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HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA

Daniel Valente Batista *

‘Primeiro aprenda a ser um artesão, isso não o impedirá de ser um gênio’ (Anônimo)

MÓDULO I – Noções Gerais, Classificação, Diagnóstico e


Manejo Inicial
INTRODUÇÃO
A frase inicial desse texto reflete bem o pensamento do estudante de medicina ainda nas
fases iniciais do seu aprendizado. O desejo de observar , diagnosticar e saber tratar as doenças
de grande complexidade e, talvez, maior ‘glamour’ muitas vezes faz com que o estudante se
descuide do aprendizado das patologias básicas da medicina. Quando se fala em Cardiologia, a
Hipertensão Arterial Sistêmica(HAS) ,provavelmente, é a patologia que melhor se encaixa no
acima exposto. É uma doença comum e fator de risco para Grandes eventos cardiovasculares,
Cerebrovasculares e Renais.Contudo, muitas vezes é banalizada pelo estudante.Poucos são os
que realmente se aprofundam em seu estudo. De fato, é mais empolgante para o jovem aprendiz
da medicina se debruçar sobre as condutas e propedêutica das Síndromes Coronarias Agudas, da
Dissecção da Aorta e do Choque, por exemplo. Além de serem mais atraentes de se estudar, a
correta conduta nos casos citados trás um retorno imediato,mais palpável.Afinal, se conduzido
adequadamente, o paciente poderá sair de um quadro de morte iminente para completa
estabilização e recuperação, ao passo que o correto tratamento da HAS só mostrará resultados a
médio e longo prazo, exceto nas situações de Urgência/Emergência. E se antes de tratar o
Infarto, a Insuficiência Cardíaca, o AVC nós pudéssemos prevenir a instalação deles?

A Hipertensão Arterial Sistêmica é uma patologia definida como níveis de Pressão


Arterial persistentemente elevados em um nível superior a 140x90 mmHg. A sua presença é um
fator de risco independente para Infarto Agudo do Miocárdio, Acidentes Vasculares Cerebrais ,
Doença Renal Crônica, além de uma série de outras doenças. Em cerca de 90 a 95% das vezes a
sua etiologia é primária ou idiopática, ou seja, não se conhece uma real causa para a manutenção
da Pressão Arterial persistentemente elevada. No restante dos casos, pode-se identificar um
substrato real que esteja causando a Hipertensão,ou seja, a hipertensão é secundária a uma
patologia, por exemplo, Hipertireoidismo ou Acromegalia. A importância da pesquisa da causa
secundária reside no fato de que uma vez tratada a causa base os níveis pressóricos tenderam a
cair e retornar aos valores antes da doença base. É importante frisar que apesar de ser descrito
um aumento dos níveis pressóricos com a idade (em decorrência de processo aterosclerótico
levando a uma ‘rigidez’ vascular, por exemplo) o conceito de que o aumento isolado da pressão
sistólica no idoso deveria ser considerado um sinal ‘normal’ do envelhecimento é errado e,
portanto deve ser abandonado.Outro importante observação a respeito da Hipertensão reside na

Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Membro Integrante da Liga do


Coração – Faculdade de Medicina- UFC
própria definição: o fato da necessidade haver um aumento ‘persistente’!Em condições normais,
como fazer exercícios, nós temos aumentos fisiológicos da Pressão e nem por isso somos
Hipertensos.

O fato da necessidade de uma constatação de aumento persistente faz com que seja
inadequado o diagnóstico de Hipertensão na primeira consulta ( exceto para pacientes que
estejam apresentando urgência/emergência hipertensiva, ver Diagnóstico).

Devemos lembrar que o diagnóstico da Hipertensão representa um estigma muito


grande ao paciente. Além de ser fator de risco para eventos catastróficos (IAM,AVC,..), é uma
doença crônica onde NÃO se pode obter a cura,mas SIM o controle (como em boa parte das
Doenças), e que sujeita o paciente a uma série de mudanças no seu estilo de vida e, em grande
parte das vezes, necessita de um tratamento farmacológico diário e indefinido.

Não é pretensão desse texto esgotar o assunto ou detalhar excessivamente o manejo do


Paciente. Para isso, há inúmeros Consensos e Diretrizes com condutas bem detalhadas de livre
acesso e disponibilizados na Bibliografia. O objetivo deste trabalho é tentar facilitar o contato
inicial do Estudante com a Matéria e instigá-lo a buscar o Conhecimento!

