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O ULTRAMONTANISMO
PUBLICA DE PORTUGAL,
INSTRUCÇI(O
NEFI,ESOES A PROPOSITO

POR

,los&Leite lfo~iteiro
ESTI LIAN'TE: I10 Q('ARTC1 ,iNNO JCI11DICO.

1.o f o c i i rncr6 que notis anime doit


iious riirricr h uii rcsultat tligrio de Ia
p t ~ ~ i ~ n ~ ~ que
l i ~nous
i t lI'insii~re.
~ ,
Idt?cs Rapoldennes.
-1, SEU PTiESADISSIMO AMIGO

LOURENÇO CORREIA D'ALMEIDA


C ARVALIIAES

Fiiit~~riiitlíiilt~ croricns, irniaiitlnde de sacer-


i i i ic.it,, si-)l,i.tktiido iiiliiniilii(lc (Ir rorayfios ; eis os

s ~ , ~ ~ ~ I ( til~ilos,
I O S [~OrqlIPPtl 1 0 pt:cO, q l I C ~ O n ~ i 1 1 -
t a s t~iilrihtrct'r o toii com o iriciu noriii! ii'eslc pú-
I)lii.o ~ o t ntl'iill;~i:t,(~~ polii caiisn da i r i ~ a r i c i p i i ~ à o
riioriil tia iiiricidadik, pi'lii 11iz do IIOSSO povo, p<:los
. s iiossn patria, c pidiis glorias do
r t ~ s l ) l t ~ i i d o r r ilii
fii tiiro
PREFACIO
VERITAS

Raseire-@ca vetr drrc r,tlt~mntau' O i * ~ i l ~ ? r n -ass ~~ m -


brns tfa tflti40' .4t-l,ir~-utk 0 ~ f I ~ J If Z O ! ' i ~ ~ r j t~ll (IIVII~-
d 3 d ~cio p t ~ n ç a r t i ~ - l i t tIr~ r:
. l t ~ ce rt*.jtlandtay;l o a s l r o ratfto?ia

do t crtl,i+ie !
A aratjentia rtpeilc n ailrtitt!nln d'itrria optnido tilipcn-
<fl06& ' r ) t ' í ~ t i d , ) - & P$5 tyfRnf)tB ' s ~ t ~ f ~ , i k i ~l t~ t ' i l t t ~ l O*
~ ~ flt!~-.
~rl
~ ~ i ~ ~ o -!
j ) í ) f i ~ ~ ,4rtlt~r;i 11tItii1 1 ri,^. :tlrll t ' T t % l l < d h , o lt;tl~iicida

m t [e e l t j t I& It ~ i t,3g I~I ~ S { I t ~ . ~ , e t c~~ ~1 o+ ~ )~p*a ~~t -t i i o s t ) *


csiiniu!os 4 3 l i twrtlqidta'
A r t ~ i j t * ~ t : l ~ ~ .*-C; l ~t*i , (It) t i i t i i r o , ~ f e3cr varicinada,
, J t \ i ~

prectir~atla, p ~ l ocntliri~ta*ttr~i,j ~ t k l i , ~ ~ ~ ( - I ) . ~ I ~ I I Id~ estes *JI~O


e9pirilos inrcntf!atfrw na f l d r t l ~ ~ tl i~l t irta tiàs S U B S 1110l)ias,
attraffa.; an .it.cbiilt~,c s , t i i d t : i i i e s i f i t fcbgo. q t ~ cas inspiroti,
como proptiecids i f t ' glorras, que ct!es podem c dcvetrr pre-
parar!
A mocidade acadeniica ira expansiva rebelacão dos e u s
rotos, na ttflervesrerite t l i í t f l l f ~ ~ l dcios $ ~ ~seus afleetos, no

a g ~ t a d ode-afogo iIiis suas ncrbreo asyirúgUes, fili um mo-


mento uitr,ij,itl,t pcld cegueira j)ottlit.s : e, ao inelodas suas
ailitcioagões, par errtre a cerral;io do3 seus prejuizos, niía
reconheceu o povo na vietima de seus irtygniau o sacrili-
cio de seus grandes inte rcsscs, o tioloca iisio d'ririia rege-
neração propria, rim vertlarlciro e Innieritn~elsiticidio !
Sim: a acadeiiiia, a fillia clo p o ~ opela genealogia das
aspira~ócs,foi coridenin;itia seiii aritliencia erii seri vene-
rando tribiinal- a opiniào, corito i i i i i elerilento indocil e
annrchico, coino uma revoliosa excrecão social.
Mas coiiio! Os generosos instinctos d'essa raqa de ho-
mens livres, filhos do iiensame~itodo Iniperador, os ma-
gi~aniniossetitiriientos d'uina classe Ião querida d'esta ju-
ventude pela irmandade do soíTriniento, convertidos ein voz
de falsitlatles, em pregão d'injiirias c descreditos ! Podcr-
se-hào crer n'elle esponianens, estas conv icqões depressi-
vas, cstes jiiizos aleivosos?
fia0 !
Qrierii atraiyanri pois a stin sinceridade? Qilem ahrisou
I11i siia boa fC4 Q~ienitlesvairoit seiis pensanienios? Qileiii
lril)~ulioiienitini-sobre 11 liia c.retliilitl;ide no tire e ingcnua 'I

Um ruitfo iiiliiteriso, e cfcsordentitlo, conlo tl'orgin tlc de-


ii~onios, sirffoc~iodils as expaiisões Iil~cracsn'esla terra !
t'tiia pressão violenta, cniiio os ferros d'Atila, c o n ~ p r i n ~o e
grito das angustias popiilares. abafíi nos fanatisnios, rios
preconceitos, nos terrores, os seniiriteiitos de dignidade
d'esta oar;ão.
Este riiido, esta pressãro é o tuniriliuar crapiiloso do tur-
bilhão d e Ilarharos ci'aléni dos Alpes, qrie rolaiii enibria-
gados na riiiiia sobre todas as iristitiii~õcstlciiiocraticns,
coiiio t~andosanguinario de bandidos! 30 seii iiiipeto as-
solador não ha considerações neni moraes, nem sociaes,
qiie /fie enihargueni a fiiria, qiie os precipitd. Tufão d'ani-
bilõcs levnrii diante si, na siia torrente de devastacão,
a honra das fariiilias, a scgirranqa das cidades, a tranqui-
lidade dos iniperios! o srprs (Ia ira de DPIIP,qiie pnssn
por sobre os homens ! E o genio (Ia iniiiiosalidiide pitl~lira,
e o anjo da niorie social, i! o tlspirito das loriiicnlas hii-
manas, que silbvcrle, qiie tlcsolii a mundo !
Horiio, a filha sedenta dos Gregorios septiiiios; Roiiia, a
prosliliita doa Borgias, a apostaia do Evarigclho, a renc-
gada da huinildatfe, dilata, dill'unde a stin c o r r t i p ~ ã oem
noiiie d'iinia p r o p p a n d a catliolirn, c onde o fiiiiatisiiio pôde
ser illudido, oiide a Iiypocrizia coniprada, os iiinis siiliidos
intercsscs forarii con~proriicttidospelas niacliinacões reacio-
narias, as a r a s do Deus v i v o profanadas, polliiidas, por
sãcrilrgos e ahjectos s~crificios,que tem, por sacerdotes,
as ni;iis aboriiiiiaveis piiisóes, por hosiia, o pão e o san-
giic do fril~iso !
A (~tliicaçáopublica, a aula regia do porvir, o çeiiaculo
d e scient.ia e iiioral dos discipiilos da regeiiernsáo, S ,
conio iiiicleo generoso da l i berdatin, o ohjecto periiianente
(Ias iriqirieta~õesdo partido clerical, aqiiclla, s o l ~ r cque se
conccbiilraiib os assaltos, as invesiidas d'essa qii3driiha d e
baiitloleii-os d e sotaina, salteadores da paz riioral~dasfa-
nlilias, Ilildebrandos eni corrin~issáono seciilo 19 . O , Jani-
saros assalariados entra os iitiiiiigos do altar e d a socie-
dade, hordti d'extrangr~ladorcs d a IiberJade, tenc brosos
foriieritadores d'a ligarchias i in~,ossiveis;que, havendo pro-
testado o exterriiiiiio da virtude, a doniiuagiio universal
de Ronia terreiia, Lrnballiani en, preverter a s gt.racôes iio-
vas, ciiranl d e apagar n'ellns o iiielhor de s e u s instinctos,
de as guiar caniinho eiuíirn de Vaticano.
Estes taes quereiii na mocidade esthdiosa u ~ i i bando
d'illotas eiii gestacão, alumnos de Gregorio seplin~o,ser-
vos da Curia, seni consciencia nerii seii~iiiieiitospessoaes.. .
e iião ha nieios por abjectos, e torpes, a qiic renunciem
para rgencia d a s suas anlbicões. Por onde se pòde csten-
der o manto das trevas intellectuaes, por onde as anitiacaz
da condemnação biblica, poderao cercar a -sciencia d o
triste prcstigio de antipathia, d e repulsão e horror, as
escholas converteram-se em antros de despotas e tyrannos,
pm prosiibulos d e moral, em gi~ilhoiiiiiisde liberdade.
A imprensa periodica, assaltada pois de iritproviso por
estes taes leopardos de roiipeta, foi tran~fornradaeni ins-
trumenlo das suas diffaniaçdes ignobeis. A que =de mais
livre s e jacta, e ostenta, foi posta em pleno serviço d'tinra
reacgáo aletophyfa. As suas coluninas; essas ciolumnas,
que tiio sónlente deverão suslentar as insiiiuições da li-
herdade, serviram um moniiniento de ptlastras no theatro
nefando das orgias da reaccão.
O acontecimento do dia 8 de Dezembro foi arrastado,
mordido, dilacerado por uma ferocidade iiirxplicavel !
Verteram-se injurias, vociferaram-se irisi~ltos, desaba-
faram-se r a n ~ ô r e s , espectura rani-se tlesj)eitos, deniincia-
ram-se odios mal compriniidos, tripudioii-se ernfini sobre
a reputação d'estt! corpo; e alguntas vozes perdidas 110
ten~porat,nial poderaiir aplacar: eaWo os fanetas furores
dos hypocritas d a paz.
Mas a verdade deve de ser-111% um castigo! -3 ver-
dade annuaciada já pela voz d e toda iiiria academia de
mancebos iotelligentes, magnu uox do fti til ro, no mani-
f8sto d'ella ; manifesto dos seus desejos, prograilinia d~
seus principios, edicto soleinne do seti pensar, iilulo dn
sua dignidade, pergaminho da sua nobreza !
Esta primeira, e sobre todas autheniiea proelan~nçãoda
verdade, foi iim passo soberbo n'este caminho da salvação
moral da mocidade ; mas os preconceitos do povo não se
dissipam coin um só raio de luz, com uma iempestade de
eloquencia apenas. O uliramontanisrno cerroti de nmis o
nevoeiro sobrc a razão popular; e qiialquer que seja a
gloria d'esse magestoso triumpho, não podciiios adormecer
sein risco sob os presfigios da primeira victoria. E a ne-
cessidade d'unia lucta, que não esmorece, antes redobra
d'esforc;os nas derrotas de hoje para as conquistas d'áma-
nhã. v
Por esta necessidade desejanios nOs accudir com o pe-
queno brado d'esle opusculo.
Doininados pela suprerna convic~ãoda dignidade da
academia n'esse acto, que se chainou uma revolta, tima
insubordinação, quando simplesiiiente foi uma pacifica in-
surgenciil contra o despotistiio ; pacifica, coiiio podem ser
estas insurgencias, eiii que se offendern interesses, inda
que abjectos, arreigados ; possuidos de fé viva na legiti-
niidade das inlençóes, que presidiram a esse acto extra-
ordinario, que assigoalou o dia 8 de Dezenibro, niío he-
siiaiiios eni lhe dar n'este logar a mais publica e solemne
saudasão, e com ella, a explanação de todas essas inten-
çBes, q u e lhe assistiram, e que a justificam, e nobili-
tam.
Com effeilo: para os que temos os olhos no fiitriro, e
as desconfiancns no presente, para nós, os que amamos a
utopia, os proselytos dà idealidade, o aconteciioento do
dia 8 teve a significação inimensamente importante d'uma
expansão de elevados principios socines, e subidos pen-
samentos de moralidade publica. Foi unia explosão a tempo
de fé liberal, uma proclamação opportuna de theorias de
justiça, um protesto eloquente do futuro contra o passado,
do progresso contra a retrogradação, do mvimenlo contra
a lethargia.
Sim, foi um acto de iaimenso alcance, e de latas con-
sequeocias civicas ; urn acto, que, na sua legalidade, e ba-
stante para a repuiaçáo d'esta mocidade, e para lhe gran-
gear com o respeito a propria gratidão do paiz, por cujos
interesses elle teve logar.
Os qtie especulam coin o descredito da juventude libe-
ral, OS que procuram desviar influxos das suas ideias ge-
nerosas sobre o povo, anatheuiatisararr~esta revolução, como
condemnam todas as sublevoçóes liberam, como garro-
teariam John Brown tamhem, se este crime n8o tivesse
de se perpetrar no novo mundo para universalisar a ex-
piação da liberdade ; e clamaram, que os iicenciosos cos-
tiinies d'esta geração prevertida desacatava as auctorida-
des, postergava a lei, violava os niais sanctos deveres de
obeilicncia, e aclaniava nas praças o principio da annrchia,
pedindo a cabeça d a s a~ictoridades1 Isto disseram elles, e
a mocidade ouviu-os tolerante na sua indignação, deixou
desabafar essas i r a s ; e Iicou para com Deus, o povo, e a
sua conscicncia, segura, de qile linha sido o instrumento
das triplices indicacõcs da jristi~a de todos. jiistiça paci-
fica, como a mocidade a intende, como o novo espirito de
cvangelismo a prega, e ensina; ri justica, qiie se não des-
vaira com oitttlictas, que não conhece o - capitis amis-
sione plectnntur.
Se ouve espiritos tão trimultentos, e pouco confiados
das suas virtudes, que se intimidaram ante o nobre des-
peito d'esses mancebos, n'esse lemor, inais que em nossas
escripturas s e engrandece a justiça d'elles; e não esperem,
qiie ningiierii responda por essas naturezas menos varonis.
O medo e já castigo de: seu delicto -culpa szti nocuit.
Disseram pois, que a explosão acaderni~arebentou com o
U
grito de-ntorra !santo trcniendo dos pedadogos, synthese
execranda d e 1 7 9 3 , inscripção obrigada do estandsrte de
tudos os revolucionarios ! quando a insurreiçiio esponianea
d'estes moços, incendidos na aversão a uma auctorídade
anachronica, teve tanto de reflectida e prudente, que pas-
sado o primeiro niomento, ein que essa auctùiidade abor-
recida foi punida pelo deçpreso, nunca mais a tranqui-
lidade dos ventos (unica alterada), soffreu ou foi inconi-
modada coni os alaridos de aninlos francos, alegres? e fa-
ceis, coiiio são os d'esta academia, quando um pensamento
liberal a enthtisiasina, e iritlanima.
Mas que houvessem morras! Qiie podia nas circums-
tancias d'este accidente haver de desordeiro e illegal em
similhante acclaniacão? Pois que significariam esses mor-
ras em tal caso? Yão seriam a legitima, e ate necessaria
contraprova dos vivas, com qiie se feriam os ares? Morras
a um principio anti-social como os vivas eram vioas a um
principio opposto, a u m principio social? Morras á tyrtin-
nia, ao despotisnio, como os viaaa o eram a brandura, a
liberdade? Por certo : e vivas a uni systema, a um prin-
cipio inda ratificados, indn asselados por morras especu-
lativos, morras philosophicos, -morras abstractos, podentos
n6s todos dai-os eni casa, conio na rua, que teinos liber-
dade d'ernittir as nossas opiniões roni mais ou menos elo-
quencia, mais ou mengs energicamente. Se a força das
convicções nbs arranca a inansão pacifica dos nossos estu-
dos para i r fazer philosophia na rua, quando muito nos
podem chamar oradores das praqas. Tambem a Grecia os
viu. Demosthenes açoitando nas ruas d'bthenas a ambição
de Philippe ainda coin infráccão da lei, que defendia as
arengas publicas, a quem não houvesse ti& annos; De-
mosthenes fulminando o usurpador com OS raios da sua
tempestuosa cloquencia, era mais rude, e severo, e illegal,
que a academia abandonando um orador ingrato ás suas
ideias, aritipathico ás siias crenças, repugnante aos seus
principioç
É verd;ide qiie anticipar estas profissões publicas, estas
franqi~ezasda tlemocracia, é coiisa estranha eiii tenipos tão
frescos do despo tisiiio, tão recentes dos reginiens oppressi-
vos, tão notos para as garantias da liberdade, para estas
inveiicões da revolução. hiiis ha ahi um paladio escripto de
direitos comniuns, sob cuja protecção e amparo, + n3o e
unia ironia constitucional, nos podenos acolher, e na emie
são dos nossos votos políticos, obrar licitamente, ccmo a
.
expressão d'essas garantias nol-o permitte . .
Mas para que absorver tempo em defender, o que as
conseqiieucias legitimam, e sanccionam?
Esta insurreição academica com sua propria feição le-
gal, com o seu caracter pacifico, e inaccessivel tí penali-
dade, foi qiie mais irritou esses devotos da urdem, bcotoa
da tranquilidade, inimigos de tudo que 6 aobre e gene-
roso. Esses tnes hypocritas não poderam levar a bem, nBc
poderarn sofi'rer a rosto ledo, tão opportona contramina ás
suas mrichinações, tão energico obstaculo aos seus tramas;
tão decidida resistencia ás suas pertençaas, tão for&^ pppo-
sição aos seus intentos; e accenderarn odios no contra-
tenipo, e protestaram vinganças. Mas qualque$ seja o deo-
forço do ultramontanismo despeitado, qualquer que seja o
traiçoeiro despique d'esta raça depravada, genaratio mala
et adultera, esse acto na de permanecer como remora glo-
riosa de condemnacão d'um mau principio, e dos q u e por
elle obram ; condemnação fulruinada de toda a energia de
mancebos, que se preparam para a tremenda puniçiio dos
tyrannos, e estrondosa vingança dos tempos.
Esta mocidade, alvorada d'um grande dia, radiosa ma-
nhã d'um Euturo explendido, carece d'estas provas, d'estar
depii rações n'u ir1 inartyrio prematuro, como fecunda pre-
paracão das lides, que a aguardam.
Legataria do porvir, a sua responsabilidade é immensa.
Pesa com o ditplo encargo d'itma fruetuosa adiiiinistracão
da berança do passado, e d'iiina transinissao generosa d'ella
a seus herdeiros no futuro. Por isso a experiencia, conto
lição prolictia, e niistcr, que a instrua n'estes soffrinientos
precoces pela causa da verdade.
Atirada d'iiiiproviso d'esta plaçida vida d'estudos seni
estimulas, d'estas agrias serenas do rio sancto da instru-
c ~ ã oá s inconstuncias d'esse oceano de contrariedades, pai-
xões e interesses da vida publica, incorria esta juventuds
no g r a v e perigo de arriscir, ou trahir as crencas prinii-
tivas, a s convições auridas na sinceridade dos annos ver-
des, se não fosseni fixadas, consolidadas pela adversidade,
pelas persegiiicõcs, pelo habito contratiido de luctar, de
disputar o ambiente livre dos seus pensaiiientos aos ini-
niigns na tos dos aniiiios probos.
Por isso, conscia do qiie vale, a mocidade acadeniica
náo póde recuar anie o inipcrioso dever, que seus destinos
lhe inipõem, -combater o sdversario onde o descobrir.
floje, que a luz natural, a instrucção gratuita doseculo,
previne, e illude as gradaqõas artificiaes da edricaçilo pii-
blica, essa lucta, esse conibate, deve affectar, deve resol-
ver-se em fecundas e dilatadas applicawões sociaes.
O espirito eni face dos elenientos d'esta educação difusa,
cosmopoliia, aroia-se d'uriia força anticipada, e despreve-
nida, que deve invalidar os calculos da reacção, que se
acolhe ao recinto da eschola superior.
Os tempos vão-se suecedendo. $8 marcha das couaer, as
Lraosformacões realisam-se imperceptivelmente. A hum-
riidade regenera-se sem dar por isso, e deste movimento
coniniuni a presteza da instriicção nos iiioifos é urn resui-
tado necessnrio d'uiiia coiiio que observação, que se dilata,
e que eiil parte parece supprir os esforços prolongados do
estudo, e a propria niatiiracão dos annos.
A experiencia enriquecida, locupletada, eni peqiiencts
prasos nas rapidas transacções d'este vasto commercio da
epocha, a hrevia, acelera, anticipa nogões, conhecimentos,
sciencia enifiiii.
Na verdade, o seculo na sua agitac80, na sua effervescen-
cia universal, nos seus presisttlntes testemiinh~s,e succes-
sivos exeinplos rla forca, e da grandeza huniana, está muito
para verter nas consciencias grande copia de saber, para
as instruir dos attributos, e da dignidade dos hoinens, para
as convencer das suas prerogativas, das suas iniinunidades.
A acadeiiiia, crija situacão, e ctijos predicados moraes a
constitueni sob as grandes, e itnrnediatas influencias da luz
do tempo, teni n'esta razão legitima da sua importancia a
invocacão natural da patria, por queni vive, a este cooperar
laborioso, e devotado, na causa social, que a preoccupa, e
agíla.
A liberdade, que é- uma creação d'estas combinações
d e todos os progressos; sentimento, que se apura na com-
plicação das cousas humanas; q u e é uma cansequencia,
q u e se fortifica na grande verdade dos principias da mo-
derna illiistraç80; uma convicção, que rehen ta d'esie lume
do seculo, deve ser, e 6 o c u l ~ od'ella! É uma fé ertre-
inosa, um fanatismo, cuja exageração a torna habil para
grandes conquistas. O predominio d'esta crenqa arborada,
como inscripcão dogniatica d'uma bandeira revolucionaria,
J
lia de esforcar, ha de alentar, a mocidade academiea para
a grande e decisiva victoria social sobre a reacção ultra-
montana eni todas as suas manifestações.
O clamor iiniversal, a voz da hrimanidade pela bocca
do grande testamenteiro da civilisaçilo moral pelas letras
-
d'este secnlo, anctor do porientoso codigo d'ellri os Mi-
ser'aveis, esta a g i t a ~ a o ,esta instabilidade, esta impacien-
cia dos espiritos d a mocidade, os baluartes, que por toda
a partr se provovem, e levantam, como ccnfissão da gran-
deza do ininiigo, tiido isto esti anniinciando um supremo
desforro, tinia batallia decisiva, qiie n6s os amigos d o
ABC deq.eiiios converter no triiinipho absoluto da liber-
dade.
Alas que nno seja como 1793 o trovão, qrie assombre,
o raio que fiilmine, seniio o relampago, que alluniie. Sim,
a luz, q u e rasgue a s son~hrasda reacciio; a aurora bri-
lhante e serena, qrie abra o solemne e niagestoso dia d o
juizo finalmente do til trainontanisrno.
Apostolos, e ao mesmo tempo sacerdotes do ideal, é, aos
mocos estudiosos, qiie cumpre fazer carne e osso d'essas
u t o p i n ~de Virtor Hiigo. É para elles, é para a hiiniani-
dade em flor, que csperialmente se abrem aquelles la-
bíos piopheticos, que se vertein nos typos de Guttemherg
essas paginas siiblimes, que incantarn o mundo; são para
a nioeidade aqiielles estimulas, aquelles exemplos da mais
pura moralidade.
Combeferrk, Enjolras, Prorivaire, etc., actores, q u e o
siiblitiic Poela chania a representar n'aqueile vasto drama
social, não são senão o excmplo fecundo, com qrie o apo-
stolo da instruccão universal vos chania a vós estudantes,
como aquelles, a tomar nas luctas da sociedade o logar,
que a vossa illustração vos assigna. Prudentes conio estes,
camo estes affectos á liberdade, e á ideia, deveis ser os
mais luminosos precursores da futura revolução social no
nosso paiz.
e
Desligados (l'affeiçijez piieris, iI'aspirn@es insignificnn-
tes, de tlcsejos sem alcance civico: votados d c rommiirn
accôrdo a esta obra, tfiivi(fni.-se-lia do resnltado, qric a
forca ila ~ o n t a i l cjii~cnil nos assrgiirn e gnrnnia?
Mas intln nssini a liirta 1180 6 (I'(IIII dia. O iriiiiiigo a
externiinar tcni a forca (Ia iliitliria, (ia persicloiicia, tJa
traiqão, tla ninlrtvolít pri.spirar.in Oo fnrririnra.
Qiiniiilo o jesiiitiziiaio (oiiinra n'llin Maniiel Godiniio O
Iiahito c o disfarce aca:leriiico por aiigariar proselyios pelas
stias práclicas siigesii\as pnrn a nora seita, oiie se fazia
n'cstes rrinos, a victoria porlia e d a r , e e r a segura, na
inipossi bili(iai1o tla p~rsiias5o. na iiicficaria d'essns setlii-
çõcs oratorias. Mas Iioje a rcacciío dci!Gc por Iiiiriiildes,
essas tratas eupcriiiicntati;\s. llais sabia, Iiaventlo acolliido
d'iim longo ~yroctiniode reipzes, de conlratfi~ões, infor-
luaios e virtorias, protic'iin !icão, 1130 tlesconliere, qiinnlo
seria rstcril trntar arnlas postas no uso passado; e a o
apostolado a1)erio. S I Ilwti tiic ri cateclie.sc dissiriiii lada e
lenta, soh o proprio didarcc da lil~ertfatle.Assiinie a au-
clorirlatlc .pctl;rgrtgica, toriln rt fi~rrlantiriiiterial, a toga jil-
diciaria, as insigriins reitorae.;, tenta invadir a proprie
elevti~ãosacrosanla do throno para se acolher sob a in-
viola bilitiade dos arminhos ! Esta ultima conr~itista deve
de ser o signal trciiietitlo do cataclysmo preparado pelos
trabalhos incnnsaueis d'estes mineiros da harmonia pu-
blica, sordictas tortpeiras da sociabilidade !
Miis por eni í~iianto.niocos academicos 1 rbs, qiie não
ignoraes as teodencias do riltramontanisnio, qiie lhe estaez
vzlld0 O influa0 de C O ~ ~ ~ Ino~ $rcginien SO unirersitar-o;
yÓ6, fliie lhe toiides sofí'rido rliais que tinia mal eunlpri-
luida cry lesão da iiitoleraiicia, qiie accusa a presença
d'esses obreiros suhterraneos, não cruzcis os braços, ante
a tenipcstade qiie estale!
Rctn tcndcs vossa forca experimentada
Assolnc, d(3slriii,n ã o fique nada,
não resteiii senão os tristes vestigios, q u e a civilisação
apaga, (Ia sua nialdicta pregrinayão de trevas e corru-
pcão.
Mas, se por ventura vos (lprein para suor da agoiia
uni horto plantado pelas niãos dos iiiodernos Hildebran-
dos - poetiam pro msncie ; legâe a vossos filhos, com o
exentplo do niarlyrio, os estin~rilosdo vosso evangelismo.
A humanidade não C unia geração, que passa. A causa
d'ella é ririja caiisa periiianente, redivilia por esses secu-
10s. As lides da civil isacào legalli-se d'estadio a estadio.
A regeneração poderá nHo ser para nós :- tanto importa,
é para iiossos siiccessores. Tra baltiemos para elles. Des-
enganenios por unia vez o paiz, de que sonios unl povo
creado nos crencas da liberdade, nas esperanças d o fu-
turo, na fé v i v a da deniocracia.
-
O grito treiiientlo VAE T Y R A N I S! que diz Kant ((se re-
perc~itiu no Templo e nos niuros de Jeriisalem » devera
echoar coni nova veheniencia nas convicções d'esta aca-
demia.
Eu por mini humilde crente, q u e desappareço entre
176s :
...... eu rujo escravo, eu creio, espero
no Deus das Almas generosas, puras
e os despotas maldigo.-.Entendimenlo
tronco l a n ~ a d oem seculo fundido
na servidão de gozo ataviada,
creio que Deus é Deus, e os-homens livres 1
LUCEAT LUX

