade de reintegração social.....................................................................26
10.2 Crianças Soldado – Os escravos da guerra..........................................................27
11. Entrevista a Ishmael Beah..........................................................................................27
12. Crime contra a humanidade.......................................................................................30
Conclusão........................................................................................................................31
Netgrafia..........................................................................................................................32
Anexos.............................................................................................................................33

1
Introdução

Neste trabalho realizado no âmbito da disciplina de Área de Integração,


pretendemos dar a conhecer aos nossos colegas bem como à professora
responsável pela disciplina, o difícil tema das crianças soldado.
Sendo um tema real nos dias que correm, mas que por vezes passa
despercebido por não se verem casos concretos no nosso país, escolhemos
este tema de modo a dar a conhecer toda a realidade que envolve estas
crianças.
Antes de começar é necessário analisar as organizações ligadas à
promoção e defesa dos direitos do homem bem como a declaração universal
dos direitos humanos e a convenção dos direitos das crianças de modo a
perceber de que forma os seus direitos são violados.
Seguidamente, tentaremos dar a conhecer alguns dos países onde esta
situação é real e mais frequente, analisando os seus direitos e a forma como
estes lhes são retirados pela imposição de pessoas e regras cujo poder e
autoridade não têm limites.
Tentaremos ainda fomentar o combate à violência de modo a promover a
cultura da paz e da solidariedade entre os povos, sensibilizando as pessoas a
serem mais atentas aos acontecimentos das sociedades em geral, recorrendo
a vários tipos métodos como Internet, documentos, testemunhos, audiovisuais
entre outros.

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1.Organizações

1.1 Onu

A Onu é mundialmente conhecida. A


Organização das Nações Unidas (ONU) foi
fundada oficialmente a 24 de Outubro de
1945 em São Francisco, Califórnia, por 51
países, logo após o fim da Segunda Guerra
Mundial.
Apesar de todos os seus feitos, será para sempre recordada a
proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948.
É graças a esta declaração, que hoje todos podemos afirmar que temos
direitos, que devem ser respeitados. Devido à mesma, podemos afirmar que as
Crianças forçadas a combater em conflitos armados, têm os seus
direitos constantemente violados, sendo por isso necessário promover a paz e
o seu bem estar.
Os seus objectivos passam por:

⇒ Manter a paz mundial


⇒ Proteger os Direitos Humanos
⇒ Promover o desenvolvimento econômico e social das nações
⇒ Estimular a autonomia dos povos dependentes
⇒ Reforçar os laços entre todos os estados soberanos

Ligada à ONU, está a UNICEF, a agência que promove não só os diretos


humanos como também os direitos das crianças.

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1.2 Unicef

Falar em Crianças Soldado, sem falar na


Unicef é praticamente impossível.
A United Nations Children's Fund, ou seja,
UNICEF é uma agência das Nações Unidas que tem
como objectivo promover a defesa dos direitos das
crianças, ajudar a dar resposta às suas necessidades
básicas e contribuir para o seu pleno desenvolvimento.
É regida pela Convenção sobre os Direitos da Criança e trabalha para
que os mesmos se convertam em princípios éticos permanentes e em códigos
de conduta internacionais para as crianças.
A UNICEF é a única organização mundial que se dedica especificamente
às crianças. Em termos gerais, trabalha com os governos nacionais e
organizações locais em programas de desenvolvimento a longo prazo nos
sectores da saúde, educação, nutrição, água, saneamento e ainda em
situações de emergência para defender as crianças vítimas de guerras e outras
catástrofes. Actualmente, está presente em 191 países e territórios de todo o
mundo.
Se tivermos em conta o caso de Criança – Soldado, é na Protecção
Infantil que a Unicef mais trabalha de modo a que possam crescer livres da
violência, exploração, abusos e discriminação.

1.3 Human Rights Watch

A Human Rights Watch é uma Organização


Não Governamental Americana, com sede em
Nova York que pesquisa formas de promover a
paz e a solidariedade combatendo as violações
relacionadas com os direitos humanos.
Assim, esta Organização cria relatórios
sobre violações à Declaração Universal dos
Direitos Humanos a nivel internacional, com o objectivo de chamar a atenção

4
da comunidade internacional para os abusos existentes no mundo e ainda criar
uma certa pressão fundamental sobre os governos com vista à extinção destes
mesmos abusos.
Pesquisadores e peritos, procuram e investigam possíveis situações de
violação dos direitos humanos e alastrando a cobertura aos meios de
comunicação sociais tanto locais como internacionais.
Estes relatorios tocam assuntos como a discriminação sexual e social,
tortura, corrupção política, abusos do sistema judicial e uso de crianças para
fins militares, indo assim de encontro ao trabalho por nós desenvolvido.

1.4 Amnistia Internacional

A criação desta Organização Não


Governamental teve origem numa notícia
publicada no jornal inglês "The Observer"
que dava conta da prisão de dois estudantes
portugueses, apenas por terem gritado
«Viva a Liberdade!» na via pública.
A visão da Amnistia Internacional é a de um mundo em que cada
pessoa pode desfrutar de todos os Direitos Humanos consagrados na
Declaração Universal dos Direitos Humanos e noutros padrões internacionais
de Direitos Humanos.
De modo a cumprir esta visão, a missão da Amnistia Internacional
consiste na investigação e nas acções que desenvolve destinadas à
prevenção e à extinção de graves abusos à integridade física e mental, à
liberdade de consciência e expressão e à discriminação, dentro do contexto de
promoção de todos os Direitos Humanos.
Dirigindo-se aos governos, organizações intergovernamentais, grupos
políticos armados, empresas entre outros, a Amnistia Internacional pretende
denunciar as violações de Direitos Humanos de um modo preciso, rápido e
persistente. Sistematicamente e de forma imparcial, investiga factos de casos
individuais e colectivos relacionados com a violação dos Direitos Humanos.

