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2009
A procuração, acto pelo qual alguém atribui a outrem, voluntariamente, poderes
representativos, de acordo com a definição que dela nos dá o Código Civil Português no
seu art.º 262 é, inquestionavelmente, uma das tipologias documentais mais
representadas nos livros de notas dos antigos tabeliães.
Porém, esta redução a escrito de uma vontade particular de pouco serviria ao mandatado
dada a impossibilidade deste se fazer acompanhar do livro em que se exarara o
instrumento de procuração.
Para exemplificar quanto atrás ficou dito, recorreremos seguidamente a uma pública
forma de um instrumento de procuração, datada de 1730, lavrada no cartório do tabelião
António Jorge Torres, de Coimbra, pela qual uma residente dessa cidade constituiu seu
procurador bastante, para efeitos de gestão dos bens da herança de um irmão, falecido
na vila de Avis, a um aluno da universidade, natural daquela localidade alentejana
Feliciano Duarte Pinto que assinou a rogo dela constituinte por lho pedir e rogar e
Manuel Lourenço e António da Cruz todos desta cidade que aqui assinaram […]
Em fé do que este subscrevi e assinei em público e raso de meus sinais de que uso e que
tais são os que se oferecem e eu António Jorge Torres o subscrevi
Francisco Duarte Pereira boticário do partido de Sua Majestade que Deus guarde e
morador nesta vila de Penela reconheço a letra digo reconheço o sinal da procuração
acima ser de António Jorge Torres tabelião que é de notas na cidade de Coimbra o que
sendo necessário juro debaixo do juramento do meu grau Penela 14 de Abril de 1730.
Na mesma data e ainda em Penela, por razões que desconhecemos, José da Cruz
Barradas apresentou a procuração a um dos tabeliães da vila que reconheceu a letra e
sinal do boticário, em termo assinado com os seus sinais público e raso
Eu José Furtado de Morais tabelião do público judicial e notas em esta vila de Penela
e seu termo que sirvo por provimento do doutor ouvidor desta correição de Montemor-
o- Velho reconheço a letra e sinal acima ser de Francisco Duarte Pereira boticário
nesta mesma vila a qual reconheço por continuamente lho estar vendo fazer em fé de
que o reconheço me assinei de meus sinais publico e raso de que uso em esta dita vila e
seu termo aos catorze dias do mês de Abril de mil e setecentos e trinta anos sob os ditos
o escrevi
No mesmo dia ou no dia seguinte, nos arredores Chão de Couce, novo reconhecimento
de assinatura seria acrescentado ao documento, desta feita por um sacerdote, o padre
Domingos Lopes que, referindo-se aos sinais de Furtado de Morais, deixou registado
que
Por ter o sinal em casa reconheço ser o acima com rabo do sobredito. Reconheço a
letra e sinal
Como já antes acontecera com o sinal do boticário de Penela, também o sinal do padre
Domigos Lopes viria a ser, por sua vez, reconhecido por Francisco Gomes da Silva,
tabelião de Chão de Couce como de seguida se mostra
João de Andrade Leite escrivão do Judicial em esta vila de Abrantes e seu termo
certifico e ponho por fé que a letra e sinais público e raso retro próximo é tudo de Luís
Alvares tabelião de notas e judicial na vila de Pussos e por tal a reconheço em fé de
que assinei apresente Abrantes dezasseis de Abril de mil setecentos e trinta
Ainda em Abrantes, no mesmo dia, foram os sinais de Luís Álvares reconhecidos por
outro dos tabeliães da vila
Manuel Gonçalves da Silva tabelião público de notas nesta vila de Abrantes e seu
termo por provisão do doutor ouvidor desta comarca certifico que a letra e sinal ao pé
dela é de João de Andrade Leite escrivão do judicial nesta mesma vila pela ter visto
muitas vezes em fé de que me assinei de meus sinais público e raso de que uso e
costumo fazer Abrantes dezasseis de Abril de mil setecentos e trinta anos sobredito o
escrevi
No dia seguinte, atravessado o Tejo, vamos encontrar o procurador na vila das Galveias,
onde, nas pousadas de um dos tabeliães locais, se procedeu ao reconhecimento da letra e
sinal do escrivão de Abrantes
António Gomes de Almada público tabelião do judicial e notas em esta vila das
Galveias e seu termo por sua majestade que Deus guarde certifico que a letra do
reconhecimento retro é de Manuel Gonçalves da Silva tabelião público de notas da vila
de Abrantes e por tal a reconheço em fé de que me assinei de meus sinais público e raso
de que uso e tais são Galveias dezassete de Abril de mil e setecentos e trinta sobredito
que o escrevi
O último dos reconhecimentos viria a ter lugar em Avis, local de conclusão do negócio
Reconheço ser a letra e sinais público e raso deste conhecimento acima ser tudo de
António Gomes de Almada tabelião e escrivão de todos os ofícios em a vila das
Galveias e por tal as reconheço Avis 28 de Abril de 1730 eu João Barata Godinho as
subscrevi
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A procuração em causa foi extraída de Testamento nuncupativo com que faleceu António Martins
morador na Herdade de Passarinhos deste termo, pertencente ao fundo da Ouvidoria da Comarca de
Avis, Arquivo Distrital de Portalegre (PT/ADPTG/OCAVS/1-1/699)