«O fim dos nossos esforços deve ser repeltir doutrinas,


que se vão pedir emprestadas ás theorias dos adversarios
para se nos darem como ideias progressivas, deve ser re-
pellir taes doutrinas principalmente nas suas applicaç6es
practicas. n A. HERCULANO.

«A civilisação gradual e crescente das sociedades pela


educacão poptilar é uma das prinieiras questões do go-
verno, e não urna intriga de sacristia.^ O MESMO.

uLes lois de Ia éducation sont les premikres que qous


recevons. Et comme elles nous préparent à btre citoyens,
chaque famille particiilière doit être gouvernée sur 'le plan
d e la grande famille qui les comprend toutes.))
MONTESQUIEU.

D'onde vem, d'onde nascem os clamores successivos,


as contestações multiplicadas, os debates interminaveis
sobre a legitímidade.do ensino publico, do encargo sociat
da educação do povo? D'onde resulta, que os parlomentos
de todos os paizes livres, q u e a imprensa de todos os po-
vos cultos se tem agitado n'tima qriestão, que a propria
gratidão, parece, dev&ra ter sulfocado; iiina qiiestão sobre
o direito publico tfo exercicio da caridade na mais sublinie
das suas applica~ões,-na illiistsaciio dos espiritos?! D'onde
tem tido origein o pòr-se em litigio o uso d'un~a prero-
gativa do Estado tào proveitosa icivilisação,-a sua in-
cumbencia c a sria responsabilidade eiil ot~jectod'inslrucção?
Será mero prurido de debates, siriiples vaidade d'erudicões
polemicas, q u e tem suscitado estas inqiiietacõcs, estes re-
ceios dos partidos acbrca d'essa atiribuição civil, qiie se tem
manifestado, que se tem resolvido em lecundissimos resul-
tados?
Não por certo!
Nem este alvoroço, neiii este desassocego politico signi-
fica iim fernierito de revoliicão, nem as circiimstancias d a
nossa situagão social coniporinm. $ siniplesmente iim so-
' bresalto, é uma perturbacão accidenlal, com origeni n'uma
causa passageira, que com ella deve desaparecer.
O Eslado toniando sobre si o ensino popular, a distri-
buicão do pão d'alnia, d a a esla necessidade universal
uma garantia, unia sancgão do seii desinvolvimenlo, d a
sua diffusão, que incommoda os inimigos da sciencia, os
apostolos pagãos da escuridade, do despotismo.
A roupeta, eterno symtiolo d'immoralidade, de perver-
s ã o ; o jesuiti'sino sob varias feicões sociaes no seti encar-
niçado lidar d'exterininio da liberdade, na siia intermi-
nave1 propaganda de servidão, tem sido o agitador d'estas
controversias.
O partido clerical, o partido, que martyrisou Campa-
nella, que turturou Perinelly, que preparou J. noite de
Bli. d'bgosto, vasto fcstin~ de Canibaes ! que occasionoa
quanto iioiive de feriiio e horsivel ri'esse sangiiinario apo-
calypse social d e 2793 ; este p;irtido leiiihroii-se d e co-
brir iiovaiiieiite o seti iiiaiito esI';irrapiido de doiilrinas de
progresso, e vir pedir a 1iI)eriliiilc d'eiisitio! O partido
cleriral teiii rl'estas geiitilezas ! Hoiiipeii iiiarcha de estra-
tegiris. pn receii-l he esta el1ic.a~; não iiesi toii tia execiição.
Mas qu?in ~ ~ o d hcrer a i1a 5ii1ccri:tatlc das vossas iritenções,
filtlos clc Grcgorio 1 . 1 1 '1
Liberdade d'crisirio ! Carla de cnpacitfade prira vós scrdes
mestres ! vós que [ião tendes seiiáo persegtiido a sciencia:
-a pliilosophia em Pascal, Moritaigne e Giolierti; a astro-
nomia eiii Gniilcii; a lilteratiira, a poesia eiii biolierc, em
Herciilano.. ..! vós, qiie ii-rintolastcis ao vosso apostolico
zello d e ignorancia, qiinntos noines engrandecera111 e exal-
tam a s vastas proviucias do sabcr ! Sois ridiculos com
eslcs paradoxos !
Ao nicsnio passo qiie fulniinaes toda a violencia da vossa
intolerancia contra as riiaiores elevacões do espirito, vin-
des erii noriie d'iiiiia idei~litlatle socii\i, ein noriie cl'i~nin
crença, qiie se liga ao fiitiiro, e sO ri elle, reclaiiiar a
anticipncão perigosa do rcinudo d'essc principio?
Qucreis transigir (:o111o pnrtitlo liberal.? Sois inriito con-
desceiidentes, heiii s,ibtriiios, cotii vossos inimigos para os
desprevcnir e ferirdes pelas costas !
É a pragnlaiica da vossa ~)o:iiica,6 a liti~rgiada vossa
religião! Jfas, (iese~iganiie-vosi A liberdade vela. No ineio
das suas glorias, no iiieio d e si!tts triunil~lios, não udor-
mcce coiiio Danton ein Arcis-siir-Aiihe, não se descuida,
e a ~ r o p f i i a ,conio Arinibal, eni Capiia. Os seus dias de
felicidade, coiiio os cl'espiacão, nem a exaltam, neiii a
desaniiiiaiii. Pilha das revolugões, creada na Iiicta, tira da
m8e o seu alento, o seu vigor; nem v6s sois Hercules, que a
esniagueis suspensa nos vossos bracos ! E
A vossa tentativa tinlia o ciinho mineiro e solapado,
que deniincía a sua origein ; inas a nie~itira não fructifi-
cou, a lisonja não illiidiu os esctilcas d'cstes arraiaes.
Nós, os qiie representamos a advocacia dos foros da
razão, e prerogativas do povo, que syn~bolisanioaa de-
fesa do sacrario dos direitos commiins contra a usnrpação
dos olygarchas, nos podemos regeiiar a li berdaùe, quando
trouxer os pe~.igosda licença ; podéinos, que não renega-
mos das nossas crenças, antes n'ellas nos consolidamos.
Teiilos fé, tenios v i v a esperança no predoniinio d'esse
generoso principio eni todas as suas applicações sociaes,
porque a historia e a critica atii estão para nos apontar
a lei do niundo. B pliilosophia, que proscreveu Torque-
inada, ha de por certo enthronisar Victor Hiigo, explen-
dida luz d'esie seculo mensageiro da boa nova, dissipa-
dor das niiserias pela illiistração, aposto10 do sentimenro,
e da tlrnndura, anjo da inordlidade, arauto da justica, d a
fratcrnidade e da religião,. espiri~ode paz e pureza, ad-
vogado ex oficio da innocencia, evangelista em fim d a
verdadeira pnalidade; da penalidade q u e beneticía, 1180
flagc!la; que dissipa e exteriiiina o crime, não o crimi-
noso; que rehabilita, não destroe; que conquista, não i s -
sola; que regenera, não assassina! ,

Mas entre os enthiisiasmos, que a veneracão produz,


entre este espanto d'unia adniiração qrie se estaca ante
o grande codigo d'essas queridas utopias, não esquecenios
nunca, que estas se ariticiparii sómente conio pFecursores
fecundos d'urtia era venturosa, e qiie apenas se offerecem
no presente, coiiio antegosto espiritual das felicidades fu-
tura$. Sabemos, que n'es~as, conio eni muitas partes a
emancipação do poro da tutela governantental nilo pôde
chegar, quc a opportunidade d'esto grande r e v o l ~ c ã odeve
eslar longe.
Ein qiianto vos virmos atarefatlos no fomento d e disya-
rates e aberrafões sociacs na actualidade, como são -or-
dens religiosas scni interesse alguiii para o Ccu, só pro-
niovidas, coiiio na iiieia edade, pelos intei.esses da mais
abjecta iuuntiaiieidade, pelos interesses d a prostituição,
qiie o qiiietisiiio e a direccão espiritual apurou, e niais
tarde sysienia tisou ; em quanto vos observamos cinpenba-
dos na instruc~iioesclusivuniente ministrada por vós a
mocidade, haveiiios de desconfiar niuito d'iiiri zelo que se
resolve no priiiieiro dos vicios- o nionopolio, o egoismo.
Siin, vos qiiereis ser os iinicos árbitros dos destinos
da ecliic.acão, os iinicos obreiros do fiiluro das gerações
novas, porque as qiiereis para vbs, e sabeis, que são
ellas cera hranda, qiie facilmente se aíl'eicôa ao capricho
dos vossos despotisiiios - molis cera, et ad forrnandtcn fa-
w
cilis.
Filhos das trevas só n'ellas sabeis reinar. A instrucção
faz-vos mal, cega-vos a liiz. Pedis, solicitaes a liberdade
d'ensiiio, porqiie quercis a ailarchia (10 ensino ; porque
qiiereis reger a ediicagão pelo alvedrio, pelo juizo das
vossas paixões: por qiie qiirrcis exercer o despotistno na
aurora da vida para einbotardes o sentimento da digni-
dade d'ella ; porque quereis escravos, não cidadãos. Vós
quereis desviar a attenção publica, os cuidados civicos,
da nielhor das fiincgões da caridade, para iripiidiardes li-
vreiiiente sobre i\s ruinas tla iiitelligencia publica, sobre o
conipleto atiriiqiiilamento da razão do povo.
Os vossos intuitos, desde q u e fizestes holocaus~o do
Ceu a tcrra, desde que ennododstes as vestes sacerdotibes
no lodo dds paixúes desordenadss, desde que rasgastes a
tiinica iriconsritil do Cliristo, forairi vedar ao povo a ar-
vore da sciencia, afundar no pego dos interesses do se-
calo a barca de S. Pedro.
Sobre tinia n~elaphorabiblica quizestes erguer uma fa-
brica de despotisn~os;sobre u m a fiecão de poesia quizes-
tes levantar unia estatua de privilegiós, exenipcões, po-
derio ; 2 se fostes logrados pelas progressivas tendencias
da razão em inanter illesos as suas regalias naturacs, os
seus legi tinios foros, pelo apostolado espou taneo, philoso-
phico, do ecangellio, rieni por isso n nioral deixou de va-
cillar nos fundanientos que lhe abalasles. No entretanto,
por mais qiic hariifiisleis por persuadir, qiie a condemua-
çáo do pririieiro horiieiii se transriiittiu a seus descenden-
tes, na intelligencia sopliistica herctica, sacrilega, revol-
tante, qiie Ihc cl~iereistiar, não podereis senão adquirir
onl prestígio epheniero, como o q u e se sustenta pela vio-
lencia, e delerininar, conio exagerada reacção liberal, o
atoniisiilo panllieista de Leniaire.
Po'r conseqii~nciapois a liberdade d'eiisino, ironia pun-
gente, rugido siiffocado de colera contra si mesmo, e qrie
vós expondes ein ar de'doutrina propria e progressiva; a
liberdade d ' e n s i ~ o ,qiie a egreja não pode professar sem
perigo, de qiie lhe srtrjani Lutheros de toda a parte, serii risco
de se ver em lucla-periiioneiitc coni as insiniiacões d'uma
philosophia aniiga da iioviiiade, faiitora rediviva do pro-
gresso, e qiie sc niultiplica em syslenias ; a liberdade de
ensino, diz(\nios, teiri pela fôrça d a nossa situacão social,
pelas exigencias da conservs$io d e direilos iiripiescripti-
veis, anreacados de continuo pelas pcrl&icões inipossireis
d'uma classe, de se remoker para o nuiiiero d'essas ulo-
pias, que pode111 ler por apostolos, os espir ilos ,videntes
d e Victor Hugo, de Jules Siinon, de Vasechot, e iiiuitas,
que se transportam nas elcvacõc!s propheticas do genio
para âfeni da actrialidade, nias qiie esta regeita por in-
conipativeis coiii o iiifltiso das ptiixões, que a agitam.
Para proclaiiiar eiii toda a siia ~tleiiiiiide possivel o al-
vcdrio no eiisiiio C forcoso presiippor nos iiiesires ti riia de-
dicayão, e iiiiia saiictitlíidc, qiie o estado da nossa civili-
sagio niio coriset~le;e eiii Iirer;rnca clos iiiisesias dg tempo,
q u e aliis aliiiieiitaiii essa lisongcira esperanca, a agiia
d'esse baptisnio, o oleo d'essa iincyão, deve verter-se pelas
vias, que a s não deturpeiii, pelos caliaes que a não trans-
vieni.
O honieiii na stia dupla qtt;ilidade doiiiestica e civil, na
siia diialidítde social carecc d e receRer d'estes doiis ele-
nieiitos, para qrie nasce, a feicão correspandeiite a seus
destinús. A faiiiilia, no meio da qiial srirgt! esta natitreza
delicada e niiiiiosa, teiii sobre si o carrêgo natural e ini-
prescriptivel de Itic iiiiiiistrnr o leite da prinieira etliicação.
a !inr ditacito coiiiiiiiiiii ,i frngil natiirezs infantil, e aos
anèctos patern;ies, qrie não reiiuncinni 8 fiicitltfade de crear
pelos seus criidatlos os fillios do seu amor, e unia obriga-
cão respectila a csses aíTeclos d'os paes, que iião podem
deixar á rebelia dos seiis instinctos, os frtictos que na-
tural e litreniente gcrarani, A eclircac,?~é o conipleinento
da gestacão, é a defiriitiva trançniissão da nalriral herança
dos paes, é a consiil~stansia~ão d'essa natrireza creada na
sua .origeni, é a coiistiliii~áo perfeita d'essa genealogia,
qiie só pela continuidade dos pensamentos, dos affectos,
c ate das crengas religiosas se potle foriiiar ; e n'este seri-
tido ri50 se pó& desligar dos Jcverrs da conjugalidade.
Xiiis na fiiiiiilia fóriiin-se soiiieiitc a pritiieira face da
eiitidade social, eivada pelos irifliixos dos seiriiiiieiitos da
materniddde, que ti a sacerdotisa, a directora do templo
domestico, e pelos prestigios da religiiio, suprema cleva-
tào d'esses seotimentos, sancto fogo da vida, que jámais
pode deirar de brilhar nas aras rnysteriosas d'este recinto
sagrado; ririlia feição d'esies elementos do grande corpo da
sociedade, ntas unia só. É o honiem, 6 a parte natural do
indivitlito, qiie vive das inspiragóes d e seus primeiros
nientorefi herdeiro do sentimento, depositario das virtudes
domesticas, sancta arca das tradiçóes generlogicas da fa-
milia, e que 4 a preparacão, que representa a capaci-
dade para entrar n'essa nova evoluç80 da gestaçío social
no seio da instrucqão, na niagesiosa estancia daa escholas
publicas, n'eose ta beraaciilo civil, propiciatorio d a ali-
mentacão d'tilriia, onde recebe emfim o cuntio de cida-
dão.
Denegar ao Esiado ou ii sociedade civil o direito de
exigir que as faniilids Itie preparem elementos, lhe deem
cidadiios, era recusar ao homem a sua suprema dignida-
de, era despojal-o da qualidade, que o eleva, que o dis-
tingue na creacão - a sociabilidade.
A manifestasão d'ella n3o se n d u z ti farnilia; por que
neni a familia se concebe desligada d'um aspecb civil,
que necessariarilente tern de a k c i a r , nem os estimrilos
da anihição humana, neni as dilatacões da actividade natu-
ral se resignam á circuniscripçâo do lar domestico, para
a expansibili(iade humana, peior supplioio que o de P r c
custes
Os direitos da familia, pois, sobre a educação do h+
iiiein, que priiiieiro é d'ella niemhro, antes que o seja do
Estado, esles direitos acham-se tinlitados ao desinvolvi-
ntento do coração, ii purificayão da sensibilidade e dos
insiioeios, por que sejaiii a iiielhor e maisproticua con-
dicso de affeigões sociaes, d/j fraternidade humana, O
sentim~ntonato da sociabilidade, cumpre a educação fa-
mili ar an1pli;il-o, enriquecel-o pelos exeniplos domesticas,
pelas Iiizes tlo Evangelho ; Iiizes tão vivas, que até a pro-
pria infaricia frisam bein.
O Estado, qrie deposita na familia a confiança, que lhe
não pótle negar, coiiliang.a garantida pelo anior patnrno;
o Estado agirarda o rnoinento solemne, eni que o q h o vem
abrigar-se sob ri egirie da sua protecção escholar, e pres-
ta-lhe na niila priblicn o que em geral, as faniilias lhe não
podem ministrar, - os elementos da educacão politica.
Esta solicitude, esta intervenção directa não póde deixar
de fazer parte das fiincções do governo: nem é uma centrri-
lisacão excessiva morinente sob os influxoer das pertenções
clericaes. 0 s que combatem, no mundo da practica, no
campo, do que é real, esta attribuiqão, é porque os do-
mina o interesse sri bversivo, que move o partido theocrati-
co ; e os que no mesmo i n t t i ito se refugiam na especulação,
cornmettem tim feito inutiJ, porque a questão 6 uma questtio
practica, uma questão de círcumstancias, uma questão do
dia. Abandonar os mais latos interesses d'ella para cuidar
do entretenimento vão de nos dar vaporosas repubticas
lundsdas em desejos sdmente, cistas nunca, nunca execttba-
das, esquecer por instante, o presente nas fantasticas pre-
occupaç7ies da idealidade n'estes objectos, é arriscar o fuk
turo, 6 p8r em perigo essas proprias utopias, B entregar
a mocidade ás garras do ultramontanismo; do ultranionta*
nismo, que como lego cerca os aduares da liberdade para
os assaltar no descuido de seus vigias.
Os grandes flagellos da sociedade, todos tem tido por
origem a ignorancia. Os disturbios do povo nos momentos
solemnes até, em que a civilisação o chama ás obras da
sua asrendeneid progressiva; esses furores, coni que ella
derrania feroz e iiisaciavel, o sangue d e seus irniãos n a s
batalhas (Ias r e r o l ~ i ~ ó csociaes,
s bataltias sanctas, qiie s e
devPrão opcrar oela persria~ão; essa ebriedade, coni que
elle se lanca sohrc o passntlo para o d c ~ o r a r ,corno q u e
por ii>citn@o do ii~liiro,egoista d í sua creayão ; todo O
e~aliaiiierito,iodos os excessos, q u e s e desinvolven~, SAO
filhos íla falia de Iiiz rinircrsal. A propris ill~istraçfiopo-
d c r j nITrontar a jiisiica, a iiioral e o sentimento muitas ve-
zes, iiias é I)orque se acha eiri face da reacção das trevas,
em presencn d'nnia iniciativa de enluriiidades, d'uni fomento
de atrociddtlcs.
Por isso a \itnlitlnde piihlica acha-se involvida n a qíies-
tão da iiistrciqko, e os governos, ciija iiecessidade tutelar
se jiistiftca iins ~cndenciastlíi paixão popiilnr, não podem re-
nunciar a riiiilc activa vigilaricia soI)r(: objecto d'edricacão.
Os factos estroiitlosos, reperciicientes d'escandalo pela Eu-
ropa, de taiitos filhos arraiicados aos braços de*suas mães
por essa propaganda al)oiriinavel, qrie por ahi se arrasta,
como a traicão do tigre, deve scr exei~tplotreiriendo para
o b r i g a m disciplina a toiiiar o mais in~iiiediato interesse n a
adjudicacão dos espiritos a n~oralpela evsngelisii~iloda sua
escbola, da eschola instiliiida pelo seu cuidado e espensas.
Mas distinguida pela maneira for que o havemos feito, a
educação domestica da educação publica, ou antes, a cdu-
cqcão da inslrue~80,o recinto da familia não póde i n d a
assim ficar tão vedado á espectução do Estado, a o seu di-
reito vigilante, qiie este não possa tornar contas a o pae de
fanlilias do destino d e seiis tilhos. Sim, não p6de prescin-
dir d'es3a ingerencia,. que ha quem chama uma profanação
do sacrario domestico, e que eu chamo a maior garantia
da siia inviolahilidade.
011ti govcrnação é uma necessidade natiiral, ou simples-
mente iim apparato, inutil invençHo do capricho humano,
que se apraz em revestir os seus actos d'iima mngestride
oca e ticiicia. Se é iiiiia cónsequencia natural da consti-
tuição liiiiiiaila, esta não thc pode escapar no mais peri-
goso einprego das suas ps~rogdtivas, n'esta transiibstan-
ciacão, ii'estn iiieieiiipsycosc ern vida, que se chama -
cducni~ão.A contianca, que o Estado depõem nas famílias
fica saricioi~ndae ao iiiesiiio passo reservada por este direito
de proiiiover a iiiel tior direc!.ão c applicaqão d'ella.
Assiiii, i: que eii entendo a edricação. Se ella podesse
abstrahir da interveiicão piiblica, a humanidade estava no
gozo dos ultimos rentates da civilisação. Não havia desai-
res que Ilic desvanecer. O governo tinha a sua esphera li-
mitada até se anniqiiilar. A iniciativa individual achava-
se no ultimo grau da sua sancção; era o reinado d'essa
Astreia anurcllica de Proud hon, aurea edade de Saturno! .. .
Mas infeliznlente a paixao 6 ingcnita ao honiem, conio ele-
mento d'eqriilibrio, c o governo não teni outra constan-
cia, q u e da conslancia d'ella lhe não venha.
O direito da familia pois, acha-se contrapesado pelo di-
reito da sociedade.
O zelo dos paes, e o carinho das mães, dão ao filho a di-
recção moral compa tive1 com 9s suas crenças, coin os squs
principias religiosos, e terminada, e completada esta feição
familiar, quando chega o niomenlo de d a r conta a o Estado
d'um cidadão entrega-o a eschola mais por uma obriga$&,
que por um direito. Por lima obrigacão sim,.e não metta
niedo-este modo de dizer, que a educação e a instrucção
obrigakrin e uma consequencia das relações do homem
com a sociedade, a q u e deve o tributo do seu corpo e do
seu espirito. Por mais q u e se diga, que o indivíduo é senhor
'b

