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MODELOS MENTAIS

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qual é o impacto dos

modelos mentais?
Muita gente respeitável já escreveu sobre a importância dos Wind, Colin Crook e Robert Gunther, ligados principalmente
modelos mentais (MMs), como foi o caso de Fritjof Capra, aos programas da Wharton School, no seu livro A Força dos
no seu famoso livro Ponto de Mutação ou então a Marilyn Modelos Mentais – Transforme o Negócio da sua Vida e a
Fergunson na sua brilhante obra A Conspiração Aquariana Vida do seu Negócio.
na qual trata fundamentalmente das mudanças que ocor- Aliás, eles no seu livro antes de conceituar o que vem a ser
rem nas pessoas e nas suas mentes. um modelo mental (MM), contam a seguinte história: “Você
Agora, torna-se cada vez mais corriqueiro os educadores, está caminhando em uma rua escura em direção ao estacio-
os gurus de negócios e os escritores insistirem no seguinte namento onde está seu automóvel, a várias quadras, do tea-
slogan: “Para as coisas acontecerem de forma diferente tro que você acabou de deixar, já quase às 23h...
é necessário que as pessoas mudem o seu modelo men- Eis que começa a ouvir passos acelerados vindos em sua
tal!!!” direção.
Entretanto como é que dá para fazer isso? Você nem olha para trás, e começa também a apertar o seu
Quem explica muito bem como é possível fazer isso com passo, lembrando as últimas notícias sobre assaltos e estu-
eficácia são os especialistas no assunto e professores Yoram pros que aconteceram alguns dias atrás em local próximo.
Você realmente está andando mais rápido que antes, entre- Isso poderia até ser considerado como instinto de sobrevi-
tanto os passos atrás de si também estão cada vez mais vência, entretanto, nesse caso o que passou a acontecer é
rápidos e começa a notar que quem o está seguindo, o está a “fuga de um criminoso inexistente”...
alcançando... Porém, aí com velocidade maior ainda, sob a claridade da
No final da quadra, sob uma lâmpada da rua, o ‘ruído’ atrás lâmpada da rua, a pessoa imaginariamente perseguida ob-
de você fica muito próximo. Você se vira inopinadamente e teve mais informações e o seu comportamento mudou to-
com muito alívio identifica um conhecido seu, que estava talmente!!!
indo para o mesmo estacionamento!!! Aliás, numa fração de segundo o “perseguido” reconheceu
Após a diminuição imediata da tensão, você o saúda e os o rosto do seu colega, mas novamente baseando-se em in-
dois fazem o resto do percurso falando descontraidamente...” dícios vagos!?!?
É qual a lição que se pode extrair desse evento? Ele não ficou muito tempo observando, a luz da lâmpada não
Inicialmente deve-se ressaltar que no instante em que a pes- era muito forte e nem meditou profundamente a respeito.
soa que ia a frente reconheceu o rosto do seu colega, a rea- Naturalmente que existiam outras possibilidades, por mais
lidade da situação não mudou nadanada, mas o mundo na men- absurdas que possam ser, tais como: ser um assaltante usan-
te do suposto perseguido foi totalmente transformado
transformado. do uma máscara para parecer-se com um colega ou então
A imagem do perseguidor que iria atacá-la foi alterada radi- de fato esse conhecido estava esperando por essa oportu-
calmente na imagem de um amigo. nidade para agredi-lo ou até matá-lo...