Portanto, que aprendamos primeiro o básico para depois Tratarmos o complexo!

CLASSIFICAÇÃO
Há varias diretrizes e protocolos e,portanto, diversas maneiras de classificar a
Hipertensão Arterial. Nesse texto, será utilizada a Classificação do The Seventh Report of the
Joint National Commitee on Prevention, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure.
The JNC 7 report. JAMA 2003.A escolha dessa classificação foi preferida pela simplicidade dos
seu dados, que dividiram a Hipertensão em quatro estágios: Normal, Pré-Hipertenso e Estágio 1
e Estágio 2, facilitando assim a memorização e o aprendizado.

PA classificação PAS mmHg PAD mmHg


Normal <120 <80
Pré-Hipertenso 120-139 80-89
Estágio 1 140-159 90-99
Estágio 2 ≥160 ≥100
A inclusão no grupo se faz pela presença da maior PA, seja a sistólica ou a diastólica.

HISTÓRIA CLÍNICA DO PACIENTE HIPERTENSO


Na história clínica voltada para o paciente com suspeita de hipertensão alguns dados
devem ser obtidos obrigatoriamente. Esses dados, no geral, irão servir para alertar sobre a
etiologia (primária ou secundária), a presença de lesões de órgãos alvo ( ver Lesões em Órgãos
Alvo) e orientar o tratamento não-farmacológico e o medicamentoso.
Identificação:

É imprescindível saber a idade do paciente, uma vez que a Hipertensão Primária


geralmente se apresenta entre os 20 e os 50 anos, paciente com níveis pressóricos elevados
iniciados fora dessa faixa etária tem uma maior probabilidade de apresentarem causas
secundárias.

HDA:

Caracterizar bem o a queixa do paciente, se é que ele tem queixa.Como sabemos a HAS
é uma doença insidiosa e ,muitas vezes, o seu diagnóstico é feito em Pronto-socorros ou em
consultar ambulatoriais onde o paciente comparece por outros problemas. Esse é um dos
grandes problemas.Procurar por Causas Secundárias por exemplo: Hiper ou Hipotireoidismo,
Síndrome de Cushing, Acromegalia, Coarctação da Aorta, Arterite de Takayassu,
Hiperaldoteronismo primário, dentre outras.( ver Causas Secundárias e quando supeitar).

Medicamentos em uso:

Tópico fundamental na suspeita de Hipertensão uma vez que o uso de alguns


medicamentos podem ter como efeito colateral o surgimento da Hipertensão, dentre eles:
AINEs, Corticoides, Imunosupressores,Anti-depressivos,Anticoncepcionais, Eritropoetina,
dentre outros.

História Patológica Pregressa:

Diabetes: Além de ser fator de risco para eventos cardiovasculares e doença renal
crônica, o paciente diabético irá necessitar de controles pressóricos ainda mais rígidos se
comparados a pacientes não diabéticos com a pressão alvo abaixo de 130x80 mmHg ou ainda
menor (ver Grupos Especiais)

Asma e/ou DPOC: A presença de uma dessas condições é contra-indicação absoluta


para o uso de Beta-bloqueadores e Adenosina

GOTA: A presença de artropatia por deposição de cristais de monourato de sódio (


GOTA) é contra-indicação ao uso de Diuréticos tipo tiazídicos.

Insuficiência Cardíaca: Deve ser questionado e pesquisada no exame físico uma vez que
há drogas anti-hipertensivas indicadas nesse grupo de paciente que resultaram em melhora da
Mortalidade ao Longo do Tempo(ver Grupos Especiais).

Acidente Vascular Cerebral Prévio: mesma justificativa do item acima(ver Grupos


Especiais).

Infarto Agudo do Miocárdio prévio, necessidade de Angioplastia ou Revascularização


Miocárdica: mesma justificativa do item acima(ver Grupos Especiais).

História Fisiológica:

Deve-se questionar sobre Gravidez ou Possível Gravidez, uma vez que a gestaçãoé
contra-indicação para Inibidores da Enzima de Conversão da Angiotensina e Bloquadores do
Receptor da Angiotensina.
História Familar:

Buscas na família, principalmente em parentes de 1° Grau, história de morte por causas


cardiovasculares em Homens antes do 55 anos e Mulheres antes dos 65 anos, bem como a
presença de Hipertensão, Diabetes, História de AVC, IAM em parentes.

