Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ECG
Colaboradores
Adail Paixão Almeida
Antoni Bayés de Luna
Carolina Monteiro Barbosa
Claudio Cirenza
Eduardo Back Sternick
Eraldo Ribeiro Ferreira Leão de Moraes
Frederico Scuotto
Gabriela Miana de Mattos Paixão
Guilherme Dagostin de Carvalho
Helbert Pereira Tomé
Horácio Eduardo Veronesi
Hugo Ribeiro Ramadan
Louis Nakayama Ohe
Marcel Henrique Sakai
Matheus Kiszka Scheffer
Miquel Fiol Sala
Rogério Gomes de Almeida Neto
FICHA CATALOGRÁFICA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Tuxped Serviços Editoriais (São Paulo, SP)
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Pedro Anizio Gomes - CRB-8 8846
___________________________________________________________________________________________________________________
N469t Alencar Neto, José Nunes de.
Tratado de ECG / José Nunes de Alencar Neto. – 1. ed. – Salvador, BA : Editora Sanar, 2022.
816 p.; 20,5 x 27,5 cm.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-5462-290-9.
1. ECG. 2. Eletrocardiograma. 3. Medicina. 4. Tratado. I. Título. II. Assunto. III. Alencar Neto, José Nunes de.
CDD 611.11
CDU 612.1
____________________________________________________________________________________________________________________
ÍNDICE PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO
1. Medicina: Órgãos cardiovasculares.
2. Medicina: Sistema cardiovascular.
________________________________________________________________________________________________________
TRATADO DE ECG
ALENCAR NETO, José Nunes de. Tratado de ECG. 1. ed. Salvador, BA: Editora Sanar, 2022.
AUTOR E EDITOR-CHEFE
AUTORES COLABORADORES
PREFÁCIO
Assim como o Manual de ECG, este livro foi construído para atender às expectativas
de qualquer tipo de leitor, seja qual for a sua bagagem de conhecimento sobre o ele-
trocardiograma, pois, exibe uma linguagem didática, mas não por isso pouco precisa,
nos primeiros capítulos, em que a maior parte dos leitores estará tentando adquirir os
primeiros conhecimento sobre o método; e muda para uma linguagem técnica, mas
não por isso pouco didática, nos capítulos mais avançados, em que a maior parte dos
leitores buscará por atualizações.
Pensando em democratizar o conteúdo do Tratado de ECG a todo tipo de leitor, criei
esse mapa de leitura para acadêmicos de Medicina, enfermeiros e outros profissionais de
saúde, médicos não cardiologistas e cardiologistas, arritmologistas e eletrofisiologistas.
Acadêmicos de Medicina
Acadêmicos de Medicina buscam os conhecimentos mais básicos sobre eletrocar-
diografia: precisam aprender o exame normal e alterações estruturais cobradas em
suas provas e mais comuns em plantões. Sendo assim, a sugestão é ler em sequência os
capítulos 4 a 10, 12 a 15. Na seção “Arritmias”, a leitura dos capítulos 18, 23 e 26 é crucial
porque introduz às taquicardias supraventriculares, ventriculares e aos bloqueios atrio-
ventriculares, as arritmias mais cobradas e de maior interesse na prática do generalista.
Na seção “Avançada”, a leitura de qualquer capítulo fica como curiosidade: os capítulos
de ECG do atleta e ECG em pediatria, por exemplo, são super interessantes.
SEÇÃO 1
FUNDAMENTOS
Etiologia................................................... 182
13. O ECG nas síndromes
Epidemiologia........................................... 182 coronarianas agudas...................... 245
Bloqueio de ramo esquerdo......................... 182 Introdução ............................................. 245
Introdução............................................. 567
31. Onda R alta e inversões
Síndrome do QT longo (SQTL)................. 567 de onda T em V1 e V2.................... 673
Síndrome do QT curto (SQTC).................. 576 Introdução.............................................673
Síndrome de brugada.............................. 579 Variantes da normalidade........................673
Síndrome da repolarização precoce...........588 Anormalidades....................................... 676
Padrões patológicos................................736
Anomalias do nó sinusal.........................740
34. Eletrocardiograma de
alta resolução e variabilidade
de frequência cardíaca................. 765
Eletrocardiograma de alta resolução......... 765
Indicações.............................................. 777
Técnica.................................................. 777
Outras funções.......................................796
Genética
Isquemia atrial
Injúria atrial e
estiramento de fibras
Idade FIBROSE ATRIAL
Hipertensão
Inflamação
Insuficiência cardíaca
Apneia obstrutiva
do sono
TROMBOEMBOLISMO
Figura 1. Fatores que promovem a fibrilação atrial são os mesmos que promovem a fibrose atrial e consequente cardiomiopatia.(4)
trocardiograma como:
A FA é a arritmia mais comum na prática clínica.