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Os resultados das investigações são publicitados, enquanto membros e
pessoal apoiante mobilizam uma pressão pública sobre os governos e outras
entidades de modo a acabar com os abusos.
Além deste trabalho desenvolvido sobre violações específicas de
Direitos Humanos, a Amnistia Internacional leva a cabo uma ampla variedade
de actividades em educação de Direitos Humanos, encoraja organizações
intergovernamentais, indivíduos e todos os órgãos da sociedade a apoiar e a
respeitar os Direitos Humanos.
Assim, a Amnistia Internacional, é um dos principais alicerses no que diz
respeito à defesa e tentativa de protecção de Crianças – Soldado, pela
quantidade de direitos que estas crianças vêm violados.

1.5 Save the Children

A “Save the Children” é outra


organização não governamental, que
promove a defesa dos direitos da criança
no mundo. Activa desde 1919, dedica-se
não só a prestar ajuda humanitária de
urgência a crianças como também ajuda no
desenvolvimento a longo prazo, através do
apadrinhamento de crianças.
O apadrinhamento humanitário
consiste em promover as necessidades da criança, permitindo que continue no
seu meio familiar, na sua cultura e no seu país.
A primeira associação “Save the Children” foi criada em Londres, em
maio de 1919, por Eglantyne Jebb e sua irmã Dorothy Buxton. Chocadas
perante as consequências da Primeira Guerra Mundial e da Revolução Russa,
ambas decidiram criar uma poderosa organização internacional com fliações
em vários lugares do planeta, com vista à melhoria das condições de vida das
crianças.
No ano seguinte, foi fundada a união internacional, que se colocou na
vanguarda da luta pelos direitos da criança no mundo, ao elaborar a

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Declaração de Genebra, adotada pela Sociedade das Nações, em 1924, que
foi a base da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança de 1989.
Durante a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial,A “Save the
Children” continuou suas actividades, particularmente graças às organizações
dos países neutros.
A Aliança Internacional seria então formalmente criada em junho de
1989, cinco meses antes da adoção da Convenção das Nações Unidas para a
Infância, na qual se baseiam todas as acções da “Save the Children”.

2. Declaração dos Direitos Humanos

A Declaração Universal dos Direitos


Humanos é um documento oficial, adoptado
pela ONU em 10 de Dezembro de 1948. Este
documento indica-nos todos os direitos que
devem ser respeitados em todos os países de
modo a evitar guerras, promovendo a paz.
Esta declaração tem como principal objectivo
fazer com que cada indivíduo e órgão de uma
determinada sociedade se esforcem através do ensino e da educação, em
promover o respeito pelos direitos e liberdade nela inserida. Cada direito
adopta medidas nacionais e internacionais, comuns a todo o mundo, de modo
a assegurar o seu reconhecimento e importância perante todos os cidadãos.
Composta por 30 artigos, esta declaração é claramente violada, se
tivermos em conta a questão das crianças – soldado, que diariamente em
alguns países são confrontadas com o pesadelo da guerra. Tendo em conta a
quantidade de artigos, existem diversas formas de violar estes direitos. No caso
das crianças soldado, estes são violados em 5 artigos fundamentais, quando
abordada a questão.
O artigo 4 diz especificamente que “Ninguém será mantido em
escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob
todas as formas, são proibidos.”, Sendo que é um artigo onde se nota bem
como os direitos destas crianças são violados, já que todas são forçadas a ir
para a guerra como escravas, em defesa da sua pátria e do seu país não tendo

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qualquer liberdade de escolha. É neste caso particular que entra o artigo 19 da
declaração onde se lê: “Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião
e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas
opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de
fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.”
O artigo 9 e o artigo 5 da declaração estão muito ligados ao problema
base das crianças soldados. No primeiro pode-se ler que “Ninguém pode ser
arbitrariamente preso, detido ou exilado”, o que contraria claramente estas
crianças que são presas pela guerra, não podendo recusar a participação na
mesma, como consequência de serem torturadas ou mesmo mortas sendo
consideradas desertoras do seu próprio país. Este facto permite-nos constatar
o que se encontra presente no artigo 5: “Ninguém será submetido a tortura
nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.”
Estes artigos fundamentais demonstram claramente os direitos que são
violados perante estas crianças que acabam por nem sequer ter uma vida
própria vivendo a partir da guerra e isoladas do resto do mundo. Podemos
ainda invocar o artigo 24 que diz “Toda a pessoa tem direito ao repouso e
aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do
trabalho e as férias periódicas pagas.”, Porque todas as crianças têm direito
de ser crianças, e no caso das crianças soldados o único brinquedo que
conhecem são a quantidade de armas que carregam nas mãos todos os dias
durante uma vida que se avizinha curta.

3. Direitos das crianças

Para além dos Direitos Humanos,


existem também os denominados Direitos da
Criança. Estes como não podia deixar de ser
merecem especial destaque quando abordada
a questão das Crianças – Soldados.
A declaração dos Direitos das Crianças,
surgiu durante a Assembleia-geral das Nações
Unidas, no dia 20 de Novembro de 1959 onde centenas de países aprovaram
em total acordo os 10 direitos que a constituem. Dentro destes 10 direitos

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existem alguns muito importantes, onde é clara a violação dos mesmos no
caso concreto das crianças que estão permanentemente em contacto com a
Guerra. São eles:

Princípio 2.º

A criança gozará de uma protecção especial e beneficiará de


oportunidades e serviços dispensados pela lei e outros meios, para que possa
desenvolver-se física, intelectual, moral, espiritual e socialmente de forma
saudável e normal, assim como em condições de liberdade e dignidade. Ao
promulgar leis com este fim, a consideração fundamental a que se atenderá
será o interesse superior da criança.