de dispor das $rios faculdades, de as desinvolver ou não,


seu talnnte, não deixa de se proferir, sobre um sacrilegio,
uni a hsiirdo imiiienso conl appliração á edticação e a instru-
rcão. R'eiii o honiem póde fundar um direito na qiialidade
negativa d'elle - a irracionalidade, a ignorancia, a s (re-
vas; neni a podel-o, esse direito prejudica o direito do E8-
tado. Nxercendo esse seu direito, como condição do conhe-
cimento e iiituiçáo individual, quando n'esta acabe, reco-
nhece-o sem renunciar, ao qiie Ilie é yroprio, como effeito
do destino civil do Iiomem, destino que o liga ao &tado,
pelo dever de assuniir 8s qiialidades de cidnddo. O Estido
como tutella n'esta parte siispende-se onde a lei julga, q u e
póde comecar a emanciparão d'ella ; e como esta mui-
tas vezes se fixa para varias ordens d e destinos sociaes no
curso d e estudos, que se recontiecern, conio habilidade
para o gozo dos direitos respectivos, por isso, com a
sancçóo dos publieos, allia-se o respeito dos direitos parti-
culares.
Os que pertendem. que sei, que os h a , levar a sua li-
herdade, até o ponto de assentar sobre ella à negação da
escholaofficial, de snnccionar com ella o completo abandono
da infancia aos mesqiiinlios cuidados da família. de pro-
clamar por elln como uma riolencia o beneficio Pii blico da
illustrwão obrigada, não reflectèm. q u e põem em risco essa
propria liberdade ; não se leni bram, que se ella podesse
acobertar iaes desvarios, seria o primeiro dos vicios da
conslituição huniana.
Com efeito: o ensino, a educaçáo unia violencia B in-
eomprehensivel. Violencia ! violencia contra qiienl? Contra
a infancia, contra a fragilidade physiea e moral d'esse ente
rem conscieneia dos aitributos da sua dignidade racional?
Qu Contra seus Pais, contra a sociedade conjugal, a que o
filho se associa, coino accpssorio natural da geração li-
vre ?
Contra n inf;inc.ia não; q u e violencia seria, q u e supremo
tlesacato t l n siia friigiliilotle e r a , por certo, o deixal-o se-
pulto nas trevas tlo wpiriio, deisal-o eiii meio da siia cria-
ção ; o nieiioscabar 11 revcreririci qiie ris priiiieiras edades
i: tlcvida - ntltxintq t-leheiitr l)ticro reuerenticr~n. Mas não
C sci isso: o iiifarite teiii, e certo, dircitoe natos, que é iiiis-
ter acatar, tiias a lil)erdatle, iristruriiento natttral do bem,
iião pode coi~vei~ter-scn'iirii riieio natriral tio prinieiro dos
niales - a riiorte do espirilo, o assassinio ri'ali-na. Esses
direitos são, conio os classilica R n r r a i ~ ,o direi60 de ser ini-
ciado na uerdacle, de ser prepai.ado pura o uso da sua liber-
dade, de ser dirigido para a sua futura dignidade. Esta tri-
logia de tfireiios dii infiincia & a que temos d e respeitar ;-
c eiii virtude d'ella, e, qiie a fâniilia e o Estado euraii~suc-
cessivaiiieiitc da siia conipleta formacão social.
Sobre o infante, pois, iião pode rt!cahir esse pertendido
despotisi~io.S e r i sollre a paternidade'? iiias conio?! Poder-
se-ha crer, qiie os sentiiiieritos paternos se p~oniinciem
contra a itistrticcão gratuita e benefica, qiie Ilie e Q r a n -
dece os fructos do seu anior, qiie os illiistra, q u e os eleva.
que os sriblinla?! Mas q u e se pronunciem! Q u e titulo le-
gitimo, titulo d e barbarifade tem d e s e r esse, coni q u e
uni pae desnaturado lia de enibargar a acção luminosa
d a s escholas, ha d e projectar a sonibra da ignorancia sobre
a intelligencia d e seus filhos? Os destinos d'clles, o s e a
fiituro, constituirão uma propriedade, que o capricho póde
iniitilisa r ou destruir?
Não. Os direitos do filho niio caducani diante da tyran-
nia d'iliii pae. Teili fundaniento solido, quanio é mister,
para não pcrdcrerri n sua força em face d a s reptignancias
3
de ninguen~. Se aqiiellc desconhece os vcrtladthiros dete-
res da siia corirlicão, se fcclin os olhos ris indicacõcs tln
natureza, e cerra os ouvidos as intiniacõcs da razão; a so-
ciedade, o pae commiini clos desvalidos, tem d e velar pela
observancia d'essas sagrad;is o b r i g a ~ 6 c s .A dckilidndc in-
f a n ~ inão
l tem oiitro ariiparo, o seii al)aodono oiitro asylo, a
siia fraqiiezn oiitro resg~iartlo,qiie não for a aiictoricla(lt~pii-
blica, na ausencia do anior paterno, e dos ctiriahos da riifie.
Mas cstes não s ã o por certo, os qile jaiiiais rea,'*tram contra
essa solicitride, q u e lhe leva a rasa o pão tl'alnia para
seus filhos. Foi a philosophia, foi a aridez d a s especiila-
cões postas ao serviço d'i~lteresses,yrie inventaram a l a s
contesta~ões.Os pacs d e familias se algiini dia protesta-
raiii contra esse serviu0 social, é porque tllle se tornou tini
principio d e deterioracão *oral, de corri1 pyiio religiosa,
porque Ihes roiihou a flor da innorencin a seiis filhos, e náo
Ilie deixo11 sequer o fructo da i l l u s t r a ~ ã o . Os paes crêrn
cotiio nós na legitimidade das aulas piihlicas. Não ha iim
só, inda na maior rudeza de seti estado, q u e não arnbi-
cione para seiis filhos essa liiz niysteriosa d o saber; Iiiz,
que se abre, q u e brilha, ao Fat do patronato governanien-
tal; que não i e n e r e esse Deiis dest:onhcrido, que vae estan-
ciar no espirito dos seus, como que a voz oninipotente e
creadora da sociedade.
Por consegiiinte pois, recopilando, niui to embora a espe-
culação concilie a li herdade cotn as exigencias do ensino;
essa especulacão, por que se hinda na capacidade univer-
sal de pedagogia, nas rectas intengões dos mestrcs, na
nioralidade dos mentores ; essa especulacão e um repto
a s sociedades modernas, que estas se vêeni na necessi-
d a d e de regeitar, como pressentindo os perigos da trai-
@o.
AS habilitacúes pedagogicas carecem de se accorda r
uni HS cond jfões do tempo: e hoje, mais que nunca, quando
emos a Itictn reviver dos ultimos esforcos da agonia d'um
parti(jo retropndo, 6 mister não transigir, não haver con-
icmporisnyóci com esse partido, e vedar-lhe o mais pos-
sivel o tahertiarllla (ia ariia regia, e o altar da familia.
E ~ t n ,iiil>ort,lnad'la do c o n t i n i i o por insiniiações jesiiiticas,
invatfidn siicrcssivniiiet pela seduqãa dos tartufos que
se niiiltil,lirani, tem de se constitiiir sob a vigilancia pro-
tectora tlo Estacio. Sein profanar os mysterios d'ella, sem
oflender os sarrogantnç affectos do pae c d a mge, dupla
divindade entrz cujos ciiidados se cria a infantis, sem tisur-
par as su blinies atiribuiçóes d'esta magistratura carinhosa,
R porta d'este templo tem de haver por guarda assidua
as attenções da governação social.
A educacão do Estado, a instrucção publica obrigatoria
baseada no caracler civit do homem, obra sobre um ter-
reno arroteddo pela solicitude domestica, e e sob uma
condição de fertilidade meramente hypothetica, que elle
exerce a nova cultilra, se acaso não tiver o certificado
d'ella no seti vigilar solicito pela educa~ãoministrada no
sancto propiciatorio d a casa paterna. A moralidade social
deve tudo a boa direcqão d'essa educação. Dos pacs hera
dam os filhos as virtudes, e melhor os vicios. A corrup-
cão dos maiores transm i tte-se ascendeiitemente as gerações
que se siiccedem:-

Aetas majorum, pejor avis, tulit


Nos nequiores, mox daturos
Progeniem vi tiosiorem.

Degeneração crescente, preversão progressiva.


Ngo 6 pois possivel por consideração alguma, que o Estado
..
\

se furte a dilatação da sua piiblica solicitude ath ao pro-


prio retrahimento da e d u c a ~ ã ofaiiiiliar. Mas inda ha oiitro
titulo d'obriga~iio.Qiiaesqrier qrie scjain os sacrificios para
a instriic~ãopopiilar gratiiila, estes são, inda qiic d'espa-
ços a espaços, assaz rctri1)iiidos i socictlnde, á hriniani-
dade, pelos Hrirnbdds, pelos Victor Hrigos, pelos Aercu-
lonos.. .
Não terão estes pagado generosamente as suas patrias
por si, c por muitas gerafões estereis, a divida, se o é,
da instniccão, qiie ellas lhe proporcionaram?
A educaqão prl-blien é por tanlo tini dever e u m direito
do Estado, ou é antes uni direito, conio çondi&ão do ciim-
priinenlo do dever.
A aula com o crinho tia officialidade representa a ga-
rantia, a scguransa do liso d a s prerogativas civis do ho-
niem. Se ha circuliistancias natiiraes e fortuitas, qiie po-
ciem miiiias vezes cnpecital-o para o exercicio d'ellas in-
depcndenten~thnted'essas hahilitacões formaes, e documen-
tadas, R lei, que não se faz para accidentes, para effeitos
menos ordinarios, procede com toda a lugitimidade, tor-
nando o brigado o cursa dos seiis estaklecinientos d'ins-
tructão pelo privilegio de poder constituir um direito d'ac-
cesso ao goza d e certos foros d e cidade. Não é com outro
intiiito, qiie*sc estabelece essa gradação escholar, cujo
ascrnso deteriiiina a niaior ou menor habilitação para certa
ordem de servilos politicos.
Acerrliieriios-nos por coiiseqiiencia d'esta ideia qiierida,
tla i n s t r ~ i r ~ ãofficial
o e obrigatoria, como a unica s a l v a ~ â o
possivel c10 fiitiiro ! Não nos desvairemos pelos excessos
da phantasia ; não nos deixenios cegar da luz fátua, com
qiie os nossos inimigos @osacenam, como sancadilha for-
mada pelos nossos proprios principias! Ao lado da idea-
lidade, que nos aninie e inspire, o correctivo da reslidatle,
que tios dirija ! D~senganenios-nos, que 6 pelas nossas pro-
prias forcas, que nos quereiii fazer catiir.
A academia é a pririiogciiitn dilecta dos grandes pen-
samentos. Alas qiic se rifio deixe arraslar pela scduccão
dos setis pres~igiosnos al)ysiiios dos extreiiios.
Se os iiiysterios, os segredos do porvir s e nos abreni
pela instruccão, que d'esta colligiiios a convicção funda-
iiiental coiii a rlrial entrcteiiios rias lides e lides da civi-
l i s a ~ ã o(10 povo, -que só a luz alluiiiia se reverbera do
ceiitro, o Estado !
INf E R I

h crianca significa a suiiiiiia yuestão d e teiiipo, eit) q u e


riveiiios. A c r i a i i p leili IM berço a paz ou a guerra do
filtlli'0. VIÇTOR i i U ( i 0 .

Metade, tio qiie conhece do niuncto material e riioral a


iiiais vasta iiitelligeiiria, adquiriu-o na infancia. É n'esta
epocha da vida, que a torrente das id&as, boas oii iiiás,
exactas ou ititbxactas, accurii ri Iadas pela tradicfão hitiiia-
ria, se precipta coiii riiais f0r.a tio nosso espirito. O en-
sino voluntario (? previsto e serii coiiiparafào iiienor do qrie
o involuntario tlesaperc*ebido, yiie do educador ou do mes-
tre, recebe o educatido ou discipiilo. A. i i s ~ c u ~ ~ n o .

. ......... . d a esttipida ig:ioraricia


nionslro que iironstros cria é outro nionstro pai,
monstro que abracar finge e iiiartyrisa a infancia,
Itiolock assolador das obras d e Adonay.