Em seguida é fundamental salientar que em muitos casos Entretanto essas alternativas eram tão improváveis que o
uma pequena mudança no contexto realmente pode ter uma indivíduo perseguido – pode certamente ser você em mui-
influência radical numa certa situação. tas circunstâncias simulares – não as considerou nem um
Lamentavelmente a pessoa que se achava perseguida criou pouco.
um cenário completo do que eventualmente poderia ter ocor- Ele viu o rosto e rapidamente o seu comportamento (ou ati-
rido fundamentando-se em uma quantidade reduzida de in- tude) passou do temor para alívio (de medo do “inimigo” à
formações, ou seja, o som de passos de alguem atrás si, se calma de encontrar com um “amigo”).
aproximando cada vez mais rapidamente!?!? Felizmente a maior parte desse drama foi criado na própria
Claro que isso fez com que o “perseguido” recordasse notí- imaginação da pessoa que se julgou perseguida...
cias de crimes e agressões violentas que aconteceram à Mas o que não se pode deixar de fixar na mente de cada
noite nessa região, o que foi constituindo a sua imagem de indivíduo, após esse exemplo de uma perseguição imaginá-
uma possível agressão!?!? ria, é que inúmeras pesquisas em neurociência mostram que
Ele modificou seu comportamento fundamentado na sua a mente humana descarta a maior parte dos estímulos sen-
avaliação da situação, ao começar a andar bem depressa soriais que uma pessoa recebe.
para “escapar” de um potencial criminoso. Portanto daí surge a grande constatação: o que um indiví-
duo vê é o que ele pensa e aceita como verdadeiro!?!?
É verdade que isso não é 100% certo pois muitas pessoas
sem nunca terem visto acreditam em muitas coisas que vão
de Papai Noel ou o Homem Aranha, até nos pensamentos
que se originam partir de crenças religiosas...
Certamente uma das ilusões mais persistentes – e prova-
velmente a mais limitadora – é a crença de que o mundo
que vemos é o mundo real.
Aliás, raramente colocamos em dúvida nossos próprios
modelos do mundo até que sejamos forçados a fazê-lo.
Assim, a Internet tem dias que parece para cada pessoa
extremamente atraente, indispensável e fabulosa e em ou-
tros dias ela é encarada como escravizadora, como uma fer-
ramenta diabólica de perda de liberdade e de invasão de
nossa privacidade.
A Internet está mudando radicalmente a vida de todas as
pessoas na Terra, nos seus hábitos, nos seus negócios, nos
seus momentos de lazer, etc.
Por exemplo, os internautas norte-americanos que tem co-
nexão de banda larga nas suas casas, assistem, semanal-
mente, duas horas a menos de televisão por semana do
que aqueles ainda desconectados.
Jerry Wind destaca que é vital sempre conhecermos as marcas insuperáveis que Nos EUA, num estudo feito em 2005 pela empresa Forrester
limitam a nossa vida. Research constatou-se que aqueles que não têm Internet
Icann é uma associação norte-americana sem fins lucrativos
MODELOS MENTAIS que detém a chave tecnológica através da qual são distribuí-
dos os nomes de domínio, ou seja, os “endereços” na Internet,
permitindo que um e-mail chegue ao seu destinatário!!!
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É a Icann portanto, uma organização fundamental da rede, pois
sem ela, nenhum computador se comunica com outro outro.
Nenhuma empresa com outra.
Nenhum país com outro.
Você caro leitor não poderia mais enviar qualquer mensa-
gem que quisesse para um colega.
Teria que voltar a usar correio, fax ou outro meio, no mínimo
bem menos eficiente.
Portanto, quem controla a Icann controla a Internet
Internet, e como
conseqüência o mundo das comunicações do século XXI.
Dessa maneira fica evidente nos dias atuais que o seu po-
der é imenso, pois ela pode, por exemplo, desconectar qual-
quer endereço da rede, pode isolar um país inteiro ou até
tornar o mundo todo incomunicável!?!?
Obviamente numa situação extrema de guerra seu poder é
inimaginável, pois exército nenhum, economia nenhuma, país
algum resistiria nos tempos atuais sem Internet (!?!?), sem
poder se comunicar consigo mesmo.
Não é pois sem motivos que o governo norte-americano to-
mou essa decisão, visto que está em jogo o pleno domínio
de uma importantíssima instituição estratégica, talvez um
MM essencial para todos os seres humanos...
Um livro imperdível. Toda pessoa que quer mudar seus pressupostos encontra- O Congresso norte-americano tinha delegado ao Departa-
rá nesse texto a “receita” para promover essa modificação. mento do Comércio o poder de regular a Internet.