Hábitos/ Fatores de Risco pra Doença Arterial Coronariana:

Pesquisar, principalmente, os fatores de risco para Doença Coronariana uma vez que
pessoas com mais de 3 fatores de Risco se encaixam em um grupo especial onde algumas
drogas mostraram melhor a mortalidade. Portanto, deve-se questionar sobre: Alcoolismo,
Tabagismo, Stress, Sendentarismo, Obesidade, Dislipidemias, Diabetes,

EXAME CLÍNICO DO PACIENTE HIPERTENSO


Exame clínico, assim como a História baseia-se na pesquisa de alterações que possam
remeter a causas secundárias e lesões em órgãos alvo:

Geral:

Fácies Hiper ou Hipotireoidea, Acromegálica, Cushingóide. Pressão Arterial acima


de140x90 mmHg.

Cabeça/Pescoço:

Palpação e Ausculta de Tireóide.Ausculta de Carótidas. Acuidade Visual.

CardioVascular:

Assimetria de Pulsos radiais, Diminuição ou Ausência de pulsos em Membros


Inferiores. Desvio do Ictus Cordis para esquerda ou palpação em mais de 2 polpas digitais.
Abaulamento para esternal. Ausculta de Sopros, B3,B4, hiperfonese de bulhas. Note que
algumas das alterações no exame físicio podem não ser conseqüências diretas da Hipertensão
mas podem existir juntamente com ela, por exemplo as bulhas acessórias que podem estar
presentes em quadros de insuficiência cardíaca.

Abdome:

Ausculta em topografia de artérias renais, presença de hepato e/ou esplenomegalia.

Extremidades:

Palpação de pulsos periféricos, presença de edema em membros inferiores, realização


do Índice Tornozelo-Braquial.
LESÕES EM ÓRGÃOS ALVO:
Quando se fala em lesões de órgãos alvo em HAS se fala principalmente em Coração,
Rins e a Encéfalo. Portanto, seguem abaixo as alterações de órgãos alvo que poderiam ser
vistas:

Coração:

Ictus cordis desviado para esquerda (sugerindo Hipertrofia Ventricular Esquerda,


Cardiomegalia), Ausculta de Sopros, Hiperfonese de bulhas. No ECG: Sobrecarga Ventricular
Esquerda, Alterações da Repolarização Ventricular, Presença de Infartos Antigos (ondas q).
Disfunção ventricular documentada por Ecocardiograma. Insuficiência Cardíaca Congestiva,
Angina Estável/Instável.

Retina:

A retinopatia hipertensiva é uma realidade e deve sempre ser pesquisada em pacientes


hipertensos, principalmente nos que há suspeita de doença há muito tempo e sem correto
acompanhamento.

Doença Vascular Periférica (DVP):

O diagnóstico de doença vascular periférica pode ser feito em nível ambulatorial através
da medida do índice tornozelo-braquial. Essa relação é facilmente obtida com a Aferição da
Pressão no Membro Superior e da Pressão no Membro Inferior correspondente. São feitas duas
medidas no Membro Superior e Quatro no membro inferior (Duas em topografia de artéria
pediosa e Duas em topografia de tibial posterior). Após a realização da medida, se pega a maior
média da PA Sistólica do Membro Inferior e divide-se pela media da PA Sistólica no membro
Superior. Em pessoas sem acomentimento vascular periférico observar-se-á uma relação entre
1,3 e 0,9. Pessoas com entre 0,9 e 0,5 tem um grau leve a moderado e abaixo de 0,5 um grau de
moderado a grave de obstrução arterial. Podem ser solicitados exames, como um ultra-som com
dopller para melhor avaliação da DVP.

Quadro de claudicação intermitente é a clínica clássica do paciente com DVP.

Rins:

Aumento da Creatinina Sérica, diminuição do clearance estimado da creatinina abaixo


de 90ml/min, Presença de cruzes de proteína peristentemente no Sumário de Urina,
Albuminúria ou Microalbuminúria na Urina de 24 horas. Atrofia Cortical vista no Ultra-Som de
Abdome.