É seu nome o rigor. O rigor ignorantr


yresiiqpfoso, iiiipio, atroz réo, nragisirado algoz,
tornou á escliola horreiitla a infancia alegre e ariraiile,
e da esterilidade o ariattieiria lhe iriipoz. CASTIL~~O.
Brilhante e iiiagestosa trilugia de evangelistas, que nos
proz d e entrelaçar n'unia iinidade synibolica da nossa re-
ligião social !
Victor Ilugo ! Ilerciilano ! Castilho ! qual mais philoso-
pbo, cliial iiiais fecundo apostolo da luz popular, qual mais
geriei-oso iiieritor d a mocidade !
A ~iiauliã do porvir sorri entre os carinhosos afle(gios
d'estcs niissioriarios da verdade social, que lhe abrem O
expleridido sol das suas glorias!
O futuro reverdece, e eriflora-se, entre as mãos porna-
reiras d'estes cullores da iní'ancia, que lhe consagram
toda a vividez das siias crensiis, toda a Iòrça d a s suas
conv iccões nioraes.
Possa o eclio dos votos d'estes levitas veneraveis do
tenipio de Saloiiiáo recilpertir-se aqui, patria coiiintuiii de,
todos pela legitiiiia carta de cosiiropolitisiiio d o pensar; e
do meio da rui tias da perversão ultraiiioiitaiia erguer-se o
signo regenerador da iiistriicção nacioiial !
Coiito cortejo d e suniina veiieraçào pessoal, e interpre-
tração d'esta cornniiinidade d e nobres desejos, é que lhe
addicionaiiios reflexões nossas.
A aiila do povo, o satictiiario officiai da instruccfio, o
propiciiitorio yu l~licod'esse fogo de Proriiotheu, roubado
a o Ceu por Ilie alliiniinr a estrada, reverbero das glorias
d o Eiiipyreo, espirito ariiiiiador das gerac:õtls ; a eschola
regia entre nos coi~slituida, apezar das investidas re-
accionarias, segrindo as indicacões nia is gei-aes do boi11
senso, sob a tiscalisacão governaiiierital, i: utii asylo pro-
fano da iiiiiiioralidade, da crueza, da escravidão, e das
trevas !
O progresso, que por toda a parte se denuncia, o des-
i~ivolviiiieiito v i f 7 0 e urii\ersiil da civiiisação tainbeni teve
a sua vez tl'erilrítr ii'estc piiiz ; nias parSoii Ws portas da
esrhols 1 Esse .~iigiisloreriiiio, por iiiiia aherrayão da or-
deni das coiisss. repi1Iiri a I i a i t a niíigesinsa do progresso,
e cri1 vez de sc c'oiistitriir a estíinc.ia Irirsiiriosa da verda-
deira petlagogiii, o Deiplios c.hristáo tla tloiitrina, o sancta
saticto~-urtttla (.,isii d a s i 1)ctloiia, iita ti teni-sc o psostibiilo
repiigtiaiite, e iiigratn, tias orgias tlo ctisitio !
Lli dentro, t h i i i \ cz dos suceixloies, teiiros cilgozcs da luz;
rio lugar Jus rIieriiI)iii~,oppi-csaoitks,tiiii: Llagellani a irifan-
cia, qiie corrorilpciii a riiocidadc ; por a b l a ~ à oo holocausto~
a hecatoiir bc !
As escholas pi~iiiiaiiassobretiido ; ayuellas, que abrem
os iiiyslerios do petisariierito a vii.gititlade dos espirilos pue-
ris; as cjiie dissiparii o iiiais caligiiioso d'essas riuvens
da iiiscie~iciairif,iiitil coiii os raios niatulinos da instrucção;
as que sitrprelierideni essa innocerite ignoriiticia corri a
aiistesidade das lelriis ; as qiie rasgíiiii o veri d'csse teiri-
ylo de poesia, coni a profanscáo do culto positi\o do al-
phaheto; estas escholas, qrie involvem nos destinos da in-
fancia a sorte da hiiiiianidade, são a pedra d'escandalo
da civilisação, coliiiunas d e flercules do progresso, dique
nefando, onde esta corrente de prospei.itlndc iiriiversal se
repreza, prcciirsor foriiiida~el da decadeiicia das socie-
dades l
Coni effeito, yueni entra n'essas niansões liigubres, e
presenteia a severidade d'csse carrasco ?ue ein nome da
sua corriniissão social dicta leis orientaes do seu tribunal
iniplacavel a tini bando de avesiiilias aterradas, abonii-
nando as letras rio mestre, detestando o saber ria da-
reza do ensino, tigu ra-se-nos assistir á decapilacão do fu-
turo !
Essas flores seiii o perfuiite da alegria parecem-lios o
annuncio (li\ procella: a ii~iveainegra, presagio tetrico da
tenipestarle iiioral !
Oh ! qiieni não respeita estas niimosas larvas humanas,
qiieiii seiii~iana primeira ciiltura d'este terreno melin-
droso o geriiien da r o r r u p ~ ã oé aboniinavet como o al-
g oz!
Plantas teniies e vicosas, rcgadas c80m a agria impes-
tada da crueza, levani na seiva deteriorada o vicio d e toda
lima g e r a ~ i i o .
O niesíre, qiie e tini ediicador, q u e representa na socie-
dade a trarisplaritagão dos cuidados doniesticos, que con-
siil)staric.iti tio seti encargo publico a dobrdda missão do
pae e da rii5e, a niissão da sinioltanea ctiltara do senti-
iiienlo e da iiitelligeiicia; qiie é duplo sacerdote d o sa-
crario intiiiio, -do coracão e do espirito; o mestre deve
ser unia entidade piirn, como o evaiigelista, dedicada, conio
o aposlolo.
Se a o desvelar o niiindo pela vez priiii ira a rudeza
B
nativa a surprehendenios coni o mal, essa in~pressãod o des-
conhecido grava-se, tk fixa-se, conio o niysterio. A dire-
q ã o dos destinos do hoiiieiti detern~ina-seno primeiro 1110-
viniento. Se este Ilrr iiio~trao abysriio, ii'elle s e precipita
com a fatalidade d o seti inipolso.
Se a nioditicacão do instiricto, se õpera no senlido da
preversão, abafam-se, supplantam-se as inclinações ge-
nerosas, e nas luctas da natureza triunipha o principio da
reciccão. Fortificada pelo reforço da i~nnioralidade inspi-
rada e instilada na presistencia da accáo, o crime resurge
d'este laboratorio torpe coiiio unia creagão dos infernos.
Esta3 tsisles verdades, qiie não escayani a sagaz espe-
ciatão dos assassinos do fucriro; estas conseyiiencias certas
d'iinia iiid eschola da irifdiicia, expliçani a inauutenção
deploratcl do eFtadu d'ella entre nós estado, i j s e se JUS-
reiila por aia I)arad«\o d c ri\ iliaii~ãoentre o evaiigelisiiio
iiicaiisavel do s'stenia d ' a h g o s e variiihos prtlagogicos,
,I u d e ~ i i iniereri(jo a Casiilho, C O ~ I I Orelribuifão da sua de-
<l ieasjo patria, o ninrtyrio d e unia reagrncia despeitada,
V i rolenta, aos s t . 4 1 ~esforcos de regeneracão infantil.

Mas estes furores iiiesnios, esta intolerancia no ataque


d a iiiais benetica inodilicdcáo que u n i prodigio d'engenho,
c aiiior podia trazer eschola, essas di~itriht1srancorosas,
c0111que s e condenina unia refornia totia carinhos e a t e -
ctos, estão aiinunciando o irifliixo da reacsão d'a!eni dos
Alpes, reaccão destruidora de todos os elenienlos de fu-
tura liberdade.
Estes inimigos da luz niio querem suavidade, alegria,
n a eschola, qiierein u m pedagogo sinistro, antipathico.
odioso, feroz, d e focinho rispido, coirio dizia Tolentino,
personificagão viva, eiirfiri~,dos seus principios, A escholu-
niltilo, designacão iiiiiliosa, corii que o propheta dos dcs-
tinos da nossaYe d i i c d ~ á opriiiiaria, representa a indolc Ie-
3itiriia d'ella ; a eschola attrativa, carinliosa, syiirbolo Oe
affectos, i n i ~ g e i nde inaternidatle, odeiani-n'a elles çoiiio
senierite prolifica d e progresso. Querem na aurora a escu-
ridade da noite, qiiererii na priiiiavera a tristeza do oii-
tonino, quereni iio berco a a~iticipaçàodo tiiiiiiilo; e o
despotismo no niestre, e unia obediencia aterrada no dis-
eipulo, completam esses desejos 110 sonibrio quadro da dis-
ciplina d'essas aiilas, que representam a iiiiiiioralidade em
acção, a liberdade iio patihulo, o futuro na p y r a inqirisi-
torial!
Mas é que para vbs, filhos de Sancto Ignãcio, a crianca
sigrrifica u m a materia priiua dos vossos artefactos de riiiiia,
c nada niais ! A iiialea bilidade d'clla é unia circuiiistancia
natural, qiie se aproveita na iiioldi~rad e vossos caprichos
e q u e facilita a preparação nefanda da vossa industria,
da criniinosa actividade de vossas officinas.
O s educandos sahtln~ d'essas aulas com o fusil no pé,
entidades abjectas, q u e realisain o ideal dos cidadãos das
republicas, yiie l)haii~asiac.s. Terror, castigos crueis (I),
preniios -eniiilação no vicio, R instruceão propinada, nada
mais 6 preciso para essa transu bstanciaçiio degradatite,
para essa forrnayão niilagrosa d'iima segunda na tureztt hu-
mana, mas natiireza de abjecção, d e inrnioralidade, de
crimes !
Qrieni leva a malignidade a estes extremos attingiu a
sumnia fthreza d e que o homeni é capaz! Infancia! ima-
gem vencrauel do futuro liuniano, sginbolo d'esperanças,
arca do testaniento do passado, quem a não adorará? quem
ousara tocar essa urna preciosa dos gerniens d o porvir,
queni ousará polluil-a coni a corrupção, com o crim: !
Sois vós degenerados filtios da Igreja, vós q u e tendes em
C o ~ i s r oo eneiiiplo da venerarão pela e d a i e d a innoeeo-
cia, dos affeclos, dos carinhos ! Venbtc! ad me! clama-vos
o mestre : e vós que fazeis ? repellis essa raça condemnada
pelas vossas vingancas; ou, se a acolheis, se a agazalhaes
e sob o nit\nto da venenosa intencão d e a corromper.
Mas se inda ein meio d'estas calamidades morães, d'esta
libertinagem e nialdades ha uma salvação possivat, que o
grande mensageiro d'ella saia d'entre n6s, que o nuncio
da boa nova surja d'entre o sagrado fogo d'esta inflam-

(1) Na.villa da Palhada sita na estrada de Coimbra a o Porto,


mostra-se por curiosidade iocdl urna varanda d'onde u m mestre-
eschola precipitava os altimnos delinquentes em ar de castigo l
N5o 6 de mais omniosa memoria aquella d'onde Pilalos offerecia
CHRISTOaos ultrages da Galileia.
niacão liberal da academia ! Sim. O redeniptor social não
veiu ou não veio a redempção! Inspirados e animados dos,
estiniiilos d e liberdade qiie os nossos mestres nos I~gan~,
deveni ser os hracos energicos d'esla mocidade, que arran-
qiieiii d'esse etztressolo soci;iI os niintliros da civilisação para
os rrgtblierar ,'i liiz explendida da penalidade pela instru-
cção.
Das vcrdatlcs, (Ias creiicas fiiridanientaes com que nbs
entreiiios nas litlcs iriiiiiediatas dn sociedade seja mais esta
- clt~esó s l)r,indn e carinhosa etlucação da infancia nos
pode salvat. o fiiiiiro.
Coin esta por insci.ipçiio da nossa bandeira n~archeniús
graiirle cruzada, que tendo por estiiiiulo vivo, por Pedro
eremila, a Victor Hugo, nos assegiire a conquista do sa-
grado cofre da regeneração popiilar.
Empregar toda i1 forca viva tla mocidade é uina .das
exigencias e das consequencias do espirito e da organi-
saçãio sociaes da actiialidade. D . PEDRO V .

Coin as condigões, que tenios visto, corn os elementos


d'iinin nioralitfatle forriiatla entre os exemplos, e opprcssão
d'iima disciplina criia e brutal ; coiii os estimiilos de saber
tlespertados entre o tlogina tismo d a ignorancia intolerante,
os educnndos pii blicos passain as esyheras superiores da
hyerarchia das escholas; e estas, onde o principio demo-
lidor prosegue eiii sua obra na ascendencia proporcional
ao grau d'ellas, o espirito dos moços acha-se em presenca
de uma depressão siiccessira da sua grandeza, fomento
incaasavel da sua abjecç$o!
A natureza, na juventude, manifestada d u m a como que
intuicão niilagrosa da sua dignidade, reage, verdade é, e,
muitas vezes, vence, n'este continuo assedio d'iissaltos W -
acionarios, n'este presisien te combater do ultramontanis-
mo,-Proteii de mil feicóes, que assenta campo cm todas a s
classes, eiit toilas ;is iiistitiii~»i~s ~ o acç
c ; iiias os raros triiim-
tios tle i ~ i ~ e l l i ~ e i i c iiiicnos
ai; vulgares não pngarii tantos
espiriios I,er<liilos, iniiins talcritos i ~ ~ o r t o sscilbcados
, sob o
I,C\W O<Icspoticod'iiiii;i pedagogia aciiiilin(la, infccunda.
Jlarclia a iiioci:ltide sohre urii viilcão, viilcão mais real,
c iirni; Iieri.goso qiie esse que Tocc~iicville aiiiiiinciasa na
tril,iirin fraiiccza, porque é d'iriflariinia~ão iriterrninavel,
{lJe';plos8o persisti:nte, c se ella [ião póilc tirar d e si alen-
tos solirena triraes para essa pcregrinacáo e iiieacada, cer-
cada de conlingenc~ias,tiãc! tia alii solicitude ofiicial, q u e
n proteja, qrie a tlcfentla dos riscos d a desrnoralisa~ãoc da
corrupcáo dogrno tica.
O Estado, a qiieiii por toda a forla das considerações,
que havenios espeiitlido, pertence a vigilancia regulamen-
tar, e interfesericia directa eiii objecto d'instruccão social;
o Estado que p o d i ~riti i~rgencia d a s circumstancias con-
verter a aula pril~lica n'uni generoso instriinienlo d e pros-
peridade nacional pela Iriz, nianteni-a, em todas a s gra-
duagões d'ella, uiiia fonte que seccou , terreno a bandonado
d a criltura, vasto deserto d'ensino ; deserto, que fatiga os
espiritos e nem iiiii oasis Ilie depara onde se refocilar !
O susteriia gera! do seu organismo C o syslema natu-
ral da hyerarcbia, systema qiie transige coni a lei univer-
sal - nihil fit per scrltrcs; systenia, q u e s e conforma com
as exigencias do espirito humano, por ciija debilidade de
apprehensão dcniaiida a transicão bem regulada do sim-
ples para o conip!r:xo, do fiicil para o difficil ; systema obri-
gado na illustrqão dos espiritos, metliotlo absolutamente
inipreierivel no ensino ; mas que entre nos não satisfaz a
todas as reclainacóes dos espiritos discentes.
Na verdade, a structura particular dos nossos estudos
é na sua foriria actual, unia violencia d a s intelligencias,
eobre a liberdade, seni pro\ eito, neni conseqiiencias para
os progressos da instrucyáo, e , sobre tudo isto, u m laiiien-
meotavel desperdicio do iiielbor obreiro da illiistra~ão-
o tempo.
Ha, verdade é, dotitrinas, que teni entre si tal conne-
x8o genealogica, que não podeinos, por assini dizer, enian-
cipal-as do seu poder patrio para as estiid;iriiios, pura a s
coinprehendern:~~ solitariamente, independenteiliente das
suas estreitas relações ; nias esta obrigação natural d e
dependencia deverá, quando niiiito, ser sanccionada nas
provas publicas, nos exames proprian~ente,que dão o CU-
nho de' ofieialiilade e d'ha hilitncóes sociaes a esses estu-
dos. Trascender esias eiigeiicias tfe preparacões condicio-
naes vediindo, negando, o ensino, a quem transgride esta
togica d'applica~ao, é desconhecer a forca, o valor legi-
timo d'essa requisição de methodo, é reduzir o ensino, 6
iautilisal-o.
A força e ordem d'assiniifação não tem leis geraes, são
qualidades ptiraiiiente relalitas, e s6 se acatam as pre-
disposições intiividuaes, a capacidade variavel d'indivi-
duo a indivídtio. nbarrdona~doaoaprazirnento dos aliimnor
a livre eleisão do seu estado.
Matar aios w o s a iniciaiiva na sua applícacão é, além
d e t ~ i d oniais, priva!-os d'tima ,conio que pequena gloria,
que os estimula, que os incita pela emulasão, eni que se
resolve, nHo desmaiar entre as labutayties espinhosas
da sciencia. Qilem sggrava, quem semeia d'estrepes d o
desgosto, e das conlradicgõtts, vereda diçficil das lettras,
nfio pode aliiuen~rr esses oolires a ffectos do apostolado d a
Inz, náo arna a generalisaciio da saber, a nniversaiissção
do ABC.
Este C u ftindameoiol, é o vicio mais grave da nossa
instrlicçáo ; mais grave e fundamerital, por que d'efle re-
sulta O tardo desinvolviniento do espirito, a morosidade
da sciencia.
hlas 1130 é só isso ; as nossas aulas regias são eni tudo
um arraial ad Iioc, aproveitado pelss estrategias reaccio-
narias, a o qual se arrtistaiii totlas as luctas d o passado com
o l'iiltiro, do hcryo corii o tiiriiiilo, e, por colierencia bel-
lica, o pavt!z dcsiiiaiitclado (to vellio absoliilisnio llieocra-
tico teritti defeiidcr as iristitiii~õesniorlas, conquistar para
ellas o cspirito das novas gerafies, e traz a esta peri-
gosa a reiia dos seus ccrn ba tes, os principios d'ella sob uma
forma ~ysteiiirilica;sopra a s cinzas da escholastica, e in-
volve-as nos seus lavores facciosos.
, Ao passo q u e ao ultimo abalo d e Descartes as nações
cultas se abrem ao grande dia da razão, se sentein encr-
gicaniente inipeliidas para o reinado livre d o pensamento;
aqui, n'esta terra tão vaidosa, alias, das suas instituições
e tradicções liheraes, a aula piiblica jaz, por força d a sua
eoiistitui~ãoe indole legal, sobre o predomiriio degradatite
do despotisiito escholastico.
As tendencias da PORCA V I V A da mocidade são abafa-
das pela forca niortal da auctoridade, os voos da intelli-
gencia cortados pela thesoiira iniplacavel d'um dogmatisnio
inopporttino, d'uni ipse dixit deslocado.
O conipendio representa n'esta conformidade a sentença
passada a escriptrira, a sèntenca impertinente, recalci-
trante, inflexivel, das aspiracões scienli ficas, razHo perma-
nente da esterelidade do ensino, alinlento obstinado d ' a ~ -
tipalhia, d'enfado no estudo de doutrinas, que n'elle se
phocilisain. A novidade e a expansão, que tanto lisongeiain
os affectos da jiiventude, yiiebrarn-se, desfazem-se contra
esse rochedo iminovel e irifecundo. O niais forte e ardente
..
zelo d a s lettras apaga-se i primeira rajada d'essa intole-
rancia legalisada no riiethodo conipentliario.
Ora pois, accrescentando a I O ~ rstaR infriirtiiosidade d'en-
sino as tfoiilrinns, qiie toriiari1 parte na prcl'ara~ão para
as atilas stiperiorcs, o tliin(1ro da aridez roiiipleta-se com
R I O ~ ~ Cvotii
I I , a rlirtorica, coiii a lioetica, e c111 geri11 com
toda a iiiatcrialidade, qiic se insinria, que se infittra nos
t:spiritos jitvenis.
Logica ! mechanica do pciisaniento. Rhelorica 1 niecha-
nici~da palavra. Poetica ! nicchanica (10 bello :-qiie plii-
losophia, qiict eloqiiencia, que porsitt teni gerado estes
esttidos ? Dos sylogisiiios d'ilristotelcs, qiliiiiros Descnrtes?
Dos tropos tie Qiiintiliano, qiiantos .Josés Esteviíos? Dos
jariihos dos Escaligeros, qiiiintos Victor Biigos? qiiantos
Garrets? cliiantos Thoninz Rihtliros? qiiantos Castillios?
A philosophia, a critica historica, a litleratrira, a s lin-
giias vivas, tii(10 illti(lido, t t ~ d ot?iirlado, pelas regras e
nocões serii frindo tfe Iialiiles, pela chronologia seni siihs-
tancia dos fartos passados, pelos precriios iii~perlinentesd e
Qiiintiliano, e otitros grariirnaticos, pelas infecrindas exi-
gencias do latim e do grfigo coni prefcrencia a tantas lin-
gii as, ctijo coiihecinierito o tr:icto d'hoje, os progrersos da
scierici3 estão pedindo no ensino obrigado dos niocos !
Esle e na niais siiccinta generalidade o estado suhven-
tnneo da nossa instrtit*c,ão pu hlica preparatoria.
h fogiieira inclti isiloritil parece reaccender-se n'estas
trevas; os sripplicios do potro, a activiclade dos Frei Ro-
hertos parece reaniinar-st: (12 a honiinavel intrnsitladc 'oestes
escuros carc*cres do espirito onde a luz é só bastante para
alliiiniar d'horror o repellente espeetaculo da *sua niise-
ria !
Desesperados de avivar as niagnificencias sinistras d'es-
sas repiigiiantes Iiecatoiiihes, que se diziani por aniarga
ironia-autos de f i , os obreiros da olygarctiia ecclesi;istiça,
diliciaiii-se na lortiira iutellectiial pelo syloyistno. É qiie
o sylogisiiio fralei.iiisa coiii a pyia do saiicto oflicio na ori-
geri1 iil~jectado iiiesiiio pi.iiicipio - a iiilolerancia ; e, conio
ella alliiiiiia a iiitelligeiiçia coiii esse rlarõo Iiigubre e baço,
que precede a stia qiieila nos al)ysiiios das trevas, nos mys-
terioç treiiieildos da noite eterrta.
Alas esta sitiiaq.ão de depravasao iiiorril poderá presistir
por iuiiilo teiiipo Y Nos os íilhos aiiiantes da utopia geiiie-
riios sob esta pressão do constrangimento das leis naturaes
da civilisa~ào:e riossos gei:iidos não despertará0 a piedade
de ningiieiii? S e r i necess;ii.io, que a forca das nossas cren-
$as, que a energia d a iiossa iiioialidade toiiie iiina inicia-
tiva estrondosa n'esta regcineragão das escholas? Por cerlo !
E é iiiistei. arriiricar dos iiia is iiiysteriosos recessos d'esse
pat~ienioniode orgias tisqiierosas as legiões eriihriagadas
no zelo iiefando d'uiiia v iiigança incoiiipreheiisivel, e huiya-
nisal-as pelo castigo !
Que a tolerancia não nia te a liberdade ! Se. os gotiernos
d'esta terra esperani pelo desafogo da iiiocidade, viilca-
niça nas suas aspiracões, a retoliicão, que é uni princi-
pio de paz, póde resolver pela guerra este problema das
sociedades niotlernas ! ..
Mas é teiiipo de descernios a o iiltinio dos infernos d'esta
terra. A Universidade de Coiiiihra esta esperando pela
visita.
No seciilo xix e n'iin, governo representativo e unta ca-
ricatura o ver a Universidatle conio um estado, no estado
re~estidadas insignias da meia edede e obrando em tudo
inc~nisitorialnicnte. DOUTOR BARJONA.