Mas, durante o governo do presidente Bill Clinton, tendo em
passam cerca de 14h por semana em frente à TV, contra vista o interesse global envolvido, foi feita uma modificação
11h30min gastos pelos internautas que têm acesso rápido. fazendo com que o departamento delegasse à Icann – uma
Nos próximos anos, as emissoras de TV tradicionais vão en- entidade com representantes de todos os países interessa-
frentar uma queda de audiência ainda maior, pois o número dos – o poder de distribuir e operar os nomes de domínio.
de usuários residenciais que utilizam a banda larga nos EUA Além disso, foi estabelecido um período de transição para
não vai parar de crescer: eles eram 36 milhões no final de que essa delegação fosse concluída.
2005 e prevê-se que cheguem a 72 milhões em 2010!!! Na realidade esse modelo tinha duas vertentes.
No Brasil, um estudo do IBOPE/Net Ratings do 2º trimestre De um lado, procurava assegurar uma governabilidade pro-
de 2005 indicou que 65% dos internautas domésticos brasi- gressivamente multilateral.
leiros navegam pela Web durante o “horário nobre” entre Por outro, enfatizava mais as comunidades tecnológicas que
20h e 22h, um horário que gera ainda excelentes índices de os governos.
audiência para as emissoras de TV. Aliás, a representação por país não se faz em termos estri-
Muitas dessas pessoas utilizam a Internet simultaneamente tamente oficiais.
à TV, fazendo dela (a Internet) uma mídia complementar, O Brasil, por exemplo, tem dois integrantes no Conselho de
quando não a principal, para algumas faixas etárias. Administração da Icann, de um total de 18.
Se a nossa vida é cada vez mais dependente da Internet, Eles não são membros do Itamaraty, mas sim indicados pela
algumas preocupações começam a surgir sobre ela tais comunidade de informática.
como a segurança e a estabilidade. Pois toda essa transição foi radicalmente interrompida pelo
Assim, por exemplo, em 1998, os EUA assumiram o com- governo do George Bush, em nome da garantia de uma
promisso de abrir mão do controle que exercem sobre a estável
Internet “estável segura
estável” e “segura
segura”, decisão que decorre certa-
Internet mundial. mente da mesma política dos EUA que inspira unilateralismo
E em 2006 decidiram outra coisa, ou seja, manter o seu no meio ambiente (não assinando o Protocolo de Kyoto), no
controle indefinidamente!?!? protecionismo econômico e na geopolítica.
Esse controle é exercido pelo poder de veto que o Departa- Na realidade, a transição caminhava perigosamente em di-
mento de Comércio Norte-Americano tem sobre as ativida- reção à criação de um órgão multilateral oficial dos países,
des estratégicas da Icann (Internet Corporation for Assigned inspirado no modelo da Organização das Nações Unidas
Names and Numbers). (ONU).
Porém esse caminho era polêmico e não muito tranqüilo e das outras e o progresso se faz pela capacidade de inovação
eficaz como tem-se verificado com as inúmeras atitudes e invenção institucional seja a nível local ou global.
tomadas pela ONU e não respeitadas por algumas nações... Porém a decisão unilateral do governo George Bush pode
Esse caminho traria pelo menos três conseqüências princi- tornar catastrófico ficar cada vez mais dependente da
pais. Internet, pois ao mesmo tempo se estará ficando cada vez
Primeiro, faria com que o processo de decisão fosse lento, mais sob o controle da Icann!?!?
sendo hoje a agilidade da Icann um ativo vital. Claro que esse é um exemplo, preocupante por sinal, de
Segundo, submeteria os EUA, que inventaram a Internet e a uma inovação tecnológica – a Internet – ou seja um MM
própria Icann, a países de pouca ou quase nenhuma experiên- que nos permite uma maneira de olhar, entender e conviver
cia tecnológica. com o mundo.