Neste caso concreto, a criança vê


os seus direitos violados pelo facto de não
ter qualquer tipo de oportunidade ou de
ser beneficiada através de serviços
dispensados pela lei. A criança não
escolhe ir para a guerra não podendo
usufruir dos seus direitos, ficando privada
de condições essenciais para o seu
desenvolvimento físico, intelectual, moral, espiritual e social.
São crianças sem liberdade, presas à guerra e à violência, servindo ao
seu país por largos anos, muitas das vezes até morrerem, ficando longe da
família e da sociedade. Vivem como escravos da guerra sem qualquer tipo de
dignidade, pela imposição de regras e leis superiores.

Princípio 6.º

A criança precisa de amor e compreensão para o pleno e harmonioso


desenvolvimento da sua personalidade. Na medida do possível, deverá crescer
com os cuidados e sob a responsabilidade dos seus pais e, em qualquer caso,
num ambiente de afecto e segurança moral e material; salvo em circunstâncias
excepcionais, a criança de tenra idade não deve ser separada da sua mãe. A

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sociedade e as autoridades públicas têm o dever de cuidar especialmente das
crianças sem família e das que careçam de meios de subsistência. Para a
manutenção dos filhos de famílias numerosas é conveniente a atribuição de
subsídios estatais ou outra assistência.

As Crianças – soldado, são muitas vezes separadas das famílias, sendo


impossível por isso viver com amor, carinho, ternura, afecto não desenvolvendo
a sua capacidade afectiva bem como a sua personalidade.
Muitas voltam a casa, mas o processo de integração é complicado e
demorado.

Princípio 7.º

A criança tem direito à educação, que deve ser gratuita e obrigatória,


pelo menos nos graus elementares. Deve ser-lhe ministrada uma educação
que promova a sua cultura e lhe permita, em condições de igualdade de
oportunidades, desenvolver as suas aptidões mentais, o seu sentido de
responsabilidade moral e social e tornar-se um membro útil à sociedade.
O interesse superior da criança deve ser o princípio directivo de quem tem a
responsabilidade da sua educação e orientação, responsabilidade essa que
cabe, em primeiro lugar, aos seus pais.
A criança deve ter plena oportunidade para brincar e para se dedicar a
actividades recreativas, que devem ser orientados para os mesmos objectivos
da educação; a sociedade e as autoridades públicas deverão esforçar-se por
promover o gozo destes direitos.

Igualdade de direitos é o que não existe no caso destas crianças. A


única aprendizagem que recebem é sobre a importância de guerras ou tipos de
armamento. Neste caso, não está em causa o superior interesse da criança,
mas sim o superior interesse da Guerra.

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Princípio 8.º

A criança deve, em todas as


circunstâncias, ser das primeiras a
beneficiar de protecção e socorro.

Devem ser realmente as


primeiras a ser protegidas, mas
infelizmente não é o que
normalmente acontece. Muitas das
vezes acabam por morrer, porque
nem sequer socorridas. Ferimentos e acidentes resultantes da guerra colocam
estas crianças em constante perigo. Não possuem qualquer tipo de protecção
porque a guerra é vista em alguns países como um dever, tendo estas crianças
a obrigação de dedicar a sua vida ao país e à guerra, aguentando o sofrimento
e a dor tanto física como psicológica.

Princípio 9.º

A criança deve ser protegida contra todas as formas de abandono,


crueldade e exploração, e não deverá ser objecto de qualquer tipo de tráfico. A
criança não deverá ser admitida ao emprego antes de uma idade mínima
adequada, e em caso algum será permitido que se dedique a uma ocupação
ou emprego que possa prejudicar a sua saúde e impedir o seu
desenvolvimento físico, mental e moral.

A guerra é em muitos países uma forma de trabalho. Aqui as crianças


são realmente exploradas, porque são lançadas para este Mundo muito novas
sem qualquer tipo de apoio e entregues à sua sorte. Os abandonos são visíveis
e a guerra, assim como matar é o objectivo principal. Existe crueldade que está
aos olhos de todos, e muitas das vezes o tráfico também é visível pela
existência de crianças que são retiradas das famílias com recurso à força para
combaterem na guerra.

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Princípio 10.º

A criança deve ser protegida contra


as práticas que possam fomentar a
discriminação racial, religiosa ou de
qualquer outra natureza. Deve ser
educada num espírito de compreensão,
tolerância, amizade entre os povos, paz e
fraternidade universal, e com plena
consciência de que deve devotar as suas
energias e aptidões ao serviço dos seus semelhantes.

E óbvio que todas as crianças têm a consciência que devem devotar as


suas energias e aptidões ao serviço dos seus semelhantes, contudo esta
devoção acaba por ser levada ao extremo já que não existe compreensão,
tolerância, amizade para com estas crianças levando a que não tenham a paz
e a fraternidade universal de que fala este artigo. São direitos, mais uma vez
violados, tendo em conta os artigos dos direitos das crianças.