Triste espectaciilo ! desanimadora perspectiva 1: A liiz d e


D. Diniz, ttpagada ! o faclio, qiie outp'ora alliiniiou Portu-
gal, ariiortecido! a estrella iiiiitiitina do nosso progresso,
eclipada !
Dobrados pela saudade sobre a s riiinas d'este presiim-
piivo reducto das liberdades patrias deploremos uma ma-
gniticencia ca tiida !
Fii tios esperansoscp da li herdade ! accridi pelas insti-
tuicões domesticas anieacadas no desmoronaniento d.este
capitolio das nossas leltras!
Cniversidade! eniporio do saber, urna dos destinos do
povo, ediicadora da juventude, resiirge siquer diis tradi-
ções!*desperta ao brado, ao menos, do teii passado hon-
roso ! readquire o logar que a tua historica missão te apon-
ta ! elet ;i-te eiii tirit d'essa a trophia riioral, em que jazes!
reviuc i litz d'este sol d e gi.aiides priacipios liberaes, qiie
fei.iiteiitiii~ por iotfa a parte, abraca-te coiii o idolo da
yairia, e sil rligriii dtb ti !
011! iiiar; p;ir;i (liie é clainnr a iirii cadaver! D'essa vida,
que se est iiliiii, rcstniii alieiias reliqoias repiigniintes ! e
cliegndo o iiioriieiilo cle as retolver, sinto que iiie repdle
iiiii seiiiiiiieiiio de a i ersão, de horror I $ que a c o r r u p ~ ã o ,
que se cspliacela, ti iiriiipatliica aos oibos, conio ao peosa-
iiiento o desriigíirio d a s nossas d e s g r a p !
Fi~iiilada a iiisiaiiciiis do clero por D. Diiiiz, e definiti-
vaiiicrite i~,ssciilticlaeiii Coiiiilira rio anno de 153'7, a Uni-
versidade 6 ~ioiscoiiio riiiiitris unia gloria, qiie se apagori,
uiiia coiig~iist:~, que se pci'deu ! O eritli~tsi;isiiio da sbata-
Itias, divertitlo iiiir poiico pelos generosos esforcos do Rei re-
generatlor para os prelios iiiais iliustres das leltras, celebrou
esta iiislituiyáo, cjiie accericli,i o zelo d o saber n'iiii) povoen-
diirccitlo pelos c.oiiiliates, 1)arbarisado pclcs 11-iuniphos,niais
propenso i i s iiiyiiicta~òesda giierrii, do qiie a estes ocios
do estudo, osios iiiais irioleslos, no entretanto, que a s fa-
digas c siiores do corpo. A poe3ia nacional seiirpre prou-
pta a erigraiitlecer a patria saiitlou este aconleciitienlo, e o
cantor dos nossos faiiiosos feitos, entrelaciindo coiii tantos
m a i s este triuiiiplio iia epopeia poi'tugiieza, elevou a ixnior-
talidade do scu riotiic, o rtoriie do seu grande irislitiiidor,
Esle fez erii Loiiiihra exercitar-se
o valoroso oflicio de Minorva
e d ' f l e l i c o r ~ aa s riiuçus fez passar-se
a pisar d o lloiidcgo a ft?rItl lierva.
Q u a ~ i l opcídc d'A l l i ~ r i a sdesejar-se
t u d o o siiberbo Apollo Lrcl\ii reserva,
n ~ i u ia s c a p c l l a s d k tecidns d'ociro
do Hacliliro e do seniprt: verde Louro.
O regiriiento fittercirio recebido pela Universidade d'en-
tão foi iiiii progresso iodisputarcl, iniiiienso; e os seus dias
d e niaior florescencia ~ ã oesses assignalados pelos ener-
gicos es~iiiiiilos da i t o ~ i d a d e .
M i t s este esta belrci nien to prortiovido pelas intenuões, por
certo, a s iiiais desitieIic*iadas -do grande A Bbade d'Al-
coh;iça, prior de Saocta Criiz, e oittros, devia trazer n'ésta
origcrii ecclesiaslic(i uiii coiiio qiie cuii!io d e ulterior CGr-
riip~fio,que iiiii is tarde se iiiririifes~ou.
Assistido ri'esia iiiesiiia origeiii, e inda na rcfornia que
Ilie deu o Rei fnncitico, r u i m de condigão, e inapto, cha-
fttuilo D. J0fi0 I I I , por intuitos civilisadores, e conservando
ailida o ti.0 d'esta viriiidç: riat:i, quando ella protestava
pel;is bocciis discbretas dos iiieslres, qiie esse Rei lhe tinha
dLido, coiitra a irivasâo dos jesuitas, o rlelinitivo estabeleci-
Iiieiito tlt: tal ordetii d'usuryadores dcv ia dar o sigiial da sua
deca:leiicia.
O p i i ~tido, q11e rtluriiiava a religião chrislã coni a luz
horrorosa tla f'ogiieirir, d o Sancto oílicio, que derraiiiava por
sob1t: as pdgillil~ do E \ a iigc!tio, - p;iginos sii bliiues de
toler<l~ic~a e aiiior, o rebei-vero Iiiguhre d'esse incendio
das aliiias, iiias inceiitlio coiisuriiidor d'affectos, devora-
dor da Se, c d a csperaiica ; o partido, que precipitava esta
orgullios,i. nacioilalidade rias fauces do Leão de Castella,
náo podia deixar d'esterider uni reflexo d'esse clarão nior-
tuario, c de coiiiiiliini~ar uiii accelerado iiiipulso de riiina
ao sancto palladio das legitiiiicts crencits, e autoiioiiiia ve-
ncravel d'este povo.
Cnnveriido pois, iiia is ou nienos, eiti capi tolio de principias
roiiiaiios protr~ihiiiella sua esistencia esieril até ao reinado
activo de Scliasliiio José de Carvalho. O despotisiiio d'este,
reiiiedio heroic.0 rios graves extrenlos, eiii que a vida
d'uni povo pcriga no esvalieeimento das crenças patrias,
a energica accáo do iiiinistro reanimador das nossas glo-
rias, e do nosso nome, não podia deixar d e se voltar, por
siia vez, para ;is niinas da graiide fabrica de D. Diniz.
A reforiiia porein foi, qiie se operou, foi ciina refundi-
cão, iiias não uina depuração. Os estatiitos dados á Univer-'
sidade, i parte o seu extraordinario rnereciniento litiera-
rio, qiie ieiii feito cegar mais que tini admirador d'elles ;
qiie iein desvairado a criiica a iuais que um esquadrinha-
dor de todos os priiiiores scientilicos d e tão bello monu-
nienio ; este repositorio vasto e niemoravel de saber foi,
por v i rtiide d'esta sua propriaqualidade illustre, um0
a herracão, i i i i i contrasenso legisla tivo, unia anomalia re-
grilsiiieiitar, codigo acabado de despotisirio escholastico I
Coni el'feilo, niethodos, systenias, opinióes, noções, di-
visões, classificacõcs legalisadas, dogniatisadas, é a su-
preriia compressiio do pensar, é a ultinia si~bliiria~ão da ty-
rannia da escbola! O ipse dixit nunca assurniu fórmas
tão violentas! O systeiria couvertido em lei, para se impôr
sem replica, é unia loucura, e um triptidio delirante, De-
fando, sboniinavel l
Mas, notarei paradoxo! iiiexplicavel incoherencia ! Ao
passo que as doutrinas da emancipação philoçophica, nasci-
das com a insurreição irada, rancorosa, e desmedida d'ex-
cesso, d'esse pertendido cystze das prophecias de João Hus
(1); do pato, que á borda'da fogueira expiatoria, como iim
ultiiiio canto d'an~eaca,proniettia uni vingador; ao niesmo
tempo que o grilo liberal da humanidade recupertido nas
sciencias regeneradas pela revolução Cartesi ina, desper-
(1) IIus em l i n g u a boemiri sigriifica pato e dizia Joáo Hris:
<celles assam o pclto, mas virá depois o cysfle qiie Ihes cantará.^
Luthero, n o seu querer, era o cysne agoiirodo f
tcivam o grande espirito de Sebdstião Jose de Carvalho
para debellar n'esta terra a sophistica eschola (duro i n r
trumento de tfio grato beneficio !) para proclaniar os foros
d o pensamenlo na nossa instriiccão, elle irtf.siiio legalisou
a oppressão, sanccionori o despoíisiiio, qiie qiieria condem-
nar, conl essa carta constitutional da sciencia iiniversita-
ria.
Na verdade, estes esta tu tos repellindo, por rima exage-
ração da legitima esphera, qtie deveram nianter na qiia-
lidade de lei pedadogica, ao niesriio teinpo as discussões
subtis, diffiisas, dilatorias, e estereis d r philosophia peri-
pabetica, e a opinião da metaphysica dos Arabes, que pro-
fanou a jurisprtddencica, qrre fez disputccueis as regras mais
wrtus de direito auctorisoti e legitinioii a polem'ca d a
eschola e o arbitrio da mesma nietaphysica, involvendo
n'unia discussão inopportuna as escholas da jurispruden-
cia, e proclamando pela auctoridade regia, por uni mero
zpse d i x i t , ( o niais aviltaate, por que se defende com a ma-
gestade da derivasão), a esctioia Ciijaciana sobre todas,
como a unicu, que acertou o uercladeiro c u m i ~ h oda gentzilza
interpretacfio de todas as leis :por que isto se terri asserttado
entre os JCtos mais subios: que nfio ha NEM PÓDE I I A V E R !
outro alyunl carninflo para a boa jurisprzsdencia, s m à o a
que descobriu e mostra a dicta eschola!!
Já vistes dialectica mais despotica? mais pertenciosa
arbitrariedade systeniaiica? A nietaptiysica dos arabes, a
metapliysica dos sultões do Oriente nunca se lembroti de
se sentar no throno, e de diclar a seus rebanhos de vas-
sallos, sob a inpeccabilidade da sua sciencia, sob a cer-
teza do sei1 saber tão ridiculas leis phi!osoptiicas! O papa,
inda que fôsse capaz de se convencer, que era infaíli-
vel, não ousava subir ao solio da inspiração poolificia
para lavrar uiiia bulla coni siniilliantes emboiias cloutri-
naes !
0 s progressos da sciencia si1 hn-ietter-se-hão por ventura
a tacs pi.eieiisóes (Ia niictoridnde civil? Qiieiii tal crêsse,
renuriciaia a iiiais s;iiit.ta fb tia vi\ ilisilyão, fdra tini sce-
plico do friluro, c r i i i i illota da fe. A fé é exclrisivaitiente
propriii diis religióos, onde o dngiiia é essericia, onde a
r e i e l a ~ i í oé o grande pri~stigiod'ella sobre ii ignorancia,
q u e tende a debcllar. Qiiciii a iiiiportasse para o coiiiiiier-
cio da pfiilosolitiin a t ~ a l a t aa solitla replitayiio dJesta p r a p
de livre Liaor.ad a s opiniões coni uiiia restriccáo intolcravel.
Educar a iiiocidarle na fb st.ieritifica, é descoritiecer, q u e
a qii:ilitlade trarisiloria tf'esse iristi~unientode c i i l ~ i ~ rdac v e
ceder o sei1 logar, qiiiiiido o espirito ptiilosopliico s e des-
involve, deve ceiler o pnsso, ao q u e sobre tiido é eterno
-a razão, a critica, a iihrrdade. A r e v c l a ~ à o , e111 que.
assenta a fé religiosa, iiiiiiiol,ilisa, consag1.a a a uctoridnde
e a inlolerancia, porclue nial pótie haver iiiouiiiierito cri-
tico, upreciacão aleiiiã, neni tolerancia oride Deos é q u e m
ensina ; e os espii-itos, qrie sc cri;ini para a deinocraciii não
poderii abdicar dos foros irilellectriaes, niío podeiii consentir
n'esta si!iiacão d e eterna iiifiiiicia. Esses p r e c e i ~ o s pois
des estiitutos siio iiiiia iniportiiyáo, q u e illudiii a vigilaiicia
fiscal da eterna lilierdade do espirito, e incoriipativeis coin
a sciencia, coiii a livre eiiiissáo d a s opiniões. Deus deiiiitte
nJella a siia aiictorirlsde; coiii niiiila iiiais razão o teiii de
fazer os seriii-deuses da g o ~ e r n n ç ã ohuniana. A lei e irii-
potente, os seus pieceitos cadricaiii arile a I'orcit d'estes
principias. Se s e iiiipõeiii, iiiaii grado os despotas, estanios
em plena aiiarchia !
Mas isda ha ii~aisgetieros d e tiirtiira nioral dos espi-
ritos. Segundo os estatutos e eslylo observado de longa
data n'esta e erii muitas universidades, observa-se um meio
incisivo e teriiiinnnte de toda discussão, oii, pelo menos,
qtie terli essas pretenrocs, i. é, o riieihodo da synth~saagra-
vado no co,epr,t<lio, qiie foriiia iiiiia unida& d'eleiiientos
cada qiia I iiiiiis otlioso,- nylithetico - co~npendiurio.Manda
S. A I . coiii clbito, ?ire s r ~~oriliíirii
de parte os systemas am-
p : o s e elin'iisos, a s controvcrsias jirridicas, qrie ttido se
ensine sol) ;i fóriiia brcve tle priiicipios dogiiiaticos, de leis
scieiitiíicns talvcz, e que cstas leis e esles principioa sejam
redrizitlos ti foriiia subnlanciosn do coiiipendio cscripto !
As inteiicóes d'esta prescripyão deverão de ser itiuito
desnialici,idas, nias o que não são é furi(ladas ;'porque
se a poleiiiica, qiiantio se resolve na corifiisáo, dispersão,
e deliiasiada tlilatag.ão, é nociva á sciencia, não Q é, se for
bem regiiladti pelo profclssor hnbil, que evita a degeneração
d'ella. As leis ti'instriiccão não se fazem, para queni estraga
a s scieiicias, scn,?o para qiieni a sabe professar, e esse guia
coriiperidiario, esse caminho é unia dcagracia~ãod o magis-
terio, rima liniitayão do ensino, niais que isso, unia com-
pressão das tendencias a1iibic:iosas de qrieni estuda.
Aias o que explicii csia corrio oiiiras anonirilias da consli-
titriicão iiniversilnria é a falsa presiinipcão, em q u e armam
- d c que os nlrininos são intelligencias sem aptidão para
a iiiiciutiva das espeeula~õesproprias, é a c r e n p , insul-
tante dd dignidade juvenil, eni qiie assentam-de que
elles são leigos em pensar, em discernir, e m appreciar.
O estudo conipendiaiio para ninncehos expansivos eni tudo,
em tudo aniigos de se dilatar, é arido campo onde mal se
colhe unia flor, niuito nienos iini fructo. Espinlios 4 quando
muito a prodrictivo feciindiJade d'elle ; espinhos hervados
para o fuliiro, por isso que d'entre a niultidão dos amiien-
tes a esta fonte d e sciencia, mais que um se p0de deterio-
rar no vicio d'ella; e levará ao seio d'onde brotou os gero
niens trrinsnlissiveis de corriip~ãn,que bebeu.
fi verdade que os Estaiiitos pela razão do curto teinpa
votado aos cursos uriiversitnrios tendem nos votos d e seus
illtisirntfos collaboradores a dar alcance nas doritrinas pro-
fessadiis, o que só se oblerii pela synthese compendiaria e
de~)ionstt*ativn;mas estes iiteis a troco d a liberdade, â troco
da iniciativa individiial nas opiniões, s3o por extremo
caros! Qiiem quer cortar qtrestões da philosophia yeripa4
tetica, qiieni quer apagar esse fogo de dialetiea subtil, e
esteril, da escliolastica não carece de fazer tão crua a i w
putaqão dos mais lui~iinososaitri biitos da razào.
Eni geral todos saberno@, que discutir é illucidar, é
esclarecer, é descobrir, e qiiein proclanin a synthese como
remedio, quer trevas, regeita a Itiz; qucr ignorancia, re-
geita o saber; quer o erro, regeita a verdade. Ou a syn-
lbese venha solitaria oti associada com a analyse é sem-
pre infectirida no ensino. Se se manifesta n'um isotamento,
e viuvez iinpossivel, é o dognintistno ; se casada com sua
legitiiiia esposa, trabaltio de Penelope as mais das vezes;
porque a toierancia na analyse é a destrui$fo ch, des-
potisnio na synthese.
Se a s polenticas escholastieas siio um emprego aburive
do tempo, se são uiila niá direcwão da dialecitíca natural,
niío é o despotismo d'uma lei civil, d'uma lei organica dada
a usi estabelecimento do Estado, que ha de vir fazer a
scísão d'esse abuso philosophico, mas a eatiiral infiuen-
cia dos progressos da ptiilosophia, a lei das revoluções
scien ti ficas. Descartes inipriminrlo uma direcçáo toda nova
e prolifica ás sciencias ; impondo-llies toda a v í v i d à di-
lata+bliilidade40 crescite et multiplicamini; dando-lhe por
estrada a reflexão livre, o raciocinio indepeadente, por
alvo, o infinito, bein podera ter estendido aqui a sua
salutar e regeneradora influencia, se os estatutos pgr uma
verdadeira illrisão de seus destioos, a não eiiibargassenl,
a não iiiipedisae~ii;s e este pertetidido cotligo de garantias
do pensanienío se não torriira, por unia hein sensivel
influencia clerical, o codigo aberto do riltraniontanisnio
na sciericia.
Esta revolu~áopodera e devhra corneçar por unia orgn-
nisacão geral dos estudos, que, encariiiiitiando os espiritos
para essa assimilacão geoerosa d'oiiia habilidade critica,
iniciativa de pensarnento, que Berriard chama-espirlto
philosoplrico, sieniticasse a definitiva adlies8o do grande
ministro reforniador ás grandiosas promessas do apocaly-
pse philosophieo do seculo passado, adheslo importante
para o progresso geral de todas a s nossas letras, ar&$, e
desinv~lvimentoinda dos principios religiosos, qtte em
fim mais aproveitam com Abelard, qiie eoin Francisco de
Sales.
Com esta direcção, as nossas estholas poderiam ser pro-
ficilos propiciatorios de doiilrina e de nioral em vez d'açou-
giies da intelligencia, da livre reflexão e dos bons costu-
mes.
O grande pensamento de 1793, inda que exagerado,
como são sempre os pensamentos das aultid6es, foi, depois
d'infructiiosas tentativas, de eonstitaiç6-e~dcniocraticas in-
çompativeis com o tempo, conduzir ao menos as g c r a ~ ó e s ,
herdeiras nossas, á generosa estanci~da verdade social
pela via recta da ediica~ão.Este pensamento acho-o e11
representado em discreptas appliraçãcs n'um livro feito
para a mocidade, que Vactierot c hanioii DEMOCRATIB, livro
condemnado pelo despotisnia vigenle da França actual, da
Fransa constrangida e oppressa pelo seii reginlen, conto a
siia melhor apotlieose, como n mais eficaz rccommenrlriçiio
d'elle a tocios os amigos d a rerolugão.
Ora pois, eni v irllitle íl'cslcs eiri hnrgos á na tiiral tcnden-
cia da rc,rrtlner;iyão scieniifica a organi,;acao dos cStiidos
universitarios é iiiiia o r y n i ~ i s a ~ ã oqiie
. riolviita o progresso,
qiie nli!iwnta cssa nionoiiiania tratficional, tristt! gloria em
qiie a decadencia se reclina coiiio cscrisa, a q i i e o orgu-
lho arniado erii fiilso recorre para cotienestnr seiis vicios,
para paliar siias faltas, a s i n i i l h a n ~ ad'iiiii tIcgt?neratln ramo
d'egregia ascondencia, qiie se pertcntlc nohilitar niis obras
estranhas, conio se não fora certo que c(í1iieni c.nm setis
feitos não C claro, poiico lhe aproveita honrar-se (10s iillieicls)~
(1)-
Esta é a desditosa vairiade d'unia instititi~iío,qiie sem
tirar incentivos briosos do ~ i 3 i i passado illusire, lorige de
tomar nas refornlas a iniciativa, qiie lhe conlpeto, coiiio
alvitre propria d'iinia jiisla desccn tralisnção, niio prolesta

pedias e oritras drogas sern valor instrrir*tivo, conservarido


pelo seli ali'erro estupido ao passatlo, logo no liiiiiiir da fa-
culdade jiiridica, as í n . ~ f i t t i t nc~o D i g e ~ f o ,dti1)lii cahcca
de Medusa, tliiinle (1a qiial se petrilic;ini totlos os estiniri-
los, todas a s aspirac6es philosoptiicas, to110 o espirilo cri-
tico !
Assim, com elementos tão acanhados, como OS qiie é pos-
sivel colher n'este agro indigenle cle scicncia velha, abnn-
dona o alrimno fatigado, a borrerirlo, cinco annos, conti-
nuados de desgostos, cinco annos de aborrecidos b;incos,
que involvem a epochs mais preciosa da existenriii. aqiieila
em que as proprias illusões sustentam o amor do saber,

(1) Francisco de Moraes, Palnteiri~red'lgbglaterrn.