Terceira, a ONU, a Organização Mundial do Comércio (OMC) A expressão modelo mental (MM) ou um “pressuposto” des-
e a Organização Mundial da Propriedade Industrial (OMPI), creve o processo cerebral que um ser humano utiliza para
passariam a influir na Icann. dar sentido ao mundo.
O desafio no momento é que não é nada fácil criar um ter- As diferentes maneiras pelas quais damos sentido ao nosso
ceiro modelo de controle da Internet que escape da mundo são determinadas principalmente pela nossa mente
dicotomia entre um modelo unilateral (que está em vigor...) e em menor proporção pelo mundo externo.
e o modelo multilateral oficial no estilo da ONU. Portanto, reforçando, é a esse mundo interno de neurônios,
Na realidade o ideal seria ter um terceiro modelo que sinapses, neuroquímica e atividade elétrica, com sua estru-
viabilizasse ao menos as duas autonomias atualmente tura incrivelmente complexa – funcionando de uma forma
inexistentes
inexistentes. que até o momento só entendemos parcialmente – que se
Primeiramente, a autonomia financeira (!!!) pois a quase to- denomina de MM.
talidade dos recursos necessários para manter a Icann vem Esse MM dentro do nosso cérebro é a nossa representação
de empresas privadas norte-americanas. do mundo e da nossa própria existência.
Naturalmente, melhor seria se a Icann tivesse sua própria Como componente central de nossa percepção e pensamen-
fonte de recursos, através de um sistema pago de registro to os MMs surgem freqüentemente em discussões de to-
dos nomes de domínio. madas de decisão, aprendizado organizacional e pensamento
Em segundo lugar, a existência de uma autonomia criativo.
tecnológica, pois dos 13 servidores-raiz da Internet exis- Ian I. Mitroff e Harold A. Linstone no seu livro The Unbounded
tentes no mundo, dez são operados nos EUA, submetidos a Mind: Breaking the Chains of Traditional Business Thinking,
um rigoroso controle físico e tecnológico por instituições analisam de maneira brilhante o impacto dos MMs no pensa-
norte-americanas. mento comercial criativo, destacando a necessidade de se
Os outros três estão na Inglaterra, no Japão e na Suécia. questionar todos os postulados-chave existentes, especial-
Certamente uma descentralização tecnológica que permitisse mente ao se mover de um “pensamento antigo” para o “novo
digamos à América Latina ter em seu território um servidor- pensamento de sistemas sem fronteiras”.
raiz, daria seguramente uma maior “liberdade” ao sistema. A percepção é algo que precisamos dominar mais pois,
Quando os EUA criaram a Icann, introduziram um processo muitas vezes aquilo que “vemos” não é o que vemos vemos.
de invenção institucional inédito na regulação de atividades E o que “vemos” é o que pensamos!!!
globalizadas, o que aliás foi extremamente positivo e eficaz. Por exemplo, o que você estimado leitor vê nas Figuras 1, 2,
Afinal de contas, as gerações e as nações se distinguem umas 3 e 4?

Figura 1 – Qual é o problema que tem o Figura 2 – Você é capaz de ajudar Figura 3 - A primeira impressão é de um Figura 4 – A mãe está pensando sobre o seu
vovozão? o senhor Gregório a achar a sua abraço entre amigos, não é? filho. Você consegue enxergá-lo?
esposa Marisa?
1 - Qualidade de vida e bem-estar.
MODELOS MENTAIS Realmente a cada dia, somos bombardeados com novos
estudos médicos e outras informações pertinentes ao bem-
estar pessoal.
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Alguns estudos indicam que certos alimentos ou atividades
têm conseqüências maléficas ou benéficas.
Alguns desses trabalhos são contraditórios, como por exem-
plo a milagrosa dieta fundamentada no tipo de sangue de
cada pessoa, que para alguns especialistas é inverídica...
Nesse sentido, diversos estudos publicados inclusive em
jornais médicos respeitados às vezes são desautorizados
ou considerados não totalmente conclusivos.