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4. Crianças em guerra

Cerca de 20 milhões de
crianças são obrigadas a abandonar
os seus lares, procurando protecção
em países vizinhos ou mesmo em
outros locais do seu próprio país,
devido aos conflitos e às violações
dos direitos humanos, já acima
mencionados. Estima-se que, mais de
2 milhões de crianças morreram
devido aos conflitos armados ao
longo da última década. Pelo menos 6
milhões de crianças, sofreram
ferimentos que as deixaram marcadas
para toda a vida tanto física como
psicologicamente. Mais de 1 milhão
de crianças ficaram órfãos ou
separadas dos seus familiares.
Todos os anos, cerca de 8000 a 10.000 crianças são encontradas
mortas ou mutiladas em consequência de explosões de minas.
Só para se ter uma ideia da gravidade desta situação, pensa-se que 300.000
crianças soldado, tanto rapazes como raparigas com menos de 18 anos de
idade, estão envolvidas em mais de 30 conflitos espalhados pelo mundo.
Estas crianças são usadas como combatentes, mensageiros, trabalhadores
domésticos e até como escravos sexuais.
Neste tipo de conflitos, as crianças vivem e testemunham não só maus
tratos físicos, mas também emocionais como:

⇒ Morte violenta dos seus pais ou de um parente próximo,


⇒ Separação das suas famílias,
⇒ Actos de tortura
⇒ Abandono das suas casas e da sua comunidade

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⇒ Exposição ao combate
⇒ Ameaça de vida
⇒ Raptos
⇒ Actos de violação
⇒ Prisão
⇒ Tortura

Estas crianças como é óbvio


têm um futuro incerto, não
apresentando qualquer tipo de
rotina escolar. A guerra é a sua
única rotina, e muitas das vezes
acaba por ser toda a sua vida
porque morrem muito jovens.
Ir à guerra acaba por ser um dever
a cumprir, com pena de serem
punidos com a morte muito antes da altura chegar.
Assim pode-se afirmar que a Criança-soldado é qualquer pessoa que
tenha menos de 18 anos, membro de um grupo armado com ligações ao
governo, ou de um grupo armado político, independentemente se existem
conflitos armados na zona.
As Criança-soldado exercem várias actividades durante a guerra a que
são expostos como:

⇒ Participações em combates
⇒ Armar as minas e os explosivos
⇒ Fazer reconhecimentos das áreas como espiões e por vezes são
o próprio engodo, como mensageiros ou guardas
⇒ Participação em treinos
⇒ Execução de funções de logística
⇒ Trabalho doméstico e cozinhar

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⇒ Servir de escravos sexuais.

5. Onde se encontram as crianças – soldado?

É impossível dizer ao
certo o número de crianças-
soldado existentes num
determinado momento ou
região. As estatísticas estão
constantemente em
mudança. Enquanto
milhares de crianças são
desarmadas em guerras que
terminam, outras milhares
são utilizadas em novos conflitos. Em países como a Colômbia, não existe
praticamente alterações no cenário das crianças – soldado sendo que milhares
de crianças continuam a participar nos conflitos.
África é o continente com maior número de crianças-soldado. Estas são
usadas em conflitos no Burundi, Costa do Marfim, República Democrática do
Congo, Ruanda, Somália, Sudão e Uganda.
Na Ásia, milhares de crianças estão também envolvidas nas milícias e
em combates activos. O Myanmar é o único país na região cujo governo
recruta para as forças armadas crianças entre os 12 e 18 anos.
As crianças-soldado também existem no Afeganistão, Indonésia, Laos e
Filipinas, onde maioritariamente estão associadas a grupos armados. No Sri
Lanka pensa-se que, centenas, talvez milhares de crianças continuem a ser
recrutadas. No Médio Oriente, as crianças-soldado são usadas no Irão, Israel,
nos territórios ocupados da Palestina e em grupos tribais no Iémen. Na América
Latina estima-se que mais de 14.000 crianças estão envolvidas em grupos
políticos armados e forças paramilitares.

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5.1 Principais países onde existem crianças soldado

África:

Costa do Marfim Uganda

Sudão
Republica do Congo

Outros: Angola, Burundi, Chade, Libéria, Quénia, República Centro Africana,


República Democrática do Congo, Ruanda, Serra Leoa e Somália.

Ásia:

Afeganistão Sri Lanka

Outros: Índia, Indonésia, Laos, Myanmar, Nepal e Filipinas.

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Médio Oriente:

Irão Iraque

Israel Palestina

Outros: Iémen

América Latina:

Colômbia

Europa:

Rússia

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6. República Democrática do Congo - Casos Concreto

A República Democrática do
Congo tem vivido uma situação de
conflitos e violência que dura já há
quase uma década e que tem
vitimado, a cada seis meses, mais
pessoas do que a totalidade de
pessoas que sucumbiram, em
2004, na sequência do Tsunami no
Oceano Índico. Estima-se que este
conflito já fez 4 milhões de mortos.
De acordo com relatórios
disponibilizados pela Unicef, o número de crianças vítimas desta guerra
apresenta o quadro mais negro desde a Segunda Guerra Mundial, se tivermos
em conta esta faixa etária.
Como resultado da invasão pelas milícias armadas de grande parte do
Congo oriental, 1200 pessoas morrem por dia na Républica Democrática do
Congo e mais de metade dessas vítimas são crianças. Calcula-se que apesar
de existirem mortes causadas por doenças e má nutrição, dado que os
combates levaram repetidamente os civis a abandonar as suas casas, e a
instabilidade que daí advém dificulta o acesso à assistência médica e sanitária,
a maior parte das vítimas sucumbiram depois de serem expostas a actos de
violência directa.
A Unicef considera que estas
estatísticas fazem da Républica
Democrática do Congo um dos três
lugares mais perigosos para se nascer.
De facto, neste país morrem mais

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crianças menores de cinco anos por dia do que na China, um país com uma
população três vezes maior.
De acordo com o representante da Unicef, na Républica Democrática do
Congo, “as crianças carregam o fardo mais pesado do conflito (...) As crianças
são também testemunhas e muitas vezes participantes forçadas nas
atrocidades e crimes que infligem danos físicos e psicológicos”.