em q u e s vida ao desabrochar para o pensaniento e vigo-
rosa e aventureira.
Ein vez de se s p r o ~ e i t n r e mestas predisposições tão fa-
voraieis, eiii \ cz de se fa.c-onearcrii estes aíl'ectos philoso-
ptticos coin litiia direc.cão fuliz tla liberclade de pensar,
de esrluadriiiliar, dc incliiirir por si, por seiis esforços, e
pelo a iiuil io das iiid i c ~ n ~ ó eprofilssioriacs,
s escravisani-se
os iiioqos estiidiosos li glehit cslcril do coiiipendio, amar-
rarii-se ao potro Ilorrivel da intelligeiicia, obrignni-se tio
niartyrio d a razão, arrastaiii-se ao patibiilo da luz!
A Universidade, nas iiiotlestíis aspirações de seus pro-
prios cstatritos, apeiias pótfe dirigir o gosto e adhesáo d e
seus aluninos [)ara as intricadas tortii0:idades da seien-
cia, suscitar-ltics, qiiantlo iiiitito, a syiiipathia da applica-
gáo, deterniinar-llies esta docilidade d'espirito, que os pren-
de, que os siijcita, as laboriosas inipertiriencias da Icitiira
e do esiudo, desiri\olver-llies eniiim o habito, em que os
mecmos esta t t i tos insisteiii, como o nieilior e niais pronipto
effeito do seu tirocinio esclioiar ; e n'esta conforniidadade
toda i sua solicitude, todo o sei1 eiiipenlio dev&ra ser por
d a r incren-iento, fazer gerriiinar e crescer esse habito ao
menos ; niai habito philosophico, hal~itofecundo - capa-
cidade de sciencia.
No entretanto, a despeito do humilde e baixo destino,
que s e pretende impor ao estabelecimento, que coroa, na
ordeni dos escholas officiaes, os nossos estudos publicos,
eu quizcra vel-o mais anibicioso, e, na sua elevação hye-
rarchica, distribuir, semear, com q ã o larga e generosa
toda a aniplitude de saber, que as novas sociedades estão
pedindo. Com os tempos mudam-se a s exigencias. A ci-
vilisação philosophica é como a economica e material, que
multiplica as necessidades com os gozos.
5
Mas se o ensino universitario se reger pelas p ~ c i i -
py6cs de seris estatuios, se se regillar peles indicações
coitiesinhas d'estas pandectas pretenciosas, e ridiculas,
nctncs poder"s;itisfrtzel-as. Monotolio circulo d'lxion répro-
dtizir-nns-ha eni a bsiirda rolay8o os mrsnios viciosos prinei-
pios. Sii hslanr'i~r-nos-hao passhdo no presenle, anniqtiiíni.8
toda a i r i ~ i ade niovirnento ; impdr-nos-ha, (parlirulari-
sando) cnitr todo o presiigio da legalidade, entro m i l inepcia~,
a theoria do -duta est a domino potastas- theoria n@-
fiinda, atteniatoria das iniiiitrnidades populares, revestida
d'iiiii cnrncter de pia e mysiica verdade pelo innis deegra-
p t l n F improcetletiie sophis~i~a, para sysiernatisar a spoiia-
$ 6 0 , a t t ~ ~ i r l t a c ácltbrical,
o o11 para siinclilicar a torpe ba-
jitlatão d a regin niagestade 1 Quem exeiiiplifica por esta
forirta R daictrinn d'este c00igo g~ientjfico tem vin8ado
tnittos dias de tortura e d'expia~iiomoral na servidão!
Mas os estiitittos inda assim na elevada erudição, qrie
lhes riiert8cerc n jiisto acatamento da Europa, estào indi-
cantio, que seti s sa hios redactores bem poderam haver feito
d'este regulamento litlei.ario mais estavel e duradouro nio-
nunieoto, se, reduzindo-se aos legitimas termos, aito in-
vadissem e sciencia coiii regras, preceitos e doernas (1);
se não profanassem, pollriissem, envillecessern a pltiloso-
phia coni r aiictoridade, se se limitassem a orgaoisação
extrinseca d'um qiiadro d'ensiao, de perpetua mocidade

(1) A Brn d'impedir que com estas analysee se corte ou inter-


ronipe a serie das regras e dos preceitos que se devem d ~ rio r
C o m p e n d i o pelo m e t h o d o synthetico e para que d'ellas se não
siga corifundireni-se os ouvintes de menor capacidade, ekc. Est.
tom. 2."' lit. VI, cap. 111, 8 41.
Resume e substancla este psqueno trecho todo o vicioso sys-
tema de erisino dos eslatutos, e fundamento gratuito d'elle.
affeiçoavel a todos os progressos, fomento aliás, e estimulo
redivivo d'elles pelos teriipos fóra.
Assini coni inn caracter despotico e intolerante, com
uma feicão de pretenciosa i nfi~llihilidade, e revelaçilo scien-
tifica, se, na sita qiialidade constitucional, der origem a
uma disciplina abusivn e tyrannica, nZio deve de causar
espanto. É a logicn dos absurdos. A infundada presum-
pcáo da puerilidade dos espiritos discentes, da sua inca-
pacidade de fazer bom uso da aiialyse, oii da critica, tem
de ser coherente. O desinvolviniento da raziío dos moços
considera-se conio obra a fazer desde os alicerces, e com
a errada convicção, de que é preciso ensinal-os a pensar,
opprin~e-se-lhes, grava-se-lhes, o pensamento.
Todavia os espiritos, que ascenderam pela gradacfio d a s
provas condicionaes ate esta ordem d'estudos da Univer-
sidade, não se podeni, e menos se devem, por credito das
nossas aulas, presuppôr absoliitamente alheios a reflexão
philosophíca, pupillos na sciencia que é mister guiados
pela mão nas mais insignificantes transacções d'este com-
niercio lilterario. E a disciplina academica deve accom-
nlodar-se a este estado de suas intelligencias d'elles ; estado
não tanto pritativo, como certo e positivo.
Se ella o não respeita, se se prostergam ou olvidam
estas indicacões do bom senso na legislacão regulanientar
das escholas, a violencia é tão monstruosa, como barbaro
o exemplo, que e!la promulga.
O Regulamento de policia acadcmica de 95 de Novern-
bro de 1839 por consequencia de tão segura verdade é,
para o não dizermo5 cahos de sandices, uma compilação
rude e indigesta d'inepcias e despropositos disciplinares.
O ultraniontanisnio, camaleáo de metaiiiorphoses na estra-
tegia e na silada, tomoii n'estri sua obra prima o disfarce
da fraiernidadc e do carinlio; cobriii a capa d o evange-
lisii~oprilnl. tln iiisiriicyão rorrertiva; coiitrnft:z os gestos
iiolt'iiin.; ilo ollio ciii r i g a r r s 1)entil'iços tfe 1)raiitfa e sriare
r r p w - ~ f i o{li), peic;i(los jiii eiiis ~ i r l oirao d ' l i n l n jrist<r e doce
set~er.itltril,~; tli.s>i nitllou os raiirores lríttf it.ioiiitcs eni cfecla-

rapit5- ii',itlel 1,). protestori qiie aiiin, qiie itfolatra a jriven-


tll&!, p(lr~~i11

A s z l i n s i ) r r s c r i p ~ i k sparecem-rios haver sido lavradas


para i i (li)\ ~ tri t ) ~ i l ~ í i(10t ~ sSiln('to-Otlicio. Leii(1o-as figura-
se-nos Ibttrr*urrer c3niiios 01 lios o regrilaiiicii to iiiorlifero cle
Besirrs, e n r'tdii ~ r o f ~ t t ítc.cbclern-se
ra o piilpilar do cora-
cão, rláu s t t i 30 I ) L L I ~ S florror, sc pelo tlt1speit0, qrie sentinios
a o contt.ii~l)iar03 protligios d a iiiitl(l;ide h u i i ~ n ~ i aqite , se
gloriflcn r i ' r i t i ~ i,tl*ci zelo de terdiidc, qric sc arictorisa nas
Icis cj~ieella riiciriia corifecciona, e tliie ja se ostentou em
toda a plenitude da siia ticdiondez nos tredos apparatos da
Incjriirii~ão!
Todas ellns tcri(lcrii a dcsinvolver na penalidade uni-
versitaria o processo, qiie tornou celebre o fiiror d'este san-
gtiinario instrijmento cln intolerancia catholica ; o processo
fan~igeratlod'esst: florrendo tribunal, q u e inscreveti em lct-
tras de fogo, coiiio iiinocentc retabiilo tle p i ~ d n ( l eou sili-
gelo ej)ifogo tle stia actividatle apoçtoliça - cinco niilliões
d e tictiriias! que violoii os tuitiulos d e i'rgei e Arnaiild,
para Itie reduzir a cinzas os ossos iiiscnsi\cis, n'um deli-
rio d e t1ingani.a incoiirlirehensivel! tjtic fez cahir o seu
ana tbenia sobre as gernyões iririocentes, tios cliie tião hou-
vessem denunciado seiis paes ! (1) - processo emfim, qile o
com o nonie d'inquisitorio, faz tremer a fé, a balar as cren-
ças religiosas, se religião algiirna sanccionara taes tripu-
dios de carnificina, e rliie sciitfo drsconhecido a legis-
lação roinaria, os esl:itiitos tanto laiiientam faltar n'ella,
c01110 I,iciirina, qiic niniitlarii preenclier na expliciição oral
d ' e s ~ edisliiit: j i i ri(liro, qiie, por v iiigaiica seientifica, e syn-
tbcse dc sei1 elogio, e coiiliec.it10 pelo nome de Diyesto.
O proctviso das tlevaçsas pois, das denuncias, da espio-
nagem, da tratii~ào,da vinganca, eis o systeina practico
de piiniçào, qiie se olrerece coino edificativo exemplo á mo-
cidade ii'cste snnctu snnctorum da instrucção e da moral I
A postergacão cios direitos de defesa, o desacato da di-
gnidade I~uiiiana.a violencia dos foros da pessoalidade, tal
é a srit)staricia (tas c,)nseqtiencias, ein que: se resolve essa
praxe ji~riicial,qiic se.coriserva, qrie se sustenta, entre os
despeitos ciilre os espantos da civilisa;ão!
Pesa-rios ciii c ~ t r e i n ori50 ser coriipativel com O nosso
proposiito o rlila tnr corisitlt~rn~ões para alérii d'ilnia estreita
g~zeralidarlc,qiie r i i n l satisfaz os desejos q u e nutrimos.
Mas intla assirii vejaiiios.
Por este regiilaiiiento, ciijo odioso qiiasi todo se con-
centra na siia nolave1 parte peiial, a crirr~iiialidadeaca-
deniica e siih~iiettidna unia cliissitic;i$io parodia, gradação
com vistas de se arroga r honras de iiiethodo codificativo,
pela qual se fazeni assiiiiiir os deliclos trez calhegorias
estaht.lecid:is e regiilndas segundo a gravidade dos mes-
nios. A penalidade obrigada ao potro desairoso da prover-
bial coberencia legislativa da Universidade condescende,
transige aiiiigaveliiien~ecom a s iinperlinencias da classi-
(1) Vej. Victor Hugo no seu conhecido discrirso sobre liber-
dade d'ensino.
ficeção, e acompanha-a, coii~opode, para se nianifestar já
n'unia paternal adinoestação dos Reitores, j Á n'iirria pie-
dosa exclusão tem por aria dos esttidos, já finalmente n'uma
nioralisddora expulsão perpetua do banquete social d'esta
instruc~ãosuperior ! E a compassiva e niisericordiosa tria-
dade de penas, que o Sancto-Olficio dos tribunaes da Uni-
versidade desinvolvein no sagrado zelo, em q u e ardem, de
soprar as cinzas apagadas da caridade evangelica.
Os crimes d e primeira especie, as contravenções de me-
nor alcance, em sua qualidade poiico iniporlante, teni por
juiz onico, siipreiiio, absoluto, seni reciirso, d'ultima e pri-
nteira instancia, ao Reitor da Universidade, « q u e jiilga de-
finitivamente, por si só, todas as infraccões d e coriipeten-
cia da policia acadeniica, a que não estivereni applicadas
a s ptnas mais graves)) (Reg. d e Pol., etc. art. 15); deposita
d e conliança, eni verdade, na equidade paternal d'elles sem-
pre excessivo, e nos teinpos nienos patriarchaes, porque
vamos passando, um abuso intoleravel d a paciencia po-
pular !
O poder, q u e se concentra e siniplifica, tyranisa-se as
mais das vezes. A irresponsubilidade é princípio constitu-
cional, 6 preparação legalisada d'essa conseq uencia. Nos
reginiens iiio~iarchicosrepresentativos é a pecha, que os
invalida, é nelles uma sanccão publica d o absolutismo, 8
u m resto teniperado dos governos solitarios, é â deifica-
çào da realesa, é a abdicação popular d a soberania, 6
uma adhesão de preconceilos ao principio, q u e subliniou
todas as insanias da perversidade enihronisada.
Aqitelle preceito da lei acadeiiiica, lransumplo fugitivo
d'essa renuncia de direitos coniiiiuns, não deixa couitudo
de assoalhar consequcncias mais funestas ainda. A deli-
beração judicial encarnada, eiii toda a plenitude do arbi-
trio, na pessoa do Reitor, com respeito áqselln ordem de
peqiienos crinies, sob o falso titulo d'uma paternidade, qiie
não exisie, é iitiia ironia pungente, 6 uní escárnca acerbo
do niais pura divinisa<;ãodo sentimento !
A eqiiiparação, qiie se intenta fazer d'esta congrega-
çãu cscholar corii a sancta sociedade da familia, figurada
erii scus eleinentos pae e filhos no Heitor e. alumnos, é,
ua verdade, totia cslteia de niiriio, respira toda a doçura
d'essa coni~iii~iiidade d'affectos, todo o prestigio d'essas
alegrias do lar dniiiilstico, nias e inopportuna, infeliz e
ineariia. Esta congeiiialitlade d'espiritos, movidos pelo sen-
tinieiito ieral do iiiiior srientifico, e sob a unidade disci-
plinar d'uni Patriarchu, teiii, cni parte, a delicada feição
fdniiliar, nias desayparece-lhe, esvahe-se-lhe tudo esse
ericarilo, ronsiderirda a luz da sua verdadeira indole. A
eioansi bil idade aiiiiga d'este tracto ncademico, a fran-
q u e z a a siriceritfade d'este coniiiiercio de atreições juvenis,
qtie se iilliiin~rio niesriio eiiipetiho, teiii, por certo, o cunbo
acbabiido da fralarniclade, é trarisubstanciação inteira de
tão gr,itas l i g a ~ õ e s ,reprodiiz loda a plenitude d'esse as-
pecto risonho das fiiiiiilias, poréin fallece-lhe, para com-
pleiireiito de retrato, a trasladação d'unia divindade, que
se iião contrirfaz, que se não iniita, porque e filha das
siias obras, dos seus berielirios, da sua docura; a presença
d'unia restal, qiie aniriin, que activa, aquelle delicioso fogo
do coracão. E o srntiiiieiito lifiaterno ao lado da benigna
solicitude paternal, é o carinho, é a deliciaçáo d'alina
pelo amor, é a iinageni mais querida da ternura ao lado
do suave guia da razfio, e da branda distribuição da jus-
tiça ! Não espereis que u siibstitua, que Ibe compensem
os gratos officios, as meigo ices niercenarias, as caricias
lingidas e contrarei tas, os a ffagos heriados da hypoçrisiii,
que vos prodigalisa, a rudeza d'rim chefe, a severidade
d'uni Regulo enipoado eni honras vãs e stultas, e 'invil-
lecido na avidez d'interesses d'um pecunioso emprego.
Essa disposição pois tln lei, pclla qiial se quer fazer d'esta
disciplina acarleiiiica urii arreiiiedo d a disciplina donies~ica,
é uiiia ociosidade, é unia pretcncão iiifriictiiosa, e contra
ella prolestaiii os sentiiiiciitos de dignidade d'cstes nian-
cebos, reage esta enianciplicão intellectiial da ndolesceo-
cia, qiie lhe coniniunica riin valor social, que se lhe quer
negar. N'este eiiipcnho de fiwternisar, n'esta pertinacia
de nigelar, n'este acinte dc tsnificar, parece-nos i r uma ma-
liria, u m veneno, uin maii iigoiiro, que debalde se palia.
Dir-se-ha q u e n'esta agencia, n'esta sollicitacão improce-
dente, n'este desejo irrealisavcl, vae o uppetite exteritiina-
dor de Calligula, perfida, e , ao mesnio tempo, ardilosa
mira d'iima decepncáo siriiultanea da dignidade juvenil
na sua nialigna iinificaqão.
Ein resiil tado pois a arbi trariedade reitoral snnccionada
n'esla parte do regulanreiito é intoleravel, na inipossil~i-
lidade de se transferir para a descililina universitaria O
caracter generoso da fratcrnidade, e muito nrenos da in-
fallibidade. Ha a seducção das paixões onde não hu a
n~oderacao dos affectos. Destituir por tanto o s Reitores
d'essa feiçiio reclama-o tanto a sua qualidade piegas, coino
a odiosa e abiisiva que nianifesta.
Nos delictos d e superior esphera nas infracções que
((

provocarem penas iiiaiores nias não as mais graves $ 3, ))

eit. art.) o processo, seiii deixar a siia fórnia verbal. e


accelerada, conio os nioviiiientos d a pairt80, enfeita-se do
ornato de garantias, qiie pnrecthlil qiicrer twarnecer dos
direi tos Iiuriianos, a l a \ ia-;e do luxo d'iiiiia defesa, que s e
nos figura ter o selvageiii filo de estrangular a justifica-
$50 nu garganta dos rbos, e reduz-se ao mais desfechado
cynisiiio d'arbitrio, que a lei favoreca e escolta pela s u a
auctoridade. Rctrahido nos seus lraniites ou tramas aos
niysteriosos rcvpssos dos nunca profanados claiistros da
Unirersitlade, esla tiiiiitiez, este piitlico resguardo, desen-
cadeia-se, coiiio todas as riiac.fiiiio~õesoccaltas e ienebro-
sas, 110s ii~iiI~i~,licados eseiiiplos, que por alii andam a in-
coiiiiiiodar o piib1ic.0, c a provocar os aninios.
Por tini lado n acçiis;icão siniplesnienle fundada nas infor-
n i a ~ õ e sverdacleiras oti falsas d'esbirros ignoranles e maus;
por oirtro a defeza circiiiiscriyla a um proso túo curlo qrie
s a l se presta p«rn preparar a nialla: (conto chistosaniente
já ouvi explicar essa inti~iiacáo, que prescreve o lapso
fti6al de cliiareiita e oito Iroras para o niois i~flicaze essen-
ciíil cleiiic?nio do jiiiso penal) será possivel, que similliante
enredo se não rcsolve seriilire no coniprotiietiimento da in-
~ioccticia?
A j i ~ s i i c dci\ i1 110~ P I proc('sso
I c~iiiieniinucioso, reflectido
e tfilalorio ate a o pi-ejiiizo, e aggravo da penalidade dos
réiis, no scii al)p;rr,ito de foi-iiiiilidades, na suprerria ga-
rantia dos d e t);illes pii 1,licos e soleiiines, na deniocratica
reg,ilia tlo jiiiso ~)opiil.~rpclo J t i v y , não consegue, niuitas
vezes, apiirdr a c \ ~ I ( ' Ç ~sacrificando-se
o, niais yire uiii in-
nocerite á f e r o ~ i d ~ i dsocial c da vinganca: e no processo
acatlertiico, hrei e , expcdiio, sem foriiiiiliis nerii garantias,
seiii espaco para o exaiiie refleciitfo das provas ; n'este pro-
cesso iriqu isilorio I~nseadoerri deniincias de familiures uni-
versitarios seiii abono de prohidacie não se fará mais que
iiiii tioloraiisto de i<:tinias innoxias ao ido10 torpe d'essa
pais20 ch;iiiia(l;i viiidicla?
As cerimoriias iiiipertinentes, as lardancas demasiad;is,
os vagares excessivos são, ningueni o desconhece, preju-
diciaes a boa administraçfio da justiça. mas a aiisencis
completa d'essas etiquetas forenses, nias s precipitagio
sobretudo das eneciições, qiie o odio activa, iiida o é
nials.
d-nie em entrenio grato, e, em subido grau, lisongeiro
aos sentinientos nacionaes o potler asseilar esta verci.de
com o pensar do seculo xirr n'ebta terra.
Eni 1 2 11 sob as licença do regirnen absoluto, sob a la-
titude do arbitrio governaniental - , jdeo,
sic P O ~ ~ O8ic
D. Sancho I proclaniava eni CGrtes urna garantia de se-
guranya pessoal, iiiii principio judiciorio, que hoje é des-
coilhecitlo a Itlgislagão acadenrica, que hoje é extranho a
unia legislarão, qtie se deve impôr coiiio o nlodclo, o exem-
plar auiheritico de todas.
A equidade d'esse soberano traduzia-se em expressões
siagiilares que o orgiilho patrio deve proferir, mais que
isso, entoar coiiio hossana a liberdade, velha e tradicional
padroeira do nosso o paiz ! Dizia essc Rei no regulaniento
d'essas Cortes. ((A sanlia sobe eiirbargar o coriaçon, que
non pode ver direytiin~entca s cousas, per onde eskibelece-
mos, que se por ventura no moviinento de nosso csraçoa r
alguein julgarinos de niorte ou qiie Ihecortem slguni fiem-
bro; tal sentença seja prolongado ai6 vinte dias, e des
hi em diante será a sentença a execussom se a nós com
este comenos a non re\logarmos » . Exprcssãi-o su blinie de
justiça, que se não desvaira nos prestigios do poder, IiçRo
fecunda para este seculo vaidoso, fulgurante luz de liber-
dade, que depois de 452 aonos não teve ainda tempo de
se coar airavez as calliginosas nuvens, que cerram o vasto
teiiiplo de D Diniz, para illuniinar essas oblações myste-
riosas que lá dentro se offerecem a uma divindade igiio-
ta.. ., por certo ás paixões que a lei favorece I
A sanha eiit toda a fatalidade de seus effeitos é o agente
precipitado. irreflexir o e i i l t peitioso de rodas as meidatleo
ji~diciarias, de todos os fiageilos da pitni~iio!
CHRISTO,apo~hese de sanctidnde e lormenlos, foi vi-
ciiina iniriraculada das conseque~iciasd'ella ! Em o ciitto
praso de doze horas se operarari1 as peripecias nkulliplica-
das da siia paixão! A Ireoidnde saciou os od~osde Israel
mas sacriíicou, iiiiniolori, o tilho de Deus
Nos eriiites d'ulti liia eslbliera, na sii prema gravidade dos
delictos; o'aqtielles, c i i ~qiie a pei~afidedepateriial n&opode
renunciar &opiedoso e caritstiro rigor das 6 ~ ~ l w d eper- .9
yctuas e teniporarias, d'estas exconinluoh6eo perniciosas
do seio da religiáo do eiisiiia, reune-se, por doierariaaçâo
expressa do regrilaniento, o Conselho de Decliitos colle- -
yer.unt ergo Ponlifices et Phurioaei coasilium (I), e dsla
apparente garantia, que se podérli converter n'unia feliz
i a q u i r i ~ ã oda verddde, 6 Falseada, 6 illudidii pelassoruI)ras,
pelo iityslcrio, coiii q u e se iovolte uiii acto táo degre, tão
sancto, tào editicante, coiito é a educavão pela [relia !
N'estes coosilios, sinistros coiiio a noite, é sempre a ira
e a yressu as iiiais r.oirtrarias infliiencias da deliberação,
conio iios ensiiiii o velho Blas, que se determinam pela
conrle~irilagãodo triste, cuja nioralidacle a siia má siria le-
vou á decisão e estiri;ativit de taes consistorios ; condenrna-
ção sobrepensada, predecidida, e já resoluta antes de iodo
o exanie, d'esde o monieiito qiie o crinie é denunciado -
ab illo oulei)%die cogitaoerud ut.inter/icerent eum ( I ). De-
pois d'instauratlo processo não ha exeniplos de absolvi-
ção ! Ou é irifallibilidade ou extrema malignidade !