Assim, todo aquele que quiser escolher uma dieta para per-
der peso, irá se deparar com uma cacofonia de dietas
conflitantes.
A forma como vamos discernir nesse quadro de opções pode
Bem, aí vão as interpretações: ter implicações significativas na extensão e na qualidade da
Na Figura 1 de fato os olhos do vovô estão duplicados, po- nossa vida.
rém para os olhos de muita gente essa duplicação é inacei- Aí o MM que for escolhido vai ter um papel crucial não só no
tável e por isso as suas mentes automaticamente procuram nosso pensamento como nas nossas ações.
corrigir essa repetição. Há até aquelas pessoas que ao olhar
pela primeira vez para o vovô acham que tudo está normal... 2 - Crescimento das corporações.
Na Figura 2, se você quer acalmar o senhor Gregório, basta Muitas empresas crescem usando o modelo tradicional, isto
virar o seu desenho de ponta cabeça e aí encontrará a é, trabalhando duro para produzir um artigo (ou oferecer um
Marisa. Que legal, não é? serviço) que o mercado demanda.
Na Figura 3, se você afastá-la o suficiente conseguirá ver Outras crescem através de fusões ou aquisições.
um palhaço vestindo um chapéu com três pontas. Fantásti- Porém muitas empresas surgiram nas últimas décadas e
co, não é? obtiveram sucesso pois souberam construir novas estraté-
Na Figura 4, todo aquele que olhar com mais atenção para gias criativas e saudáveis para o crescimento, conseguindo
o rosto da mãe acabará também enxergando o seu filho. a redução da rotatividade de clientes, maximizando o valor
do ciclo de vida dos clientes, aumentando a sua participa-
Espantoso o que a nossa mente permite em termos de in- ção no mercado, entrando em novos mercados, acrescen-
terpretação, não é? tando novas opções de distribuição, estendendo a marca
Claro que sim!!! para novos produtos/serviços, criando novas marcas, etc.
Mas o que é que mudou nessas figuras? Obviamente isso significa que os seus executivos procuram
Na realidade nada, apenas a nossa percepção. fazer de novos MMs, ferramentas indispensáveis para quem
De fato, o que está diante dos nossos olhos não sofreu alte- quer melhorar o desempenho de sua organização.
rações, mas o que está atrás (ou dentro) deles mudou. Naturalmente antes de incorporar um MM ao seu portfólio,
Portanto o mesmo olhar pode produzir uma percepção bem qualquer pessoa e em particular o gestor de uma empresa
diferente
diferente. deve:
Geralmente confiamos bastante naquilo que vemos com ● examinar a sua utilidade;

nossos próprios olhos ou percebemos com nossos outros ● enxergar nele um novo uso;

sentidos. ● evitar que ele o leve para o “lado escuro”, isto é, voltar à

Aliás, várias pesquisas recentes comprovam que freqüente- sua velha maneira de pensar.
mente usamos muito pouco das outras informações senso-
riais (excluindo a visão...) que recebemos do mundo exter- Apesar desse cuidado, não é difícil embarcar numa cavalga-
no, ou seja, elas são descartadas. da bem acidentada, ao se escolher um novo MM.
O fluxo de entrada de imagens no nosso cérebro, faz tam- Esse talvez seja o caso do progresso lento (ou até do insucesso
bém evocar outras experiências de nosso mundo interno. de uma idéia supercriativa), que está se constatando na evolu-
A maior parte do que vemos fica (ou está) na nossa mente. ção dos transportadores pessoais Segway – os superpatinetes
E aí o nosso cérebro torna-se a “máquina criadora de MMs” que visavam revolucionar os transportes.
e podemos até construir “simulações virtuais da realidade” Tudo faz crer que o fracasso se deve ao fato que se investiu
do mundo, agindo inclusive sobre elas. numa invenção cuja hora ainda não chegou chegou!!!