7. Républica Democática do Congo: Crianças - soldado de


regresso a casa

Na parte oriental da República


Democrática do Congo existe um centro
que já ajudou mais de 1.500 ex-crianças
soldado a serem reintegradas nas suas
comunidades. O CICV ( Comité
Internacional da Cruz Vermelha )
fornece ajuda material e tem o importante papel de reunir as crianças com suas
famílias.
O centro é operado pelo Serviço Voluntário para Crianças e Saúde. Nos últimos
cinco anos, já cuidou de mais de 1.500 ex-crianças - soldado, incluindo 173
meninas.
“Temos de introduzi-los à noção básica de família”, explica Mamy Wema,
uma assistente social do centro em Bukavu. “Quando estavam com os grupos
armados, eles viam os pais e mães como objectos; há muito tempo que não
passam por experiências de amor com familiares. Esta é uma parte muito
importante do nosso trabalho”.
As crianças ficam no centro no mínimo três meses antes do regresso às
suas famílias. Aprendem regras básicas de modo a facilitar a reintegração,
como classes de alfabetização básica e classes medicinais para aqueles com
escolaridade prévia, actividades recreativas para melhorar a socialização e
tarefas ocupacionais como artesanato ou agricultura.

19
7.1 Serviços psico-sociais e clínicas de saúde.

O centro também fornece serviços psico-


sociais e uma clínica de saúde. “Algumas
crianças apresentam doenças sexualmente
transmissíveis, infecções pulmonares e até
mesmo ferimentos provocados por balas”, explica
uma das enfermeiras do centro, Adolphine
Nsimire. “Algumas meninas aparecem grávidas e
subnutridas”.
O CICV fornece ajuda material ao centro e
tenta encontrar famíliares destas crianças nos arredores de Bukavu, ou mesmo
em países vizinhos como Ruanda e Uganda. Assim que a família é localizada,
o CICV organiza um intercâmbio de contactos com a Cruz Vermelha local, bem
como a eventual reunião da criança com a sua família.
Vários grupos armados têm a estratégia deliberada, de mover as
crianças para diferentes regiões de modo a mantê-los separados das famílias,
o que torna difícil a busca pelos familiares destas crianças, visto que existe
uma escassa infra-estrutura de comunicação nestas regiões. De facto apenas o
CICV possui um tipo de rede abrangente e acessivel às áreas remotas
necessárias para encontrar as famílias.

7.2 Voltar para a casa não é fácil

“Mesmo quando as
crianças regressam às suas
famílias, o problema
continua”, diz Marnie Lloyd,
uma representante de
proteção do CICV. “Existe um
trauma daquilo que viveram,
daquilo por que passaram”. A
contacto social é quase inexistente devido ao tempo que ficaram longe das
suas familias. Perderam a escola e alguns acostumaram-se a usar a violência

20
para conseguirem o que querem. A própria família e sociedade têm medo de
crianças que outrora foram soldados. Assim é necessário que sejam tembém
re-educadas de modo a aceitarem estas crianças”.
As mensagens da Cruz Vermelha são meios de restabelecer o contacto
entre a criança e a família. Este contacto, por sua vez, é importante para
restabelecer as conexões e a confiança necessárias a ambos os lados, antes
que o reencontro possa acontecer.
Estes contactos, efectuados pela Cruz Vermelha são na maioria dos
casos, o primeiro contato entre a criança e a família depois de muitos anos.
A primeira abordagem é normalmente feita através de fotos, chegando a ser
experiencias bastante emotivas.

7.3 Crianças soldado, crianças sem infância.

Como já foi referido, pensa-se que


exista cerca de 300 mil crianças
envolvidas em conflitos armados em mais
de 30 países ao redor do mundo. De
acordo com o Unicef, a maioria são
adolescentes, contudo existem crianças
de sete anos nesta situação.
O recrutamento de crianças em
guerras dá-se sobretudo para as linhas de
batalha, contudo são também usadas
como espiões, mensageiros, escudos
humanos, trabalhadores ou até escravos
sexuais.
Um estudo realizado e de nome, "O impacto dos conflitos armados sobre
as crianças" (the impact of conflict on children) tirou os jovens combatentes da
invisibilidade, significando o primeiro passo com vista à sua visibilidade pelas
leis internacionais.

21
Este estudo realizado por Graça Simbene
Machel, (Imagem à esquerda) activista dos direitos
humanos de Moçambique, deu a percepção de que
as crianças transformadas em soldados de guerra
são vítimas bem como alvos fáceis de manipulações
por parte das organizações que aderem aos conflitos
em busca de ganhos políticos.
Uma vitória também importante, foi a criação
da Corte Especial da Serra Leoa em 2004, que
considerou o recrutamento ou o uso de crianças
soldado com menos de 15 anos como crime de guerra sob a Lei Internacional.
Para retirar as crianças dos conflitos armados e estimular a sua
reintegração e participação activa na sociedade pacífica, a comunidade
internacional inclui estas crianças nos “Padrões de Desarmamento,
Desmobilização e Reintegração”, (Integrated Disarmament Demobilization and
Reintegration Standards).

8. A Idade média da ”criança soldado”

A organização sediada
nos Estados Unidos ”Human
Rights Watch” revelou que a
idade média de uma ”criança
soldado” é estabelecida entre
os 13 e os 17 anos, existindo ainda assim algumas de sete, oito ou nove anos.
Utilizam armas em combate, são utilizadas como
detectores humanos de minas, participam em missões
suicidas, e agem como espiões, mensageiros ou vigias.
Jo Becker, responsável da Human Rights Watch,
refere que ”milhares de crianças têm sido raptadas das
suas casas e das suas comunidades, sendo sujeitas às
piores formas de violência”. Acrescenta ainda que, ”as
crianças são soldados obedientes, pois são vulneráveis
e facilmente intimidáveis”.