(1) Joan. XI, 53.


(1) Idem X1, 47.
e 0 julgamento do Conselho d e Decanos, diz o cit. Reg.
ar!. 16, 9 2 , póde a arbitrio d'elle (Reitor), fazer-se em
sessão palticiilar ou publica, como mais conviern. k uma
perniissho equitativa, B uni rasgo de generosidade da lei,
que nunca se aproveitou ! C01710 mais convier particuliires
o i ~publicas as sessões, faciilta este regulamento iiiqiiisi-
torial, e riiinca conveiu abrir este acto solcirínc á especta-
ção e jtiizo pu hlico ! Mas como! no syçtema d a s liherda-
des, que nos regein, não se deverá entender excepçÃo, o
o que esta Universidade adopta como regra constante e
cruel -a sessão parlicular? Que ha n'esses actos judi-
ciaes qtie não póde stipporlar a luz do dia? A justiça não
terá vendada a vista, para qiie Ih'a não pertiirbein, ou dis-
traiani, o fulgor e brilho intenso da prihlicidadc? É qiie a
juslisa universitaria náo é vendada, mas vendida as pai-
xões trridicionnes, ás paixões doriiinicanas, cega por um
odio velho á lil~erdade, e o castigo tem n'ella a signifi-
cação nefaria e ignoriliniosa, q u e lhe legou a màe Inqui-
sisão! O castigo é na legalitiade dos susternas penaes d'este
grande alcaqar dn sabedoria patria U I nal, ~ u m flagello,
u m siipplicio, uni tormento, um martyrio, ein vez d'um
bem, d'iima regeneração, d'iiiria conversão, d'umá morali-
sação, d'uma reha bilit ação ! Na triste coherencia d'estas in-
dicações d a lei o castigo mal, torna-se castigo inferno nas
consequencias d'uma práctica acerba dos tribriaaes aca-
demicos.
hreopagos dos costumes dn macidade estudiosa, juisos
suprenios da moral juvenil, esles trihiinaes,
t
eili qrie vão os
destinos moraes das geracõcs por vir, qrie são exemplos
vivos e solemnes exposlos ás larvas do futuro, n~edeina
gravidade das penas por inais ou nieiios annos de nega-
cão da eschola, qiirr dizer, tradozeni o principio da mo-
ralidade n'uin foiilento de corrupcão universal. O criine,
effeito das soiiibras, da ignoraocia, consequencia dos obsta-
ciilos á projecfão dos raios luiiiinosos do saber, remove-se
n'elles nggrnvando-lhe a caiisa, forianilo-se-lhe a luz que
O dissipa. Nocir~nsibper terrcrni ! Paradoxo odioso e revol-
tante! Eii desde as íiiinlias priiiieiras lettras ouvi diser
que sublaia catbsn cessnt effectas-qiie tirada a caiisa cessa
o elfeito, nias nunca que ampliada, q u e apurada, que aqui-
latada ella o effcito ,4ecrescesse !
D'esta conibinafao d'incoherencias, de paradoxos, de
vexa~ões,d e niysterios não ressaltará um proposito repu-
gnante de maieficiou, uma intenção rcfolhada de damnos,
de perdições, d'infilniias?
A corrupcão synihese e epilogo das laliiitaç6cs reaccio-
narias não resa hiri d'csta alliança de despropositos lega-
lisãdos, coiiio uiiia coiicltisão a qiie se aspira, e qiic se pre-
p a r a ? Eti náo sei explicar d'outra fórma laes inconvb-
nici~cias, e tal perliníicia cnl as conservar. Ou os gover-
nos d'esta terra tlilerrnl ver esphricelar-se pela prapria p*
dridào de siias constitiii~õ~s este niagcstoso templo de Sa-
loriião, oii o intuito d o ohseletisnlo, do retrocesso em aigen-
cia pernianente prevalece favoneatio pela gorernação pu-
blica ! Que livre Deus esta riacão d'iiin tal transtorno
disciplinar! O despotisnio não dura mais que um dia.
O povo tem crencas Ialentes que a divina providencia lhe
inspirou !
A tolerancia e a prudencia popular tem limites. Que
as não fatiguem desvairadas pretenções governamentaes !
A mocidadc é o nucleo fecuiido das nacionalidades ! As
idêas, que n'ella germinam, são como os circulos da agua
ferida, rnultiplicain-se engrandecendo-se ! Se lhe perturba
a habitual serenidade a convicção, d e que os governos
zo,.inrs niel~tetii,os governos caeni ao iinpillso da sua rgi-
tiryào!
oII é niao sestro, oii nialdito ~troposito,mas na Univer-
sitjcidede Coini brii nrinca a justiça foi justiça castigando 1
1)~1i~ões aIiiileniadas pela lei tripiidiaiii sobre os victi-
iliiis iiit]eft*sâs! O honieni tias trevas é feroz e cruel por
i l c ~ c ~ c i ; s ide
d a dsuas
~ inclinacões ; seus instinctos de vin-
g;r,ica redobra111 tle pervzrsidade se a noite os pallia ; e
;i<.i>t,t:i.tados, e protegidos pela siia qualidade exí?cutoria
tanio podent dar iiiii Oleastro no seçulo xvr, como um Ba-
si110 .liberto no seciilo xix.
1) svele-se tudo, tragam-se á praqa todos. os actos hu-
iiiiiiios e verois como elles se tornam brandos. e justos! É
que R socieda~feamacia o homern, e a publicidade é com-
~)lrii!eiitoe condirção d'ella. Não ha soviedade seni eu-
1,lic.iilade. Querri obra nas somt~ras,inda qiie seja de com-
I ~ i n a ~ com
à o niuitos cumplices, não obra socialmente, obra
ti'cssa suspeitosa insula~ão,que o crime e a maldade de
tiid~itfani.
Q3ie a jtistiça acadeinica pois se pateatei e soeialise; que
encan? e tite niagestosa como a aguia o lume espieadido
tlo sol ! Se ella foge ao iiiundo, não como a rainba do dia,
a i a eonio a agoureira sacerdotisa da noite: não pressen-
tireriios com racionavel motivo n'este tdgubre recato, G-
trica preeaoçb, e recolhi iireato fuaereo, o sinistro aviso
da [norte? Quem, e m vez do aniicto albo do meio dia,
totiia o manto oegro e luctuoso da noite: n8o lançará nos
espiritos uma justa reserva, legitima suspensão de coo-
liaiiça na sinceridade dos motivos, porque assim se teme o
dia, a franqueza, a claridade?
A universidade, diz-se, que é mais que um templo de
saber, uni propiciatorio de moral :e não é esta com o exem-
pio, que se sanetifica, authorisa, e dilah? E que exetnplo
é esse, com que 110sedifica um estabelecimento litterario
cuja orgaoisagão o pensamento inquisitoriai inciiliou, o
despotisnio clerical educou, a philosoy hia escholasticr PC
feiçooii, a revoluyão scithnti fica i ~ i oregenerou ? Responda,
que na0 nossas escripluras, a serie vergonhosa d'esclin-
datou d'tinia ad~iriiiistriiçiio, que teve e rara habilidade de
desenrolar, avivado de todas as c0res deshonestas e obse-
craveis, o quadro aboriiinavel, repugnante, d'uma legis-
lação, executada cm nossos dias, como se f8ra nos beatifi-
cos tempos da sancta theocracia !
Mas que nos adniira se vemos reviver do vasto cemi-
terio dar ideas passadas speciros aterradores das mais abo-
minaveis practicas, se aos destinos d'esta communa litte-
raria preside um espiriio atrabilíario, que em aberta hos-
tilidade com o presente, mais ainda com o ftituro, vampiro
sordido do sangue dainnarlo d'escriptores mortos, inforniando
esses restos mortaes condemnados pela piedade do seculo,
pela religião social do dia, com o halito corrupto d'um
saber sediço, vem desdobrar ante a vista illustrada, e rno-
ral d'este publico conteniporaneo, o estenda1 esfarrapado
das mais barbaras doutrinas de penalidade, theorias de
Caffres, idCas de sangue : -pena de morte t
G m cidadão que ir'estes tempos professa em publico,
pela duplicada via da leitura cathedratica e da imprensa,
siri1haotes opinióes deve ser desviado d'influir por formo
alguma na educaçiio da mocidade. Um tal especulador é
um tnonstro scieotifico, 6 uni flagello moral, C tini algoz theo-
-
rico, é um espiri~osem luz lua non est in co (I j.

(1) Não podeuios, nem queremos, encobrir a allusáo.'Todos


raslream n'eslas palavras a expressho do jiisto sentimento,
D'linuteville-House o grande philosopho, a prodigiopo
propheta do seculo x i x , cinn?a-nos, qric a pena 6 um reme-
dio, iima contpersáo aposiolica; e qtie esta Universidade,
maiitòra de todo iirii pnto professe nas tticorias de sei1
cliefe, e na priiriica de reiis 1ril)iinaes a pena de morte in-
ielleittial, a pena cotiio iiiii silpl,licio, tini exicriiiiriio, uma
aspiiti1açí3o crriel de esljeranGas, conio u m reniedio h%-
roicu (1) eni vez d e paleatit o beriefieo, e seguro, CUFY d6ee
e grata tf'essa Ièpra niorrl, que se diz- criiire !
Se a esta terra teni de cticgar a instriicçiia, e a verda-
deira nioralidiide qiie coniece por se irradiar do centro
conio do Sol a l i i z , qrie vivifica. A Universidade tem sob a
responsabilidade dos setis desiinos de nos preparar o dia
~raatliosoda salvação universal instruiiido coiii o exem-
plo, constrtiindo ~ICHtfadivosa iiiicialiva sua ; qtie instruir
constvt4ir 4; segundo nca ensiua o social evaogelista da re-
dempfão universal.
Porenlse ella pelo avesso d'esta missão e d'cste dever
fiirta no juizo da sociedade os negocios do seu iilais-iin-
nbedia~ointeresse, conio éwapunição, torna-se usurpadora

com qrie esiamos vendo loninr a direcção do ensino Universi-


tnrio de Direito Penal, umas lições d'csla sciencia, que foram um
gerrnrii de corrupcão lançado ao seciilo, se não esterilis&ran a s
disposigões generosas do graride espirito da mocidade. Porém
não é solilario este peccado. Por iIm sestro !anirntavel, e como
um immenso pr oieslo contra o rnethodo conipendiario do ensino,
este tem na Uriiversidade, por apotheose d a sua redicularia, ge-
ralmenie, os mais deiestaveis iristr~imeutosl
(1) 6 esta a desageiinda denominac50, com que a s menciona-
das lições emprimeiri os beueficios da pena de niorte I O seu au-
ctor náo é sólido na crítica dos idiotrias, não é dos mais consu-
mados philologos, senão bem havia de reconhecer a infelicidade
com qiie chama ren1,edto á cicúta, vida ao pnamenta.
dos inalienaveis direilm do povo, d l o axeliplo do muba
e do rfcsacato r
Mas na0 e 5 6 a processo sndemiivo. conao vilipendio dar
leis ~i-ritj? hdt'FdS c10 h n i l t ~ i ~ kcottto
, bredo trt*nictitlo contra r
s a i ~ t ~ i i ~ I . i ~ jariiga,
lc q t i ~ EPC sob O S I ~ ~ U IdaP pliilosophia
do st*i+tjlo.
fia 1 1 - ~ 3 . tt<i bico<, r o;ilieecras cf"unin ritileiidode t&a
extrai.t?= t : i i t b , lia c . ~ ~ i t ~ ~ r o ) ir~~ i~~i ti r* a cif'trnia
s iiikurgiia
tio irri-iirlrt 4'11) I L I I t ~ l , e t ~ ijt,trith r,:pt1gna11tc, ha sobre
ttitltb j)r.t*kt?i)~6tbs 1 . l ~t ' b t ~ I t i i ~d ,t ' 5 a l 11.ad;w. e itliposuiveis, que
chdlli.i~tl s o l t r ~si a I l l i i l S dL'c!dldu t? t ~ r r l l i l l ~ t l rt eep r 0 ~ 8 ç B 0
das itli:,is i10 irntgci.
O p r i s i l e g i t r c seitiprwriiiia alterrnyão, uma excepcio-
nalrdrde reliic*!aai~B,iritio ret)ellião contra Deus, um de
wlio a il»ssa I t s t , e. ronio tal, seiiipre odbso, setlilire into-
I e r a i e l . Yonoprilicts nBo os iia na natureza. Os n~unde-
atentos 110 i t ~ iiltlo t ct)ndctititii r i i o e x c l ~ i s\i isnio, cutilo pei:í*ado
t l a~ I ~ I(10~f If ~C
i ~ i o r f d lt l t l L r 1 ~ 1 ~ s ~ ; iB l k lcotbtra a r e g i a do
l l i tI? ~
n i \ t * l d ~ i i e i i t oe da t ~ p i i a l ~ l a d cirsu,
. que iecoi~on~ia poli-
tlca cios c a t i ~ v c t n l oda ~ scierit.i&, figurírros de systemas,
d i z e i ~ itirc,noyofiq nuttrrud, c Itiais uiua iiielJrap!iora isfeliz,
clue cic*i~tttai i i i t l fui.iii;rrla irilclllgencia dus ç o u ~ ~ scoa- ;
c e ~ ~ r~ittyerfe~ ao ttt tia forca d'cste Lerrilo-rnonopoiio, cousci-
grado pela sciencia para ibe cendemnar a pénssniealo;
que i n d i c a urnl leviana e int:oaipletr protieíencir J'essa t8o
Y I Y L ~ ~ ~ t ~ ~ o p h i l ~ s odoutrina; p h i c a que deouocia a inipossibi-
lidade de chegar a compretieuder, depois d'iogrotos luslror
consilrttidas r16 estudo, NEU priaeipio economieo tgo im-
portaoute e de l o ~ t a sconecpue4iciãs praeticaa, a relaçtíg -
que teni cort-r o systenba gero1 da pcúdimct80 ~ i i t u ~ liat lqpa-
iida.ie IMIS OU nteuos peculiar de feeurididadt: d'ua de-
iueuro y r o d u c ~ i v o .Se se rxeiiiptitiça o reoaopolío conl a
6
genio, eu vejo-me enibarayddo eni face da sua raridade;
iiiils em rigor não e elle nionopolio, e basta que a nalu-
reza o osteiite npiinl individiio, para qiie se niostre ser
q11;ilidade coiiiniti ei da hiiiiianitfede. O privilegio, esse esta
nii pretenráo de crenr attribiitos isolaiios nas Iiessoas, sem
neuo, neiil relacão coni o iiiat.iiinisiiio geral das socieda-
des hiiiiiitiias, e tinia violt!iicia R lei propria das cousas,
urii transtorno da boa e natural destribiiição dos pa-
peis a representar na ordeni do mundo, e 6 por isso que
sin~iiltaneaiiienteo anattieniatisa a scienciii eronomiea, e
a politica. No eutretanto esta .4riienas, a titulo de descen-
tralisayão, sob pretexto d'arlhesilo aos principias do re-
giiiien liberal, pretende stistentar, senão inventar, foros
d'iitna vaporosa irritonoiiiia; qticr ariticipar o self-gouverne-
rra~titd e Proi~dhon;piocla niar pela divisão do poder a scisio
das ligaçbes sociaes a disciplina geral; coliooestar a re-
belliáo n'uiiia figiirn de zelo d'independencia ! Siin, a Uni-
versidade reliicta contra as fiscrilisaç6es sitperiores, da o
nlanaire da desobradiencia, arroga-se exenipyóes, não sei se
fecitfaes, se riionrtchaes, e, insuiada no seii d e s p o t i s ~ i ) ~ ,
deseja dar-aos o espectaculo risivel d'ii ma alliança anthi-
yactica do cas\ellão siiberbo com o conventual velhaco!
Xão vai aqiii a invasão inopportuna de invençaes da
pharitasia. Sào estas as queridas aspirações da Universi-
dade, perrrinaes desejos, que a nutrem, anibiçbes, q u e a t é
publica, e alardCa ! No seu acinte historico, *a sua obs-
tinacão tradiccional, nos seus sffectos classicos, não ha
ritos por pit,arescos, a qiie abdique, neril por abusivos,
a que renuncie. Mas não é só isso. Vaidosa rainha das
letiras patrias, cercada do i)allido resplendor d'uma ma-
g e s ~ a d e ,que decatiiu, eüvollit nos fumos d'unia aristocra-
cia seciiiar, intenta, no seu tumido orgulho, e jactancia
-83-
pantafaguda, converter-nos a adoração d e seus usos, por-
que o ienipo os canonisou, d e siins instituições, porque os
seciilos tis sanctilicaralir ! Veleidades d e velho! ridiculas
perteri~õesda decrrpiitide !
Qriaiidu pois nós a iiggrrdin~os,clanra-nos d i a , que so-
nios iins ~wofiinatloresdo tcriipio da religião historica, ico-
noclast~s (10s I~enros çiti~iiIacros do passado, conniventezl
n'iiiira corisl)irayào d'Eiic.edalos cnnlra o tlirono dos ida-
les ! nós, os qiie d'aclticlir, só qrieremos os elemeiitos para
a refiitidi~ão,tios, os ;iposiolos d'uina nova idêa d'exter-
riiinio, a qiieiii neiii cinco secolos, que nos estão amaldi-
dicoando do alto da fortaleza d e D. Diniz, embargarn em
scu nialdicto furor de civilisacão!
Dizeni bem ! Soiiros iconoclastas dos idolos do paganismo .
social, profanadores dos templos da lei velha, extermina-
dores das riiesqui tas d'iiiir c11lto de paixbes ; inas é porque
qriereiuos a nova doittsina enl triuniptio, a fé dos bons
principias dissiiiiinada, propagada, universalisada.
Quando vemos a Universidade inspirando a Imprensa,
para qiie lhe deffenda, e silsrente o anachsonismo da sua
situacão organica com o mofino argri~nentodo seu ma-
gestos0 aspecto feudal d'ella ; cercada, na siia elevação,
material até, d'esta vassalagem academica, por veutura
de servos da gleba, não exprimentaremos u m sentinienta
doloroso d e horror, e de piedade, ao ver este desesperado
muribundo, q u e se agarra ás fosmeas do seu delirio?
O passado é augusto como a paternidade, mas quem
lhe sacrifica a instruc~ão,sacrifica-lhe s vida, quem lha
sacrifica a gerdção nova, sacrifica-lhe a humanidade, r,
futuro, a liberdade. Se o respeito á herança toca o louco
fanatisnio, do que a não fecunda, 3 esterelidade B o pri-
meiro vaticioio da morte.
.*
Este estabelecimento, na siia adhesão renitente, des-
propositada as hurlescas inslitiiicões, que o tornam irriso-
rio ao forasteiro, não é iiieiios insoffrivel, que- no seu
apCgo teiritoso e opiiiiatico 4s praclicas nialeficas, q u e o
tornani a boiilina\ el ao naciorial.
Vão eiii seilç IISOS e c:ostiiiiies, coino eiii rotiilo infa-
nlante, a vergotiha do paiz, e o descrcdito da nossa civi-.
lisacão !
A lingiia latina, a lingiia da egreja, esta expressão ca-
hallisticas das ritiialidatles tlii religião de Roilia, profana
reliqriia do nioiioliolisnio rt4ipioso dos sacerdotes egypcios,
é tarilbeni, eni parte, a lingriii tia Universidade! As fór-
iii iilas sac'i.ii riieni:ies rlas srias solemnidades não podem to-