Estima-se que 0,5% a 1% da população mundial tenha a. Ausência de ondas P;
esse diagnóstico,(5,6) chegando a 2,9% em países com b. Intervalos RR irregulares;
média de idade maior, como a Suécia.(7) c. Ondas fibrilatórias (ondas f) – podem ou não estar
A FA é caracterizada por uma atividade elétrica desor- presentes (Figuras 2 e 3).
ganizada nos átrios, provenientes, principalmente, das
veias pulmonares.(8) Na FA, ocorrem múltiplos circuitos O complexo QRS é, em geral, estreito, a menos que
haja alargamento prévio ou aberrância de condução (ver
“fenômeno de Ashman”, adiante).
Figura 2. Fibrilação atrial – observe o ritmo irregular (batimentos com espaçamento inconstante) e a ausência de uma onda P bem definida.
Figura 3. Fibrilação atrial com ondas f (letra minúscula). A f é essa onda fibrilatória que pode ser pequena ou grande, mas que tem a
característica de ter morfologias, amplitudes e durações cada vez que ela aparece.
Figura 4. FA de baixa resposta ventricular. Observe o ritmo irregular (novamente, fica mais fácil perceber essa irregularidade no traçado
longo da parte inferior da figura) sem onda P bem definida. A frequência cardíaca, medida contando a quantidade de complexos QRS
em 30 quadradões (6 segundos – exatamente o tamanho de uma caneta BIC com sua tampa) e multiplicando por 10, é de 50 batimentos
por minuto.
Figura 5. Fibrilação atrial de alta resposta ventricular. Observe que o ritmo é irregular e não se vê uma onda P bem delimitada. Em 30
quadradões, temos 13 batimentos, então frequência de em torno de 130 por minuto.
Figura 6. Fibrilação atrial de alta resposta ventricular. Frequência irregular em torno de 130 por minuto.
Figura 7. Fibrilação atrial. Perceba os critérios: ritmo irregular e ausência de onda P visível. As ondas f não são visíveis nesse traçado,
mas esse não é um critério obrigatório.
Figura 8. Exemplo de traçado de FA com bloqueio atrioventricular total e uma frequência de escape de 35 batimentos por minuto. A
ausência de ondas P, característica da FA, vem, neste caso, acompanhada de um ritmo de escape regular muito bradicárdico (as setas dese-
nhadas no D2 longo são do mesmo tamanho). O examinador deve atentar também para a possibilidade de ritmo juncional bradicárdico.
Vimos que, por definição, a FA apresenta intervalos Um paciente que possui pré-excitação ventricular por
Figura 9. FA pré-excitada. Perceba a irregularidade do ritmo e as diferentes morfologias do complexo QRS, pela alternância de maior
e menor pré-excitação ventricular pela via acessória.
Figura 12. FA de “ondas grossas” ou coarse. Perceba a variação da morfologia e frequência das ondas “f” em V1 e D2. Apesar de serem
ondas amplas, elas devem ser chamadas de f (letra minúscula) por terem amplitudes, durações e morfologias diferentes entre si.