22
Estas crianças são normalmente forçadas a cometer atrocidades contra
elementos da sua própria comunidade, incluindo até pessoas da própria
família.
As raparigas são submetidas com frequencia e essencialmente à
escravatura sexual. Estudos realizados demonstram que estas crianças ficam
com graves cicatrizes ao nível psicológico.
Alguns especialistas entrevistaram mais de trezentas antigas crianças
soldado que foram capturadas pelo movimento rebelde do norte do Uganda, o
Exército da Resistência do Senhor.
A grande maioria dos jovens, cerca de
97%, apresentavam desordens traumáticas
após terem servido na guerra, cerca de dois
anos. Os problemas caracterizavam-se pela
persistência de pesadelos, problemas de sono
e dificuldade de concentração.
O estudo adientava ainda que uma
grande percentagem destas crianças soldado
testemunharam, ou participaram em
assassinatos. 7%, foram forçadas a matar um
elemento da família. Muitas raptaram outras
crianças e participaram em actos de incendios a habitações. Cerca de metade
foram severamente espancadas enquanto um terço das raparigas foram
abusadas sexualmente, e um quinto delas deram à luz, enquanto eram
manditas em cativeiro.
A reunião com as respectivas famílias e os anteriores ambientes sociais
ajudam a recuperar a saúde psicológica, mas muitas crianças não têm essa
sorte, visto não terem um dos país, ou ambos já terem falecido. Devido às
atrocidades cometidas contra os próprios vizinhos, torna-se ainda mais difícil a
sua re - integração na comunidade .
A comunidade internacional tem centrado as atenções nos últimos anos
no problema das crianças soldado. A “Convenção de 2002 sobre os Direitos da
Criança”, a “Organização Internacional do Trabalho”, a “Acta Africana sobre
Direitos e Bem Estar da Criança” proíbem o uso de crianças como soldados. O

23
Tribunal Internacional Criminal define o recrutamento militar de crianças como
sendo um crime de guerra.
Uma edição da revista médica
”Lancet”, que publicou alguns dos
resultados já referidos, lamenta que o
Conselho de Segurança das Nações
Unidas não tenha punido os violadores,
apesar dos debates anuais sobre a
questão, desde 1998 e as condenações
das partes envolvidas.
Jo Becker considera existirem alguns passos positivos, sublinhando que
o Fundo das Nações Unidas para a Criança tem trabalhado com governos e
organizações privadas para a desmobilização e a reabilitação de milhares de
crianças na Serra Leoa, no sul do Sudão, no Afeganistão e ainda outros países.
Jo Becker concorda ainda com o editorial da ”Lancet” ao referir que as
sanções devem ser alargadas através de acções concretas para que não se
fique apenas pelo mundo das palavras, nomeadamente uma actuação decidida
do Conselho de Segurança da ONU para impor medidas contra os
responsáveis.

9. Estatisticas

⇒ Estima-se que haja no mundo cerca de 300.000 crianças -


soldado

⇒ Calcula-se que só na Républica Democrática do Congo existam


11.000 crianças soldado, o que constitui mais de 40% das forças
armadas, sendo que grande parte desta percentagem é composta
por raparigas que para alé de participarem directmente nos
conflitos, são utilizadas também como escravas sexuais.

24
⇒ Pelo menos dezasseis crianças entre os 13 e os 16 anos estão
entre os prisioneiros da maior prisão militar do mundo, ou seja, a
prisão de Guantánamo.

⇒ Estima-se que na Colômbia existam 14 mil crianças – soldado.

⇒ 1.200.000 crianças, segundo a Onu, são traficadas todos os anos.

10. Free Children From War

Em 2007, a cidade de Paris recebeu uma


conferência denominada "Free Children from War".
Cinquenta e oito países assinavam os "Princípios
de Paris", um documento não vinculativo mas que
assumia pela primeira vez o compromisso de
retirar as crianças-soldado dos conflitos e lutar
contra o flagelo.
Representantes dos governos, associações
humanitárias e UNICEF, organização da ONU para as crianças, disseram
presentes no decorrer da conferencia.
Reflectir sobre a utilização de crianças em cenários de guerra, analisar o
problema e encontrar meios consistentes para o
combater eram os principais objectivos do encontro.
África e Ásia eram considerados os continentes
mais atingidos por este problema. Conflitos em países
como o Afeganistão, Filipinas, Indonésia, Birmânia,
Sudão e Colômbia foram considerados os mais graves.
No entanto, outros países recrutam crianças para
conflitos armados, na maioria dos casos guerras civis
ou de guerrilha. Aos olhos dos grupos armados, as
crianças são soldados baratos e obedientes.

25
Na conferência estiveram presentes representantes de 10 dos 12 países
em que a ONU considera existir o recrutamento e a utilização de crianças-
soldados. Sudão, Chade, Uganda, República Democrática do Congo,
Colômbia, Nepal e Sri Lanka assinavam os "Princípios de Paris" enquanto que
a Birmânia e as Filipinas nem sequer participavam.