Cerebrovascular:

História documentada de Acidente Vascular Prévio( AVC hemorágico AVC isquêmico


e Ataque Isquêmico Transitório). Quadro demencial vascular.
DIAGNÓSTICO

Varias são as diretrizes relacionadas ao diagnóstico e manejo da Hipertensão


Arterial.Nesse texto, será abordada a visão da Programa Canadense de Educação em Hiperensão
de 2009 ( Canadian Hypertension Education Program CHEP 2009).O interessante do modelo
apresentado pelos canadenses é o fato da diversidade de possibilidades do diagnóstico de
Hipertensão que contempla tanto os Grandes Centros ,com disponibilidade de recursos
complementares (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial), quanto aqueles onde se
disponibiliza apenas do médico, estetoscópio e tensiômetro, a realidade brasileira. Dessa forma,
o diagnóstico de hipertensão é dado em, no máximo, 5 consultas, como descrito abaixo. É
importante frisar que em pacientes ambulatoriais deveria-se, idealmente, aferir a pressão em três
momentos durante a consulta, desprezando a medida incial e obtendo-se uma média simples das
duas subseqüentes.

No entanto, a leitura das V Diretrizes Brasileiras para Hipertensão Arterial (2006),


Cadernos de Atenção Básica – Ministério da Saúde (2006), VII Joint National Commitee on
Prevention, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure (2004) se fazem necessárias para
melhor compreensão do assunto. Frisamos também o fato a evolução constante do
conhecimento na área e sugerimos a utilização da plataforma: www.pubmed.com para estudos
mais atuais na área.

1ª Consuta:

A única ocasião onde a HAS é diagnosticada na primeira consulta é quando ela se


apresenta na forma de uma urgência ou emergência hipertensiva, ou seja, quando o paciente
chega a unidade de saúde ( geralmente um Pronto-Socorro) com Níveis pressóricos acima de
140x90 mmHg e apresentando Edema Agudo de Pulmão, Síndrome Coronariana Aguda,
Dissecção de Aorta, Encefalopatia Hipertensiva, Acidente Vascular Cerebral,Pressão Arterial
Diastólica assintomática ≥130 mmHg. Caso contrário, independente do nível Pressórico em que
se encontre o paciente, serão pedidos exames de rotina para avaliação da possível hipertensão
(ver Exames de Rotina para paciente Hipertenso) e será agendada uma segunda consulta com
um mês.

2ª Consulta:

Na segunda consulta o diagnóstico de HAS será feito em duas condições:

1ª : Paciente apresenta-se com PA maior ou igual a 180x110 mmHg

Ou

2ª :Paciente apresenta com níveis pressóricos entre 140-179 x 90-109 mmHg associada
a lesões de órgão alvo ( vistas no exame físico e nos exames solicitados na primeira consulta) ou
Diabetes Melitus ou Doença Renal Crônica.

Caso o paciente não satisfaça nenhuma das duas condições acima o médico terá 3
opções a se tomar. A escolha será influenciada pela disponibilidade da Realização da MAPA
(Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial)ou da possibilidade da MRPA (Medida
Residencial da Pressão Arterial).

Se houver condição da realização da MAPA ou da MRPA elas devem ser feitas, caso
contrário, serão agendadas mais 3 consultas com o paciente e o diagnóstico será feito apenas
com as medidas no ambulatório.

3ª consulta:

Há três possibilidades:

1ª : paciente fez a MAPA: PA da vigília ≥135x85 mmHg

PA das 24h ≥130x80 mmHg

2ª: paciente fez a MRPA: PA ≥135x85 mmHg

3ª: paciente selecionado para o seguimento clínico com PA maior que 160x100 mmHg

Caso o Paciente da terceira situação continue com níveis pressóricos acima do normal mas
abaixo de 160x100mmHg é agendada mais uma ou duas consultas.

4ª-5ª consulta:

Nesta consulta se o paciente se apresenta com PA maior que 140x90 mmHg é feito diagnóstico.

