Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Exemplos de efeitos ouroboros
“Em 1944, 29 renas foram importadas para a ilha de St. Mattew, no mar de
Bering. Especialistas calcularam (bem corretamente) que a ilha poderia suportar
entre 1600 e 2300 renas, e em 1957 a população havia crescido para 1350. Mas
em 1963, sem controle natural ou predadores, a população alcançava 6000, e nos
próximos três anos essa população exauriu os recursos da ilha e despencou,
deixando apenas 42 espécimes lutando de modo precário pela vida” – David R.
Klein
“Naturalmente, uma prisão deve ter uma indústria. Isto ajuda a manter os presos
ocupados. Distrai a mente deles da chatice a da futilidade de suas vidas. Nós
vivemos numa grande prisão chamada civilização. Nossa indústria? Consumir o
mundo. (...) Os homens brancos não são os carcereiros, são prisioneiros assim
como todos nós. Apesar de todos os seus privilégios, eles não têm a chave da
prisão. O crucial para nossa sobrevivência não é a redistribuição de poder e
riqueza dentro da prisão, mas o fim da prisão em si. (...) Os prisioneiros
reconstroem a prisão para si mesmos a cada geração. Ninguém os obriga a isso,
nossos governantes não governam a prisão, apenas organizam os prisioneiros.” –
Daniel Quinn
Era uma vez um grupo de pessoas que foi colocada num campo de
concentração, e assim ficaram por tantas gerações que tinham se esquecido do
porque foram colocadas lá. Com o passar do tempo começam a achar que sempre
viveram num campo de concentração, e que nenhuma outra vida é possível, a não
ser num paraíso mítico. Começaram a tratar as cercas como proteções necessárias
e benéficas. Começaram a tratar a tortura como deveres morais. Os guardas
também se esqueceram de como isso começou, e passaram a ser vistos não como
inimigos, mas como membros de status elevados, cuja função é essencial para a
organização e o funcionamento adequado da sociedade.
Mas algumas pessoas se perguntaram se a vida humana foi sempre
assim, ou se um dia houve vida fora do campo de concentração, sem os guardas,
3
as cercas e as torturas. E o que as pessoas responderam foi: "É claro que não.
Seria um caos se vivêssemos fora das cercas, sem os guardas para nos organizar e
a tortura para nos educar. Lá fora é perigoso. Estamos bem melhor aqui". Alguém
encontrou um diário muito antigo, que estava enterrado bem fundo na terra. O
diário descrevia a vida de alguém que viveu antes do campo de concentração.
Apesar de não ser uma vida perfeita, as pessoas não viviam confinadas e não
havia cercas. Mas as pessoas disseram: "Essas pessoas eram primitivas e
atrasadas, não queremos voltar a viver como elas! Naquele tempo, antes dos
guardas rasparem nosso cabelo, nós vivíamos cheios de piolhos. Ninguém quer ter
piolhos. É bem melhor com o cabelo raspado, não suportaríamos ter cabelos
novamente. Nós abandonamos essa vida atrasada, somos avançados agora, não
podemos voltar atrás. Veja como nossa indústria é avançada agora, você poderia
viver sem as coisas que construímos agora, graças ao trabalho forçado? Quem te
protegeria de predadores e da maldade humana, fora da cerca?".
Mas alguns disseram: "Se já vivemos em bem antes, podemos viver
novamente. Não precisamos das cercas e dos guardas, podemos viver de uma
outra maneira". E o que as pessoas responderam foi: "Vocês são utópicos. Como
esperam sobreviver sem cumprir as regras do campo? Imagine se parássemos de
cavar as covas coletivas? Onde colocaríamos os cadáveres das execuções? E se
parássemos com as execuções, como manteríamos as pessoas na linha? Essa
proposta é completamente absurda".
4
Antes a civilização a mortalidade era alta, a expectativa de vida era baixa,
vivíamos inseguros e desesperados, sem tempo para criar arte e ciência. Mas a
população humana era estável, a mortalidade não era maior que dos outros
primatas. Agora temos estouro populacional, que é muito mais prejudicial. A taxa
de suicídio em sociedades industriais é claramente crescente, os tribais até hoje
vivem com muito mais tempo livre que nós. A expectativa de vida não pode
crescer além dos limites biológicos, estabelecidos por seleção natural. A
expectativa de vida despencou com a introdução deste modo de vida. O que
tivemos foi recuperação à base de drogas que agora ameaçam provocar epidemias.
Trocamos qualidade por quantidade. Estamos a salvo de predadores, mas muitas
vezes mais inseguros em relação a todo o resto, inclusive em relação a nós
mesmos. Colocamos em perigo todo nosso habitat, e procuramos salvação com
cada vez mais desespero.
Cultura cancerígena
Toda célula do seu corpo tem uma função importante. Quando uma
célula não tem mais função para o corpo, ela é expelida. Se ela continua se
reproduzindo, sem função para o corpo, ela é cancerígena. O câncer deste planeta
não é a humanidade. A humanidade viveu bem por 250 mil anos. O câncer desse
planeta é nosso modo de vida expansivo. Não precisamos nos livrar da
humanidade, só precisamos nos livrar deste modo de vida. Ele está em nossas
cabeças e em nossas mãos. É o que você pensa e é o que você faz, mas não é
quem você é. E isso é uma boa notícia, porque não podemos mudar quem nós
somos, mas podemos mudar o que pensamos e o que fazemos.
“Os povos mais primitivos do mundo têm poucas posses, mas não são pobres.
Pobreza não é uma pequena quantidade de bens, nem é apenas uma relação entre
meios e fins. Acima de tudo, é uma relação entre pessoas. Pobreza é um status
social. Assim como é uma invenção da civilização” – Marshall Sahlins
6
O dogma de Marx
A moralidade obrigatória
O espectro do capital
“Temos apenas uma coisa para desistir: nosso domínio. Não somos donos do
mundo. Não somos reis aqui, não somos deuses. Podemos desistir disso? É
precioso demais, todo esse controle? É tentador demais, ser um deus?” – Ethan
Powel
Goiânia, 24/04/08
E-mail: janosbirozero@gmail.com
Site: largue.wikispaces.com