Figura 14. FA de “ondas finas”. Perceba que, em algumas derivações, é possível verificar a presença de ondas “f” de baixa amplitude,
com morfologias e frequência variáveis.A FA de “onda grossa” pode confundir alguns leitores com o flutter atrial. Aqui estão os critérios
que se diferenciam entre as duas entidades:
início, seja espontaneamente, seja após intervenções. o ritmo sinusal.(11) A fibrilação atrial “isolada” ou “lone
TRATADO DE ECG
A FA persistente é aquela que dura mais de 7 dias. Se atrial fibrillation” é um termo em desuso, por não ser
ela persiste por mais de um ano, a chamamos de per- uma síndrome dotada de mecanismos únicos (pelo
sistente de longa duração. O termo FA permanente contrário, ela, provavelmente, é uma FA paroxística)
(e não “FA crônica”) é usado quando é decidido pelo e por acabar atrapalhando na definição do tratamento
médico e paciente por não tentar restaurar ou manter correto (Figura 15).(12)
Paroxística
Usualmente se resolve espontaneamente em <_ 48 horas
Pode durar até 7 dias
Persistente
Dura mais que 7 dias
Permanente
Não se busca mais o ritmo sinusal
Figura 15. Classificação da fibrilação atrial em paroxística, persistente e permanente. Desde o primeiro diagnóstico de fibrilação atrial,
o paciente deve ser classificado. O diagnóstico pode vir em qualquer fase da doença. E um paciente pode evoluir com melhora ou piora
da sua classificação.
Figura 16. Flutter com BAV variável. Observe que aqui, a atividade atrial (ondas F – desta vez com letra maiúscula) é regular, tem sempre
a mesma morfologia e amplitude. A atividade ventricular (os complexos QRS), ao contrário, é irregular.
Figura 18. Flutter de mais difícil diagnóstico (veremos adiante) mas com ondulações na parede inferior. Observe que as ondulações são
regulares entre si (setas verticais). Já os complexos QRS não são regulares entre si (as setas horizontais são do mesmo tamanho – o que
indica que os batimentos não obedecem a uma regularidade). Diagnóstico: flutter com BAV variável.
Figura 19. Taquicardia atrial multifocal. Observe que, neste traçado, há pelo menos três morfologias diferentes de onda P.
A FA pode estar envolvida com uma síndrome cha- a taquicardia atrial multifocal (TAMF) (Figura 19), sendo
mada taquicardia-bradicardia, ou, para os mais íntimos, esta última mais frequente nos pacientes com doença
síndrome taqui-bradi, inclusa no espectro das disfunções pulmonar obstrutiva crônica (Capítulo 19).
do nó sinusal, na qual ritmos atriais rápidos como a FA
se alternam com períodos prolongados de ritmos bra- Fibriloflutter
dicárdicos (Capítulo 25).(13) Termo controverso e motivo de discussões acaloradas.
O achado de FA de “ondas grossas”, e a alternância, em
Diagnósticos diferenciais um mesmo traçado, de FA e FLA podem levar o médico a
Os principais diagnósticos diferenciais da FA são: o ficar “em cima do muro” para diagnosticar uma ou outra
FLA com resposta ventricular variável (Figuras 16 a 18) e arritmia. O leitor deve lembrar, no entanto, que as duas
arritmias são espectros diferentes da cardiomiopatia 20), mas não pode ser diagnosticado por ECG. Na verda-
TRATADO DE ECG
atrial. E devo enfatizar que a ocorrência simultânea de, qualquer combinação de arritmias entre diferentes
de FA e FLA, em um mesmo paciente, pode ocorrer e é câmaras pode existir. Às vezes, até na mesma câmara
frequentemente visualizada em estudos eletrofisioló- podem existir tecidos em ritmos diferentes (Figura
gicos, sendo sua fisiopatologia explicada por bloqueio 21). Para que isso ocorra, é necessário haver bloqueio
interatrial funcional ou anatômico – um átrio fibrila, o de condução bidirecional entre as regiões.
outro está em flutter.(14) O fibriloflutter existe (Figura
Figura 20. Fibriloflutter. Cateter duodecapolar Halo® (Biosense Webster) localizado no átrio direito demonstrando atividade atrial orga-
nizada em ritmo de flutter (setas), enquanto cateter decapolar situado no seio coronariano, sulco atrioventricular esquerdo, demonstra
atividade desorganizada fibrilatória no átrio esquerdo (estrelas). Esse diagnóstico só é factível através de estudo eletrofisiológico invasivo
e seu laudo em eletrocardiograma deve ser evitado.