EXAMES DE ROTINA PARA O PACIENTE HIPERTENSO

Como explicado anteriormente a maioria dos casos de Hipertensão é idiopático e,


portanto, a não há sentido em se fazer uma busca inicial intensa de possíveis causas secundárias
em todas as pessoas presumivelmente Hipertensas. Basicamente, o objetivo dos exames iniciais
são os de avaliar danos a órgãos alvos possivelmente atribuíveis a hipertensão (Por exemplo, a
hipertensão pode gerar, a médio prazo, um remodelamento cardíaco que culminará com uma
hipertrofia ventricular esquerda) e de servirem com triagem para a necessidade de se pesquisar
uma causa secundária ( Por exemplo, a presença de uma Hipocalemia não provocada, ou seja,
níveis séricos de Potássio menores do que 3,5 mEq/l podem sugerir a presença de um
Hiperaldosteronismo).

Visto isso, os exames de triagem devem obedecer a regra básica de serem baratos, não
lesivos ao sistema e ao paciente e que as suas alterações possam trazer benefícios importantes a
morbi-mortalidade do paciente e otimizar o tratamento do mesmo. O CHEP 2009 recomenda os
seguintes exames inicialmente:

1) Sumário de Urina
2) Sódio e Potássio séricos
3) Creatinina sérica
4) Glicemia de Jejum
5) Perfil Lipídico ( Colesterol total, HDL, LDL e Triglicerídes)
6) ECG
7) Ácido úrico *

*Preconizada pelas V Diretrizes Brasileiras para Hipertensão Arterial, 2006.

Esses exames são os padronizados para todo o paciente com hipertensão e servem
apenas de guias, o julgamento clínico é que irá melhor avalia a necessidade de outros exames a
serem pedido, inclusive métodos de imagem, logo inicialmente.

1)Sumário de Urina: A realização do SU vai em busca, principalmente, da presença de


traços de proteína. A presença delas poderá sugerir um grau de Doença Renal Crônica(DRC)
possivelmente secundária a Hipertensão. A presença de cruzes de proteína faz mandatória a
realização da Urina de 24 horas com contagem de albumina. A ausência de cruzes de proteína
em um paciente com forte fator de risco para Doença Renal, como um paciente Diabético, faz
com que seja solicitada uma Urina de 24 horas com pesquisa de Microalbuminúria, definida
com a presença entre 30 e 300 mg de albumina na urina de 24h.Albuminúria é quando os níveis
de albumina na Urina 24h são maiores do que 300mg.

2) Sódio e Potássio: Um potássio abaixo do seu nível sérico ( < 3,5mEq/L) ocorrendo de
maneira espontâna associado,ou não, com aumento do nível sérico do sódio (>145 mEq/L) deve
levantar a hipótese de um possível hiperaldosteronismo primário e a pesquisa por essa patologia
deve ser iniciada ( ver Causas de Hipertensão Secundária)

3) Creatinina Sérica: A solicitação da Creatinina Sérica, bem como o Sumário de Urina,


tem por motivo a estimação da função renal e a detecção precoce de uma possível DRC. Para
isso, estima-se o clearance de creatinina pela fórmula de Crockoft gault como demonstrado
abaixo:

(140 – idade (anos)) x Peso(kg) /72 x Creatinina Sérica e multiplicado por 0.85 para mulheres.

A Estimulação do Clearance de Creatinina nos dá uma ideal geral da Taxa do Filtrado


Glomerular. Pessoas com Clearance abaixo de 90 ml/min já tem dando renal comprovado.

4) Glicemia de Jejum: serve para documentar/diagnosticar o diabético, pois o manejo


dessa classe de pacientes será bem diferente do paciente não diabético ( ver Grupos
Especiais).Se a glicemia de jejum não for confirmatória, deverá ser solicitado um teste de
tolerância oral a glicose após 2horas para classificar o paciente como diabético ou com
tolerância a glicose.

* Valores da Glicemia de Jejum:

< 100 mg/dL: normal

Entre 100 e 126 mg/dL: tolerância a glicose

>126md/dL: Diabetes

* Valores do Teste de Tolerância Oral após 2h da ingesta de 75g de glicose:

<140mg/dL: normal
Entre 140 e 200 mg/dL: tolerância a glicose

>200 md/dL: Diabetes

5) Perfil Lipídico: A busca de dislipidemias, que estão fortemente relacionadas com o


processo aterosclerótico e dão mais uma evidência para colocação do paciente no Grupo de Alto
Risco para DAC.