Os MMs afetam cada aspecto de nossa vida pessoal e pro- E é importante ressaltar que o superpatinete Segway, que car-
fissional e da sociedade não qual vivemos, nas seguintes rega o usuário em pé pelas calçadas de uma cidade, respon-
perspectivas: dendo aos sutis movimentos do seu corpo para mudar de velo-
cidade e direção, foi apoiado por uma farta publicidade. 3 - Diversidade e o bem-estar.
Convidados dos mais famosos talk-shows da TV nos EUA Os MMs têm um papel-chave nos debates sobre os desafios
andaram com eles, inclusive o presidente George W. Bush. da sociedade no século XXI, quando se busca solucionar as
Dean Kamen, o carismático inventor do Segway antevia seu discriminações históricas no tratamento de minorias étni-
novo produto como uma revolução nos transportes que iria cas ou de outras populações (como ocorre ainda com as
encher as calçadas das cidades mundo afora. Esse era o mulheres em muitas partes do mundo).
seu MM. A escolha por parte dos governantes de MMs adequados
Por ocasião do lançamento público em dezembro de 2001, permite o estabelecimento de uma legislação de plena jus-
considerando que esse seria o produto de maior sucesso de tiça para todos os seres humanos.
todos os tempos, Dean Kamen previu que no fim de 2002
ele estaria produzindo 10 mil máquinas por semana. Portanto, na sua vida pessoal, nos negócios e na sociedade
O investidor, John Doerr, antecipou também que a sua em- são os MMs que restringem as nossas ações.
presa iria atingir US$ 1 bilhão em vendas mais rapidamente Fica evidente também que as limitações dos MMs antigos
de que qualquer outra empresa na história. podem levar também à perda de oportunidades, tais como
Porém nada disso aconteceu com o Segway, pelo menos as batalhas de propriedade intelectual no comércio de mú-
até agora... sicas, textos e idéias em geral, que aparecem como se fos-
Na verdade, a maioria das pessoas acabaram vendo a coisa sem de ninguém, na Internet.
de outro modo. Dessa maneira, na nossa vida pessoal, por exemplo, a ma-
Isso porque os potenciais usuários, tanto corporativos como neira de encarar dietas, exercícios físicos e o próprio bem-
particulares, rapidamente perderam interesse por esse ma- estar tem obviamente um impacto vital na nossa aborda-
ravilhoso projeto e acharam alto o seu preço e escassa a sua gem de prevenção e tratamento de todas as doenças.
utilidade, comparados com outras formas de transporte. Os MMs dos nossos relacionamentos e a forma de trabalho
Também os órgãos governamentais não foram unânimes em têm uma grande influência na qualidade e no rumo da nossa
considerá-lo um benção para a vida urbana. vida.
Ao contrário, eles viram o Segway como um perigo e cidades
Um segurança num Segway na frente do MAB da FAAP
como San Francisco baniram o superpatinete das suas calça-
das, considerando o veículo zunindo por aí à velocidade máxi-
ma de 19km/h como uma ameaça para os pedestres.
Clientes potenciais, como carteiros, consideravam-no pe-
sado e caro e reclamavam da duração das baterias.
O custo era alto demais para todos, menos para aqueles
extremamente ávidos em parecer modernos e em adotar
novas tecnologias.
Todos esses problemas são bem típicos na adoção de um
nova tecnologia, e em particular de um novo modelo de trans-
porte, que já tem muitas variantes.
A primeira geração dos produtos em geral é sempre muito
cara, muito volumosa, de difícil manejo e muito lenta para
ser aceita.
Mas, o sucesso decisivo de uma nova tecnologia, particular-
mente quando apresenta um novo MM, depende fundamen-
talmente da sua utilidade comparada com outras abordagens.
De fato, o progresso vagaroso (até agora...) do Segway le-
vantou algumas questões em relação ao MM em que se
baseou.
Ficou difícil encaixar o Segway em relação aos outros tipos
de transporte bem mais baratos e populares como o patinete,
a bicicleta, andar a pé, também como posicioná-lo adequa-
damente como vantajoso para viagens longas, para as quais
já se têm a motocicleta, o automóvel, o trem e o avião.