Figura 21. Qualquer combinação de arritmias pode existir desde que haja bloqueio bidirecional em diferentes regiões do coração.
Neste caso, um cateter posicionado no teto do átrio esquerdo flagrou uma atividade macroreentrante tipo flutter (amarela), enquanto
o restante do coração estava em ritmo sinusal. Havia bloqueio bidirecional nesta região em virtude do procedimento de ablação que
estava sendo realizado.
Figura 22. Fenômeno de Ashman. Observe que os ciclos precedendo o complexo QRS são curto-longo-curto. Neste caso, o batimento
teve configuração de BRD tipo Cabrera.
Figura 23. Fibrilação atrial com fenômeno de Ashman. Observe o batimento com padrão de BRD. O fato de o paciente estar em FA e a
ausência de pausa compensatória falam mais a favor de Ashman do que de uma extrassístole ventricular.
Os achados eletrocardiográficos que favorecem o é a chamada “resposta ventricular”, que será melhor
TRATADO DE ECG
Nó sinoatrial S
VC
Crista
terminal
Óstio do seio
coronário
Fossa
oval
Transição
Músculo
Tendão de pectíneo
Todaro
VCI Valva
Valva da veia cava tricúspide
inferior (Eustáquio) Valva do seio
coronário (Tebésio)
Figura 24. Istmo cavotricuspideo: região entre a valva tricúspide e a veia cava inferior.
Figura 25. FLA típico, dependente do istmo cavotricuspídeo. A: anti-horário; B: horário; C: lower loop; D: intra-istmo.
O achado clássico do FLA são as ondas F em for- No entanto, este é um erro conceitual. O FLA típico,
mato de “dente de serra”, ou seja, um início lento geralmente, não possui linhas isoelétricas em D2, D3
e gradual seguido de uma parte média mais rápida e e aVF, mas caracteristicamente possui linha de base
“pontiaguda”, além de uma porção final invertida ao isoelétrica nas derivações precordiais, de modo que,
restante da onda F (Figura 26). Também se diz por aí que nessas derivações, a onda F possui aparência similar a
o “FLA não possui linha isoelétrica” e que isso ajudaria uma onda P (Figuras 27 e 28).
no diagnóstico diferencial com taquicardias atriais.
Figura 26. Ondas F (agora maiúsculas) parecem com dentes de serra ou ondas do mar nas derivações inferiores.
Figura 27. Em flutter, podem ser vistas ondas F (agora em letra maiúscula): uma onda de mesma morfologia, amplitude e duração.
Observe que há linha isoelétrica entre elas. A existência de linha isoelétrica não afasta flutter. Pelo contrário, é esperada nas derivações
precordiais, como V1. Observe que a onda F é muito similar a uma onda P nesta derivação.
Figura 28. Mais uma vez, em V1, o flutter se apresenta como ondas mais discretas, similares a ondas P. Elas possuem a mesma morfo-
logia, duração e amplitude, por isso são ondas F (com letra maiúscula).
Figura 29. Flutter 3:1. Observe que há 3 ondas F (setas verticais) para 1 QRS (circulado).
Uma outra máxima que sempre se encontra na lite- O último mito sobre o FLA é que “ela é uma arritmia
Figura 30. Flutter com BAV variável. Observe que as ondas F são regulares entre si (setas verticais), mas os complexos QRS são irregu-
lares – as setas horizontais são do mesmo tamanho. O último QRS do traçado é aberrado.
Figura 31. Para verificar se um flutter é típico, use a seguinte regra: nos flutter típicos, a onda F de D2 discorda de V1 que discorda de
V6. Aqui, D2 tem uma onda F negativa, V1 tem uma onda F positiva (que parece muito com uma onda P) e V6 tem uma onda F negativa.
Ou seja, típico.
Figura 32. Flutter típico. D2 tem F negativa, V1 tem F positiva. As F de V6 não são bem visualizadas neste paciente.
Figura 33. Flutter típico anti-horário. Observe as ondas F negativas em D2, D3 e aVF, uma onda F positiva com morfologia semelhante
a uma onda P em V1 (com linha de base isoelétrica) e onda F negativa em V6.