6) Eletrocardiograma( ECG): A finalidade do ECG é buscar alterações que poderiam ser


secundárias a Hipertensão como Sobrecarga Ventricular Esquerda bem como outras condições
que representem risco miocárdico para o paciente, como a presença de distúrbios de condução
ou sugestivo de isquemia miocárdica, como alterações na repolarização.Além disso, deve se
fazer uma pesquisa por Bloqueios de condução do nodo átrio-ventricular de 2° grau ou maior,
pois a presença destes contra-indica o uso de Beta-bloqueadores e de Bloqueadores do Canal de
Cálcio Não-Diidropiridínicos.

Outros exames, como Ultras-som do Abdome e de Artérias Renais, Raio-X de Tórax em


PA e Perfil,Tomografia Computadorizada, Cortisol Sérico e Urinário, TSH, T4 livre, Ultra-som
de Tireóide, Urina de 24 horas com dosagem de proteinúria ou Urina de 24 horas com pesquisa
de microalbuminúria, dosagem de metanefrinas, aldosterona sérica ,Beta-HCG ( em todas as
mulheres com suspeita de gravidez) dentre outros, poderão ser solicitados na investigação de
causas secundárias ou a critério médico e as suas indicações irão varias conforme o caso. É
importante enfatizar, também, que esses são os exames propostos pela CHEP 2009 e que
algumas modificações podem ocorrer de acordo com a diretrizes adotada.

MAPA- Medida Ambulatorial da Pressão Arterial


Em algumas situações se faz mandatória a Realização da MAPA em pacientes
Hipertensos. ( Há quem diga que todos os pacientes Hipertensos deveriam ser submetidos a uma
MAPA pelo menos 1 vez na vida.Obviamente, ainda não há condições da realização dessa
prática a nível de Saúde Pública).A MAPA na monitorização da Pressão Arterial durante 24
horas de um dia ‘normal’ do paciente de 15 em 15 minutos. Portanto, o paciente não deverá
alterar em nada sua rotina. Para isso, é colocado um esfingnomanômetro associado a um
aparelho que irá registrar os níveis pressóricos e a hora da medida. O paciente também recebe
um caderno de anotações para registrar as atividades (como horário da tomada de medicações,
hora de durmir atividades físicas, etc). Portanto, a MAPA dá uma idéia para o Médico dos
níveis tanto em Vigilia quanto no período de Sono. Isso é importante, pois se sabe que há uma
tendência natural da Pressão Arterial baixar seus níveis durante a noite/sono, o que é chamado
de descenso noturno da PA. A queda é na média de 10 a 20 mmHg. Pessoas em que não ocorre
essa queda estam sujeitas a maior risco para Eventos Cardiovasculares. Além disso, a MAPA é
capaz de avaliar o tempo de ação dos medicamentos utilizados bem como sua eficácia.

As INDICAÇÕES para MAPA são:

- Identificação e avaliação da Hipertensão do Avental Branco

- Avaliação da Eficácia dos Medicamentos

- Avaliar sintomas de Hipotensão Arterial


-Avaliar os pacientes com resistência ao tratamento farmacológico

- Avaliar pacientes Normotensos, mas que apresentem lesões em Órgãos-alvo (ver Lesões em
Órgãos-alvo) que podem ser explicadas pela HAS.

Os valores normais da MAPA são:

Média de 24 horas: ≤130/80 mmHg

Média da Vigília:≤ 135/85 mmHg

Média Sono:≤ 120/70 mmHg

Qualquer valor acima dessas médias é diagnóstico de Hipertensão.Observe que os valores de


corte para diagnóstico de HAS na MAPA são mais baixos que os de consultório.

MRPA- Medida Residencial da Pressão Arterial


Muitas vezes, não há a disponibilidade da realização da MAPA. Nesses casos, pode-se
optar pela MRPA. Essa propedêutica consiste em avaliar a pressão do paciente por pessoa
treinada por 5 dias durante seis vezes ao dia ( três de manhã e três à noite; sempre no mesmo
horário). Da mesma forma que a MAPA, não se deve alterar as atividades diárias em função da
MRPA para evitar um possível falso-negativo.