niar oii tra d iccão ! Bella aIli,~ntp,excellente fraternisação


de duas tillias do iiiesriio perisanlento -o niysterio, mys-
lei-io, que acolá se jiistiIica pelo generoso fito, a qiie tende,
de aiirrientar o excelso prestigio do niyticisnio e da nta-
ra~i!lia,coiii yiie o sentiiiieiilo r5ligioso se fillra, insinua,
accrescenta, fortalece, e aviva nos coragões dilatando-se
pelo desconhecido; iiliis que aqiii se fomenta, para q u e o
systetna do recolhimento se uni versalise e aqtiilate, para
que as sonihras não abandonem os pciblicos actos até, para
que o privilegio seju enl tudo, em tudo a siagularidade.
A carta d'alforria, que. conio diz Garres, D.Joáo I apas-
sou á iingria nacional, que até alli vivên escrava da do-
niinação latinan esta carta, r-oni que se fortificava a nossa
independencia na indeperidertcia tfo dizer, não foi acolhi-
da, e acatada pela Universidade; iião teve virtude para im-
priiliir feigão porttigtieza a organisação interna d'este es-
rnantelado reducto do saber patrio, para lhe contmunicar
os brios reinóes, (lite seiiipredistiiigiiirani este pequeno paiz.
N'este teiriplo em trido romano seria poréni unia incotie-
renria o uso do nosso idioma, o idioma do povo, o idioma
da liberdade !
Mas por ideniieo motivo, por que se regeila a dicção
nacional eiii varias fbrnirilas discursivas de seus artos pu-
b l i c o ~ ,nrigas litiirgivaç. que a deprimeni, arnesqtiinliarn,
au até envileceiii, estti Universidade repelle, e excoiiinlringa
taiiilieiii as vestes popiilares. A democracia do habito é
descoiiliecida ri'estos elecatlas ribgiõos, para ascender as
quaes é i~iister renunciar ás insigriias plehCas, despir a
farda r0ta da liberdade, e tomar lima frâtcrnidade de
vestidos, qiic ti80 é senao a triste ironia cla egtialdade
-egiialddde de escravos, egualdade monachal, eguat-
dade, q u e nivela com iliiia mesma niarca este rebanho
d e servos da direcção clerical, egualdade einfitn, que
arranca dos jardins liberaes esta flor da juventude pare
a fanar pelo despotisn~o!N'cste n8o sei, se fugubre, se
irrisorio unií'oriike, o cunho da theocracitt" é paterite. 0 s
tiabilos acadeniicos são e m rigor os habítos eccfesiasli-
COS !
Poréin, s e n'estas corisas eu descubro o pensamen'to in-
truso da egreja, ha sobre tudo tinia práciica universitaria,
onde eile se rebella na clareza revoltante, de que é sus-
ceptirel. É o systenia espoliatorio, tantas vezes condeui-
nado pelo senso publico, o systeiiia d'uina traficanria com-
merciol, que se auctorisa pele lei, e a qiie se quer d a r
uni cunho d e legitimidade, qtie não póde nunea ter. Q i i e r ~
fa!lar d a conrpra de l i r ros das oficinas da Universidade;
copipra, que h obrigatoria, e condicional para o curso das
aulas d'ella, affronloso e violenlo aggravo d o despetisabe
dos iiiethodos !egaes d o ensino conipendiario! Esia obric
gação, q u e é tini verdadeiro roubo, um sequestro com ares
d e beneficio e doaçáo, e, ù'entre os abusos e prepoten-
cias da legislação acadeniim, a niais ignominiosa, e de
mais desdoiiro para a dignidade scientifica e pedadogica
d'esta ii~stitiiição! Esl~olhasa rnocidade estudiosa com o
pretexto d e a eiisiiitir, de a iiisiruis coiii livros, que a mer-
cearia agiiai-tla pelo seii pêso!.. rifio vt'n~os, com que s e
possa degradar iiiais tini proi)iciatoi-io oficial das lettras!
Refina-se a iiiinioralidade do eniiiio no exemplo d a la-
droeira !
Recopilando pois : p r o c e s o inq iiisitorio, penas d'exclu-
são da escliola, quando por ella quer Viclor Hiigo illurni-
nar o criiiie, rigor opprítssivo no rirliciilo da fiscalisação
dos vestidos, foiiiiulas do rilital roinano, especulacões com-
iiierciaes. .. jiiiictae a isto eriibotias cattiedreticas em af-
guns. inacessibilidndes d ' u ~ i ~arithocracia
a burlesca eni niiri-
tos; e tendes o relabiilo civo d'esta Universidade, ciijo
elemento judicial representa tinia liga d'An,pliictioris cori-
jurados contra a mocidade, pielendidos feudaes da Tbes-
salia, que te111 por tiliilos, armas, e chlaniyde da sua no-
breza o Diyesto e as Institrctus!

D'este quadro repugnante d'escandalos constitucionaes,


e regulamentares da instriicção silperior d e s t a eschola
esta-se destacando, eoino soiii bra lúgii l ~ r ed'uni pati btilo,
penrinihra funeraria d'oni tuniiilo, o agente cosmopolita
de todas as niiserias hunianas, peregrino incansavef da
servidão, romeiro da Iiypocrisia, do odio, do sangue, do
retrocesso -a reacuão !
A este grito horrenrlo da guerra, como é que não s b t o
abalarenl-se todas as legiões da liberdade, bravas ceniu-
rias d e D. Pedro I V ? SolJndos do Pilar, que affrontastes,
e vencestes hoslcs e caiidillios da ideia velha : consenti-
reis n'este rediicto inda inteiro da causa vencida o tiltrage
da dignidade de vossos filhos, a violação d'essa ultima
flor das glorias e esperanças liberaes, que vos restam!
Erga-vos o novo rebate da ustirpação, e da violencia,
e acciirli pela vossa bandeira, que vol-a rasgam! Se que-
reis todavia descançar no gozo pacifico de vossos passa-
dos triuiiiplios é justo ; nias dirigi-os ao menos do vosso
leito de laiireis, dizei-lhes con~oos garihastes nas con-
qriisiris do vosso ovante principio, ensinae-lhes como s e
marcha a gloria das batalhas! Filhos na ideia não duvi-
deis qiie o saibam ser taml~emna acção.
D'uiii tunitilo aberto ainda pela saudade popular está-
Ihes clamando o niais vehealente estiiiiulo de regeneração
aJosé Estevão! Jose Estevão 1 » Da estancia fuileraria onde
repoilsuu as reliqiiias d'csse aposto10 social, niarlyr da
sua dedicação civica, esta brotando, nas palmas de seus
triuriipbos, um syiiibolo diiplo tl'esforço e de pensamento,
um estandarte audacioso e revolucionario de civilisaçáo!
Prodigioso trovão, qiie estalou as portas Daniascenas da
nossa redeiiipção popiilar, o ccho perd uravel d'esse nonie
ha de derribar todos os Saulos da liberdade!
Geiiio inimenso Iaricado na locta assonlhrosa de dous
gigantes, o passado e o porvir, a augiista nieiiloria d'elle
deve ser o raio fu;iuinarite de todos estes filhos da ferra
sti~ltospotentarlos do niunclo, que crhem avnssallar o céu.
Eu por niim, qiie o guardo, como eriiblema veneravel
das niinhas crenças, como o luburuna social d'unia victoria
certa, não quiz rematar este protesto contra a depravação
da aula p:il)lica, contra o desregramento da pedagogia
palria, contra a escravidão da intelliigencia juvenil, sem
lavrar iim solemne ternio de adhesão á grande causa, que
elle synlbolisa.
No turbilhão anarchico dos atTectos popiilares, que o
seguem, conio a estrella de liberdade, que brilhou ao ceu
da nossa civilisação, eii adiiiiro, idolatro esse nome, por-
qiie o considero o nieteoro d'eloqiiericia fatal a todas as
ambicões, o azorrague tremerido, yiie leni de expulsar do
templo social essa raça nialdita de vendilhões, que sacri-
ficam á sua cubica a consciencia, o povo, a patria, a li-
berdade l
A ACADEMIA DE COIMBRA

Ao terminar d'este grilo angustioso, coirl pri-


mido brado liboriil. q i i e se escapa atravez as
estreitas frestas tl'este erg;istulo da grande alma
da juveiitude, abysmo tenebroso onde nos soier-
rem as espaiisóes dn intelligencia ; o meu reco-
nhecimento devia-vos mais uma palavra, aniigos.
Houve u m dia, em que a vossa generosidade, a
vossa resignncão, e a vossa prudencia, provadas
nos longos dias d'uma servidão moral, tentadas
na continuti~àoaffrontosa d'um despotismo de-
gradante, e dilapidadas na propria dureza d'uma
disciplina comprrssivn, se espaiidiram caiidentes
e brilhantes, como iim volcáo, incendicilas no ar-
dor vivo dos grandes sentiinentos d e lihi~rdadeI
O echo d'esta irruprfio singular repercutiu-se
pelo paiz, como a d e t o n a ~ a oestrondosa do pas-
sado; e lavrando por toda a parte rnpidn, como a
seiva d a vida, que a geriira, despertou em todos o
assombro, odios e irritncrjes em muitos!
O desinteresse ou indifferenca, com que se con-
templam estes mancebos estudiosos, innocenles
borboletas, que lidam na laboriosa gestaciio de
suas metamorphoses, honiuncios descuidosos, que
se protrahern na vida embalados pelos descantes
do cornc80, cherubins da alegria, que se divertem
em seus affectos verdes, por todas as applicacóes
geiierosas, nào tinha prevenida a especttttiva na-
cional parti o espectaculo novo d'estas crysalidas
ein ferinrii~a@íorevol tosa ! Cria-se que as aspi-
racões d'estrs annos se achavam acanhadas pelo
amplexo ferreo d'um estado sem estirnlilos; e O
procediiiiento, pelo qual v6s fazieis estalar as gar-
galfieiras do epirilo, achou o espanto, primeiro
qiie o applauso d o nosso fogo liberal, ou a conde-
rnnacao da nossa teineridadr revoliicio~iaria! O
juizo público suspendeu-se pois, a opiniao vacil-
lou, e por fim discordaram os conceitos. O que
então se disse todos n6s o sabemos; e ainjiistiça
reclamou as vossíis esplica~ões,como transubs-
tanciacão escripta da primeira decisão, enplica-
cões .vasadas nos moldes da energia porque vos
havíeis rebellado jB.
Parecia tudo feito com a luz projectada sobre
os preconceitos do paiz; e todavia eu, passado
pouco tempo, anunciava-vos uma como que a rein-
cidencia d'essas er pliea~óes,paraphrase da vossa
satisfacão publica, e era acolhido nos bragos fra-
ternos do rnais affectuoso apoio l
Lisoiigeado por este siiceesso, que era um per-
filhanirnto, senti duplo prazer, no agrado com
que protegieis a iclêa, e na manifestação gloriosa,
que o era, de que as crencas da juventude podem
brotar n'iim s6 dia, nias nunca se esfriam, não se
extinguem, nào desfallecem -non. dsficimt!
Ap6z u m rapido triumplio nõo decahieis, falle-
cendo-vos estimtilo, niio pr:rdieis a viveza da pri-
mitiva flama ; ereis sempre os mesmos, -faisca9
da liberdade, que scintillaram ao attricto das in-
surreicóes patrias.
Mas 6 que vós pressentieis, que, qualquer que
fosse a sua forma, era o seiitirnento de todos, que
se dilatava, crencas communs, que se denuncia-
viiin, votos a esta edade proprios, qiie se profe-
riam, palpitar simultiineo de nossos coracóes, que
se accelerava, aspiracões sem protesto, que se
espandinm! Sim, v6s não hesitasteis em o crer; e 8
por isso que vos agradece, e vos felicito l
É iirn triuriipho, b uma gloria portugiieza, ver
esta mocidade solid aria ne pensamento sublime
das conquistas para a independencia do pen-
sar.
Almas vivificadas pelo rocio matutino do bello
social não podem jazer destas pris6es d'alrna, sem
se expandirem em enthusiasticos hymnos liberaes,
como o poeta slavo nas soturnas prisões de Vilna.
É que a mocidade E uma epopeia perennal á liber-
dade I JB apaixonada e tumultuosa, como a torren-
te, qiie se despenha, jA fugitiva e vaga, como vBo
incerto d'avc perdida, jti serena e deliciosa, como o
jdylio mudo dos campos, B edade juvenil um canto
eterno a iiidependencia humana l Sem esta deli-
ciaqão do sentir, mystica elevacão da expansibili-
dade, seria o viver a sombra lúgubre do liiniulo,
prolongada nnticipaciio da rnorte, dilatado ensaio
dli iioiti? ettlriia I Por isso 8 que n6s detestamos os
despotas todos. Instrumento da voragiiiosa cubica
dos iiiferiios, cruciadorrs redivivos de Protheo,
ninlditos dolegatios do ~ i m b o ;dissipam todas as
inlluciiçias d o espirilo novo, flagellam-no com a
intoleraricia, iiitrrceptam a projecgao dos raios
luminosos de suas crencas; e pensam desterrar
da Poloiiia u libercliide no exilio de RIicki&viczI
Assilii é (pie esses verdugos tarnbem do nosso
nspirito, para assassiliar no berco n iiiielligencia
do fiituro, iiisiiiuiiin, que nada valemos ; e n6s, lar-
vas da rclgeiieragâo de Portugal, somos tudo, por-
que soinos a esperanca! Ellrs julgam-nos sepul-
tos, como cadaveres, amarrados B eterna igiiomi-
nia do scu anuthema, n'estas cryptns horrendas
em que nos focilisam; e nús agitamo-nos livres
nas proprias algemas; e d'essas cryplas fazemos
as rninas da nossa explosão revolucionaria, das ad
gemas a fraterna unificacão de nosso esforço. Elles
cuidam finalinente insular-nos na sociedade pelo -
descredito, iriventaiido e propalando caliimnias,
e não fazem seiião prestar-nos H mansão, e o re-
trahiineiito, que as grandes machinacóes deman-
dam. Preparam por si mais acrlerada runina.
Ao passo q u e rlles vão decahirido pelo sopro
esterilisador de ideias;-que os acoutaram como
urna rajada da niorte, n6s revivemos pelo bafejo
salutar e feciindo dos principias dernocraticos.
O proplicbt ico conet)ilo d t! Liicils -n w . prnete-
riliit !l,*)io~-r~lio c rtin / i t r ~ b l . veni rnciis
k/cclc t l o ~ ~ eo,)t
qut) 111111ií1 111tvIi110 corri o teiripo, illiiiniiin~sede
todo o fi~lgord'iiinii v~r<lnilcintuitiva 6 luz dos
factos c10 (lia. O irnpillso, n fi~rciiocculta e myste-
riosa, qcir sisiiificic a It;rlia, :t rnstiii~i*aa Polonia, 8
a mesma. quis Iiii tlr il~nancipnra iiitiblligeiicia estu-
diosa tlr Portiigal. Todos riiitrirnos esta cisperança
i . c!iitrc1 os iio~t?llosespessos do fumo
q ~ ~ r r i ( l ;Por
dos cniil16t.s. t h do inoio da confusiio dos esqua-
c] ifitls, ~ I I Pw3aIl;~rriln,íarnniis liiclas da indepen-
deiiiiii, vtliiios siit-yir n cavallriro do ,Ipocalypse,
v~stitlodc nt:vo. coiiio o Thtibor, sinpiiiihando o
estandarte tla i.c.griiiAi.n(;$o e cliiinnndo-rios u im-
mensa proinessu - orietirr cobis sol jusritiae !
É por isso. 6 n'esta graiide f6, qiie v6ç me vedes
arrostando iras ept:rigos por me declarar, sem he-
sita~óes,pelo partido d'essa redrmpçao !
Mas ao proferir os presagios d'um novo fiat re-
võlucionnrio; presngios, que são a ~loquencia
d'esta situacão d'espectaiiva, e anciedade, ha espi-
ritos s i m a l u z do presente, e menos iri tuicão do
futiiro, que se congelam de kustos, e se
agitam rm sa~iclosestreniecimeiitos d'horror; por
que n'ellrs pressentem a ruina de seus substan-
ciosos interesses. Sentem que Ilies foge o terreno
debaixo dos p8s; e pertGbados ante o spectro tre-
mendo d'um genesis convulsivo e anarchico, agar-
raiii-se ao ido10 da ordem, simulacro da inaccão,
do stntci quo, dos privilegios, das aristocracias,
(3 bradam-tios -paz e amor, com todos os esgares
da mais beatifica repugnaricia pelo aspecto do
sangue humano derramado, elles, os hypocritas,
que interiormeiite se deliciam na sua obra I Os as-
salariados da politica napoleonica, no meio da
desesperanca, que os assalta, de suster os sce-
ptros, que escorregam da mão dos tyrannos h voz
imperiosa das niultidões, insultam as maiores in-
telligencias d'lioje, porque chamam o povo B ge-
nerosa partilha de seus direitos I Querem enterrar
vivo e novo Joao do Apocalypse do seculo xrx,
porque lhes prognostica o juizo final de todos 08
despotismos, e promette uma coroa civiea a todos
os martyres da liberdade I São os Mirecourts, nova
raça de zoilos, que se rebellam contra a poesia
das insurreições, contra estas r ~ p s o d i a sliberaes
hauridas pelo genio d e Victor Hugo nas tradicçóes
de 93 e 33 1 Mas deixemos barafustar na irnpoten-
cia esses agentes mercenarios d a tyrannia, pie-
goeiros da paz, improvisados pelo ouro da policia
imperial, e sejamos sempre os cfentes apostolos
da salva~ãouniversal, enviados pelas conviççóes,
que nos adherem ao mestre d'aquella generosa
eschola democratica !
«Ha ahi, diz elle em uma das paginas douradas
do seu evangelho, umaTortaleza enorme de pre-
conceitos, privilegios, superstições. nientiras,
abiisos, violencias, exenip~óes,iniquidrdes e Ire-
vas, qut: nnieaca o mundo com suas torres d'odio.
É preciso demolil-a». Na Franca este castello hor-
rivel cbiimo-se Uaslilha,- em Portugal 4 a Univer-
dade vcl ha ! Moiistruosa ironia da civilisação, af-
frontoso sarcasmo do passado, que s&ergue d'en-
tre a vida d'hoje corno urn spectro d'immobilidade,
B mister, não derribal-a, mas fazel-a reviver das
cinzas, animar-se das ruinas 1
Ao priiiieiro silvar da tempestade, o decrepito
colosso d'ideias velhas, tem d'esmagar na sua es-
trondosa queda. esta cidadella de principias de
Direito divino. E k a v6s, coinpanheiros n'estaslá-
butayóes gesiativas de porvir, qiie cumpre dirigir
o sôpro animador do tufão revolucionario.
As pareneses d'oquello eschola, que pretende
transplantar o quietismo para a politice, esfor-
cam-se por nos persuadir B innceão pelo horror Bs
guerras creadoras do progresso. Mas, amigos,
quando estas batalhas se mostram a agi(aç8o de-
mocratica, alimentada pelas crenças do povo, fer-
mento tumultuoso da ruina das monarchias e dos
imperios, siio um trabalho, que fecunde, anima,
engrandece e canonisa o futuro !
Classicos d'ordem publica, doutores da lei ve-
lha, paleologos da politica, querem modular-nos
a nossa sitiiacão social pelas instifuiçóes impiri-
cas e provisorias da edXae media, reduzir-nos ti
-96 -
~ictividadedo caneer, dar-nos por estiuiulo d e re-
ligiiio iiin syiiibolo caliido ..., mas nhs, fautoros vi-
vitios t i t i porvir, iiggrogariio-iios A poesia do desco-
iiliccidci. 12 l i d i i ~ i i iiilàiigavcis
~s por uiria vida nova,
p ~ l ori~iniitlofiituru dii jiistiya. N'estas diligençias
S P , I I I ~ I ~qiie
S oiiiit vtrz, rtbgamoscom sangue d e nos-
sos irinios à arvore caridusa da liberdade, 6 por-
que nssinl 4 forcoso para fazer accessivel ao povo
o pniiio, que tl'clla peiide, vedado pela vigilancia
dos desl~otas!
Com esta I I O ~ > ~ C Z d'iiituitos
U todos os esforços
se sanctificij 1x1; e iiistrun~eirtosd a justica de Deus
beiii podeinos amor tal hal-os iio ignominioso estan-
darte das suas tractiqcies e elevar-nos h dignidade
de obreiros piiblicos, qiic toinarn a ordem por aspi-
rariío, por iiitiio :i revt)li@o.
Concluindo pois, amigos, peço-vos em nome
das creneas, que vos aiiimam, q u e não isoleis este
rebate individual. Por si s6 pdde invalidar-se. Au-
ctorisado pela repercuscio d e vós todos fortifi-
co-me nos grandes aleritos da solidariedade, ro-
bora-se na inimensa energia da mocidade portu-
guezu 4
Associae-vos pois, sem hesitações, iiernescrupw
los, nem receios ii esta lucta; e, se se cr& nc pres-
tigio d a imprensa, pondel-a ao uso d'esta crusada
sancto, ¶ue'busca a conquista do n o s 6 porvir !
Para entrar ma prela

Do n\emko !iudt~~
:

terno, i~rccrrnmodados ao seu ensino tia Ijtiiversidarfc clo Ctiitniira,


I ~ o l de
. &ZOO paginas eni 8." fr.

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