A forma mais comum (90% dos casos), é o circuito derivações inferiores (D2, D3 e aVF) e em V6 e positivo
típico anti-horário. O impulso “sobe” pelo septo inte- em V1 (Figuras 33 a 36).(20) As derivações precordiais
ratrial e “desce” pela parede lateral do átrio direito. O caracteristicamente têm linhas de base isoelétricas.
ECG do FLA típico anti-horário demonstra ondas F tipo
“dentes de serra”, predominantemente negativas nas
Figura 35. Flutter típico anti-horário. Observe as ondas F negativas nas derivações inferiores, V1 positivas com morfologia semelhante
a uma onda P e linha de base isoelétrica presente. V6, neste caso, tem ondas F pouco visíveis. O QRS é largo com padrão de bloqueio
de ramo direito. O flutter só interfere com a largura do QRS a frequências muito altas ou fazendo fenômeno de Ashman nos bloqueios
variáveis (ambos exemplos de bloqueio de fase 3).
Figura 36. Flutter atrial típico anti-horário. Típico porque a polaridade da onda F em D2 discorda da polaridade da onda F em V1 (em D2
é negativa em V1, positiva). E a polaridade da onda F de V1 discorda da polaridade da onda F em V6 (em V1 é positiva, em V6, negativa).
E anti-horário porque é negativa na parede inferior.
O FLA típico horário, em que o impulso “sobe” inferior; e a forma chamada “reentrada intra-istmo”,
TRATADO DE ECG
pela parede lateral do átrio direito e “desce” pelo septo ambas dependentes do ICT.(23-25) O ECG da forma lower
interatrial, também pode ser chamado de FLA reverso. loop é extremamente variável, pois depende da ativação
O ECG, neste caso, demonstra polaridade das ondas F do restante do átrio, mas seu achado mais característico
predominantemente positiva nas derivações inferiores é a perda da porção final positiva da onda F em D2, D3
e V6 e negativa ou em formato de W em V1 (Figuras 37 e aVF.(26) O tipo dual-loop é definido pela existência de
e 38).(20-22) As derivações precordiais caracteristicamente dois circuitos macroreentrantes, sendo que um deles
também possuem linhas de base isoelétricas. A Tabela 1 pode ser dependente do ICT. Seu ECG, assim como o da
resume os achados dos FLA típicos anti-horário e horário. reentrada intra-istmo, é variável e impossível de predizer
Existem ainda duas outras formas típicas mais raras: a (Figura 39).(27)
forma “lower loop”, em que o circuito contorna a veia cava
Negativo sem linha de base Positivo com linha de Negativo com linha de
Típico anti-horário
isoelétrica base isoelétrica base isoelétrica
Positivo sem linha de base Negativo com linha de Positivo com linha de
Típico horário
isoelétrica base isoelétrica base isoelétrica
Figura 37. Flutter típico horário. Ondas F positivas em D2, D3 e aVF, negativas em V1 e positivas em V6.
D
2
D
3
a
VR
a
VL
a
VF
V
1
V
2
V
3
V
4
V
5
V
6
N2
5mm
/s F
iltr
os:R
ed
eMU
SC
Figura 38. Flutter típico horário. Ondas F positivas em D2, D3 e aVF, isoelétricas em V1 e positivas em V6 – observe entre os últimos
dois complexos QRS do traçado, que é onde háorum bloqueio F
C
atrioventricular mais avançado, e onde se pode visualizar a F em : 8
6 b
todas pm
as
19013106
2145RETA001- 1- C 30+:1
308
0 71
04- V 2
.36- H a:0
6:23
derivações sem interferência de onda T ou complexo QRS.
Figura 39. Flutter tipo dual loop diagnosticado por estudo eletrofisiológico. Perceba que a ativação é positiva por D2, D3 e aVF, concorda
com V1 (positiva) e que, por sua vez, concorda com V6 (positiva também). Isso é sinal de que o FLA não é típico.
Figura 40. FLA típico de difícil visualização, confundido, neste caso, com ritmo sinusal normal. O que gerou a dificuldade, neste caso,
foi a pequena amplitude da onda F em D2, D3 e aVF e a perda do seu formato em “dente de serra”, fazendo os residentes confundirem
com um segmento ST-T. Em V1, sob olhar menos atento, pode-se pensar que existe apenas uma onda P para cada QRS. No entanto, como
demonstrado no aumento, uma outra onda P está “escondida” dentro com complexo QRS, demonstrando, então, haver 2 atividades
atriais para cada complexo QRS.