10.1 Necessidade de reintegração social

A maioria das crianças-


soldado são raptadas das suas
casas. Vivem em meios pobres
e marcados pelo analfabetismo,
sendo, muitas vezes, de zonas
rurais. Aquelas que se
voluntariam são guiadas pelo
desejo de se libertarem da
pobreza e fazerem parte de um
grupo político e ideológico.
Henri Leblanc, director do programa da Unicef, afirmou na altura que o principal
objectivo da conferência era garantir um envolvimento sem equívocos dos
Estados para pôr fim ao recrutamento e à utilização das crianças-soldado.
O encontro pretendia ainda alertar para necessidade de reintegração
das crianças-soldado. Aquelas que sobrevivem aos conflitos ficam física e
psicologicamente afectadas e necessitam de apoio para se reintegrarem na
sociedade.
Segundo a ONU, as múltiplas organizações humanitárias que actuam no
terreno têm feito esforços para fornecer às crianças-soldado educação e
participação activa nas comunidades a que pertencem.
A conferência "Free Children from War", acontecia assim 10 anos depois de um
primeiro encontro na África do Sul, em que se estabeleceu a idade mínima de
18 anos para o recrutamento e foram demarcadas estratégias para combater o
problema. Em 2002, o Tribunal Penal Internacional determinava que a
utilização de crianças-soldado é um crime de guerra.

26
Ishmael Beah, uma antiga criança envolvida num conflito militar na Serra
Leoa, hoje com 26 anos de quem falaremos mais à frente, afirmava que "É fácil
tornarmo-nos numa criança-soldado, mas é muito mais difícil recuperarmos a
humanidade”.

10.2 Crianças Soldado – Os escravos da guerra

Umas vezes, recrutadas à força, outras vezes, vítimas de situações de


abandono a que foram votadas pela própria guerra que lhes dizimou a família,
outras ainda de acções de rapto, as crianças-soldado transformaram-se em
verdadeiros escravos ao serviço de recrutadores de guerrilheiros para
guerras sem regras. Os recentes levantamentos da UNICEF falam por si:
África e Ásia são os continentes mais afectados pela calamidade. Serra Leoa,
Libéria, Sudão, Afeganistão, Nepal e República Democrática do Congo são
alguns países que se encontram na lista dos países acusados de
efectuarem o maior recrutamento forçado de crianças para as
transformarem em autênticas máquinas de guerra. Mas a lista inclui também
países da América Latina, nomeadamente a Colômbia, o Haiti e o Peru,
acusados de recrutarem crianças para a guerrilha, forças paramilitares ou
para bandos de delinquentes.

11. Entrevista a Ishmael Beah

Crianças e adolescentes são


usadas como soldados e exploradas
sexualmente violando assim e de todas
as formas possivels, não só a
declaração dos direitos humanos como
também os direitos das crianças.
Ishmael Beah, foi criança soldado
durante a Guerra na Serra Leoa. Em

27
1993, aos 12 anos de idade, Ishmael decidiu procurar segurança nas fileiras do
Exército leonês, e quando percebeu já estava de armas na mão.
Segundo o Unicef, cerca de 300 mil menores estão nas frentes de batalha.
Beah escapou do exército após ações de organizações não governamentais e
passou a fazer parte do grupo da Unicef nos arredores de Freetown, capital da
Serra Leoa. Tornou-se, então, um soldado contra a presença de menores em
conflitos. Hoje, Beah diz que só tem uma missão: ajudar as crianças que estão
na mesma situação, vivida por ele um dia, a recuperar sua infância, a sua auto-
estima e até a própria vida.
Beah, publicou o livro “A Long
Way Gone: memoirs of a boy soldier”,
onde relata toda a sua história. Num
livro marcante, Beah conta-nos entre
muitas outras coisas, como a sua
família foi assassinada pela Frente
Revolucionária Unida, grupo rebelde
que iniciou o conflito onde participou.
Conta ainda as suas experiências de
combate, o facto de ter aprendido a
atirar com uma metrelhadora AK-47
para “provar que era capaz”, a sua rotina igual à de um militar com a diferença
de não receber qualquer tipo salário. Relembra o contacto com as drogas
(misturas explosivas de cocaína com pólvora) bem como o seu estado
“anestesiado” nesse período.
De seguida fica uma das muitas entrevistas já concedidas por Ishmael
Beah, à média internacional, onde nos relata alguns factos que marcaram a
sua vida.

28
LeafOnlineNews - Qual era a táctica utilizada pelas forças armadas, para
aliciar crianças como o Ishmael?

• BEAH - Um dos factores necessários é a destruição de tudo o que a


pessoa conhece. O segundo é a coação. Eles não dão uma escolha
para se entrar no grupo. Ou entra-se ou morre-se. Eles dão-nos todos os
tipos de droga enquanto ficamos traumatizados por sermos expostos a
tantas mortes violentas. Obrigam-nos a assistir a execuções, de modo a
tornarem-nos cumplices. Forçam-nos a fazer as mesmas coisas
horríveis. A vida torna-se somente isso. Até ao ponto em que o grupo
torna-se a nossa própria família.

LON - Existe opção Beah?

• BEAH – Não ! Crescemos em lugares onde não há opção. Não existe


uma oportunidade económica e a violência torna-se a única opção. Na
guerra quando perdemos a familia, perdemos tudo, e não sabemos o
que fazer da vida. As pessoas podem manipular-nos facilmente.

LON - Como se sentiu ao ser resgatado pela Unicef?

• BEAH - No começo estava muito triste e irritado. Todos estávamos. Com


toda a lavagem cerebral, eu passei a acreditar que fazia parte daquele
grupo, até ao fim. É preciso muito trabalho para desfazer a lavagem
cerebral.

LON - Como foi visitar e voltar novamente à Serra Leoa, um país que o
marcou profundamente?

• BEAH - Foi muito bom estar de volta, ver amigos e primos. Mas o mais
dificil foi ver o que a guerra fez. Observar a quantidade de jovens que

29
não sabem o que fazer com as suas vidas. Estas coisas deixam-me
bastante triste.

LON - Porque decidiu escrever um livro?