As INDICAÇÕES para MRPA são:

- Identificação e avaliação da Hipertensão do Avental Branco

- Avaliação da Eficácia dos Medicamentos

- Avaliação da Hipertensão Mascarada

Os valores normais da MRPA são:

Média ≤ 135/85 mmHg

MAPA x MRPA x Medida de Consultório


Tanto a MAPA como a MRPA são SUPERIORES as medidas casuais de consultório
pelo motivo óbvio de darem uma noção da Pressão Arterial durante todo o dia e não apenas em
caráter ‘pontual’. Ambas também servem para avaliação da Hipertensão do Avental Branco,
monitoramento da resposta farmacológica e pesquisar uma Hipertensão Mascarada.A MAPA é
superior a MRPA tanto na eficácia quanto na maior possibilidade de indicações. Além de maior
quantidade de medidas (o que aumenta a veracidade da Média da PA na MAPA com a média da
PA Real), ela é a única que avalia o descenso noturno da PA e que pode ser utilizada para
avaliações de Hipotensão Postural. Contudo, deve se levar em considerações alguns pontos.
A MAPA necessita de Profissional treinado para sua interpretação e também da
disponibilidade do Aparelho. Isso é uma dificuldade que pode ser enfrentada em centros onde
não se dispõem de recursos e de um amparo de Cardiologista. A MRPA ,apesar da sua aparente
simplicidade, necessita de pessoa treinada corretamente para aferir a PA e da adesão do paciente
ao método,uma vez que ele é realizado durante um certo período de tempo.

Feitas as devidas ponderações, cabe ao médico decidir pelo melhor seguimento do seu
paciente.

Hipertensão do Avental Branco


- Quando os níveis de Pressão Arterial se mostram acima de 140x90 mmHg no ambulatório e,
fora dele, se encontram abaixo deste patamar.

Efeito do Avental Branco

- Quando o diagnóstico de Hipertenso ou Normotenso do paciente não muda, mas sim a sua
classificação. Por exemplo, em casa as médias pressóricas do paciente giram em torno de
150x93 mmHg ( Estágio 1), mas no consultório elas situam-se por volta de 165x100 mmHg (
Estágio 2)

CAUSAS SECUNDÁRIAS E QUANDO SUSPEITAR


Medicamentos:

Ciclosporina, tacrolimus, Glicocorticóide Antiinflamatórios não-esteróides, Inibidores


da ciclooxigenase 1 e ciclooxigenase 2 ,Anticoncepcionais orais Hormônio de crescimento
(adultos) Antidepressivos Drogas ilícitas e Álcool, dentre outros.

Hiperaldosteronismo:

1)Hipocalemia ( <3,5mEq/L) espontânea

2)Hipocalemia importante ( <3 mEq/L) após a inrodução de um diurético

3) Hipertensão refratária ao uso de 3 ou mais medicações

4) Pacientes com achado de incidentaloma adrenal

Feocromocitoma

1) Pacientes com Picos Hipertensivos paroxísticos e/ou severos (≥180/110 mmHg)

2) Hipertensão associada a sintomas sugestivos de descarga adrenérgica ( cefaléia,


palpitações, sudorese, ataque de pânico e palidez)

3) Hipertensão desencadeada pelo uso de Beta-bloqueadores, inibidores da


Monoaminooxidase

4) Hipertensão refratária ao uso de 3 ou mais medicações


Hipertireoidismo

1) Fácies Hipertireoidea

2) Sintomas: como perda de peso inexplicável, queda de pêlos e cabelos, alterações no


ciclo sono-vigilia, aumento da motilidade gastro-intestinal (aumento do número de
idas ao banheiro), iritabilidade, xerostomia, aumento da temperatura corporal

3) Anormalidade no Exame Físico da Tireóide

Hipotireoidismo

1) Fácies Hipotireoidea

2) Sintomas como: ganho de peso, maior sonolência, diminuição da motilidade gastro-


instetinal, lentificação dos movimentos e da fala , Mixedema, Derrames Cavitários,
Alterações nos Exames de Colesterol

3) Anormalidade no Exame Físico da Tireóide

Coarctação da Aorta:

1) História Familiar de Coarctação da Aorta

2) Ausência/diminuição da amplitude de pulsos em membros inferiores

Estenose de Artérias Renais:

1) Sopro Abdominal

Para mais informações recomenda-se a leitura do VII Joint, das V Diretrizes, da CHEP , etc.

Em breve, teremos o Módulo II sobre o tratamento da HAS primária.


BIBLIOGRAFIA
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782X2007001500012&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0066-782X. doi: 10.1590/S0066-
782X2007001500012.

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