Voltando para o ECG do FLA típico, é importante ou seja, FLA. Na minha experiência, elas são mais fáceis
Figura 41. Outro exemplo de FLA típico de difícil visualização. Aqui, a gênese do problema para os residentes foi pensarem que o QRS
era largo em D2, D3 e aVF, não identificando a onda F negativa ao fim do complexo. Ora, em primeiro lugar, por que o complexo seria
largo apenas em D2, D3 e aVF? E, passando para as dicas propostas no texto, observamos ausência de linha de base isoelétrica nas
derivações inferiores e, ao procurar alguma atividade atrial nas derivações precordiais, encontramos aquele fenômeno que se repete
a cada 200 ms, ou seja, está em uma frequência de 300 por minuto. Se fixarmos essa atividade em um compasso, veremos que ela é
regular. Está ali a onda F de FLA.
Figura 42. FLA de difícil visualização. As ondas F são de de extrema dificuldade de visualização na parede inferior, mas, especialmente,
em D3 pode-se ver alguma atividade atrial repetitiva a uma frequência de 200 por minuto. A essa mesma frequência, se observa um
entalhe em V1 que à primeira vista poderia ser confundida com uma onda r’. Na verdade, aquela é a onda F. A chave para o encontro
desse flutter foi a presença deste entalhe ao final do QRS que é morfologicamente muito semelhante ao que antes se pensava ser a onda P.
Figura 43. Flutter de difícil reconhecimento. Observe que as ondas de morfologia semelhante possuem exatamente o mesmo intervalo
em D2 (entalhe negativo) e V1 (entalhe positivo).
Figura 44. Flutter atípico. Observe que a polaridade da onda F na parede inferior (positiva) é a mesma de V1.
Figura 45. Flutter atípico. A polaridade das ondas F na parede inferior é positiva, tal qual a polaridade em V1. Observe o interessante
fato de que uma das ondas F “caiu” dentro do QRS em V1. O observador sabe disso contando os intervalos com que as ondas aparecerem.
Figura 47. Flutter atípico tipo upper loop reentry submetido a ablação.
São poucos e inconsistentes os estudos com critérios Talvez o flutter atípico de melhor correlação eletro-
bem definidos para o diagnóstico de Flutter atípico, cardiográfica seja o do tipo upper loop reentry, em que
tendo em vista que a maioria é dependente de cicatriz e a reentrada ocorre ao redor da veia cava superior. O seu
modificações cirúrgica dos átrios, o que torna o padrão diagnóstico diferencial se faz com o FLA típico horário.
eletrocardiográfico errático, fazendo com que haja muita Um estudo demonstrou critérios eletrocardiográficos
dificuldade na interpretação do ECG. capazes de diferenciá-los utilizando a polaridade da onda
F na derivação D1.(20) Neste estudo, foi demonstrado que se caracteriza por possuir uma onda F larga e positiva
Figura 48. Flutter atípico de átrio esquerdo. Perceba as ondas F positivas e largas em V1, com baixas amplitudes nas demais derivações.
Resposta ventricular no FLA tratamento adequado, podendo ser 3:1, 4:1, ou qualquer
TRATADO DE ECG
Como vimos, a resposta ventricular pode ser variável outro grau de resposta, inclusive de forma irregular
e depende do NAV. Sem o tratamento para controle da quando associado ao bloqueio atrioventricular (BAV)
frequência cardíaca, a resposta ventricular pode ser do segundo grau tipo Wenckebach ou bloqueio variável
2:1, porém, menores respostas ventriculares podem ser pelo nó AV (Figuras 50 a 52).
vistas se houver doença no NAV, estímulos vagais ou
Figura 50. FLA com BAV variável. Perceba que, em alguns momentos, temos uma relação de 2 átrios para um ventrículo, e em outros
momentos 3 átrios para um ventrículo.