• BEAH - Eu já participava em encontros da ONU, onde contava toda a


minha experiência. Mas percebi que não era o suficiente. Eu queria
escrever algo e fazer passar os aspectos humanos. Porque no geral,
quando as pessoas falam destes lugares, falam como se todos naquele
país fossem loucos e violentos. Como se aquilo nunca tivesse sido um
país antes da guerra. Eu queria mostrar aos leitores como a humanidade
foi tirada às pessoas durante a guerra.

12. Crime contra a humanidade

As descrições sobre a forma como se opera este recrutamento


indiciam que estamos perante uma autêntica mão-de-obra escrava para uso
militar. Crianças são raptadas, treinadas em campos especiais, drogadas e
incitadas a cometerem todo o tipo de crimes.
«Matava como quem bebe um copo de água», é como Ishmael Beah,
testemunhou a sua experiência, quando em 1993 se viu forçado a participar no
conflito da Serra Leoa, depois de, dois anos antes, a guerra lhe ter levado o pai
e a mãe. Mas Ishmael Beah é hoje um jovem com estudos, acolhido por
uma família norte-americana. Em situação bem diferente estão, por exemplo,
as crianças-soldado liberianas deixadas ao abandono e que, depois de
desmobilizadas, foram novamente recrutadas para a Costa do Marfim.
Segundo o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Philippe Douste-
Blazy, que equiparou estas situações a crimes contra a humanidade, «uma
criança-soldado é uma criança perdida para a paz e para o
desenvolvimento».

30
Conclusão

Concluir um trabalho como este não é fácil. É fácil retirar conclusões,


contudo custa um pouco admiti-las pela gravidade das situações apresentadas.
As crianças soldado, são sem sombra de dúvidas, seres humanos que todos os
dias vêm os seus direitos violados. Sem opurtunidades de escolha, estas
crianças são submetidas à dureza da guerra, a maus tratos fisicos e
psicológicos que deixam marcas para toda a vida. É dificil esquecer o que se
vive numa guerra. Esta realidade existe, e infelizmente, ainda é vista com muita
frequencia em vários países do mundo com destaque para o continente
Africano e Asiático.
Variadas Organizações a nível mundial promovem a paz e a
solidariedade em relação às Crianças Soldado, bem como a outros assuntos
delicados, onde a violação dos direitos humanos está sempre presente.
É necessário dar a mão a estas crianças, tornando-as cidadãos com um futuro
e sobretudo uma vida. É díficil, mas possível, sobretudo se olharmos para o
caso de Ishmael Beah. Ainda assim, as memórias ficam e são essas que fazem
a história de vida de uma criança-soldado.
Estas memórias ficam guardadas, mas o tempo não consegue apagar as
lembranças de tal experiencia.

31
Netgrafia

• http://www.amnistia
internacional.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=207&Item
id=105

• http://www.hrw.org/

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Human_Rights_Watch

• http://www.unhchr.ch/udhr/lang/por.htm

• http://www.alongwaygone.com/

• http://www.worldpressphoto.org/

• Http://www.hrw.org/

• Http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=5326

• Http://www.comunidadesegura.org/?q=pt/node/32751

32
Anexos

Ficha Modelo de Apresentação do Pré-Projecto


Direitos Humanos
10ºAno Turma I

Andreia Andrade nº 4
Grupo de Trabalho Fábio Machuqueiro nº8

1.Tema/ Problema a
Violação dos direitos humanos / Crianças
investigar
Soldado

Conhecer a Declaração Universal dos Direitos


Humanos
Conhecer a Convenção Universal dos Direitos
das Crianças

Identificar a forma como os direitos humanos e


2. Objectivos
das crianças são violados no caso das crianças
– soldado

Combater a violência de modo a promover a


cultura da paz e solidariedade entre os povos.

33
Análise das declarações dos direitos humanos e
integração das mesmas de acordo com o tema

Conhecimento de alguns países onde existem


crianças soldados

Pesquisa sobre algumas organizações que


promovam e defendam as crianças soldado bem
3. Estrutura do Trabalho como os direitos humanos e das crianças
(conteúdos a estudar) (Human Rights Watch; Amnistia Internacional …)

Discussão acerca do modo como os direitos são


violados, transportando crianças para o meio da
guerra

Explicação acerca das formas de integração de


uma criança – soldado na sociedade

Pesquisa de Internet através de sites ligados ao


tema
(http://www.amnistia-internacional.pt/;
Http://www.hrw.org/...)
Visionamento de alguns filmes/reportagens/
4. Recursos documentários que nos ajudem a perceber
(Humanos e Materiais) melhor esta realidade.
Recolha de informação através de jornais e
revistas
Apresentar alguns testemunhos

5.Cronograma ( Calendarização )

Fases do Trabalho Datas


Pre Projecto 27/02/09
Entrega trabalho escrito 20/03/09
Apresentação 20/03/09

6. Formas de Apresentação em Power Point com recurso a vídeos e imagens


Apresentaçã
o

34
A escolha deste tema deveu-se ao facto de ser um assunto nunca
trabalhado por ambos os elementos do grupo. É um tema
7. interessante, com muita informação que apresenta uma realidade
Justificação completamente diferente da nossa, real e bastante visível noutros
do Tema países.

Utilização de um motor de busca para pesquisa de imagens e


alguma informação: www.google.pt

Sites específicos:
(http://www.amnistia-internacional.pt/;
Http://www.hrw.org/
8.Bib
Http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=5326
liografia
Http://www.comunidadesegura.org/?q=pt/node/32751
Http://www.unicef.org/graca/
Http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/direitodacrianca.htm
Http://www.unhchr.ch/udhr/lang/por.htm
Apreciação e Aprovação do
projecto pelo
professor

Observações

Data – 26 / 02 / 09

35

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