Tudo faz crer que para boa parte dos potenciais compradores
o MM do Segway passou a ser o de um brinquedo tecnológico
tecnológico!
Não nós da FAAP, onde o pessoal da segurança desloca-se no
campus no sofisticado equipamento, com muito eficiência,
como também fazem muitos alunos no enorme campus da
famosa Universidade de Stanford nos EUA.
importante porque a força e o poder
MODELOS MENTAIS da mente são ilimitados.
E toda a energia humana pode ser con-
trolada pela atitude correta da
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mente.”
Assim, como os pressupostos de to-
dos os corredores antes de maio de
1954 os mantiveram limitados a cor-
rer uma milha em quatro minutos (ou
mais...) – e o novo modelo criado por
Roger Bannister liberou-os para
excedê-lo – os nossos MMs também
limitam ou expandem nosso mundo!!!
Naturalmente percorrer a milha em
menos de quatro minutos não foi
indicativo de que os seres humanos um
dia conseguirão percorrê-la em um
minuto (!?!?), desde que se disponham,
O tranqüilo deslocamento de Segway no meio dos alunos num intervalo entre aulas.
porém certamente representou um
Nossos MMs em questões de negócios como crescimento feito que abriu inúmeras novas possibilidades!!!
ou controle corporativo levarão a conjuntos muito diferen- Portanto, reconhecer os MMs do nosso pensamento – como
tes de estratégias para as empresas nas quais trabalhamos. fez há mais de 50 anos o corredor Roger Bannister para
Por outro lado, os MMs quanto ao papel do governo ou em acabar com o mito da milha em 4 minutos – é o primeiro
relação a estrutura da economia – livre mercado versus pla- passo para começar a entendê-los e, se necessário, para
nejamento centralizado, por exemplo – podem ter implica- mudá-los!!!
ções dramáticas na prosperidade dos cidadãos. Se pudermos compreender então que a maior parte do que
Com efeito, a transformação do nosso mundo se inicia com estamos vendo e pensando em um dado momento está vin-
uma mudança na forma como pensamos sobre ele. do de dentro e não de estímulos externos, daremos um gran-
Assim quanto mais entendermos o importante papel dos de salto à frente na nossa vida profissional e pessoal.
MMs nesse processo e quanto mais formos capazes de iden-
tificar esses MMs, melhor poderá cada um de nós avaliar os
Roger Bannister sendo amparado após o tremendo esforço para percorrer a
seus pontos fortes e as suas limitações (ou fraquezas). milha em menos de 4 minutos.
Nesse sentido uma estratégia eficaz é a de procurar manter
os MMs que possibilitem a cada um desempenhar-se efici-
entemente no mundo e livrar-se o mais breve possível da-
queles que nos restringem desnecessariamente.
Um exemplo disso é manter vivo o MM vinculado ao mundo
AFP PHOTO

analógico e não aderir amplamente ao MM conectado com


a vida digital.
Um outro exemplo clássico de abandono de um MM é aque-
le do fantástico corredor Roger Bannister que não aceitou
que correr uma milha com um tempo menor de 4 minutos
era impossível!?!?
A milha percorrida em menos de 4 minutos aconteceu em
maio de 1954, numa pista em Oxford, sendo que o tempo
obtido por Roger Bannister foi de 3 minutos e 59,4 segundos.
O incrível é que dois meses depois, na Finlândia, o tempo
“milagroso” para a milha de Roger Bannister foi superado
pelo seu rival australiano John Landy, que conseguiu o tem-
po de 3 minutos e 58 segundos.
E nos três anos seguintes, 16 corredores quebraram esse
recorde.
Para alcançar o seu objetivo, a abordagem que Roger
Bannister usou, concentrou-se tanto no condicionamento
de sua mente como no condicionamento físico.
Roger Bannister escreveu: “A abordagem mental é muito

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