Figura 51. Flutter com BAV variável. Observe que ocorre uma alternância de 3 ondas F por QRS para 2 ondas F por QRS. O ritmo cardíaco
ao ECG e à ausculta é curto, longo, curto, longo.
Figura 53. FLA 1:1 por condução através do NAV. Perceba que sua frequência cardíaca está em torno de 210 bpm e, por haver bloqueio
funcional do ramo esquerdo, há um alargamento do complexo QRS que confunde com taquicardia ventricular. Como só há uma onda
F para cada complexo QRS, encontrá-la pode ser extremamente difícil. O diagnóstico só será feito após reversão da arritmia ou por
estudo eletrofisiológico.
Figura 54. FLA 1:1 por condução através de uma via acessória.(33)
Existe um paradoxo no tratamento do FLA. Se algu- Nos casos de condução 1:1 para o ventrículo através do
TRATADO DE ECG
ma droga antiarrítmica reduz a velocidade do impulso nó AV, muito provavelmente haverá bloqueio funcional de
reentrante, por exemplo, de 300 para 210 bpm, isso pode um dos ramos do sistema de His-Purkinje, gerando uma
fazer com que o impulso chegue ao NAV após o fim do arritmia de complexo QRS largo semelhante à taquicardia
período refratário e consiga transmitir para o ventrículo ventricular (Figura 53). Nos casos de condução 1:1 para
a uma frequência 1:1. Ou seja, reduzir a velocidade do o ventrículo através de uma via acessória, o complexo
FLA pode aumentar a velocidade para o ventrículo. QRS será marcadamente largo e a diferenciação com
Outras condições podem levar à condução 1:1 do átrio taquicardia ventricular é ainda mais difícil (Figura 54).
para o ventrículo, como os estados catecolaminérgicos Na outra extremidade, nos ritmos bradicárdicos,
(infecções, tireotoxicose, exercícios de alta intensidade podemos ver bloqueios de altos graus ou BAV total com
etc.), e o uso de propafenona, um antiarrítmico da escape na junção AV ou ventricular, principalmente
classe IC que acelera a condução pelo nó AV.(31,32) Além nos pacientes com doenças no nó atrioventricular (AV),
disso, os pacientes portadores de via acessória de baixo vagotonia ou naqueles em uso de medicamento bloque-
período refratário anterógrado estão sempre em risco adores do nó AV como digoxina, betabloqueadores e
de desenvolver uma arritmia atrial conduzida 1:1 para bloqueadores dos canais de cálcio (Figura 55).
o ventrículo.(33)
Figura 55. Flutter com baixa resposta ventricular ou FLA com BAVT.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
27. Shah D, Jais P, Takahashi A, Hocini M, Peng JT, Clementy J, et 31. el-Harari MB, Adams PC. Atrial flutter with 1:1 atrioventricular
TRATADO DE ECG
al. Dual-loop intra-atrial reentry in humans. Circulation. 2000 conduction caused by propafenone. Pacing Clin Electrophysiol.
Feb;101(6):631–9. 1998 Oct;21(10):1999–2001.
28. Garan H. Atypical atrial flutter. Hear Rhythm [Internet]. 2008 32. Femenia F, Palazzolo J, Arce M, Arrieta M. Proarrhythmia In-
Apr 1;5(4):618–21. Available from: https://doi.org/10.1016/j. duced by Propafenone: What is the Mechanism? Indian Pacing
hrthm.2007.10.031. Electrophysiol J [Internet]. 2010 Jun 5;10(6):278–80. Available
29. Yuniadi Y, Tai C-T, Lee K-T, Huang B-H, Lin Y-J, Higa S, et al. A from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20552063.
new electrocardiographic algorithm to differentiate upper loop 33. Nelson JG, Zhu DW. Atrial flutter with 1:1 conduction in un-
re-entry from reverse typical atrial flutter. J Am Coll Cardiol. diagnosed Wolff-Parkinson-White syndrome. J Emerg Med.
2005 Aug;46(3):524–8. 2014 May;46(5):e135-40.
30. Bochoeyer A, Yang Y, Cheng J, Lee RJ, Keung EC, Marrouche NF,
et al. Surface electrocardiographic characteristics of right and
left atrial flutter. Circulation. 2003 Jul;108(1):60–6.